Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Índias” - sec. XVI, XVII

Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Índias” - sec. XVI, XVII


     Poucas são as referências documentadas sobre a personalidade misteriosa e ocultada do nosso patriarca Filippo di Giovanni Cavalcanti - patriarca que a tradição oral da família no Brasil indica envolvido em conspirações contra os duques de Médici em Florença, e por esse motivo para cá migrado no século XVI.

     Tanto na Europa quanto no Brasil poucas são as informações concretas sobre sua vida e personalidade - ainda que seu pai e irmãos apareçam já muito citados na historiografia européia contemporânea (1).

     Por analogia à sua família italiana talvez possamos perceber Filippo como um típico fidalgo renascentista, nascido em Florença em 12/6/1525, comprovadamente batizado na Igreja de Santa Crocce (2).  Mas suas atividades enquanto jovem na Europa estiveram até agora cobertas por um absoluto silêncio historiográfico, nenhuma informação documentada. Apenas sua passagem pela Espanha e pela corte portuguesa por volta dos 34 anos, pouco antes de embarcar para Brasil em cerca de 1560 (3).

     Entretanto, algumas informações sobre a personalidade de Filippo di Giovanni Cavalcanti e suas preferências pessoais nos restaram no Brasil através os documentos das “Denunciações ao Santo Oficio” - tribunal religioso em que ele, ao fim da vida em Pernambuco, é convocado a se qualificar e a depor no ano de 1583.

    Estas informações constam da obra Denunciações da Bahia (1591-1593), documentos sobre a Inquisição em Pernambuco, já editados. Por estes documentos somos capazes de perceber nosso Filippo como um ilustrado renascentista, no mínimo bom conhecedor do latim (4). Destas denunciações ao Santo Oficio, que na verdade nos parecem “um festival” de acusações mútuas, Felipe teria sido acusado por um cidadão inculto de ter possuído um livro estranho - “uma Bíblia em linguagem” (uma bíblia em latim) (5) – e ainda lhe foi atribuído o típico “vício florentino”.

    Esta ultima acusação já comentada por Gilberto Freire:

“Desde o dia remoto do sec.XVI em que um certo colono, talvez despeitado, denunciou Filipe Cavalcanti como pecador nefando, que não se faziam acusações tão violentas aos Cavalcanti em Pernambuco” (6).

      A partir deste comentário do nosso ilustre intelectual fica demonstrado que Filippo, pelo menos, era um bom conhecedor de latim, portador de uma cultura clássica renascentista semelhante à de sua muito ilustrada família - pais, irmãos e mesmo família ampla - segundo indicam os nossos vários trabalhos já realizados sobre sua família na Itália e na Inglaterra (7).
     Mas não são apenas estas informações da Inquisição que nos aproximam de sua personalidade.    

     Outro documento que perdurou - uma carta do comerciante Filippo Sassetti no séc. XVI dirigida aos Medici, apresentada no Brasil pelo historiador Evaldo Cabral de Mello, nos fornece informações ainda bastante concretas sobre o modo de vida do nosso Filippo Cavalcanti na Colônia.  

    Nesta carta apresentada por Cabral de Mello no artigo “O mito de Veneza no Brasil”, o comerciante e viajante Sassetti comentava que Filippo aqui se tornara homem “de vastíssimos cabedais, de grande autoridade, quase sobranceiro a todos, até ao próprio governador, desfrutando de grande estado, com muitos pajens e cavalos, gastando em sua casa mais de 5.000 escudos pois seus negócios eram engenhos de açúcar” (8).

       Mais do que expressar uma visão óbvia do magnífico estado econômico de Filippo Cavalcanti, ou uma descrição de seu “status” no Brasil, esta carta-relatório é percebida por nossa historiografia como possível rastro de espionagem encomendada pelos Medici, seus potenciais perseguidores - ainda que este comerciante Sassetti fosse um parente longínquo de Filippo Cavalcanti (9). Pois sabemos naturalmente que Filippo aqui se havia casado com uma riquíssima mameluca, Catarina - descendente dos famosos Albuquerque donos da capitania, grandes produtores e exportadores de açúcar - tendo ele se tornado “nas Índias” (!), segundo descrição exagerada do historiador Spione Ammirato, “por seu engenho” e “boa cabeça” um estimado governante, dono de terras e engenhos. Terras vastas que,  segundo nós mesmo logramos  demonstrar,  já em 1577 Filippo legava ao seu primeiro filho João (10).   

      Voltando às perseguições Medici, sabemos quão longe iam estas perseguições políticas da família de banqueiros dominante em Florença, e como eram enviados ao novo Mundo informantes e viajantes profissionais para bem informá-los sobre as condições de vida alem mar, bem como as possibilidades econômicas nas colônias espanholas e portuguesas – aspectos já abordados por nosso historiador Sergio Buarque de Holanda no artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil ao tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” (11).

    Trabalho recente da estudiosa italiana Lucia Prioli, também centrado nos interesses e relações econômicas dos Medici com o Novo Mundo e o Brasil (12), despertou, entretanto, nossa especial curiosidade por referência a um contato estabelecido pelo quarto filho de Filippo, Jerônimo (13), com o embaixador toscano em Madri, Orso d´Elci, no ano de 1618. Contato estabelecido por carta de Lisboa após a morte de seu pai (14) referindo a convivência, na corte florentina, entre Filippo di Giovanni Cavalcanti e o Grão-Duque Cosme I de Medici. A carta do embaixador reporta a solicitação de seu filho Jerônimo Cavalcanti aos Médici, transcrita abaixo.

     A carta de intervenção do embaixador toscano - apenas a parte da correspondência trocada que nos resta - já fora referida e transcrita por Sergio Buarque de Holanda no trabalho citado, sem que sua importância factual fosse, entretanto, bem avaliada pelo nosso historiador. Buarque de Holanda nesta ocasião preocupado apenas em detectar possíveis atividades econômicas de Filippo Cavalcanti.

   A nosso ver esta solicitação do filho Jerônimo ao diplomata toscano por uma intermediação junto aos Médici é fato historiogràficamente muito significativo - pois vem comprovar Filippo di Giovanni Cavalcanti, quando ainda em Florença, ter freqüentado efetivamente a corte de Cosme I de Medici. O texto do embaixador explicita a convivência entre as duas personalidades – o texto primeiro registro concreto da presença de Filippo na corte dos Medici em Florença, antes de Filippo vir para o Brasil. Lembrando mais uma vez que a participação de Filippo em atividade conspiratória contra os Médici há muito é sugerida pela longa tradição oral da família, atividade conspiratória que comprovamos levara à morte no cadafalso em 1559 um cortesão muito intimo de Cosme I, Pandolfo Pucci, e o próprio parente de Filippo, Stolto Cavalcanti. Seu irmão Giovanni di Giovanni também agora encontrado por nós em envolvimentos secretíssimos na mesma conspiração (15).

    Pela correspondência entre o filho de Filippo, Jerônimo, e o embaixador toscano – correspondência trocada já duas gerações de Medici no poder depois de Cosimo I - acreditamos que o filho de Filippo talvez esperasse, nesta ocasião, que o grão–duque Cosme II (16) tivesse já esquecido as prováveis suspeitas dos Médici sobre seu pai e sua família - suspeitas relativas a fatos políticos há muito passados - assim inclinado a fornecer à família Cavalcanti de Albuquerque novo atestado de parentesco e nobreza. Na medida em que Filippo havia conseguido escapar a tempo de Florença antes mesmo de descoberta a Conspiração de 1559, e não ter sido - segundo nossas exaustivas pesquisas - pessoal e oficialmente comprometido por Cosimo I de Medici na conspiração de 1559, uma tentativa de ainda obter nova documentação pode ter sido realmente articulada por seus descendentes.
     Reproduzimos o texto da carta do embaixador toscano em Madri dirigida ao Secretário de Estado de Florença, correspondência que cita como testemunho desta convivência na corte florentina a nobre Beatriche de Menezes, carta arquivada no Arquivo Mediceo f. 4945, c. 951 e 964 (referências de Sergio B. de Holanda). Os grifo são  nossos):  
                  
                     Molto Illustre Signor mio osservantissimo
 Mi scrive di Lisbona Girolamo Cavalcanti de Albuquerque, la cui casa e padre vivono nel Brasile, come V.S. vedrà dall´incluse Iettere, che qui vanno per S.A. nostro Signore. Penso che costà dovrà esser noto questo ramo de´Cavalcanti trapiantato nell´India e si vede che la gloriosa memoria  del Granduca, che sia in Cielo, conoceva il padre del sudetto Girolamo. Pare che in quelle parti siamo imparitati nobilmente, secondo che mi scrive e testifica la sig.ra D.a Biatriche de Menezes e cosi non ho che dire a V.A. altro, se non rimettermi a quel che si contenga nelle suddette incluse lettere per S.A., e di novo baci a V.S.le mani.
Di Madri a 27 di gennaio 1618.
Di V. S. molto illustre, servo obbligatissimo
OLSO D´ELCI”
Al molto ill. signor mio
osservantissimo il signor
Cursi Picchena
Secretario di stato di S.A.S. FIRENZE
   
    Acreditamos que por esta solicitação de intermediação formal ao embaixador toscano, pretendessem os descendentes de Filippo obter um documento certificador de nobreza da família ou, pelo menos, sondar uma volta dos Cavalcanti de Albuquerque com toda segurança à Europa ou à Florença - com providências diplomáticas preparadas pela família neste sentido, solicitado em especial o testemunho da nobre Dona Beatriche de Menezes, viúva de Pedro de Medici (17).

     Na medida em que Filippo conseguira sair a tempo de Florença, sem ser oficialmente comprometido por Cosimo I na conspiração tramada por vários ramos da “casata Cavalcanti” em 1559 – já a “casata” citada em documentos secretos e em código como os “Scaracchi” (18) - uma volta da família Cavalcanti de Albuquerque à Europa, quase sessenta anos depois, teria sido mesmo assim tentada.

   Lembramos que em 1624 as ameaças de invasão holandesa já se tornavam realidade - a família Cavalcanti de Albuquerque, seus filhos Antonio, Jerônimo e Lourenço percebendo-se obrigados por compromissos familiares e políticos com Portugal a participar da luta de resistência na Bahia, ainda que à época Portugal estivesse sobre domínio espanhol (19). A família Cavalcanti de Albuquerque em Pernambuco passando adiante por grandes riscos pela ocupação holandesa em 1635, enormes prejuízos por perda de engenhos incendiados pelo invasor – os netos de Filippo obrigados a abandonar engenhos e a recuar em luta conduzindo ainda familiares idosos e crianças, bens e agregados em marcha épica para a Bahia (20).
   
      Ainda em nossas pesquisas localizamos um outro documento interessante referente a Filippo - uma carta escrita já por um neto seu, Emanuel ou Manuel Cavalcanti, frade da Ordem dos franciscanos menores, carta datada de 31 de dezembro de 1626 - já depois do ataque dos holandeses à Bahia, mas quaro anos antes do ataque a Pernambuco.  Por esta carta de Manuel, escrita quase sessenta e seis anos depois da chegada de seu avô, o capuxo vivendo em Portugal tentava aparentemente, e mais uma vez, obter do duque de Medici, Cosimo II, uma certidão de nobreza da família em Florença.  Nesta oportunidade descreve a vida de seu avô na Colônia, de forma detalhada e enaltecedora.

    A existência deste frade foi para nós confirmada pela genealogia segura de Adalzira Bittencourt, onde se registra que Antonio Cavalcanti, o filho herdeiro de Filippo, teve realmente um filho, Manuel, que foi frade “capuxinho” - existência também confirmada na obra do genealogista italiano do sec. XVII Spione Ammirato e seu filho Il Giovani, que com o capuxo teria tido contato em Roma (21).

       A documentação é reproduzida em Memoires de la societé Imperiale, Douai, V. Wartelle, 1863, pg. 229, e refere “raquête du 31 dezembro de 1626, tiré du 9e volume p.57, affairs et rapports classe 1, Distincione 35, Archives de Riformagioni à Florence”.

       Transcrevemos trecho da carta do capucho Manoel ou Emanoel:
 «... s´etant mariée avec une famme de famille noble, et par sa extraction des plus considerables de la colonie, il en avait eu plusiers enfants, entre autres Antonio Cavalcanti, son pére, encore vivant, ajoutant que Fhilippe acquit de biens au Brésil, demeura avec tous les siens au service de sa Magesté Catholique, et vint plusieurs fois à Lisbonne où il déploya un grand faste, et où il maria ses filles aux pricipaux seigneurs du pays “

       A descrição realizada por este neto de Filippo é sugestiva – fazendo referência ao faustoso “status” de seu avô na Colônia, ressaltando até mesmo a nobreza de sua avó mameluca. Acreditamos, entretanto, que esta carta tenha sido escrita, mais uma vez, pela necessidade da família - com a anunciada invasão holandesa (a carta é de 1626) – tentar ainda retornar à Europa com titularidade e fidalguia em dia, sobretudo segura contra novas perseguições da família Medici.

     Objetivamente, não temos conhecimento de nenhuma resposta dos Medici à esta nova carta de Manoel, como à sondagem anterior de seu tio Jerônimo.
      Temos forte convicção que por este tempo os grão-duques Médici já se sentissem aliviados por terem se livrado, em boa hora, das inúmeras e incomodas “casati” contestadoras que frontalmente haviam tentado evitar que fosse estabelecido o Grão-Ducado Toscano, e se oposto ao fim do sistema Republicano de Florença.  Certamente os jovens Médici não haveriam de querer de volta uma delas – em especial a família Cavalcanti já com sua fama de ”sdegnosa” (22).

    Sob a liderança de Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, do ramo “Cavallereschi’ da família, a Conspiração de 1559 pretendera mesmo estourar com pólvora o trono de Cosimo I de Medici durante um ato religioso. Decoberta a conspiração antes de eclodir, o que se seguiu foi a degola do jovem Stolto di Tomasso Cavalcanti do ramo “Ciampoli” da família, a fuga de Bartolomeu - ainda bem demonstrado para os Medici o perigo representado pela “casata Cavalcanti”.

    Os esforços políticos tipicamente renascentistas e pró-republicanas do pai de Filippo - o comerciante e mecenas Giovanni di Lorenzo em 1527 – esforços somados ao envolvimento político posterior em conspirações de pelo menos dois de seus filhos - Guido e Giovanni di Giovanni Cavalcanti, ambos cortesãos e diplomatas informais – foram já por nós indicados e mesmo confirmados por inúmeras fontes documentais, em nossos vários trabalhos (23). Comprovamos especialmente que o irmão mais novo de Filippo, Giovanni di Giovanni Cavalcanti, recém identificado, teve conhecimento detalhado da Conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559 e dela participou trocando cartas codificadas com outros conspiradores, cartas que foram cuidadosamente arquivadas pela família Capponi. A notícia da passagem de Felippo pela Espanha ao sair precipitadamente por Portugal comentada, até mesmo, por este irmão caçula em uma carta por nós, há pouco, decodificada (24).

     Lembramos que os jovens governantes Medici, filhos de Cosimo I, especialmente depois da ultima Conspiração republicana de 1575 (Conspiração Pucci e Ridolfi) haviam tido trabalho persecutório exaustivo, dramático e sistemático para se livrar também de várias outras famílias republicanas florentinas - os Alammani, Capponi, Machiavelli, Ridolfi, Martelli, etc. – fato por nós observado por numerosas fontes e com muitos detalhes em nossos trabalhos anteriormente publicados.

   A “casata Cavalcanti” já denominada em código secreto da época como “Scaracchi”, o último Cavalcanti ainda atuante em Florença do ramo Bastiano da família - Francisco di Bastiano Cavalcanti - depois de um conflito político seguido de saque foi degolado pelos Medici como ladrão em 1575 (25).

    Acreditamos, portanto, que qualquer possibilidade de retorno em segurança do ramo Cavalcanti brasileiro à Florença, se pretendida ou desejada pelos descendentes Cavalcanti de Albuquerque, estaria pelas razões apresentadas acima completamente inviabilizada.
    Entretanto, a personalidade e as motivações republicanas do patriarca Filippo de Giovanni Cavalcanti, por essas correspondências e tentativas de retorno de seus descendentes, podem ter ficado mais claras para nós.



Notas

(1) Teses e trabalhos recentes apresentados por estudiosos na Europa, sempre muito minuciosos, levantaram variadas informações sobre a família paterna de Filippo Cavalcanti, especialmente sobre seu pai Giovanni di Lorenzo - comerciante, mecenas, cortesão e diplomata informal que atuou também na Inglaterra – ainda referidas às atividades de seus irmãos Guido e Sciatta nas cortes européias. Recentemente conseguimos por documentos italianos da Accademia del Piano, arquivados na Biblioteca de Florença e apenas superficialmente avaliados, refazer a identificação e personalidade de seu irmão caçula, Giovanni. Com o auxilio do pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti localizamos e descrevemos a casa comercial Bardi & Cavalcanti de Londres, onde a família atuou durante os muitos anos de seu exílio, depois do fracasso da segunda Republica Florentina. Entretanto, Filippo Cavalcanti nestas atividades comerciais e diplomáticas, filho mais velho, nunca aparece ou é citado. Para melhor conhecimento destas variadas informações sobre sua família, com fontes, peço ao leitor reportar nossos vários artigos sobre os Cavalcanti na Itália, e no Brasil, publicados desde 2010 no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ e na revista do Porto Incomunidade.com/ em vários números, nos anos de 2015 e 2016. Ver indicações nota abaixo.  

(2) A data de nascimento de Filippo é referida na Igreja de Santa Croce em Florença no ano de 1525. Entretanto, várias outras informações de parentes próximos de Filippo Cavalcanti - pai, irmãos, e mesmo da família ampla - são documentadas e abundantes na historiografia européia, fato já indicado na nota acima, o que nos permitiu recriar o contexto familiar de Felippo nesta família renascentista típica - a família ampla sempre envolvida em conflitos políticos pela Republica em Florença, especialmente atuando neste século XV contra a predominância abusiva dos banqueiros Médici – o ramo “Cavaleschi” de Filippo atuando especialmente a partir da derrota da Segunda Republica (1527-1530). Informações por nós reunidas em nossos vários trabalhos que serão paulatinamente indicados neste artigo, nas notas a seguir 3, 7, 12, 19, 22, 23, 24, 25.

(3) A passagem de Filippo por Portugal é documentada por um pedido de nobreza solicitado a Cosimo I de Médici em 23 agostos de 1559, antes da eclosão da conspiração, com texto referindo uma comenda - possivelmente a Cruz de Malta - cruz que Filippo pretendia receber do rei português.  Documentos arquivados no Arquivo do Estado de Florença.



Também Bittencourt, Adalzira – Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis (Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1965, p.52) cita um artigo de Paulo Eleutério Cavalcanti de Albuquerque de 1939 publicado na “Revista de Estudos Genealógicos’(n. 5 e 6, São Paulo), onde já é referido o pedido de sua nobreza datado de 23 de agosto de 1559. Documento recentemente publicado por pesquisadores da família na mídia eletrônica no Brasil.
     A certidão de nobreza concedida por Cosimo de Medici no mesmo mês de agosto de 1559 ainda no Arquivo de Estado de Florença. Acreditamos que esta carta de nobreza não tenha mais chegado às mãos de Filippo, dada sua súbita saída de Lisboa na ocasião.  Nota-se que a descoberta da conspiração liderada por seu parente do ramo Cavalereschi, Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, ocorrera um mês depois, no começo de outubro de 1559. Reproduzimos igualmente a foto deste ultimo documento, já publicada na mídia eletrônica sob responsabilidade de Francisco Antonio Dória.

    O historiador da família Cavalcanti italiana no século XVII Spione Ammirato, no manuscrito Istoria Della Famiglia Cavalcanti, obra escrita em 1586 e completada em 1626 por Scipione Ammirato, Il Giovane – manuscrito guardado no Archivio di Stato di Firenze – é a única fonte européia de época, ainda que um pouco posterior, a mencionar a existência de Filippo, citar seus irmãos Guido e Sachiatta e a referir sua saída “para as Indias” na data (equivocada) de 1550 - Estas informações lhe teriam sido fornecidas por Manuel Cavalcanti de Albuquerque, o neto de Filippo, irmão capuxo que esteve em Roma e Florença por volta de 1626, ainda com detalhes genealógicos sobre a família brasileira e notícias sobre o modo de vida de Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Indias” (citado adiante no texto e na nota 19). O adendo, certamente composto pelo filho adotivo e discípulo de Ammirato, fato comentado no Brasil pelo genealogista Joaquim Souza Leão do IAHGP e IHGB.  O manuscrito dos Ammirato agora totalmente disponibilizado pelo pesquisador da família Marcello Bezerra Cavalcanti em seu blog (ver mais nota 10).

    Já a passagem de Filippo Cavalcanti pela Espanha antes de chegar a Portugal é comentada em carta codificada de seu irmão Giovanni, datada de 1560, e enviada de Lion (França) fornecendo notícias ao amigo, e certamente conspirador, Bernardo Cambi em Florença - carta arquivada na BNF e fotografada por Marcelo Bezerra Cavalcanti. Esta carta já foi analisada com detalhes em nosso artigo “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”, editado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ e no artigo “Accademici del Piano”, publicado pela revista InComunidade.com/ do Porto, n. 43, fev. de 2016; ainda todos os documentos da Accademia del Piano, listas em código etc. por nós analisadas e publicadas no artigo “O Ramo Brasileiro da Família Cavalcanti, parte II” publicada na mesma revista, n.47, junho /julho de 2016 - as Partes III e IV nas edições 48 e 50 agosto e novembro respectivamente.

 (4) Filippo Cavalcanti ao fazer denúncias contra Antonio Leitão, o Velho, em Pernambuco demonstrou ser bom conhecedor de latim - fato que se conclui da documentação das Denunciações da Bahia, 1591-1593 já publicadas em São Paulo, 1925, série Eduardo Prado, pág. 76, 77, com algumas informações reproduzidas por Elias Lipiner em Os judaizantes nas Capitanias de Cima, Brasiliense, 1969, pg. 47. Citamos o trecho reproduzido de Lipiner: “O celebre florentino Felipe Cavalcanti denunciou ao visitador, na vila de Olinda, que estando na matriz desta vila rezando pelas oras chegou a ele Antonio Leitão o Velho, cristão novo, casado com Felipa de Abreu e lhe perguntou que rezava, e abrindo a obra mostrou-lhe que rezava o salmo qui habitat e que estava no verso: longitudine dierum replebo eum. Então lhe perguntou de quem e como entendia eum, e ele denunciante lhe respondeu que o entendia por Messias que já tinha vindo. E o dito Antonio Leitão dando então a cabeça e mofando, lhe disse que ele denunciante não entendia bem”.

    Albuquerque, Maria Cristina Cavalcanti no romance O Magnificat, Memórias Diacrônicas de Dona Isabel Cavalcanti, Tempo Brasileiro, RJ, Fundação Roberto Freire, 1990, pg. 32, refere também o conhecimento de Felippo do latim, informação possivelmente obtida nas Denunciações.

 (5) A pesquisadora Barbara Lopes (no blog cavalcantenetwork@hotmail.com) analisa esta mesma denúncia e reforça a idéia que Felipe conhecia bem latim:   
     “Amaro Gonçalves compareceu à mesa de Denunciação do Santo Ofício fazendo acusações contra Filipe Cavalcanti em 29 de outubro de 1593. Amaro era português, natural de Barroso, que pertencia ao bispado de Braga. Como ocorria com tais denúncias, o texto das acusações é confuso. Filipe Cavalcanti é acusado de possuir em sua casa uma “bíblia em linguagem”. Talvez em seu linguajar pobre, meio analfabeto, o autor da acusação não soubesse especificar que tipo de “bíblia” era aquela, que ele dizia que era para que “desse ao diabo para ler”, talvez não fosse uma bíblia, fosse um outro livro, ou mesmo uma espécie de bíblia protestante, não se sabe. O certo é que o autor se mostra tão confuso em seu depoimento que chama o réu de “Cavalgante”, isto é, que anda a cavalo, e repete o nome errado várias vezes”.

     Neste festival de acusações mútuas, Filippo Cavalcanti, cristão velho e como sabemos de antiga família “guelfa”, intimamente ligada ao papado, teria também acusado os cristãos-novos Diogo Fernandes e Branca Dias, senhores de engenho do Camaragipe, depois conhecido como engenho de Santiago, que ”nos ditos sábados não obrigavam a trabalhar a gente de seu engenho”. Lipiner, Elias - Os judaizantes nas Capitanias de Cima, Brasiliense, 1969, pg.71 - citando as Denunciações Pernambucanas, pg.76.

(6) O comentário crítico de Gilberto Freire sobre o possível “vício florentino” ou sodomia de Filippo Cavalcanti esta registrado na Introdução ao livro O Velho Felix e suas Memórias de um Cavalcanti( Fundação Joaquim Nabuco, Ed. Massangana, 1989, pg. XXXI-XXXVI). Em outro de seus livros, Casa Grande de Senzala (edição do Circulo do Livro, 1997) a acusação à Filippo também é referida na pg. 343, com seus comentários deste vício ser comum em Florença na época. Também na nota da pg. 414, cita a denúncia de Felipe Cavalcanti por Belchior Mendes d´Azevedo em Denunciações da Bahia 1591-1593, pg. 448.

 (7) Artigos de Torres, Rosa Sampaio especialmente “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, “Rebeca al Pozzo” e “Notícias sobre a casa comercial Bardi e Cavalcanti”, publicados no blog http://rosasamaiotorres.blogspot.com/.  Os dois últimos artigos também publicados pela revista do Porto, InComunidade.com - números 42 e 46, respectivamente nos meses de janeiro de 2015 e maio de 2016.

(8) O historiador contemporâneo Evaldo Cabral de Mello, no artigo “O mito de Veneza no Brasil” (Jornal “Folha de São Paulo” - 1 de julho 2001) cita o documento e afirma que esta carta hoje está na posse do colecionador Pedro Correia do Lago.

(9) Notícia recém colhida pelo pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti em ficha da Biblioteca de Florença indica parentesco bem anterior dos Sassetti com os Cavalcanti, parentesco certamente de outro ramo, não do nosso brasileiro. A este respeito nos confirmou de imediato e com gentileza o genealogista italiano Silvio Cavalcanti por facebook, baseado em sua tabela TavolaCavalcanti, já na mída eletrônica: “Nel 1300 uno dei tanti "Filippo Cavalcanti" sposò Ghita Sassetti. Era Podestà di Volterra nel 1295, ma non era il Cavalcanti antenato di Filippo di Giovanni di Lorenzo di Filippo. Infatti non aveva alcun figlio che si chiamava Lorenzo, inoltre doveva essere più vecchio di almeno 50 anni”. 

   Reproduzimos a ficha “Sassetti” da BNF citada por Marcelo Bezerra Cavalcanti: Una figliola di Federico di Sassetto Sassetti fu moglie di messer Filippo Cavalcanti nel 1300. Ed ecco il ritrovamento di Filippo di Giovanni di Lorenzo di Filippo Cavalcanti in Pernambuco, Brasile nel secolo XV - Lettere edite e inedite di Filippo Sassetti raccolte e annotate da Ettore Marcucci, 1 de janeiro de 1855 - F. Le Monnier è disponibile gratuito su Google Books, oppure nella Biblioteca Nazionale Centrale di Firenze.
Autore..............: Sassetti , Filippo
Titolo..............: Lettere edite e inedite di Filippo Sassetti / raccolte e annotate da Ettore Marcucci
Pubblicazione.......: Firenze : F. Le Monnier, 1855.
Descriz. fisica.....: XLVII, 575 p. ; 19 cm
Altro autore........: I. Marcucci, Ettore 
Numero di record....: TO00346097
Natura bibliografica: Monografia
Paese di pubblic....: it
Tipo materiale......: Materiale a stampa”

 (10) Filippo Cavalcanti teria por algum tempo ocupado o cargo de vice-governador da capitania, posto de “loco-tenente” - pelo menos entre 1588 e 1590 em lugar do ausente herdeiro da capitania Jorge de Albuquerque Coelho (1539-1597) - segundo consta em documentação de época arquivada no IAHGP (esta informação sobre Filippo não consta, entretanto, em fontes na mídia eletrônica tradicionais sobre os governos da época). Filippo Cavalcanti foi também proprietário dos engenhos Santa Rosa, Santana e Utinga construídos em terras doadas pelo segundo donatário, D. Duarte Coelho de Albuquerque no Cabo de Sto. Agostinho - terras judicialmente demarcadas no ano de 1580.

   O genealogista da família Cavalcanti no século XVII, Spione Ammirato, em seu manuscrito Istoria Della Famiglia Cavalcanti de 1586, trabalho completado em 1626 por seu filho adotivo Scipione Ammirato, Il Giovani, atualmente guardado no Archivio di Stato di Firenze,  refere Manuel Cavalcanti de Albuquerque, filho de Antonio e neto de Felipe, que teria fornecido detalhes genealógicos sobre seu ramo familiar e algumas notícias sobre a vida de seu avô Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Indias” - isto é no Brasil. Afirma Ammirato sobre Filippo, possivelmente baseado em informações algo exagerada do seu neto: “governou com seu engenho porque tinha boa cabeça” para “satisfação geral daqueles povos”.
    Constatamos também que Filippo de Giovanni Cavalcanti teria comprado terras em Goiana para seu primeiro filho João (naturalmente um Giovanni como seu pai) lá pelo ano de 1577, fato já observado em nosso trabalho sobre seu segundo filho, “Antonio Cavalcanti de Albuquerque (c.1564-1640)”, publicado em nosso blog. As terras do engenho “Recunzaém” destruído por indígenas teriam sido vendidas pelo filho de Diogo Dias, Bartolomeo Dias, e adquiridas por Filippo Cavalcanti para este seu filho primogênito, João, que morreu muito cedo - supomos pelas datas com cerca de quatorze ou quinze anos nesta ocasião - pois o documento do pedido de licença para esta aquisição é datado de 1577 “em nome de João Francisco Cavalcanti de Albuquerque, de Araripe” - documento lembrado e referido por Ângelo Jordão Filho em Povoamento, Hegemonia e Declínio de Goiana, (Recife, Cia. Editora de Pernambuco, 1977, pg. 159) sem que o autor aparentemente tivesse feito a conexão genealógica. A certidão de compra destas terras, referida por Jordão Filho como documento doado à municipalidade da atual cidade de Goiana, e reproduzida na “Revista do Instituto Histórico de Goiana” ano 1871, fls. 34 a 39.

(11) Holanda, Sergio Buarque de - artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil ao tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” - Revista de História n. 71, 1967, pg.103, pdf.  

(12) Paoli, Lucia - “Da Livorno a Nombre de Dios, Uma Detagliata Relazione Inviata a Firenze e il Pogetto de Medici per ub possessso in Brasil” pg. 91- artigo editado no contexto da Giornata di Studi, “Percorsi de Arte e Letteratura tra la Amerique”, recentemente ocorrida em 3 de outubro na BNF. O artigo tem a intenção de demonstrar, como o citado trabalho do historiador brasileiro Sergio Buarque de Holanda, o interesse das autoridades florentinas Medici no comércio com o Movo Mundo espanhol no século XVII, e mesmo no Brasil. A autora também cita a carta de Sassetti, mas apesar de referir Filippo Cavalcanti como um “fioriusciti” no Brasil, não é capaz de perceber as especificidades do ramo “Cavalleschi” brasileiro em relação aos banqueiros Cavalcanti do ramo “Ciomppi” da família ampla - pois este ramo, sim, reconhecidamente tivera relação societárias com o Giraldi - estes grandes comerciantes de açúcar do Brasil. Assunto já discutido por nós anteriormente em vários artigos (ver fim da nota).  Assim Paoli refere, num contexto equivocado possível colaboração econômica da família Cavalcanti de Albuquerque com os Medici, como insinua Buarque de Holanda, em relação à carta de Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque de 1618 ao embaixador toscano em Madri. Na verdade Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque passadas já duas gerações de Médici talvez esperasse que os atuais governantes de Florença tivessem esquecido os fatos políticos passados e capazes ainda de fornecer-lhe nova carta de nobreza – fatos, porém, que muito haviam comprometido seu avô e mais firmemente o parente Bartolomeo, escondido em Pádua até sua morte ocorrida em 1562.

    A data da saída de Filippo de Florença, citada por Paoli como em 1548, é também equivocada. Já Sérgio Buarque de Holanda se havia equivocado na data da Conspiração Pucci e Cavalcanti, que indica em 1575 e não a data correta 1559, gerando equívocos e invalidado suas propostas relativas às causas da saída de Filippo da Europa, assunto já por nós discutido em outros trabalhos como “Filippo di Giovanni Cavalcanti” publicado em nosso blog. Os sugeridos contatos de Felippo Cavalcanti, quando em Lisboa, com os banqueiros Alffaitati de Cremona, situados nesta cidade e ligados ao comércio de açúcar na ilha da Madeira, que seriam para Sérgio Buarque o único motivo (econômico) de sua vinda para o Brasil, não se confirmam ou sustentam até o momento.

  Estas sugestões repetidas por historiadores brasileiros, com pesquisas muito centradas em analises econômicas, especialmente Afrânio Peixoto (História do Brasil, Cia. Ed. Nacional, 1944, pdf) e Sergio Buarque de Holanda, artigo citado, e agora por esta nova autora no tema italiana Lucia Paoli não se comprovam. Realmente não há documento, até agora, comprovando qualquer maior relacionamento econômico entre Filippo Di Giovanni Cavalcanti e os Médici relacionadas à economia açucareira, na verdade uma hipótese de trabalho que a meu ver não se sustenta, em especial como causa única ou maior da migração de Felipe Cavalcanti. Lembrando que o banqueiro Tomasso di Francesco Cavalcanti, do ramo “Ciampoli”, esse em verdade associado com Giovanni Giraldi, morre em 1560, logo depois da descoberta da conspiração Pucci & Cavalcanti, em que seu filho Stolto é degolado. O outro filho desse banqueiro Tomasso, GiovanBattista, manteve contatos em Portugal, e poderia ter mantido associação com os Giraldi. Mas segundo o próprio Buarque de Holanda, pág. 103, citando o historiador Denucé, Jean - Inventaire des Affaitadi 1568, Antuérpia, 1934, Lucas Giraldi é que teria tido associação com Giovanni Francesco Affaitadi no comércio do açúcar desde 1527, na Ilha da Madeira. Os descendentes de Lucas, associados aos Alffaitadi, é que serão muito beneficiados com o comércio das Índias e do Brasil. A discussão já realizada em vários dos nossos trabalhos, especialmente o artigo “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos, Felippo, Schiatta e Guido”, nota 11, em http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ Neste artigo, os interesses econômicos e as atividades políticas do nosso ramo direto da família Cavalcanti, em Florença, são esmiuçados e não confirmam a sugestão de Buarque de Holanda.

(13) Calculamos a data de nascimento do filho de Filippo, Jerônimo, em 1568 - pois a jovem Catarina de Albuquerque tem seu casamento com o florentino indicado por alguns genealogistas entre os anos de 1560 e 1565. O casal tendo tido um filho mais velho, João, falecido muito jovem e ainda outros nove filhos - Jerônimo indicado como o quarto filho.  A data do nascimento do segundo filho e herdeiro, Antonio Cavalcanti de Albuquerque, indicada por nós por cálculo aproximado em cerca de 1564 (Consultar osso trabalho “Antonio Cavalcanti de Albuquerque - c.1564-1640”, nota 11). As informações genealógicas por nós utilizadas são de preferência recolhidas em Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, pg. 292, pois sua listagem é baseada na “Nobiliarquia Pernambucana” de Borges da Fonseca, corrigida modernamente pelo confiável genealogista Carlos Xavier de Paes Barreto. Esta autora refere como filhos do florentino e de Catarina, todos com o sobrenome Cavalcanti de Albuquerque, nesta ordem: João (falecido em criança), Antonio, Lourenço, Jerônimo, Felipe, Genebra (com sobrenome ainda Manelli Arcoverde) Joana, Margarida, Catarina, Felipa, Brides. A genealogista refere casamento e descendência da prole, sem referir datas.  Assim calculamos a data de nascimento deste filho Jerônimo em 1568, dois anos depois do nascimento provável de seu irmão Lourenço, e quatro anos depois do nascimento de seu irmão Antonio - já que as mulheres nobres da época, em geral, tinham filhos de dois em dois anos aproximadamente. Por ocasião desta correspondência, Jerônimo já seria um homem maduro - com uns 50 anos, pouco antes de sua atuação como militar.

   Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque, segundo a genealogista Adalzira Bittencout, opus cit., pg. 301, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Santa Luzia de Troncoso e, ao lado de seu irmão Lourenço, “lutou gloriosamente contra os flamengos”. Jerônimo teria sido enviado pelo general Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a retomada final da praça aos holandeses, fato conseguido em maio de 1625. Voltou à Pernambuco como Governador de Armas. A genalogista cita sua prole ilegítima com Barbara Soares, em especial seu filho, João Soares Cavalcanti, também Cavaleiro da Ordem de Cristo. Fornece ainda lista dos descendentes.  Sobre sua atuação militar com seu irmão Lourenço, ver mais detalhes e fontes 

   Notamos que Sergio Buarque de Holanda (no mesmo artigo citado acima, pg. 106) se equivoca no factual e troca as informações de Borges da Fonseca sobre este Jerônimo, autor da carta e filho de Filippo, por Jerônimo seu sobrinho – o filho homônimo de Antonio. O filho Jerônimo do mesmo sobrenome de Antonio foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, mas tomou hábito bem adiante, em 1634. Foi senhor de três engenhos em Goiana, como observou o 4º Donatário Duarte d’Albuquerque nas suas Memórias da guerra de Pernambuco, e se viu obrigado por causa das mesmas guerras a retirar-se com parte da família para a Bahia, no ano de 1635. Daquela cidade passou a Lisboa, onde alcançou o governo do Cabo Verde e faleceu solteiro e sem sucessão” (Borges de Fonseca).

 (14) Nascido em 1525, como já observamos acima, Filippo di Giovanni Cavalcanti teria falecido algum tempo antes de sua esposa Catarina. “Porém ultimamente faleceu, deixando ainda viva sua mulher D. Catarina de Albuquerque, a qual foi perfilhada a pedido de seus pais pelo senhor rei D. Sebastião, e faleceu com mais de 70 anos, no de 1614, a 4 de junho...”. Por informações também de Borges da Fonseca, Filipe Cavalcanti teria sobrevivido alguns anos a seu sogro Jerônimo de Albuquerque.

(15) Sobre a participação da família Cavalcanti na conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559 ver nossos trabalhos indicados nas notas abaixo 23, 24 e 25. Em especial sobre seu irmão Giovanni di Giovanni Cavalcanti temos pelo menos dois trabalhos referentes - “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/, e “Academicci Del Piano” publicado na revista do Porto InComunidade, numero 43, fevereiro de 2016.

 (16) A sucessão dos Medici dominantes no período em Florença: - Cosme I, no poder entre 1537-1574 (em 1569, Grão-Duque); - seu filho Francisco I nascido em 1541 e falecido em 1587, envenenado; - o irmão Fernando I, nascido em 1549 e falecido em 1609; - o filho deste, Cosme II nascido em 1599 e falecido em 1621, tuberculoso.

Cosimo I


(17) Temos que o nome da nobre Biatriche de Menezes, citado na correspondência do embaixador toscano, possa ser o de Brites ou Beatriz de Menezes y Noronha, em fontes enciclopédicas dada como nascida c.1560 e falecida em c. de 1603 (?), segunda esposa de Pedro Medici - ele nascido em Florença em 1554 e falecido em Madri em 1604, segundo filho de Cosimo I de Medici, personalidade muito controvertida que teria mesmo matado sua primeira esposa, Leonor Àlvares de Toledo.  Mas por outras fontes temos que Beatriche sobreviveu vários anos ao marido, e assim acreditamos equivocada a data de sua morte indicadas pelas informações enciclopédicas. Esta nobre Beatriche, Beatriz, ou Brites de Menezes seria filha de Manuel de Noronha y Meneses, primeiro duque de vila Real, duas vezes governador de Ceuta, descendente do rei Henrique II de Castela e León e de Fernando I de Portugal. Beatriz casada com D. Pedro de Médici em 1593.

(18) A “casata Cavalcanti’ em código documentado como os “Scaracchi’, assunto abordado no artigo “Accademici del Piano”, no numero 43, fevereiro de 2016 da InComunidade.

(19) A corajosa participação dos descendentes de Filippo Cavalcanti e da mameluca Catariana de Albuquerque na luta holandesa foi por nós comentada no artigo “Antonio Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/. Também o terceiro filho do casal, Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, foi tido como notável guerreiro contra os holandeses - coronel e comandante de forças enviadas por Matias de Albuquerque à Bahia em 1624 (Gusmão, Oziel – livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e Cavalcanti”, tendo como fonte Frei Vicente do Salvador). Teria falecido em 1624, solteiro (segundo Bittencout, Adalzira - opus cit., pág. 301). Seu irmão Jerônimo, autor da carta acima, mais tarde Cavaleiro da Ordem de Cristo em 1625 foi enviado por Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a retomada final da praça aos holandeses, fato conseguido em maio de 1625 (Notícias Cavalcanti de Gusmão, Oziel – no livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e Cavalcanti”, utilizando como fonte inclusive Memórias Diárias de D. Duarte de Albuquerque Coelho). Jerônimo, como o irmão, teria lutado como um bravo e voltado a Pernambuco como Governador de Armas (Bittencout, Adalzira, opus cit. pág. 301); mais informações nota acima 13. Detalhes sobre as atribulações da família Cavalcanti de Albuquerque e seus grandes prejuízos nesta guerra nossos artigos “Antonio Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos” e “O ramo do engenho Castanha Grande”, publicados no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

(20) Torres, Rosa Sampaio – artigo “Antonio Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos” e “O Ramo do engenho Castanha Grande”, publicados no blog da autora citado acima.

(21) Bittencourt Adalzira- Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1965, pg. 292, que utiliza listagem dos Cavalcanti de Albuquerque já corrigida pelo genealogista Xavier Paes Barreto. 

    Spione Ammirato em seu livro Istoria Della Famiglia Cavalcanti, escrito em 1586 e completado em 1626 por Scipione Ammirato Il Giovane, atualmente no Archivio di Stato di Firenze,  refere Manuel Cavalcanti de Albuquerque que lhe forneceu detalhes genealógicos e notícias sobre a vida de Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Índias”. Ver mais acima nota 3.

(22) Sobre o sentido deste adjetivo “sdegnoso”, que já vinha qualificando a família desde o poeta Guido Cavalcanti do século XIII, ver nosso artigo “Os Sedgnosos Cavalcanti” já editado em nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ 

(23) Recomendamos sobre o tema nossos vários artigos específicos sobre a atuação da “casata Cavalcanti” durante a Conspiração de 1559 - “Conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559 – inclusive 2ª parte, Conspiração Pucci e Ridolfi de 1575”, ainda “Felippo di Giovanni Cavalcanti” e “Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti”, trabalhos com todas as documentações e fontes primárias e secundárias citadas, editados no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ - este ultimo também publicado na revista InComunidade.com/ do Porto, numero 38 de setembro de 2015. Também os mais recentes “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”, editado no blog e o “Accademici del Piano”, no numero 43, fevereiro de 2016 da InComunidade.  Ainda toda a documentação da Academia del Piano analisada e reproduzida em três artigos “O Ramo Brasileiro dos Cavalcanti” II, III e IV na mesma revista, nos números – 47, julho de 2016; 48,  agosto de 2016,  e número  50,  nov. 2016.

 (24) Trabalhos baseados em profunda análise dos documentos referentes a uma Academia literária da época, a Accademia del Piano em Florença no sec. XVI - documentos em listas codificadas e guardados na pasta da família Capponi arquivada na BNF, transcritos e transferidos para nós recentemente pelo pesquisador da família Marcello Bezerra Cavalcanti. Estes trabalhos foram baseados no contexto por nós já profundamente estudado das conspirações anti-medici e republicanas ocorridas em Florença no ano de 1559 (Conspiração Pucci e Cavalcanti) - também listas codificadas, cartas e documentos assinados pelo jovem Giovanni di Giovanni Cavalcanti, irmão mais novo de Filippo, carta também codificadas em números de Bartolomeo Cavalcanti.

(25) Fato referido e analisado em Torres - Rosa Sampaio, artigo “Conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559” e também no longo artigo “Medici x Cavalcanti”, editado no 4sharad, mídia eletrônica, com todas as fontes citadas.

3 comentários:

  1. Sou de Campo Grande?MS, tenho Cavalcanti no sobrenome, minha avó paterna fazia muita questão de escrever seu sobrenome com a letra I, pois dizia que os autênticos "Cavalcantis" eram os que tinham seu sobrenome original. Gostaria de saber como esses descendentes vieram para no Centro Oeste do Brasil, em Cáceres/MT

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    1. acredito que por se tratar de uma familia que chegou no Brasil em 1560, e hoje ocupa o lugar de maior família brasileira, diante disto você da pra imaginar a quantidade de Cavalcanti(e), que existem no Brasil, so você fazendo seu estudo genealógico né ...

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  2. Minha família paterna, os Alencar Rabêlo, descendem de italianos e vivem no interior de Pernambuco (ou viveram já que sou cearense) mais o sobrenome italiano é desconhecido. Então há a possibilidade de sermos descendentes dos Di Cavalcanti? Pois fizemos recentemente os teste de ancestralidade por Dna e veio como 17 a 16% italianos pela parte paterna, e não o sobrenome, e a única família italiana grande o suficiente e que existe em Pernambuco ( da época da ancestralidade relatada) são os Cavalcanti.

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