quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A família Cavalcanti e os ideais republicanos no Brasil Colônia


          O nosso respeitado historiador Evaldo Cabral de Mello em seu artigo “O Mito de Veneza” afirma:
                           
                 “Ao tempo da guerra dos Mascates (1710-11) o estabelecimento de uma república, o modelo que se tinha em vista era o veneziano... Parece plausível que o Mito de Veneza tenha apontado entre nós graças aos colonos florentinos fixados em Pernambuco desde meados do Séc. XVI”. 
         
       E acrescenta: 
                     “... oligárquicos os Cavalcanti, como seus parentes Manelli e Acioly (portuguesismo para Acciaiuolli) cujos rebentos também se domiciliaram em Pernambuco, tinham uma longa crônica de ativismo político, como sabe o leitor da História Florentina de Maquiavel” (1).
           
       Seguindo a linha de pensamento Cabral de Mello neste artigo, poderíamos inferir que o jovem Stolto Cavalcanti, degolado em Florença no ano 1559, e até mesmo Filippo di Giovanni Cavalcanti pouco depois fugido para Pernambuco, tivessem conspirado contra a família Medici defendendo uma República “ottimati”, à maneira veneziana de governo (2). 

           Recentemente, instada a prestar algumas informações sobre a família Cavalcanti ao jornalista Rodrigo Cavalcanti da revista “Historia” (editora Abril), questionei pela primeira vez estas proposições do nosso respeitado historiador - sobre as possíveis influências do modelo veneziano no comportamento político de Filippo Cavalcanti e seus descendentes no Brasil. Já havia tecido alguns comentários críticos a estas proposições, comentários apenas colocados em notas de rodapé de meus artigos. 
         Mas, ao discorrer sobre o assunto para um jornalista, pensei podia incorrer em indelicadeza com Cabral de Mello ou mesmo aparentar palpites descabidos. 
         Por este motivo me proponho agora, em breve artigo específico, aprofundar o tema do republicanismo no período Colonial, assunto sem dúvidas ainda relevante para os Cavalcanti atuais.

        Lembro que ao analisar, em um ensaio, a vida do famoso conspirador florentino pela República Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, parente atuante pela Republica na península italiana do século XVI, tive as primeiras dúvidas sobre as afirmações de Cabral de Mello e o possível entusiasmo “ottimati” de nossos ancestrais. 
       Percebera que o historiador italiano contemporâneo, Paolo Simocelli, chamava a atenção do leitor para o surgimento, já naqueles meados do séc. XVI na Toscana, de um republicanismo profundo e levado às ultimas consequências, colocando focos muito potentes sobre a dedicada atuação de nosso Bartolomeo (3).    
    Bartolomeo, já famoso como ativista, fora escolhido pelos franceses para o governo de Siena, cidade vizinha de Florença já em fase de Republica plena, mas que a partir de 1554 sofria o dramático assédio militar das forças unidas do Santo Império e de Cosme de Medici - episódio da guerra entre França e Espanha. Lidando com forças republicanas de várias tendências que unidas lutavam desesperadamente pela defesa da Republica de Siena, Bartolomeo não poderia ser percebido como um mero seguidor de regimentos políticos venezianos. 
      Sabemos que o jovem Bartolomeo dialogara com Maquiavel em 1526 (4) e havia atuado de modo conseqüente no período da segunda República florentina de 1527/30, sem, entretanto, chegar a ser um radical.  Seu pai, Mainardo Cavalcanti, neste episódio, fora um seguidor dos ideais republicanos decididos do líder florentino Nicolau Capponi (5). Após a capitulação de Florença em 1530, Bartolomeo continuou enfrentando os Medici, tentando conciliar as várias frentes republicanas - religiosas, liberais ou radicais – para a defesa da Republica de Florença corrompida e descaracterizada pelos Médici, e depois na trágica defesa da Republica de Siena. Por fim, com a colaboração da própria corte francesa, liderou em 1559 a audaciosa conspiração que deveria eclodir de forma simbólica numa celebração religiosa contra Cosme de Medici, já por muitos tido como um tirano em Florença (6). 
    
      Acreditamos que também o nosso patriarca Filippo di Giovanni Cavalcanti - cujo pai e irmãos desenvolveram atividades de comerciantes de arte, “doublés” de diplomatas - nobre ilustrado e politicamente experiente, não seria um ingênuo “ottimati” ao chegar à Pernambuco.   Seu pai atuara na defesa de Florença na Segunda Republica (1527-1530) e ele próprio conspirou muito provavelmente, como concordamos eu e Evaldo, com seu parente Bartolomeo em 1559 (7). Talvez Stolto Cavalcanti do ramo “Ciampoli”, jovem filho de banqueiro por fim degolado com o fracasso da “Conspiração Pucci e Cavalcanti”, fosse algo impetuoso e politicamente menos experiente (8). 
     
    Ainda que as discussões sobre regras republicanas tivessem feito sucesso entre os intelectuais florentinos da década de 1520 nos jardins da família Rucellai [Orto Oricellai], indago se depois das experiências religiosas do período de Savanarola em Florença no fim do século anterior, e da experiência do cerco da Segunda Republica de Florença que beirou o radicalismo entre 1527/30, ainda dos embates continuados contra os Medici do fim década de 50, essas “colorações” republicanas tivessem algum sentido na Toscana quase no fim do século – e nossos parentes Stolto e Felippo pudessem vir a ser percebidos desta maneira, desejosos de uma republica de “otimattis”. 
     A luta anti-medici fora o objetivo maior e comum dos exilados florentinos republicanos (os “fuoriusciti”) pelo menos desde a década de 1520. Neste sentido, haviam eles persistentemente buscado agregar inúmeras facções políticas, das mais liberais às mais populares e radicais, ou mesmo teológicas, como nos demonstra o citado historiador italiano Simoncelli.  

   Observamos, especialmente, que depois da derrota de Siena na batalha de Marciano, agosto de 1554, centenas de famílias sienenses resistentes haviam se juntado às forças militares do filho de um banqueiro - o comandante ferido Piero Strozzi, que curava seus ferimentos na fortaleza de Montalcino (9). E, por quatro anos estas famílias, abrigadas pela celebre fortaleza, aí haviam vivido e resistido pela liberdade, ordenando-se nas regras já plenamente republicanas e populares de seu próprio sistema político. Mas em 1559 teve fim esta experiência denominada “República Popular de Siena Retirada para Montalcino”, episódio que hoje sabemos historicamente muito significativo, marco importante do republicanismo moderno (10).  
     Com a paz de Cateau Cambrèsis, entre França e Espanha, a região foi cedida financeiramente pelos espanhóis a Cosimo I. 
     Este, acabando por destruir a já tão descaracterizada Republica Florentina, estruturou por fim o seu tão desejado “Grão-Ducado da Toscana” (11). 
     
    A queda da “Republica Popular de Siena Retirada para Montalcino” ocorre, portanto, no mesmo momento da descoberta da “Conspiracão Pucci & Cavalcanti” liderada por Bartolomeo Cavalcanti e preparada para eclodir em Florença no mesmo mês de outubro do ano de 1559 –episódios que constituem, a nosso ver, momentos culminantes da resistência do sistema republicano na península italiana, frente aos Médici dominantes na Toscana – ambos ocorridos no mesmo momento histórico, marco do republicanismo. 
    A partir desses episódios florentinos e toscanos da década de 1550, o historiador Simoncelli sugere mesmo o aparecimento de uma idéia nova e ampla de República na Europa, ideia que posteriormente teria continuidade na França e nos Estados Unidos no séc. XVIII.   As próprias raízes do pensamento iluminista de Montaigne podendo ser encontradas no episódio da defesa de Siena - defesa da qual seu próprio pai como militar, participou.
 (12) (13) (14).
     
    Certamente o nosso patriarca Filippo Cavalcanti, enquanto jovem na Europa, também vivenciou esta tragédia de sua familia ampla através a experiência política e diplomática característica do seu ramo “Cavalleschi”, tendo tido a oportunidade de confrontar e de conviver com as inúmeras tendências republicanas que se somavam para tentar derrubar os Medici. 
    Experientes, Bartolomeo e Filippo teriam conseguido debandar antes da descoberta da “Conspiração Pucci & Cavalcanti” em 1559, quando foi pretendida a explosão do trono de Cosimo I, em Florença. Stolto não conseguira fazer o mesmo.  
    O nosso nobre Fillippo teria aportado aqui, portanto, já bem consciente e politicamente experimentado.    
     Poucos anos depois, outros jovens rebeldes de famílias florentinas, igualmente republicanas e consequentes - Machiavelli, Capponi, Soderini - estarão também em franca debandada da península italiana, caçados e mortos por mercenários dos Medici por toda a Europa, após igual fracasso da “Conspiração Pucci & Ridolfi” de 1575 (15). 
     
    Consequentemente, seria ingenuidade nossa referendar tendências “ottimatti” trazidas ou estimuladas por Filippo Cavalcanti e seus parentes Manelli e Acciaolis no Brasil. Idéias para ele mesmo e seus parentes florentinos, durante muito tempo e por variadas razões, perigosas para serem explicitadas no Brasil dos séculos XVI e XVII (16). Idéias políticas, sobretudo, deslocadas em uma Colônia do Império português que, não só os abrigava, mas que os convocava pouco depois, com seus parentes colaterais donos da capitania, puro Albuquerque ou Albuquerque Maranhão, para a defesa contra as invasões holandesas - obrigações familiares a que os Cavalcanti de Albuquerque não se furtaram (17).  
      
    O perigo de explicitar ideais republicanos numa colônia portuguesa não impediu, entretanto, que já bem mais tarde, no começo do século XVIII, um fidalgo pernambucano desatinado ou ambicioso, Bernardo Vieira de Mello, sugerisse perante uma Câmara pernambucana reunida, durante a fronda da “nobreza da terra” de 1710: melhor se declarassem em Republica, “ad instar dos venezianos”, ou que se entregassem aos polidos franceses do que continuar a servir aos grosseiros e ingratos mascates portugueses. Por estas possíveis impropriedades verbais Vieira de Mello será duramente punido pela Coroa, morrendo na prisão em Lisboa (18).
     
     Se por aqui os Cavalcanti de Albuquerque foram súditos da Metrópole portuguesa, proprietários de terras e escravos - situação que gerou conflitos e contradições observáveis na descendência de Filipp, pelo espírito “sdegnoso” e libertário mantido pela família (19) – neles ressalta, entretanto, uma identificação republicana atávica e profunda. Haviam se mantido conscientes da experiência política longeva que moldara os Cavalcanti na Idade Media em Florença, em especial cultores de uma figura notável em sua época, o político e poeta Guido Cavalcanti do século XIII. Este longo passado familiar de atuação em Republica certamente inclinou os Cavalcanti, no Brasil, também para a vida política participativa, tornando-os permeáveis e receptivos aos ideais da ruptura colonial, ainda inclinados para a reestruturação política republicana, já em sentido amplo e moderno.  
   Se não fez proselitismo político, o florentino Filippo deve ter instruído politicamente muito bem seu filho mais velho, Antonio.  Este, pelos filhos Isabel e Filipe, desenvolve ramos descendentes que, no decorrer de vários séculos, demonstram uma conscientização política eminentemente crítica, superior para o Brasil da época, conforme constatamos em nossos vários trabalhos. 
   
    Aqui os sensíveis e ainda “sdegnosos” Cavalcanti de Albuquerque tornaram-se os precursores de movimentos contestadores e libertários, a exemplo do comportamento nativista de Antonio Cavalcanti, o “da Guerra”, representante de “nobreza da terra” em precoce confronto por liderança militar com o reinol João Fernandes Vieira, no início das lutas da Restauração (1645). 
     Se, no século seguinte, na “Guerra dos Mascates” (1710) (20), os Cavalcanti de Albuquerque estiveram aparentemente limitados a questionar o predomínio mascatal, o sacrifício do ramo mais contestador da família, o ramo dos Bezerra Cavalcanti, comprova não só a sinceridade de seus ideais independentistas, mas demonstraria ainda a simpatia precoce deste ramo por ideais republicanos igualitários provenientes do iluminismo francês, como nos sugere o próprio Evaldo Cabral de Mello. 
     Em seu clássico “A Fronda dos Mazombos”, no capítulo VI, Evaldo sugere uma aliança dos Bezerra Cavalcanti com elementos como André Dias de Figueiredo e José Tavares de Holanda - este formado em Direito, falando um idioma estrangeiro, tendo possivelmente estudado na Europa – com influências de ideias europeias modernas e republicanas (iluministas?) já durante o episódio da Guerra dos Mascates (21).      
      
      No fim do século XVIII, portanto, pensamos estar amadurecendo por aqui não só as antigas experiências republicanas da península italiana, mas também já percebidas com muito bons olhos pelos ramos conscientes e muito bem informados dos Cavalcanti de Albuquerque as novas e bem sucedidas experiências americanas ampliadas, advindas do iluminismo.
     Estas novas convicções igualitárias, importadas da França e da América do Norte serão, finalmente, explicitadas pelos movimentos libertários defendidos pelo ramo dos Cavalcanti de Albuquerque do engenho “Suassuna” em 1801, na conspiração que leva este nome, com ideais independentistas e iluministas já bem definidos (22).
    Não podemos esquecer que ramos nativistas de Cavalcanti de Albuquerque, com seus parentes colaterais Albuquerque Maranhão, serão os segmentos com mais severidade punidos pelas autoridades portuguesas depois do fracasso da revolução Pernambucana de 1817, inúmeros membros da família Albuquerque Maranhão presos e martirizados (23). Cavalcanti de Albuquerque participantes nos antecedentes no processo da Independência (24) estiveram também presentes e ainda atuantes na própria “Confederação Republicana do Equador” (1824) (25).       
     
    Sugerimos, por nossas pesquisas recentes sobre o ramo principal e varonil dos Cavalcanti de Albuquerque estabelecidos no engenho “Castanha Grande” em Alagoas, que os caminhos da Abolição e da própria Proclamação da Republica tenham sido facilitados ainda pela convicção republicana longeva, sincera e profunda predominante nesta família - família no Brasil já numerosa e ainda bem influente nos fins do século XIX (26). 







Notas.

(1) Mello, Evaldo Cabral de - artigo “O mito de Veneza no Brasil”, publicado no jornal “Folha de São Paulo” em 1 de julho de 2001, artigo posteriormente incluído em seu livro Um imenso Portugal, Ed. 34, 2002, capítulo “O Mito de Veneza”, pg.158. Neste artigo o autor explicita maneira veneziana de governo, o modelo republicano “ottimati”: “Os “ottimati”, cujos doutrinários reuniam-se nas tertúlias do Orti Oricellari, buscavam desesperadamente desde o século XV estabelecer sua hegemonia mediante uma via média entre a monarquia dissimulada dos Medici e as republicas demasiadamente democráticas que para seu desgosto haviam sucedido efemeramente a queda da celebre dinastia tanto em1594 quanto em 1527”.    
     Sabemos que originalmente os “ottimati” na Roma antiga (em latim – “optimates”, os melhores) foram também conhecidos como Boni, "homens bons" e eram a maioria tradicionalista da antiga República Romana.  Tinham como objetivo limitar o poder das assembléias populares e dos tribunos da plebe, ainda estender o poder do Senado, que foi visto como mais dedicado aos interesses dos aristocratas. A causa dos “ottimatis” na Roma antiga chegou ao ápice na ditadura de Lucio Cornelio Silla (81-79ac), quando a Assembléia foi mesmo privada de seus poderes. 
(2) No livro citado nota acima, pg. 159, Cabral de Mello nos leva a presumir ainda que nossos parentes Stolto Cavalcanti, punido na “Conspiração Pucci e Cavalcanti” de 1559 e mesmo Filippo di Giovanni Cavalcanti, que aqui aportou em 1660, teriam defendido uma república de “ottimati”, à maneira veneziana de governo. 
   Cabral de Mello tenta transpor um equivoco de Sergio Buarque de Holanda, equivoco já explicitado em vários outros artigos de nossa autoria, ao afirmar: “Felipe abandonara Florença, primeiro por Portugal, depois, pelo Brasil, devido a seu envolvimento na conjura de Pandolfo Pucci contra os Medici, versão que permanecerá na tradição de seus descendentes. Como indicou Sergio Buarque de Holanda, o complô em apreço é posterior à chegada de Felipe a Pernambuco. O que não impede que ele se tenha metido em conspiração anterior, pois estas não faltavam no ambiente trepidante de Florença renascentista com sua viva tradição republicana de oposição aos Medici”.
   Sergio Buarque de Holanda cometera um equivoco em seu artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil ao tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” - Revista de História n. 71, 1967, pg.103, pdf, pois a conspiração de que os Cavalcanti participaram realmente é a de 1559 e Filippo teria chegado em 1560.  Em verdade em 1575 ocorre uma outra conspiração, a “Conspiração Pucci e Rodolfi”.
    Sobre a atuação dos Cavalcanti em Florença e na Toscana contra os Medici, ver discussão texto abaixo e especialmente nota 8.
(3) Para acompanhar profundamente a discussão republicana na Toscana, no período dos Medici, séc.XVI, consultar especialmente o trabalho histórico recente e relevante de Paolo Simoncelli (Fuoriuscitismo Republicano 1530-54, FrancoAngeli, 2006) onde a atuação republicana de Bartolomeu Cavalcanti é, como a de outros, detidamente analisada. Um segundo livro sobre o tema é prometido pelo autor. Ainda sobre o assunto ver Torres, Rosa Sampaio – artigo “Notas Biográficas sobre Bartolomeo Cavalcanti” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ , com fontes e notas explicativas. 
(4) Consultar Torres, Rosa Sampaio – artigo “Notas Biográficas sobre Bartolomeo Cavalcanti” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/
   Maquiavel teria se correspondido uma ou duas vezes com Bartolomeo Cavalcanti, uma delas comprovadamente em 1 de novembro de 1526, carta citada em inúmeras fontes. Consultar especialmente as cartas relacionadas de Maquiavel. Também Lettere di Bartolomeu Cavalcanti –, prefácio Amadio Ronchini, pág. XLII e Bulletin Italien vol.1 e 2, Ferets e Fils, Université de Bordeau, 1901. 
   Lembramos que Nicolau Maquiavel, o escritor, desejou a proteção política compreensiva e “popolana” de Leão X, Giovanni Medici, naquela ocasião ainda protetor de nosso patriarca Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, pai de Filippo.
     Maquiavel, como republicano, havia atuado preparando forças militares para a resistência de Florença no período final da República que havia afastado os Medici, entre 1498 e 1512, com participação política importante, sendo posteriormente anistiado. Entretanto, em 1513 foi novamente preso e torturado, talvez injustamente, incriminado em nova conspiração contra os Medici que haviam retornado ao poder. Por envolvimento neste episódio conspirativo, Maquiavel tentou o apoio do papa Medici Leão X - notado que o nosso Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, então acompanhante e protegido por deste papa, nesta ocasião atuou negativamente às preensões de Maquiavel, fato referido em Sicca, Cinzia M. – Artigo “Consumption and trade of art beetween Italy and England in the half of the sixteenth century: the Londos house of the Bardi and Cavalcanti company” in Renaissance Studies 16, no2, 2002, pg. 169. 
     Sobre estas pretensões de Machiavel ser protegido por Leão X, consultar também carta de Nicolo Machiavelli a Francisco Vettori, 13 de março de 1513, carta comentada in Pires, Francisco Murari “Maquiavel e Tucídides”, ed. Eletrônica, on line. Sobre este episódio Torres, Rosa Sampaio – artigos “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos” e “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e Rebeca ao Poço” no blog  www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ 
    Lembramos que o governo de Lorenzo II Medici fora orientado por este seu tio, papa Leão X, de simpatias “popolanas” (termo político partidário florentino) e que se demonstrara cauteloso com a elite florentina.   Leão X tentou no período ainda proteger politicamente o nosso ramo Cavalcanti (ramo Cavalleschi) e mesmo atrair o ramo dos Mainardo Cavalcanti (ramo Cavallereschi) para a esfera Medici, com encomendas de seda entre 1512 e 1513, não conseguindo, porém. O ramo dos Mainado e também o nosso, de Giovanni di Lorenzo (ramo Cavalleschi) a partir de 1527 estarão definitivamente comprometidos com o republicanismo dos Capponi. 
   Sobre a tentativa dos Medici atraírem os Mainardo, Sicca, Cinzia M. – artigo “Pawns of international finance and politics: Florentine scultors at the court of Henry VIII", Renaissance Studies, vol. 20, no. 1, 2006, pg.12, nota 41. Sobre a aproximação de Giovanni di Lorenzo às forças anti-medici, ver nosso artigo “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e Rebeca ao Poço” em  www.rosasampaiotorres.blogspot.com/
(5) Os Capponi eram família não tão antiga ou tradicional, mas politicamente muito atuantes em Florença desde a derrota dos “magnati”, no século XIV. Ricos, ligados à produção de seda, haviam já participado como liderança do governo republicano radical ou teleológico de Savanarola e do período final da República de 1527/30, atuando com os Cavalcanti, os Strozzi e outras famílias anti-medici.  Ver mais sobre a atuação política dos Capponi, Strozzi, Cavalcanti e outras famílias de Florença, Torres, Rosa Sampaio – artigo "Médici X Cavalcanti” no 4shared e artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti e 2ª parte “Conspiração Pucci & Rodolfi” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ 
    Vários jovens Capponi participarão, poucos anos depois, também da Conspiração Pucci & Ridolfi de 1575, por fim especialmente caçados pelos Medici por toda a Europa. Ver mais bibliografia na nota 6 e ainda referencias a caçada dos Capponi na nota 15.
(6) Torres, Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, 2ª parte “Conspiração Pucci & Rodolfi” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ 
(7) O envolvimento posterior de Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, pai de Filippo Cavalcanti, no episódio da Segunda Republica Florentina de 1527-30 é comentada em pelo menos dois artigos de Torres, Rosa Sampaio – “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos...” e “Giovanni di Lorenzo e Rebeca ao Poço”, ambos publicados no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ tendo como fonte especialmente Sicca, Cinzia M. – Artigo “Consumption and trade of art beetween Italy and England in the half of the sixteenth century: the London house of the Bardi and Cavalcanti company” in Renaissance Studies 16, no 2, 2002.
     Já o envolvimento político do nosso patriarca Filippo Cavalcanti contra os Medici em Florença é continuamente referido pela tradição oral da família, em especial referendada pelo respeitado historiador Evaldo Cabral de Mello no artigo já referido “O mito de Veneza no Brasil”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”, 1 de julho 2001, repetido e editado em seu livro, Um imenso Portugal, Ed. 34, 2002, pg.156, cap. “O Mito de Veneza”. Citado na nota 2.
       Esta informação familiar ainda hoje é transmitida oral e literariamente, pelo menos, por dois ramos familiares descendentes da família Cavalcanti de Albuquerque no Brasil: o dos Cavalcanti de Gusmão e o dos Cavalcanti Bittencourt. O assunto é aprofundado em Torres, Rosa Sampaio – artigo “Filippo di Giovanni Cavalcanti” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ 
(8) Torres, Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, 2ª parte “Conspiração Pucci & Rodolfi”, com todas as fontes no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ e       também Torres, Rosa Sampaio – artigo “Filippo di Giovanni Cavalcanti”, no mesmo blog. Ainda o ensaio “Notas Biográficas sobre Bartolomeu Cavalcanti” neste blog. 
      Bartolomeo Cavalcanti seria um conspirador muito experiente. Desde 1527 atuava não só militarmente, mas também conspirava contra os Medici e pela Republica. Mas em 1559, Bartolomeu não teria conseguido livrar Stolto Cavalcanti de tarefa arriscada e da consequente punição. Stolto era tido como seu sobrinho, mas na verdade um parente colateral do ramo "Ciampolo”. Stolto, jovem (17 de junho 1526 - janeiro 1560) e sofisticado filho do banqueiro Tomazzo Cavalcanti, certamente ficou muito indignado pelo assassinato por amigos dos Medici de seu adolescente irmão, de dezessete ou dezoito anos (11 de abril de 1537-1555) e por este motivo teria aceitado a incumbência deveras arriscada que parece o deteve, até o fim, em Florença. Mais sobre Stolto e sua trágica família na bibliografia citada. 
 (9) Republicanos exilados das mais variadas tendências republicanas, indiferentemente radicais ou “ottimatis", segundo os profundos estudos do historiador moderno Paolo Simoncelli (opus cit.) não se haviam ainda dado por vencidos na luta contra os Médici prepotentes após a queda da Republica de Florença em 1530 e a derrota militar humilhante de Montemurlo, em 1537. 
       Desseseis anos mais tarde, a luta pela defesa da República de Siena (1554/55), cidade vizinha ameaçada por Cosme I de Medici, ainda agregará um grupo poderoso de banqueiros florentinos, mobilizados sobretudo por Bindo Altoviti, líder dos banqueiros de Florença em Roma, que havia perdido seu filho Cássio lutando em Montemurlo.     Desta empresa participavam jovens de inúmeras famílias e de várias facções republicanas exiladas, os chamados “fuoriusciti”, lutando unidos contra as tropas armadas medicéias e imperiais. Contavam os rebelados, agora, com o auxílio aberto do rei Henrique II da França, marido de Catarina Médici, esta em luta especial contra seus parentes já no contexto mais amplo da guerra francesa contra as forças do Sacro Império. 
       Neste episódio da defesa da cercada, e por fim dilacerada Siena, a família Cavalcanti se colocou pelo muito experiente Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti em função dirigente. Nesta ocasião seu jovem filho, Giovanni, foi tomado por Cosimo como refém. Também os filhos do falecido e poderoso banqueiro Filipe Strozzi, que se suicidara na prisão, atuaram como comandantes militares e foram, nestes episódios, muito penalizados.
       Castelos e fortalezas da região tornados ruínas pelos bombardeios. Siena teve sua população devastada. Neste contexto, após a derrota da batalha de Marciano (ou Scannagallo), agosto de 1554, centenas de famílias sienenses resistentes se juntou às forças do comandante ferido, Piero Strozzi, que curava seus ferimentos na fortaleza de Montalcino.
       Resumo de Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti” publicado na mídia eletrônica, em http/;//4shared.com/ , e onde todos os detalhes e fontes são referidos.
(10) A queda da “Republica de Siena Retirada para Montalcino” e a descoberta da “Conspiracão Pucci & Cavalcanti” no mês de outubro do mesmo ano de 1559, constituem, a nosso ver, os episódios culminantes da resistência florentina aos Médici dominantes na Toscana, episódios ocorridos num mesmo momento histórico. 
      O assunto é analisado e contextualizado em Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti” http/;//4shared.com/ , com todas as fontes referidas. Consultar também Benci, Spinello - Historia de Montpulciano, [Massi], 1882, pg.134.
    A “Republica popular de Siena Retirada para Montalcino”, região identificada na Toscana é hoje uma herança cultural, tombada pela Unesco em 2007.
(11) Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti” http/;//4shared.com/ , com fontes.
(12) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) foi famoso escritor, crítico e humanista francês.    
      Seu pai foi o nobre Pierre Eyquem que havia lutado chefiando tropas francesas, juntamente com republicanos exilados florentinos, contra as forças do Sacro Império Germânico e os Medici na batalha de Marciano em 1554 - espírito tido como metódico e aberto, neste sentido orientando a educação do filho. 
     O jovem Michel fez estudos de Direito. Retirou-se para o seu castelo quando tinha 34 anos, com a intenção de se dedicar ao estudo e à reflexão. Levou nove anos para redigir os dois primeiros livros dos “Essais”, obra em que tenta fazer uma analise das instituições, de opiniões e costumes sociais. Depois de viajar pela Europa durante dois anos (1580-1581) fez o relato desta viagem no livro “Journal de Voyage”. Ao regressar ao seu castelo, continuou ainda a escrever os “Essais”. Seu livro “Journal de Voyage” somente será publicado em 1774. Em sua obra, muito pessoal e intimista, Montaigne chegou a criticar a devastação indígena pelos espanhóis e o próprio fim da Republica popular de Montalcino, para ele de grande simbolismo, inclusive familiar. Espírito despido de misticismo, céptico, mas humanista.  
(13) Simoncelli, Paolo - Fuoriuscitismo Republicano 1530-54, FrancoAngeli, 2006, “Introducione”, pg.10 e 11. O autor cita Montaigne, (M. de - Giornale di Viaggio, vol. III, Firenze, Parenti, II, pg.141, 142) e relata sua visita sentimental à Montalcino em julho de 1581, fortaleza que ele afirmava “capital d´una Reppublica in agonia, eroica e estinta...”
   John Adams, presidente americano, adiante desenvolveu um estudo teórico sobre a Republica Florentina de 1527-1530, buscando adaptar o modelo de “pequenas republicas” ao sistema representativo.  Ver The Works of John Adams, Second President of the United States: with a Life of the Author, Notes and Illustrations, by his Grandson Charles Francis Adams (Boston: Little, Brown and Co., 1856). 10 volumes. Vol. 5. Chapter Third, Florence.    
     Consultado ainda Furtado, José Pinto- O manto de Penélope; historia, mito e memória da Inconfidência, Cia. Da Letras, 2002, com resumida abordagem teórica sobre o conceito de Republica a partir do romano Cícero (103-460), pensador que articulou “consenso político” e “utilidade comum”. 
     Especificamente sobre os ordenamentos das Republicas de Florença, neste período, já existem trabalhos brasileiros na área jurídica.   
      Os episódios da Toscana, neste período, são melhor contextualizados em Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti” http/;//4shared.com/  
(14) A península italiana no século XVI estava engajada na luta pela manutenção de suas tradicionais Republica-Estado: Genova, Florença, Lucca e Siena.  No ducado de Milão a questão republicana também se havia colocado no curto período da “Republica Áurea Ambrosiana”, 1447-1450, e por ocasião do atentado republicano de Girolamo Olgiati, em 1476, de consequências dramáticas.  
   A República de Veneza, entretanto, constituiu experiência duradoura no modelo “ottimati”, em vigor do ano aproximado de 697 até ser tomada por Bonaparte em 1797.
     Outras Republicas existiram fora da península italiana, e aí o processo se deu, contrariamente, em sucesso crescente: a “Confederação Helvética” (séc. XIII até hoje) a “Republica de Ragusa”, em Dubrovinik na Croácia (1358-1808), a “Republica das Duas Nações” - Polônia e Lituânia (1569-1791), as “Províncias Unidas dos Paises Baixos” (1579-1795, a partir desta data “Bávara” e posteriormente socialista/comunista de 1918 até maio 1919). A experiência republicana inglesa foi curta (1641-1652). A 1ª Republica francesa de 1792 a 1804, e a americana de 1789 dura até hoje.
    Ver mais alguns comentários sobre as variadas experiências Republicanas no século XVII em Evaldo Cabral de Mello - A Fronda dos Mazombos, Cia. das Letras, 1995, pg. 280.
     Ainda artigo específico de Torres, Rosa Sampaio - “Os ideais Republicanos na Peninsula Italiana” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ 
(15) Torres, Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti” e 2ª parte “Conspiração Pucci & Rodolfi” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ e, da mesma autora, o artigo “Medici X Cavalcanti”, publicado em http/;//4shared.com/
     Para exemplificar a duríssima punição e perseguição dos Medici, perseguição que nosso Filippo pode ter temido, relembramos nestes artigos citados acima o acontecido com os jovens da família Capponi que participaram da Conspiração descoberta em 1575, duramente caçados pelos Medici por toda a Europa.   
   Em nossa própria pesquisa, constatamos a morte de Piero Capponi quando alcançado, fato que é confirmado em Diaz, Furio – Il Gran ducado di Toscana; I Medici, UTIET, 1976, pg. 232 e Murphy, Caroline P. – Isabelle de Medici, Murder of a Medici Princess, Oxford Press, 2008, pg. 292. A morte de Piero é também referida por Carta, Paolo – La Republique em Exil, XVXVI siècles. ENS, 2002, pg.115, citando ainda Piero Capponi como exemplo dos republicanos florentinos protegidos pela corte francesa de Catarina de Medici. Sachetti, Franco e Capponi, Gino – La Villa di Marignolle, Universidade de Michigan, Marcílio, 2000, pg. 30, também comentam as boas relações de Piero Capponi com a Rainha inglesa e seu sepultamento em Londres. O historiador Boutier, Jean – artigo «  Trois conjurations Italiennes: Florence (1575), Parme (1611), Gênes (1628) » in « Melange de l´Ecole française de Rome ». Italie et Méditerranée, T. 108, n 1, 1996, acompanha notavelmente a caçada dos Capponi, mas não registra a morte de Piero.
       A data do falecimento de Uguccione Capponi - 1597 - alcançado pelos sicários Medici fora do Estado é apenas referida por di Ricci, Giuliano, Cronaca (1532-1606) vol. 17, Ricciardi, 1972, pg. 212. Esta data coincide com a data de sua morte indicada na tabela de Boutier, Jean – artigo citado, sem outras indicações.
        Ruperto (Roberto) di Piero Capponi teria sido, na França, ainda bem mais tarde, em 1605, assassinado, quando já havia sido perdoado.  No poder já estava o grão–duque Ferdinando, filho de Cosimo I (Boutier, Jean – artigo citado, pág. 337, sua fonte P. Litta e Passerini).
(16) Ideias republicanas ou meros comentários seriam perigosas de ser explicitadas por Filippo di Giovanni Cavalcanti no Brasil Colonial dos primeiros tempos, não só por se constituirem um atentado contra a Coroa portuguesa que o abrigava, ainda pelo perigo da perseguição dos tirânicos Medici, tema que Filippo certamente desejaria evitar em publico. Sabe-se que os Medici, ainda no fim do século XVI, mantinham elementos que os informavam sobre as colônias e os florentinos que aí habitavam, conforme também constata Sérgio Buarque de Holanda em seu artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil ao tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” - Revista de História n. 71, 1967, pg.103, pdf.
(17) Torres, Rosa Sampaio Torres – “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição Gráfica Visual, 2001, 2ª edição revista em 2011 para uso familiar, mas aberto para consultas. Também em especial artigo da mesma autora, em finalização, “Antonio Cavalcanti, o da Guerra Holandesa”, aberto a pesquisas.  
(18) A veracidade deste episódio é discutida por Evaldo Cabral de Mello em A Fronda dos Mazombos citada, pg. 277-8, autor que por fim referenda sua ocorrência, pois repetido em várias crônistas de época.    Bernardo Vieira de Mello, naquela ocasião, estaria além do mais envolvido no assassinato de sua nora Ana de Faria e Souza, ainda prevendo um possível ataque dos franceses de Du Clerc que então ocupavam o Rio de Janeiro. 
     Bernardo Vieira de Mello era senhor de engenho e se havia tornado experiente militar e sertanista, ambicioso do cargo de governador, pronto para uma resistência militar prolongada à metrópole. Com o fracasso dos rebeldes foi detido, acusado de sedição.  Enviado para a prisão do Limoeiro, em Lisboa, com seu filho e outros revoltosos, inclusive os Bezerra Cavalcanti, sob ferros. Morreu aparentemente de causas naturais na cadeia. 
   Sobre Vieira de Mello, consultar Cabral de Mello Evaldo - O Nome e o Sangue, Cia. das Letras, S.P., 1989, pgs. 44, 45, 46, ainda A Fronda do Mazombo, citada, índice onomástico e seu envolvimento na morte de sua nora, pag. 307. Vieira de Mello é citado por Frei Caneca como enviado para Portugal (ver Cabral de Mello, Evaldo – Frei Joaquim do amor Divino Caneca, editora 34, 2001, pg. 283). Mais informações sobre a “Guerra dos Mascates” na nota 20.
(19) Os conflitos e episódios cotidianos, inclusive episódios de caracter republicano durante a chamada “Guerra dos Mascates” são apresentados de maneira romanceada, mas dentro do espírito da época, por Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque em “O Magnificat, Memórias Diacrônicas de Dona Isabel Cavalcanti”, Tempo Brasileiro, RJ, Fundação Roberto Freire, 1990, pg. 106 e seguintes. 
    Os sentimentos e os conflitos internos dos Cavalcanti de Albuquerque, por sua psicologia muito especial, síntese de pelo menos quatro culturas e etnias, são expostos pela romancista com rara sensibilidade, ainda que a cronologia apresentada não esteja muito correta, cronologia até hoje historiograficamente mal apresentada.    
    A existência de conflitos na família Cavalcanti de Albuquerque são inteiramente confirmados por pesquisas históricas realizadas por Rosa Sampaio Torres, pesquisas realizadas paralelamente ao trabalho ficcional de Ana Cristina, e especialmente focado no principal ramo varonil dos Cavalcanti de Albuquerque, descendente de Antonio e seu filho Felipe, estabelecido em Alagoas no fim século XVIII no engenho Castanha Grande. Esta pesquisa é apresentada com detalhes no artigo “O Ramo dos Cavalcanti de Albuquerque do engenho Castanha Grande”, próximo no blog. Também sobre a longeva caracteristica “sdegnosa” dos Cavalcanti, Torres - Rosa Sampaio, artigo “Os Sdegnosos Cavalcanti” já publicado no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/
(20) Guerra dos Mascates – Conflitos políticos e militares ocorridos em Pernambuco entre 1709-1711, do qual participaram senhores de engenho de Olinda contra autoridades e comerciantes portugueses, mascates do Recife. Tem como vencedores os comerciantes de Recife que vêm assim como predominantes seus capitais mercantis, nos moldes necessários ao sistema colonial. Durante a revolta da “nobreza da terra”, a sedição contra a Coroa se faz patente. 
   Nestes episódios os Cavalcanti de Albuquerque têm papel liderante. O ramo dos Bezerra Cavalcanti - descendentes de Antonio, filho do florentino, pela neta Isabel, o bisneto Antonio, “o da Guerra”, e a trineta Leonarda casada com Cosme Bezerra Monteiro - foram no conflito com os Mascates, em 1710, tidos conscientemente como os mais insubmissos frente às autoridades portuguesas que assim os privilegiaram em suas punições. O coronel Leonardo Bezerra Cavalcanti, sabidamente, tinha desprezo pelos reinóis e foi enviado para a prisão do Limoeiro, em Lisboa, depois degredado para as Índias com Leão Falcão d´Eça.  Dois de seus filhos seguem o destino trágico do pai. Igualmente seus dois irmãos, o capitão Cosme Bezerra Monteiro e Manuel Cavalcanti Bezerra, todos embarcados “carregados de ferros”, enviados para Portugal com outros rebeldes e iguais destinos trágicos. 
   Em “A Fronda dos Mazombos”, no capítulo VI, “A Sedição da Nobreza”, Evaldo Cabral de Mello discute a ocorrência de reunião rebelde na Câmara de Olinda onde teria sido votada uma proposta republicana de governo, proposta vencida, escolhido o bispo para o governo. Cabral de Mello sugere ainda nesta ocasião  uma aliança dos Bezerra Cavalcanti com elementos republicanos como André Dias de Figueiredo e José Tavares de Holanda.  A destruição do pelourinho por rebelados em trajes indígenas, durante esta fronda em 1710, tem caráter simbólico e demonstra seu nítido pendor nativista, contra a prepotência colonial. 
     E os Bezerra Cavalcanti serão até mesmo, no século seguinte, homenageados por frei Caneca, o republicanista por excelência já da confederação do Equador (ver Cabral de Mello, Evaldo – Frei Joaquim do amor Divino Caneca, editora 34, 2001, pg. 283).
    Também resumo, correções e citações da participação dos Cavalcanti no episódio, Torres, Rosa Sampaio Torres – “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição Gráfica Visual, 2001, ainda restrito ao uso familiar. Da mesma autora artigo específico sobre os Bezerra Cavalcanti e a “Guerra dos Mascates”, ainda em elaboração, mas aberto a pesquisas. 
     Cavalcanti de Albuquerque, Maria Cristina - opus cit., pg.108-137, apresenta com detalhes romanceados a “Guerra dos Mascates” e o clã dos Bezerra Cavalcanti.
(21) Em “A Fronda dos Mazombos”, no capítulo VI, “A Sedição da Nobreza”, especialmente pgs. 280-281, Evaldo Cabral de Mello sugere a aliança dos Bezerra Cavalcanti com André Dias de Figueiredo e José Tavares de Holanda - este formado em Direito, falando idioma estrangeiro, e tendo provavelmente estudado na Europa, com influências de ideias europeias republicanas (e iluministas?) durante o episódio da Guerra dos Mascates. Na nota 108 o autor cita como fonte as informações colhidas em crônica de época do dr. Manoel dos Santos, “[Narração histórica das] Calamidades de Pernambuco”, editada por J. A Gonçalves de Melo, Recife, 1986, pg.72.            
    Sobre os Bezerra Cavalcanti e a “Guerra dos Mascates” ver ainda nota 20 acima e Torres, Rosa Sampaio Torres – “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição Gráfica Visual - 2001, para uso familiar.
(22) Conspiração Suassuna – conspiração descoberta em 1801, precedida pela Inconfidência Mineira (1789). Está incluída no ciclo de episódios organizados contra a dominação colonial no Brasil e América Espanhola, já inspirado pelos ideais iluministas e liberais de Revolução Francesa de 1789. A “Conspiração Suassuna” teria preconizado, até mesmo, a tomada de Napoleão como protetor. Seus líderes foram Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque e José Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque, donos do engenho “Suassuna” em Penambuco. Francisco de Paula foi preso nesta ocasião. A devassa da conspiração, entretanto, ocorreu em sigilo tendo em vista a importância social dos implicados. Tinha como inspiração as idéias do “Aerópago de Itambé”, sociedade secreta que não admitia a participação de europeus em seus quadros, fechada após a descoberta da “Conspiração Suassuna”. Os ideais de Itambé ressurgem na própria “Academia dos Suassunas” que continuou funcionando no engenho do mesmo nome, acabando a família envolvida novamente na Revolução de 1817, em Pernambuco.
(23) Na Revolução Pernambucana de 1817, o ramo dos Suassuna e outros de Cavalcanti de Albuquerque e Albuquerque Maranhão tiveram atuação de destaque. Os Albuquerque Maranhão no episódio tiveram vários de seus membros decapitados.     
     Evaldo Cabral de Mello (artigo “Entre a República e a Monarquia” – Folha de S. Paulo 4/8/2002) lembra a atuação do famoso “Cel. Suassuna” (Capitão-mor Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, 1760-1827), novamente preso neste episódio de 1817: “O Suassuna teve contato com o movimento concordando com o líder Antonio Carlos Ribeiro de Andrade que homens de qualidade estariam ‘arruinados se não juntassem os seus esforços para destruir uma cabala de malfeitores [....] A Ribeiro de Andrade [...] Suassuna teria prometido aliciar apoios no sul da capitania, ficando a cargo do Andrada contatar um setor da tropa de linha. Enviado pela junta para barrar a marcha do exército realista da Bahia, Suassuna procurou entabular negociações com o general Congominho, que comandava o exército realista, contando seguramente com a adesão de oficiais maçons de tendências constitucionalistas que compunham o estado-maior”. Ainda sobre as atividades do cel. Suassuna em 1817 e seus contatos com bonapartistas, Cahú, Sylvio de Mello – A revolução Nativista Pernambucana de 1817. Biblioteca do Exercito, 1951, pg. 16, 92 e 136. O assunto também referido em Grieco, Donatello - Napoleão e o Brasil, Bibliex, 1955 citado em Torres, Rosa Sampaio, “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição gráfica Visual 2001, 2ª edição revista 2011, para uso familiar.
(24) Os “Suassunas", membros do ramo de Cavalcanti de Albuquerque do engenho do mesmo nome, por sua rebeldia nativista estiveram, portanto, no cerne do processo de Independência. Não é por outro motivo que os quatro filhos do chamado “cel. Suassuna” preso por sua participação em 1817 tornaram-se figuras de relevo, reconhecidas por D. Pedro I para interlocução e administração do novo Império e em seguida nobilitados. Entre estes irmãos, Antonio Francisco de Paula Holanda Cavalcanti de Albuquerque - o Visconde de Albuquerque - se destaca o por sua importantíssima atuação parlamentar e ministerial.  
(25) Deste quarteto o irmão mais velho, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, depois Visconde de Suassuna, fez parte ainda da Junta dos Matutos em 1823, episódio de governança pernambucana que antecede à Confederação do Equador, junto com um Albuquerque Maranhão.  Outro membro da família Bezerra Cavalcanti, Leonardo Bezerra Cavalcanti que foi deputado, é ainda referido também como participante da Confederação do Equador, já no ano seguinte.
(26) Torres, Rosa Sampaio – artigo “O Ramo dos Cavalcanti de Albuquerque do engenho Castanha Grande”, próximo a ser publicado no blog  www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ O ramo do Castanha Grande é referido em Torres, Rosa Sampaio Torres “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição Gráfica Visual 2001, para uso familiar, mas aberto a pesquisas.