Também Revisitando Guido Cavalcanti

 

Também Revisitando Guido Cavalcanti

 

      Foi publicado recentemente um artigo sobre a família Cavalcanti na revista “Aventuras na Historia”, Editora Abril, artigo em que fui citada como fonte. Agradeço ao jornalista Rodrigo Cavalcante sua gentil citação e já o considero um estudioso do tema.

      Porém, em respeito ao público leitor, gostaria de ressaltar questão crucial para a historiografia e para o melhor entendimento da ação política dos Cavalcanti no passado italiano, e até mesmo no período Colonial brasileiro.

 

      Se os antepassados francos dos Cavalcanti haviam descido de Colônia no século VIII em enormes dificuldades pelos Alpes a chamado do papa Adriano I para vencer os lombardos é natural que tivessem se tornado na Toscana já no século XIII família muito numerosa, mas ainda de apoio a este mesmo papado - família “guelfa”, portanto. Rica e poderosa, prestigiada pelos franceses d´Anjou, era ainda respeitosa ao sistema republicano florentino que ela mesma havia ajudado a implantar em Florença. 

   

     Acrescentamos: Francisco Cavalcanti, “O Vesgo”, foi realmente punido por Dante Alighieri como avaro - com outros florentinos ricos colocados no seu Inferno da Divina Comédia.  

     Mas Cavalcante Cavalcanti, famoso cavaleiro “guelfo”, lutador pelo papado na famosa batalha de Montaperti em 1260, pai do poeta Guido Cavalcanti, no Inferno não fora colocado por ser rico - pois Dante o respeitava como militar e político, mas por ele ser ateu.      

     Neste capítulo X muito estudado da Divina Comédia, que mesmo centraliza o conflito político em Florença, Dante imortaliza Cavalcante Cavalcanti como símbolo do amor paterno, ao apresentá-lo saindo de seu túmulo chorando copiosamente, tendo a premonição da morte do amado filho - Guido Cavalcanti - já reconhecido poeta, cavaleiro e também político, punido pela República em uma prisão insalubre.

     

   Este belíssimo episódio em que o cavaleiro Cavalcante Cavalcanti é apresentado em seu desespero demonstra não só a maestria e a sutileza psicológica de Dante, sua habilidade literária, mas também é registro ainda de extrema relevância histórica.

    Com as punições do cavaleiro “guelfo” Cavalcante Cavalcanti como ateu, e do seu leal inimigo Farinata degli Uperti, líder “guibelino”, também colocado no Inferno como epicurista, Dante nos dá a perceber suas mais íntimas preocupações na própria realidade de que seu extremado amigo e poeta Guido tivesse se tornado, igualmente, um ateu antes de morrer.      

 

     Guido Cavalcanti em seu notável trabalho poético realizado no século XIII apresentara concepções filosóficas precursoras, ligadas à realidade e ao sensível, suspeitas por seus contemporâneos como heréticas, não bem compreendidas pelo civismo da República, que injustamente o punira por provocar numa praça um conflito com seu mais sério inimigo político, que mesmo já o havia tentado matar.  

   

   Hoje a melhor avaliação deste Capítulo X de Dante provoca na moderna crítica literária enorme estranhamento.

   Pois um novo exame da crítica literária e da historiografia, associando as recentes e inequívocas descobertas de traços de agnosticismo averroísta e também de avicenismo na própria obra poética de Guido Cavalcanti acaba por confirmar a extrema acuidade e mesmo modernidade deste poeta em relação ao Renascimento - por ele ainda a influência e penetração da cultura árabe na Europa do século XIII.

 

     Discussões sobre a marcante obra de Guido Cavalcanti ocorrem atualmente nas melhores academias e universidades européias ou americanas. Entretanto, não são sequer percebidas pela historiografia brasileira, nem mesmo pelos membros de nossa família.   

     

    Este é o fato que mais lamento e contra o qual tenho me posicionado na mídia eletrônica. Apesar dos meus escrúpulos em abordar temas ligados à área literária tão recuados no tempo, pretendo começar a colocar no meu blog artigos referentes ao poeta Guido Cavalcanti que acredito podem, pelo menos, despertar respeito por uma família tão longamente lutadora por justa Republica – tanto na Itália, quanto no Brasil. 

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