Felipe Cavalcanti (Filippo di Giovanni Cavalcanti)

De Filippo Cavalcanti descendem todos os ramos de Cavalcanti brasileiros.


Filippo nasceu em Florença, em 1525, e nas proximidades de 1560 migrou para o Brasil.

Seu pai, Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, casado com Ginevra Manelli, era um cortesão e comerciante de artes florentino que gozara durante muitos anos da proteção do papa Medici, Leão X, seu “cubiculari”, homem de toda confiança, prestando-lhe serviços na Inglaterra, junto à corte de Henrique VIII.

Entretanto, com a morte de Leão X, Giovanni passou a sofrer, como outros ramos da família Cavalcanti já sofriam em Florença, retaliações políticas dos Médici dominantes que haviam destruído o verdadeiro sistema representativo florentino e desde o início do século enfrentavam contestações republicanas.

Giovanni se queixou do arresto de seus bens, em Florença, ao rei inglês Henrique VIII, cuja simpática carta resposta de 24 de novembro de 1528 está documentada. (1)

E a partir de 1527, Giovanni di Lorenzo teria tomado, então, suas primeiras atitudes públicas pessoais contra os Medici prepotentes em Florença. Segundo as pesquisas da historiadora Cinzia Sicca, no segundo período de plena Republica (1527/30), por suas atividades como comerciante de artes e mecenas, tentou uma política de propaganda didática em auxílio à sua cidade ameaçada. Com a queda de Florença novamente nas mãos dos Medici, Giovanni refugiou-se na corte inglesa levando esposa e filhos. Nesta corte, onde já estivera na juventude, faleceu ainda autoexilado, no ano de 1542. (2)


Os irmãos de Filippo, Guido e Schiatta, tentaram ainda continuar a desempenhar o papel de comerciantes e diplomatas informais para a corte inglesa, como o pai o fizera. (3)

Mas, com o agravamento da situação política em Florença, é provável que Filippo tenha voltado à sua cidade natal e se aí envolvido em episódios políticos contestatórios contra os Medici. Sabemos que passou pela corte portuguesa e, a que tudo indica, fugido em 1560 para o Brasil, preventivamente em tempo.

Fontes orais familiares, insistentes e reconhecidas por historiadores afirmam que Filippo teria vindo para o Brasil, tentando escapar às muito famosas e tenazes perseguições dos Medici após a Conjuração Pucci de 1559, na qual se contata seu parente Bartolomeo Cavalcanti foi o verdadeiro líder, e o jovem Stolto Cavalcanti, decapitado. (4)

Estudos recentes indicam e reafirmam, portanto, esta possibilidade.

Pois, comprovadamente, seu irmão Guido, a partir de 1563, estará servindo à corte francesa em substituição à Bartolomeo Cavalcanti. Bartolomeo agira sempre apoiado pela rainha da França, mas falecera refugiado dos Medici, em Pádua. (5)

Filippo Cavalcanti foi, no Brasil, muito bem sucedido administrando engenhos de açúcar, casado numa política de congraçamento com Catarina, filha de Jerônimo de Albuquerque e da índia tabajara Muíra–Ubi.

A descendência de Fellippo, no Brasil, guardará a lembrança de seus maiores em Florença: o muito famoso poeta Guido Cavalcanti (1255-1300), precursor da poesia italiana, amigo íntimo de Dante citado na Divina Comédia e este conspirador e escritor Bartolomeo, republicano decidido do séc. XVI. Sem deixarmos, agora, de lembrar o próprio Guido, irmão de Filippo, que sabemos hoje fez parte do Conselho de Estado francês a partir de 1572, também poeta, considerado mesmo o segundo poeta Guido Cavalcanti da família. (5),


E à Filippo Cavalcanti, patriarca florentino, sua numerosa prole de Cavalcantis no Brasil deve, sem dúvida, a transferência dessas características familiares tão marcantes: a veia poética e literária e a ativa participação política.


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(1) Carta de Henrique VIII a Giovanni Cavalcanti, datada de Londres, 24 de novembro de 1528, carta que se encontra, em seu original, na Biblioteca Nacional Central de Florença, Sala Manoscritti Rari, Passerine 156 - Cavalcanti, encontrada e gentilmente disponibilizada por Marcelo Bezerra Cavalcanti, no seu Blog “Famiglia Cavalcanti”, com foto do documento.

(2) Sicca, Cinzia M. – artigo “Pawns of international finance and politics: Florentine scultors at the court of Henry VIII”, Renaissance Studies, vol. 20, no. 1, 2006.

Sicca, Cinzia M. – artigo “ Consuption and trade of art between italy and England in the first half of the sixteenth century: The London house of the Bardi and Cavalcanti Company” in Renaissance Studies, vol. 16, artigo n.2, 2002.

(3) Mann, Julia de Lacy - Textile history and economic history, Manchester University Press, 1973.

(4) Mello, Evaldo Cabral de - no artigo “O mito de Veneza no Brasil” – publicado no jornal “Folha de São Paulo” - 1 de julho 2001, posteriormente repetido e editado em seu livro, Um imenso Portugal, Ed. 34, 2002, pg.156, capítulo “O Mito de Veneza”. Torres, Rosa Sampaio – artigos “Conspiração Puci & Cavalcanti” http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

(5) Torres, Rosa Sampaio – artigo citado “Conspiração Pucci & Cavalcanti” e também “Medici x Cavalcanti” em http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

(6) Cavalcanti, Sylvio Umberto - Se Chiamavano Cavalcanti, formato PDF Ed.eletrônica on-line.