Os Cavalcanti em questão

Notamos em comentários recentes, na mídia ou até mesmo em trabalhos acadêmicos, o uso excessivo da expressão “ou se é Cavalcanti ou se é Cavalgado”.  Expressão que tem origem em quadrinha popular pernambucana do período imperial, repetida atualmente sem maiores reflexões: 
   
    "Quem viver em Pernambuco
      não há de estar enganado:
      Que, ou há de ser Cavalcanti,
      ou há de ser cavalgado." (1).

    É conhecido o fato gerador deste refrão. 
    
     Após a obtenção da Independência, uma geração de quatro irmãos muito ilustrados da família Cavalcanti de Albuquerque, todos depois nobilitados, exerceram predominância no cenário político do Império – ocupando cargos, seja no governo da província de Pernambuco, seja na Câmara de Deputados ou nos Ministérios - dando assim oportunidade ao surgimento desta quadrinha popular tão crítica (2).     

    Ainda que o refrão bem expresse a predominância da família Cavalcanti em Pernambuco neste período, procuramos aprofundar nossas pesquisas para entender melhor o contexto histórico do surgimento desta expressão – expressão que, utilizada hoje sem seu exato contexto não faz justiça a uma família precursoramente engajada na luta pela Independência, hoje em dia das mais bem sucedidas e numerosas do Brasil. 
   
   
    Desde logo, observamos que o pai destes quatro irmãos tão influentes no Império fora Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque (1760-1827), o famoso “Coronel Suassuna” - um dos lideres, com seu pai e irmãos, de conspiração independentista em 1801, conspiração tramada no próprio engenho Suassuna de que eram proprietários. O assim chamado “Coronel Suassuna” foi ainda mais uma vez preso por participação na Revolução Pernambucana de 1817 (3). 
    Constatamos que os Cavalcanti de Albuquerque do engenho Suassuna eram também descendentes do patriarca Antonio Cavalcanti, “o da Guerra” holandesa, precoce líder nativista falecido em 1645 – de ramo, portanto, particularmente atuante no próprio processo da Independência (4). 
      O mais velho do quarteto, José Francisco de Paula, depois Visconde de Suassuna, chegou também a fazer parte, já em 1823, da “Junta dos Matutos” - episódio de governança em Pernambuco que antecede à própria Confederação Republicana do Equador (5) (6).
    
    Não é por acaso, portanto, que estes quatro filhos do “cel. Suassuna”, descendentes de família tão atuante e nativista, tenham se tornado figuras de relevo após a proclamação da Independência - logo reconhecidos e escolhidos para interlocução e administração do novo Império, em seguida nobilitados. 
  Mas consequente predominância expressiva destes quatro Cavalcanti de Albuquerque, do ramo do engenho Suassuna em Pernambuco, província durante o Império já tão desejosa de ampliação de sua representação social, dará origem a este ditado regional - “ou se é Cavalcanti ou se é cavalgado” (7). 
  
    Como exemplo da vulgarização da expressão popular citada, indicamos o artigo de Marcus J. M. de Carvalho que leva até mesmo o título “Cavalcantis e Cavalgados - A formação das alianças políticas em Pernambuco, 1817-1824” (8). 
     O autor, ao analisar o período, tenta destrinchar a especial estratégia equilibradora de poder exercida por este ramo familiar, especialmente em Pernambuco:  

                     “O domínio local ficava garantido através do irmão mais velho, Francisco de Paula... Como Holanda [o visconde de Albuquerque] filiar-se-ia ao partido liberal e Francisco - e depois o mais novo Pedro - ao conservador, qualquer que fosse o ministério, eles estavam no poder” (9).


   Entretanto, ao tentar aprofundar o assunto, o autor acaba por nos deixar perceber, ainda que em mera nota de rodapé, a mais sutil e pretensiosa estratégia política desenvolvida por este ramo peculiar dos Cavalcanti de Albuquerque - estratégia que lhes permitirá exercer não só um amplo espetro de poder na Província e no Império, mas, aos moldes críticos dos antigos Cavalcanti florentinos (10), capaz de limitar também a própria ação discricionária do trono. Afirma J.M. de Carvalho, nesta nota de rodapé:     
    
                       “Holanda Cavalcanti [o Visconde de Albuquerque] chegaria ao ponto de ser o primeiro deputado a ousar dirigir uma queixa direta à fala do trono. Em maio de 1828, propôs uma emenda ao voto de graças da Câmara, no qual se substituía a expressão "a mais completa satisfação" pela expressão "o maior pesar", pois os tratados concluídos por Pedro não haviam sido levados ao conhecimento da Assembleia antes de sua ratificação. Nenhuma emenda fora tão atrevida até então” (11).
     
     Deste filho do cel. Suassuna, alcunhado “Holanda”, Antonio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque (1797-1863) - o Visconde de Albuquerque, cuja memória a historiografia ainda não conseguiu apagar - se diz que expressava a veia crítica dos seus ascendentes, dotado ainda de larga visão conciliadora e igual firmeza liberal, capaz de desenvolver atuação política ilustre no governo do Império, tantos foram os ministérios que ocupou.  De simplicidade rústica, ao mesmo tempo alta distinção, este Cavalcanti ainda muito jovem teria participado das atividades conspiratórias da “Academia dos Suassunas” para, mais tarde, chegar a exercer este seu elevado poder crítico e mesmo fazer comentários sobre o autoritarismo do Imperador (12).  
     Joaquim Nabuco já havia percebido a longeva influência republicana neste Cavalcanti, pois sobre ele afirmou: 

                       “... combinação da antiga nobreza territorial de Pernambuco com o espírito republicano à velha moda romana de 1831 - um Feijó-Cavalcanti, se pode defini-lo, nascido e criado nos engenhos do Norte.” (13)
  

    Mas não ficam por ai os questionamentos, atualmente tão em voga, à atuação política da familia Cavalcanti. 
   
    No sentido de desabonar, igualmente, esta família tão denodada, o historiador Marc Jay Hoffnagel, com temática mais recente, em seu artigo “O partido liberal de Pernambuco e a Questão Abolicionista 1880/1888”, tenta referir-se ao alagoano Ambrósio Machado da Cunha Cavalcanti como um exemplo de senhor de engenho anti-abolicionista (14). 
   
     Com argumentação facciosa, o autor acaba por praticamente ignorar o fato deste Cavalcanti de Albuquerque, político distinto e ilustrado, haver enfrentado a peito aberto um conflito preparado por membros de família rival na época, os Souza Leão, e quase ter morrido nesta ocasião - violentamente agredido a tiros e facadas na porta de uma Igreja. E, depois da própria Abolição e da proclamação da República, Ambrósio ter ocupado o cargo de Governador de Pernambuco por duas vezes, no ano 1890 e entre os anos de 1892 e1896. 
     O autor não pesquisou seu personagem e não sabia que Ambrósio, formado em Direito em Olinda e também em Bruxelas, era descendente de um ramo já liberal dos Cavalcanti do engenho “Castanha Grande” estabelecido em Alagoas.  Seu pai, Manoel Cavalcanti de Albuquerque, já havia também tido sua cabeça à prêmio por ocasião da Revolução Pernambucana de 1817, patriarca alagoano reconhecido em nossa historiografia por sua cultura iluminista e seu liberalismo. 
      Para não contrariar sua intenção teórica, o autor força a mão em tese populista e, da mesma forma, apenas em nota de rodapé, refere-se a este conflito em que Ambrósio se envolve - episódio denominado “Hecatombe de Vitória” ocorrido em 1880, um dos mais bonitos e interessantes do período, com grande repercussão na Corte - episódio vivenciado por um dono de engenho Cavalcanti, “fidalgo de modos e alma” que expunha sua própria vida já na luta contra a escravidão, e mesmo precocemente pela República. Triste constatação para um historiografia inconsequente (15).
               
    Como nossa História factual é atualmente pouco aprofundada, gráficos econômicos tidos como preferenciais, fatos como esses são ignorados pela mídia, mesmo pela comunidade artística, cinema ou outros meios.  Assim corremos o risco de vulgarizar e cristalizar uma visão da nossa realidade passada, por vezes deturpada ou míope. 
     
     Atualmente, luto na mídia eletrônica para que alguns outros vultos importantes e significativos da família Cavalcanti de Albuquerque não tenham igualmente sua memória deturpada, caso do patriarca maior da família no Brasil, Filippo Cavalcanti, fidalgo florentino transferido para o Brasil no século XVI e aqui casado com a mameluca Catarina de Albuquerque, filha de Jerônimo de Albuquerque.  
    Filippo foi referido, há pouco tempo, por um genealogista politicamente preconceituoso na Wikepédia como um “burguês”, vindo para cá como negociante de açúcar - quando a nossa tradição oral indica, e tudo confirma, que Filippo, um fidalgo e cortesão da época, aqui chegava fugindo de uma perigosíssima conspiração republicana contra a prepotente família Medici em Florença (1559). Conspiração na qual, em várias capitais europeias, vários ramos de sua família comprovadamente atuaram; até mesmo seu pai Giovanni di Lorenzo, referido por este mesmo genealogista como mero negociante de artes, propositadamente ignorado seu interessante papel de diplomata e mecenas atuando pelos ideais de manutenção da República florentina entre 1525/1527 (16).
   
    Até mesmo o vulto relevante do já referido Antonio Cavalcanti de Albuquerque, cognominado “o da Guerra”, precoce líder nativista da “nobreza da terra’ com importantíssima participação na luta pela Restauração contra os holandeses entre 1640 e 1645, sofre o perigo de ser ignorado por uma historiografia parcial e perigosamente economicista - risco de ser analisado fora do um contexto final de Idade Media, historiografia preocupada em desmerecer a “nobreza da terra”, rotulada agora como “açucarocracia” colonial.  
   
   Chegaremos ao ponto de esquecer propositadamente a contribuição decisiva dos Cavalcanti de Albuquerque e também dos Bezerra Cavalcanti, líderes em definitiva luta nativista, verdadeira “fronda” contra a coroa em 1710? (17).  E os seus parentes colaterais nativistas Albuquerque Maranhão, dezenas deles mais tarde martirizados em 1817 pela Independência, também esquecidos?   Triste memória nossa.
   
     Mas, ao historiador sério, não ficarão sem lembrança tantos esforços pela nacionalidade por parte desta família Cavalcanti de Albuquerque, família moralmente bem formada, há já muitos séculos  re publicana em sua essência, destituída de preconceitos raciais ou classistas, politicamente engajada, culturalmente liderante. 
   
    Que seus descendentes Cavalcanti de Albuquerque tenham vida ainda mais longa e profícua deste lado do Atlântico! 
     


Notas 
(1) Sabemos que  movimento da Praieira (1848-50) teve razões sociais, econômicas e políticas já  aos moldes europeus da epoca  e contou com a participação das camadas menos favorecidas de Pernambuco, tendo como pano de fundo ainda a histórica rivalidade com os portugueses, que dominavam o comércio na Província . 
   A quadra popular de época referente à família Cavalcanti foi  recolhida e citada na Revista  Brasileira de História, vol. 18, n. 36, São Paulo,  1998:

     "Quem viver em Pernambuco
      não há de estar enganado:
      Que, ou há de ser Cavalcanti,
      ou há de ser cavalgado."

(2) Os irmãos Cavalcanti de Albuquerque,filhos do general Suassuan atuante em 17 são:
  1- Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque (1793-1880), o irmão mais velho dos  irmãos - fez parte da “Junta dos Matutos” em 1823 (ver nota 3) e ocupou o cargo de presidente da província de Pernambuco pelo partido Conservador em três ocasiões. Visconde de Suassuna em 1860.
   2- José Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque - possivelmente morto em combate em 1817
  3- Antonio Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque (1797-1863), Visconde de Albuquerque em 1834, também chamado Holanda. De formação militar, casado com Emília Amália de Albuquerque foi Senador, Ministro da Fazenda (em 1830, 31, 32, 46, 62) da Marinha (em 1840, 44, 45, 46), Interino de Guerra (45), tendo disputado mesmo com Feijó a regência Una. Conselheiro do Imperador, Ministro de Fazenda no gabinete de 1830, retornou ao Ministério na crise da Abdicação. Foi Grão- Mestre Maçon. 
  4-  Luiz Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, homônimo de seu tio, (1799 -1838). Estudava em Coimbra durante o episódio de 17, onde se formou em 1820. Teria participado do episódio rebelde de Goiana em 21 pois constatamos seu nome  na lista dos presos  embarcados para Lisboa, indicado como “o desembargador”. Em 23 nomeado juiz e depois desembargador da Relação de Pernambuco. Esteve entre os primeiros deputados eleitos à Assembleia Geral Legislativa, junto de seus irmãos Francisco e Antônio, representando Pernambuco, durante as primeiras sessões legislativas,  de 1826 a 1838.  
  5 - Manoel Francisco de Paula Cavalcanti, formado em Matemática em Coimbra, em 1821. Exerceu o cargo de deputado provincial por Pernambuco por várias vezes. Elevado a barão de Muribeca em 1860. 
       6 - Pedro Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, irmão mais moço            (1806-1875), Barão em 1860 e Visconde de Camaragibe em 1875 - formado em Direito pela Universidade de Coimbra, doutorado também em Direito na Universidade de Goeting na Alemanha em 1827. Deputado Provincial diversas vezes, foi Deputado a Assembléia Geral em seis legislaturas, tendo presidido a Câmara diversas vezes. Senador por sua Província, nomeado em 1869. Do Conselho do Imperador. 
     Informações básicas da genealogista Adalzira Bittencourt - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965 - listagem baseada em Jaboatão e Borges da Fonseca, corrigida por Carlos Xavier de Paes Barreto, pgs. 300, 339 e 340 – Por nós corrigido o nome do irmão mais velho. Complementações em http://www.sfreinobreza.com/ANB02.HTM (Archivo Nobiliarchico Brasileiro) e na Wikepédia.
     Ainda outras informações em Torres, Rosa Sampaio – “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição, Gráfica Visual, 2001, edição limitada para uso familiar e atualmente em revisão. 
 (3) Chamada “Conspiração Suassuna” – conspiração descoberta em 1801, precedida pela Inconfidência Mineira (1789). Esta conspiração se inclui no ciclo de episódios rebeldes contra a dominação colonial no Brasil e América Espanhola, inspirada pelos ideais iluministas e liberais de Revolução Francesa de 1789. A “Conspiração Suassuna” teria preconizado, até mesmo, a tomada de Napoleão como protetor. Seus líderes foram Francisco Xavier Cavalcanti de Albuquerque dono do engenho “Suassuna” em Pernambuco e seus filhos Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque (depois chamado cel. Suassuna) e José Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque.   O jovem Francisco de Paula e seu outro irmão, Luíz Francisco, foram presos por ocasião da descoberta de planos da conspiração. A devassa, entretanto, ocorreu em sigilo, tendo em vista a importância social dos implicados. Os conspiradores tinham como inspiração as idéias do “Aerópago de Itambé”, sociedade secreta que não admitia a participação de europeus em seus quadros e que foi fechada após a descoberta da “Conspiração Suassuna”. Mas os ideais de Itambé mantiveram-se na própria “Academia dos Suassunas”, que continuou funcionando no engenho do mesmo nome, acabando a família envolvendo-se também na Revolução de 1817 em Pernambuco.
      O ramo dos Suassuna, outros ramos de Cavalcanti de Albuquerque e de Albuquerque Maranhão tiveram ainda atuação de destaque na sequente Revolução Pernambucana de 1817. Os Albuquerque Maranhão líderes do episódio tiveram vários membros da família martirizados. Também envolvido, com cabeça à prêmio, Manoel Cavalcanti de Albuquerque do ramo do engenho “Castanha Grande” em Alagoas.    
     Evaldo Cabral de Mello no artigo “Entre a República e a Monarquia” – Folha de S. Paulo 4/8/2002, lembra a atuação do já famoso “Cel. Suassuna”, Capitão-mor Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque (1760-1827), mais uma vez preso no episódio de 1817, pai dos depois nobilitados quatro irmãos: “O Suassuna teve contato com o movimento concordando com o líder Antonio Carlos Ribeiro de Andrade que homens de qualidade estariam ‘arruinados se não juntassem os seus esforços para destruir uma cabala de malfeitores [....] A Ribeiro de Andrade [...] Suassuna teria prometido aliciar apoios no sul da capitania, ficando a cargo do Andrada contatar um setor da tropa de linha. Enviado pela junta para barrar a marcha do exército realista da Bahia, Suassuna procurou entabular negociações com o general Congominho, que comandava o exército realista, contando seguramente com a adesão de oficiais maçons de tendências constitucionalistas que compunham o estado-maior”. Ainda sobre as atividades do cel. Suassuna em 1817 e seus contatos com bonapartistas, Cahú, Sylvio de Mello – A revolução Nativista Pernambucana de 1817. Biblioteca do Exercito, 1951, pg. 16, 92 e 136. Tema também referido em Grieco, Donatello - Napoleão e o Brasil, Bibliex, 1955.   
   As informações desta nota com mais detalhes e fontes em Torres, Rosa Sampaio, “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição gráfica Visual 2001, edição limitada para uso familiar, atualmente em revisão. 
(4) O ramo Suassuna descendia do precursor nativista Antonio “da Guerra” por sua filha Isabel Albuquerque casada com Jerônimo Fragoso de Albuquerque, ainda o neto Jerônimo C. de A., o bisneto Antonio C. de A. e a trineta Ana Cavalcanti casada com Francisco Xavier Bernardino.  
     Da outra filha de Antonio “da Guerra” e irmã de Isabel, Leonarda, casada com Cosme Bezerra Monteiro, de família também aguerrida na luta holandesa e nativista, descendeu o clã Bezerra Cavalcanti, grandes heróis e mártires nativistas da Guerra dos Mascates de 1710. Informações genealógicas em Adalzira Bittencourt - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, complementada em especial por Torres, Rosa Sampaio – artigo “Antonio Cavalcanti, o da Guerra holandesa” ainda inédito, mas já aberto para pesquisas.  
 (5) Do quarteto, o irmão mais velho José Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de Albuquerque (1793-1880), Visconde de Suassuna em 1860, fez parte da Junta dos Matutos em 1823, curto episódio de governança pernambucana (outubro de 1822 a dezembro de 1823) que se segue ao governo de Gervásio Pires Ferreira (outubro de 1821-outubro de 22). 
   O historiador Evaldo Cabral de Melo em Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, editora 34, pg. 34, afirma que em 15 de setembro de 1823 “... um movimento castrense prendeu o governador das armas nomeado pelo Imperador e forçou a renúncia do presidente da Junta dos Matutos, Afonso de Albuquerque Maranhão, reduzindo-a ao triunvirato composto de Francisco Pais Barreto, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, futuro visconde de Suassuna, e Manuel Inácio de Bezerra de Melo”. A Junta, assim dividida e desmoralizada, acrescenta o autor ... “arrastou uma triste existência até dezembro de 1823, quando renunciou, enfrentando de um lado a oposição dos antigos gervasistas [desejosos de garantias autonomistas], reunidos em torno do intendente da Marinha, Manuel de Carvalho Paes de Andrade e de Cipriano Barata [republicano], que regressara das Cortes de Lisboa; e de outro as pressões do Rio, donde se exigia que Pernambuco não só enviasse as quantias mensais do tempo do Rei Velho, como o montante de 2 milhões, equivalente às remessas feitas para Portugal após a partida de d. João VI”.  
(6) A Confederação do Equador (1824) fez parte de ciclo revoltoso que convulsionou as Américas Portuguesa e Espanhola, já com nítidos ideais representativos e republicanos, organização federativa e autonomia das províncias federadas. Centrou-se em Pernambuco (2 de julho até 17 de setembro) e Ceará (até 29 de novembro), visando contornar os erros da revolução de 1817. Seus principais líderes foram Cipriano Barata (preso) e Frei Caneca (fuzilado). Sob a liderança da repressão do Almirante Cochrane e do brigadeiro Lima e Silva (depois Duque de Caxias) onze confederados foram executados.
(7) Ver novamente nota 1.
(8) Caderno de Estudos Sociais, Recife, 4n. 2, P. 195-206, jul./dez., 1988.  
(9) Citação do mesmo texto de Caderno de Estudos Sociais, Recife, 4n. 2, P. 195-206, jul./dez., 1988.  Detalhes sobre os irmãos nobilitados já colocados na nota 2. 
(10) A tradição republicana da família Cavalcanti de Albuquerque vem de experiências políticas da antiga família Cavalcanti atuando pela Republica florentina já a partir século XII e XIII, tradição especialmente mantida e cultivada no Brasil pela memória das notórias personalidades do poeta e político Guido Cavalcanti, e também do ativista republicano do século XVI, Bartolomeo di Mainardi Cavalcanti.  A este respeito os inúmeros trabalhos de Torres, Rosa Sampaio no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(11) Fonte usada pelo autor, Falas do Trono, Rio de Janeiro, 1889 - Reedição: São Paulo, Melhoramentos, 1977, p. 112. 
(12) Informações e fontes sobre a possível participação de Holanda em conspiração ainda muito jovem Torres, Rosa Sampaio – “Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição, Gráfica Visual, 2001. Atualmente em revisão, para uso familiar. 
(13) Citação de Nabuco, Joaquim - Um Estadista no Império, 1813-1857, H. Garner 1857, pg. 77. Outras informações e fontes sobre sua possível participação em conspiração muito jovem Torres, Rosa Sampaio –“Família Cavalcanti de Albuquerque”, livreto, 1ª edição, Gráfica Visual, 2001. Atualmente em revisão, para uso familiar. 
(14) Revista Cadernos de Estudos Sociais, Recife, 4 n.2, pg.195-206, julho/dezembro de 1988.
(15) Ambrósio Machado da Cunha Cavalcanti, como seu pai, era descendente de ramo primogênito e varonil dos Cavalcanti de Albuquerque, proveniente do florentino por seu filho Antonio e seu neto Felipe, ramo no século XVIII estabelecido em Alagoas. Ambrósio, apesar de filho primogênito, levou este nome em homenagem ao avô materno, e em razão de grande dívidas de amizade entre as duas famílias. Formou-se bacharel em Direito em Olinda (1857) e também na Universidade de Bruxelas. 
    Em 1861 casou com Antonia da Silveira Lins, filha do Visconde de Utinga.  O jovem Ambrósio é descrito pelo nosso historiador Manuel Diegues Junior como um democrata por índole familiar, ao final abertamente republicano, rival dos Souza Leão em Pernambuco. 
      Ambrósio foi ferido neste conflito frontal na vila de Vitória em Pernambuco, levando dois tiros - um na testa outro na coxa, ainda uma punhalada nas costas. Sobreviveu aos ferimentos, mas seu cunhado, o barão da Escada, Belmiro Silveira Lins, na verdade um conciliador, morreu como vários outros no tiroteio. 
     O episódio ocorrido em 1880 ficou conhecido como “Hecatombe de Vitória”, com intensa repercussão na Corte.    
     Ambrósio, pelo precursor partido Republicano Histórico de Pernambuco, chegou a ocupar o Governo do Estado no ano de 1890 e, novamente, o mesmo cargo entre 1892-1996.  Faleceu em 1897, no seu engenho, o Gaipió (PE). O diplomata e historiador Manoel de Oliveira Lima, que também se debruçou sobre este ramo familiar e sobre a personalidade de Ambrósio, dirá que ele abraçara o credo republicano antes da Abolição, tendo sido um verdadeiro aristocrata no aspecto e nos modos. 
   Ambrósio voltará a estabelecer sua família em Pernambuco, e dele descende o filho Manoel da Cunha Cavalcanti, desembargador naquele estado e, na atual geração, o juiz Rafael Machado da Cunha Cavalcanti, nascido em 1969. 
    Fonte deste texto biográfico, Torres, Rosa Sampaio – artigo “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho Castanha Grande em Alagoas”, próximo no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ com todas as fontes indicadas. 
(16) Todos os vários trabalhos publicados no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(17) Fronda – Conceito utilizado por Evaldo Cabral de Mello em seu livro A Fronda dos Mazombos para caracterizar a chamada “Guerra dos Mascates”.
    A palavra “fronda” é classicamente referida às lutas francesas no século XVI, quando membros da nobreza francesa, durante a menoridade de Luís XIV (1648-1653), combateram o absolutismo liderado pelo Cardeal Mazarino. A palavra em português "fronda" derivada do francês "fronde", significando  “funda” - apetrecho utilizado pelas massas para destruir as janelas de nobres parisienses.


        

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