Manoel Cavalcanti de Albuquerque

 

Manoel Cavalcanti de Albuquerque.

Patriarca do ramo do engenho “Castanha Grande” - Alagoas

(“Papai Cavalcanti” - 1797 – 1870, século XlX)

Figura 1

Abstrat Family comments on the young and cultured seminarist Manoel Cavalcanti de Albuquerque (1797 - 1870), patriarch of the Castanha Grande (AL) sugar mill branch, who in his generation participated in the Pernambuco Revolution of 1817 - a movement that advocated a break with the Metropolis and ideals of a Republic along the lines of the American and French Revolutions of 1789.

 

 

Sumário - Comentários familiares sobre o jovem e culto seminarista Manoel Cavalcanti de Albuquerque (1797 - 1870), patriarca do ramo do engenho Castanha Grande (AL), que em sua geração participou da Revolução Pernambucana de 1817 - movimento que preconizava rompimento com a Metrópole e ideais de uma República aos moldes da Revolução Americana e Francesa de 1789. Assunto ainda não abordado por nossa historiografia.

  

            Manoel Cavalcanti de Albuquerque (fig.1) nascido em 7 de dezembro de 1797, falecido no engenho “Castanha Grande” (AL) em 7 de março de 1870 era chamado pelos seus de “papai Cavalcanti”.   Manoel levava exatamente o mesmo nome do avô, que havia participado da “fronda" dos “nobres da terra” contra autoridades e mascates portugueses nos anos de 1710.  Como seu avô, nosso jovem Manoel logo teria manifestado também índole não conformista, “sdegnosa”, dos longevos Cavalcanti italianos - índole que por aqui se mantinha em família nordestina já afeita à luta libertária - luta nos trópicos nativista, independentista, mas ainda republicana (1).

   

     Fato que já nos parece até mesmo natural na família, este jovem culto e seminarista Manoel Cavalcanti de Albuquerque em sua geração participou da Revolução Pernambucana de 1817 - movimento que preconizava rompimento com a Metrópole e ideais de uma República aos moldes da Revolução Americana e Francesa de 1789.

  

    Mas por este seu envolvimento na “Revolução Pernambucana” de 1817 Manoel terá sua cabeça cobrada pela Coroa - a exemplo dos seus ascendentes, os nobres “da terra” Antonio Cavalcanti “da Guerra Holandesa” e Leonardo Bezerra Cavalcanti que mesmo atuara contra os mascates em Recife - ambos com suas cabeças também postas a prêmio.     O enforcamento foi ainda castigo muito utilizado contra os revoltosos de 1817 - fato que na época atemorizou e mesmo traumatizou os pais do jovem Manoel, José Cavalcanti de Albuquerque, então senhor do engenho “Flamenguinha” em Alagoas e Luiza Cavalcanti.

      

     Lembranças de família recolhidas pelo seu descendente Oziel Cavalcanti de Gusmão (2) compõem até hoje um relato significativo e marcante para os membros do ramo do engenho Castanha Grande:

     

“Manoel, que cursava o seminário de Olinda, comprometera-se com o movimento republicano e foi obrigado a se esconder nas matas circunvizinhas do engenho paterno depois do fracasso da revolução nacionalista daquele ano. Corriam notícias alarmantes de enforcamentos e degredos de patriotas. José Cavalcanti e esposa temiam pelo destino do filho. Eles sabiam que o Conde dos Arcos estava procurando por vítimas. Por vezes, na calada da noite, o aflito casal reunia num das salas mais discretas da casa grande o conselho de família, para deliberar sobre o assunto. O jovem Manoel continuava oculto nas brenhas, alimentado às escondidas por pessoas de confiança. Os bens dos revolucionários já tinham sido seqüestrados e um decreto real nomeara o neto do Marquês de Pombal, o tenente-coronel Sebastião Francisco de Mello Povoas para o governo da Capitania. José Cavalcanti resolveu ir pessoalmente ao Ouvidor Batalha, antes da chegada de Mello Povoas e apelar perante o Ouvidor as “tontices da mocidade”. Depois de ouvi-lo, Batalha sentenciou: “Entregue-lhe a cabeça à forca”. O senhor da Flamenguinha saiu da audiência sem acertar as escadas. Pode-se calcular a angústia que trouxe para casa quando noticiou o resultado da conversa à sua esposa. Mas, não se deixou tomar pelo desalento. Seu amigo e vizinho Ambrósio Machado da Cunha, capitão-mor e senhor do engenho Unussu, aconselhou-o a ter calma e “dar tempo ao tempo”. E, com efeito, quando da chegada de Mello Povoas, quinze meses após sua nomeação, a autoridade de Antônio Ferreira Batalha já estava enfraquecida. Grandes acontecimentos estavam para ocorrer. O caso de Manoel Cavalcanti de Albuquerque caiu no esquecimento e ele voltou ao seminário, sarado do seu entusiasmo”.

    

      Nosso jovem Manoel não conformista irá, posteriormente, deixar o seminário e se casar com a filha daquele prezado vizinho e amigo, Ambrósio Machado da Cunha senhor do engenho Unussu.      

     Seu feliz e depois prolífico casamento com a bonita jovem de quinze anos, Ana Rosa Machado da Cunha, aconteceu de forma coincidente com as comemorações festivas pela Independência do Brasil - episódio de rompimento com Portugal que hoje sabemos muito deveu aos Cavalcanti, especialmente ao ramo colateral dos Cavalcanti de Albuquerque do clã Suassuna, estes lideres envolvidos na revolução Pernambucana de 1817 (3).

     Este casamento no próprio ano de 1822 foi, portanto, muito festejado pela família, amigos e parentes. Para o ramo central e discreto da família este foi momento importante, duplo motivo de comemorações, conseguida por fim a Independência há tanto perseguida. Grandes festividades acompanharam a ocasião, pois as tropas do general Labatut neste momento pernoitavam no engenho “Ipioca”, onde as bodas foram ainda realizadas (4) - importante e duplo motivo de comemorações, pois finalmente havia sido conseguida a Independência da Colônia - Independência há tanto perseguida pelos Cavalcanti de Albuquerque no Brasil.

   

    A Abolição, a Republica e seu aperfeiçoamento para estes Cavalcanti esperançosos do ramo do Castanha Grande ficarão ainda para um pouco mais adiante...


Notas

  

(1) Para a recuperação das relações familiares dos vários ramos de Cavalcanti de Albuquerque em Alagoas e Pernambuco usamos a lista genealógica de Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, pg. 294-305, baseada em Jaboatão e na “Nobiliarquia Pernambucana” de Borges da Fonseca, listagem corrigida, detidamente, pelo notável genealogista Carlos Xavier de Paes Barreto. Sobre o ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho Castanha Grande - Torres, Rosa Sampaio – artigo “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho Castanha Grande" com detalhes, fontes e fotos. Em especial sobre seu avô, nota 16.

 

 (2) Informações detalhadas sobre o ramo dos Cavalcanti de Albuquerque Castanha Grande em Gusmão, Oziel Cavalcanti de – “Notas sobre os Albuquerque Cavalcanti, 1997”, livreto, com anotações cuidadosamente recolhidas para o uso familiar específico do ramo do “Castanha Grande”, citando inúmeras fontes históricas entre elas a obra de D. Duarte de Albuquerque Coelho. Também Torres, Rosa Sampaio, Família Cavalcanti de Albuquerque, editado pela Gráfica Visual em 2001.

 

(3) O descendente da família Carlos de Gusmão, autor do livro Boca da Grota, Reminiscências, pg. 525, corrige Oliveira Lima, Manuel – Memórias: estas minhas Reminiscências, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, 1937, pg. 119, afirmando que o casamento não acontecera no engenho Castanha Grande, mas no engenho Ipioca, onde pernoitavam as tropas do general Pierre Labatut, militar francês mercenário encarregado por d. Pedro I da defesa contra as forças portuguesas.

 

(4) Sobre o ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho Suassuna, consultar Torres, Rosa Sampaio - artigo “1817” e “Os Suassuna”, editados no blog http://rosasampaiotorres. blogspot.com/

 

Bibliografia


Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965.

 Gusmão Oziel Cavalcanti de – “Notas sobre os Albuquerque Cavalcanti”, livreto para uso familiar, 1997.

Gusmão, Carlos de - Boca da Grota, Reminiscências. Serviços gráficos Gazeta de Alagoas, Maceió, 1970.

 Oliveira Lima, Manuel – Memórias: estas minhas Reminiscências, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, 1937.

 Machado da Cunha Cavalcanti, Ambrósio – “Lembranças e Apontamentos para meus filhos” , disponível na mídia eletrônica.

 Torres, Rosa Sampaio - Família Cavalcanti de Albuquerque – Gráfica Visual, 2001.

 Torres, Rosa Sampaio - artigo “O ramo do engenho Castanha Grande" com fotos da família, editado no blog http://rosasampaiotorres. blogspot.com/ em 2014.

 Torres, Rosa Sampaio - artigo “1817”, editado http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ em 2020 .

Torres, Rosa Sampaio – artigo “Os Suassuna”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com//, em 2020.

 

 

     Rosa Sampaio Torres, historiadora, é membro da família Cavalcanti de Albuquerque, deste ramo do engenho Castanho Grande desenvolvido em Alagoas - autora de vários artigos sobre os Cavalcanti de Albuquerque brasileiros e Cavalcanti italianos, publicados em seu blog e em revistas portuguesas e brasileiras. Este artigo com algumas alterações foi publicado pela revista “Athena”, do Porto, em maio de 2018 - pelo bicentenário da “Revolução de 1817”.

 

 


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