OS CAVALVANTI BRASILEIROS E SUA ASCENDÊNCIA

 OS CAVALVANTI BRASILEIROS E SUA ASCENDÊNCIA

 NA FAMÍLIA CAVALCANTI ITALIANA

    

Rosa Sampaio Torres

Abstrat

- In this article we hope to make the “enjambment”, a link that we intended to complement the Cavalcanti line from Italy and that was transported to Brazil by our patriarch Filippo di Giovanni Cavalcanti. A list of profiles relating to the oldest Italian Cavalcanti that from the beginning of the 11th century this name reached Tuscany (1045) since we presented it in the article “Os mais antiquos Cavalcanti”, published on our blog http: rosasampaiotorres. blogspot.com/.  We now list the Italian masters of Cavalcanti from the 5th epoch (12th century) who were finally transported to Brazil by Filippo de Giovanni Cavalcanti in 1560 (16th century). Finally, we present a minimal international context in the sec. XVI in which reasons for this transport are satisfactory and thus can be better understood.


 INTRODUÇÂO

 

       Neste artigo pretendemos realizar o “enjambement”, a ligação que nos faltava para complementar a linha Cavalcanti proveniente da Itália e transportada para o Brasil por nosso patriarca Filippo di Giovanni Cavalcanti. A lista de perfis relativa aos mais antigos Cavalcanti italianos que a partir do começo do século XI tomam esta denominação na Toscana (1045) já foi por nós apresentada no artigo “Os mais antigos Cavalcanti”, publicado em nosso blog. Listamos agora os perfis de Cavalcanti italianos a partir da 5ª geração (sec.XII) que se transportam finalmente para o Brasil por Filippo de Giovanni Cavalcanti em 1560 no sec.XVI. Ao final, apresentamos um contexto internacional mínimo do sec. XVI em que as razões deste transporte são apresentadas, e assim possam ser melhor compreendidas.

       

   Pelos muitos séculos decorridos a documentação de época e a bibliografia para a realização deste trabalho é já infindável. Entretanto, sistematização preciosa desses documentos e da bibliografia relativos aos antigos Cavalcanti italianos já foi realizada pelo pesquisador Silvio Umberto Cavalcanti. Assim sendo, preferimos indicar neste limitado artigo documentos e bibliografias preferentemente indicando  e relacionando  as fontes mais recentes, brasileiras, italianas e outras que comentam e citam novos documentos, e mesmo novas abordagens.

      Ressaltamos em especial o recente encontro de importante documento pelo pesquisador brasileiro Marcelo Bezerra Cavalcanti - uma carta do rei inglês Henrique VIII datada de 1528, endereçada a Giovanni di Giovanni Cavalcanti (original, na BNF, Sala Manoscritti Rari, Passerine 156 - Cavalcanti, onde foi encontrada e gentilmente disponibilizada pelo próprio Marcelo no seu Blog “Famiglia Cavalcanti”, com foto). Também devemos ressaltar documentos recentes relativos ao inventário da casa comercial Bardi & Cavalcanti, em Londres, com comentários já publicados por Cinzia M. Cicca na Revista Renacence, em 2002 e 2006. Ainda trabalhos relativos a Guido di Giovanni por Julia de Lacy (Mann, Julia de Lacy e outros - Textile history and economic history, Manchester University Press, 1973). Os trabalhos da autora sobre o poeta Guido Cavalcanti (“O Capitulo X da Divina Comédia” e outros) trazem novas perspectivas para o tema; também seus artigos “Giovanni di Giovanni Cavalcanti” e mesmo “Academia del Piano” que utiliza documentos codificados inéditos, recentemente localizados e fotografados por Marcelo Bezerra Cavalcanti, localizados na BCNF; Lauro Martines em livro recente sobre a conjura Pazzi de 1478, publicado pela Oxford University, traz nova conribuição e apresenta mesmo vastíssima bibliografia.

 

Arquivos

 BCNF - Biblioteca Central Nacional de Florença

ASF - Arquivo de Estado de Florença

 

A Bibliografia está sendo colocada nesta Introdução para facilitação da leitura do texto. 

 

Bibliografia clássica citada:

 

Allighieri, Dante - Divina Comédia” (escrita entre 1304 e 1321), em especial   Capitulo X.                                                       

Ammirato, Scipione – “Istoria Della Famiglia de Cavalcanti”, escrita e completada por Scipione Ammirat, Firenze, 1615, on line.

Boccacio, Giovanni Decameron (1349–52, revisado 1370–1371) - 6º dia, nona novela, “A cena do cemitério”.

Borghini, Vincenzo – monge,  obra mais conhecida Discorsi di M. Vincenzo Borghini, Florença, 1584 e 1585.

Cavalcanti, Andrea di Lorenzo di Vicenzio (1610-1673) - “Registro d´Huomini e Donne Cavalcanti”, na ASF.

Gamurrini, Dom Eugenio, Pe. - abade Casinense, nobre arentino, autor de “Istoria Genealogiga delle Famiglie Nobile Toscane et Umbre”, Firenze, 1673, original na BCNF;

Maquiavel, Nicolau - História  de Florença, obra realizada entre 1520 e 1525 – usada Musa Editora, 1998, notas e Apresentação de Nelson Canabarro.

Villani, Giovanni - Nuova Cronica, primeira publicação 1348, on line.

Varchi,  Benedetto (1503-1565) -  Storia Florentina, editada Florença, 1721. 

 

 

  Bibliografia de autores contemporâneos brasileiros e estrangeiros com abreviatura, citados neste trabalho:

SUC (Silvio Humberto Cavalcanti - “TavolaCavalcantiFirenze” e o texto “Si Chiamavono Cavalcanti”, ed. eletrônica on-line  xoomer.virgilio.It  -   formato PDF)

Sicca     (Sicca, Cinzia M.- “Consuption and trade of art between italy and England in the first half of the sixteenth century: The London house of the Bardi and Cavalcanti Company”, em Renaissance Studies, vol. 16, artigo n.2, 2002 e “Pawns of international finance and politics: Florentine scultors at the court of Henry VIII”, Renaissance Studies, vol. 20, no. 1, 2006)

RST     (Rosa Sampaio Torres – com artigos sobre a família Cavalcanti, inclusive sobre o poeta Guido Cavalcanti, publicados a partir de 2012 no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/  nas revistas do Porto, InComunidade e Athena, ainda nas revistas brasileiras ConTexto (https://revistacontextoarteshistgeneal.blogspot.com/) e Agulha).

MBC       (Marcelo Bezerra Cavalcanti - blog “Famiglia Cavalcanti”)

Boutier    (Boutier, Jean – artigo « Trois conjurations Italiennes : Florence (1575), Parme (1611),   Gênes (1628) » in « Melange de l´ Ecole française de Rome ». Italie et Méditerranée, T. 108, n 1, 1996, pgs. 319-375)

Doria (Albuquerque, Cássia; Cavalcanti, Marcelo Bezerra e Doria, Francisco Antonio – “Cavalcantis: na Itália e no Brasil”, edição eletrônica on-line, 2010).

Barata, Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha – Dicionário das Famílias Brasileiras, Iber-América,1999.

Mann, Julia de Lacy e outros - Textile history and economic history, Manchester University Press, 1973.

Bartlett    (Bartlett, K. - artigo “Papal Polici and the English Crow 1563-1565”, Sixteen Century Jornal XXIII, Vol. 23, n. 4, 1992)

Levey    (Levey, Michael – Florence: a Portrait, Harward University Press, 1998)

Martines  (Martines, Lauro – Abril Sangrento, ed. Imago, original University Oxford Press, 2003)

Simoncelli  (Simoncelli, Paolo – Fuoriuscitismo Republicano Fiorentino -  1530-54, FrancoAngeli, Milano, 2006)

Climent-Denteil (Climent-Denteil, Pascale – Il Rosso Fiorentino, pittore della Maniera, Presses de la Mediterranée, 2007).



DESENVOLVIMENTO

   

  A lista de perfis relativa aos mais antigos Cavalcanti italianos que a partir do começo do século XI tomam esta denominação na Toscana (1045) já foi por nós apresentada no artigo “Os mais antigos Cavalcanti”, publicado em nosso blog. Listamos agora os perfis de Cavalcanti italianos a partir da 5ª geração (sec.XII) que se transportam para o Brasil por Filippo de Giovanni Cavalcanti em 1560 no sec.XVI.

Temos, portanto, a partir da 5ª geração dos Cavalcanti na Itália:

     

5ª geração -  Giovanni, Gianni (H&D) ou Gianozzo Cavalcante Cavalcanti <1140>  irmão de Adimari di Ianni Leti, pois suas datas os colocariam próximos. Gamurrine refere este Cavalcante como irmão de Adimari, Consul de Florença em 1176 com Abate di Lambada (Gamurrine no libro 26 delle Reformagioni di Fiorenza, fol 57. & al libro 29). Em 1192 Gianni (ou Giovanni ou Gianozzo) foi Consul dos Mercadores da nascente Calimala – guilda dos mercadores de pano em Florença (SUC, ano 1192). Gianni ou Gianozzo Cavalcante Cavalcanti foi pai de Schiatta abaixo, e de Aldobrandino Cavalcanti (1217-1279), o famoso filósofo e religioso colaborador na obra filosófica de São Tomás de Aquino, enterrado na Igreja Santa Maria Novella e até hoje cercado pelos brasões Cavalcanti (fig.2). Giovanni ou Gianozzo Cavalcante Cavalcanti ainda pai de Poltone, e talvez de um Bernardo e um Ciappo (estes dois últimos sem confirmação da fonte SUC). Segue:


fig.2

6ª geração - Schiatta Cavalcanti – n. <1190> Irmão do religioso e filósofo Aldobrandino Cavalcanti. Schiatta foi Consul de Justiça no ano de 1214, atestado no ano 1220 (SUC). Indicado em SUC como pai de Cante Cavalcanti Cavalcanti.

Obs.: Notamos que “Schiatta’ é prenome que, como o “Giovanni”, se mantém no ramo “Cavalleschi” dos Cavalcanti pelo menos até o século XVI em Florença por Sciatta, irmão de Guido e de Filippo, patriarca no Brasil (RST). Segue:

Cante Cavalcanti Cavalcanti – n. c. 1215 – f. d. 1280. Pai do celebre poeta F1 - Guido Cavalcanti, n. c. 1255, falecido em agosto de 1300 em prisão insalubre. Cavalcanti Cavalcanti em 1260 foi cavaleiro na batalha de Montaperti – personagem célebre de Dante no cap. X da Divina Comédia. Foi “podestà” em Gubbio no ano 1257. Garboso combatente “guelfo”, como de resto sua família de origem franco-borgonhesa da dinastia wido (guidi), Cavalcante Cavalcanti com seus outros parentes participou desta sangrenta batalha de Montaperti por Florença, contra a cidade “guibelina” de Siena em 1260. Vencido, saíra possivelmente com dificuldade econômicas do episódio (RST, artigo “Guido, poeta, cavaleiro e político”, nota 10). Os estragos dos vitoriosos inimigos “guibelinos” sobre os “guelfos” nesta ocasião foram enormes: uma centena de palácios, centenas de casas, torres e defesas florentinas destruídas. Poucos anos depois desta derrota política da sua família, seu muito jovem filho Guido Cavalcanti teria convivido com a antiga amante do trovador Sordello, Cunizza da Romano, quando ela já uma senhora esteve abrigada em sua casa em 1265, ou 1266 (segundo SUC).

fig.3

Selo de Cavalcante Cavalcanti hoje no Museu Nacional do Burgello (fig.3) - escudo e brasão com cruzetas. Depois da derrota de 1260 acreditamos Cante não estaria mais tão próspero e seguro, devendo ter passado por momentos economicamente difíceis. Refugiando-se possivelmente em Lucca teria entrado mesmo ao serviço dos Anjou em 1280 (noticia SUC, citando Borghini), pois estes entraram em Florença em auxilio dos guelfos brancos.    Cavalcante Cavalcanti foi colocado por Dante no seu “Inferno” como ateu - capitulo X da Divina Comédia - mesmo assim tornou-se símbolo da amorosidade paterna, ao demonstrar nestas circunstâncias preocupação extremada pela vida do filho poeta. Giovanni Boccacio no Decameron (6º dia, nona novela, “A cena do cemitério”), uma geração depois sugere que ele tenha sido apenas um agnóstico. Casado a segunda vez com Villana Domenich teria tido ainda os filhos F2- Jacobo, F3 -Schiatta e F4- Rustico (SUC, “vendita” de 1349). O cronista Villani refere: “em 1257 foi podestá (prefeito) de Gubbio; guelfo como queria a tradição familiar; em 1260, após a vitória gibelina de Montaperti teve suas casas em San Pier Scheraggio incendiadas e foi forçado a se exilar em Lucca. Ele só pôde retornar a Florença após a batalha de Benevento (1266); em 1267 participou da pacificação provisória entre as partes opostas ao afiançar seu filho Guido com Bice ou Beatrice degli Uberti, filha de Farinata degli Uberti (G. Villani, Cronica, VII, 15, p. 118) (“partecipò alla provvisoria pacificazione tra le opposte parti facendo fidanzare il figlio Guido con Bice o Beatrice degli Uberti, figlia di Farinata” - G. Villani, Cronica, VII, 15, p. 118). Segue:

               I

- Jacobo Cavalcanti ou Jacobi Cavalleschi – Meio-irmão do célebre poeta Guido Cavalcanti, também filho do cavaleiro guelfo Cante Cavalcanti Cavalcanti, pela a segunda vez casado com Villana Domenich (SUC, Tavola). Nascido, calculamos pela sua estada em Bolonha, c. 1270 – falecido ? ou morto 1349 ? Citado em “Huominni e Donne” de Andrea di Lorenzo Cavalcanti  (H&D, Registro notarial de 1459: “Filippus, et Guido fratres et filij Antonij Guidonis Jacobi Cavalleschi, siue [ou] de Cavalcantibus fuerunt noviter descripti matricula q me Baptista de Guardis notarius intrascriptum et descendentes dicti Antonij - Ementa no “Registro d’Huomini e Donne” die 15 Xbris 1459 - Libri d’Arte” - pesquisa Marcelo Bezerra Cavalcanti). Meio-irmão do célebre poeta Guido Cavalcanti (n. 1255 - f. 1300), foi também poeta; irmão por parte de pai e mãe de Shiatta Rústico. Bem jovem estudou em Bolonha e nesta cidade no ano 1287 estreitou amizade com Dante (SUC e crítica literária). Dele restam poucos poemas (transcritos em SUC). Seus filhos F-1 Benedetto, bispo de Rapolla falecido 1374, F-2 Guidoni, que segue e F3 – Ridolfi (SUC,Tabela).

Obs. 1: Este Jacobo morto em 1349 como seu pai teria entrado também a serviço dos d´Anjou, já nesta ocasião como cavaleiro da Rainha Giovanna d´Anjou, esta com raízes na Provence ? As ações de um Jacobo da mesma época são citadas por SUC nos anos 1314, 1344, até 1349, quando é capturado e “impicato”, degolado por invasores húngaros no Castelo de Corneto (atual Copertino?) em Puglia, sul da Itália. Este fato talvez encoberto na genealogia familiar (Ver túmulos de Iacopo, RST “Guia das Capelas Cavalcanti”, itens 1, texto e nota 16 e item 8). Chama também nossa atenção a decoração do túmulo de Hildebrandi (Dino) di Jacobo, sepultado em 18 de agosto de 1371 na Basílica da Santa Crocce, mantida magnífica lápide (fig.4) - belíssimo trabalho em mármore no chão da nave, com o tradicional escudo da família Cavalcanti e “um estupendo fundo com desenho provençal” (SUC), ainda os  dizeres: 

fig.4


FIREN ZE - SAN TA CROCE H IC IACET CORPUS CAV ALCA NTIS D, LAPI DE CAV ALCA NTIBUS ET SUORUM D ESCENDEN TIUM A NNO DO MIN I MCCCLXXI MENSE A UGU STI CU IUS AN IMA REQ UIESTA T IN PACE).

Obs. 2:  Andrea di Guido sobrinho de Jacobo, como Tansia também filho do poeta Guido, quase teria sido executado, comprometido em 1302 pelos guelfos negros. A obra poética de seu famoso irmão Guido desde logo influenciou autores da época - Dante Alighieri, Bocaccio, Marcílio Ficcino, Luiz de Camões - também impactou poetas e filósofos modernos e contemporâneos - Ezra Pound, Italo Calvino e Roger Scrouton.

               I

à Aqui o “enjambment”               

Guido ou Guidoni Cavalcanti, ou Guido Cavalleschi, n. c. 1330 – f. d. 1408 ? Por H&D, registro notarial de 1459 já referido acima, filho de Iacobo Cavalcanti. Seria o Guido que, com vários outros Cavalcanti, subscreve a paz dos Falconieri em 1342? (SUC).  Consul  dell'Arte da Calimala em  1393-1394 (SUC), casado com Corradina de Piero di Camantino de  'Gherardini, (Por Marcello B. C. em seu blog:  "Guido De' Cavalcanti, ou Guido de' Cavalleschi, certificado como filho de Jacopo em 1387. Em 1373 registrou-se na Arte di Calimala, corporação dos negociantes de panos de lã. Em 1393 foi nomeado para dois conselhos (dirigentes) de Arte de Calimala. Em 1401 foi casado com Corradina de Piero di Camantino de 'Gherardini. Teve um filho Antonio e outro Jacobo". Em Doria F.A  e outros – atestado em 408 de S. Domenico, casado com Corradina de Piero di Camantino de 'Gherardinifilhos Antonio, Jacobo, Giovanni, Andrea, Bartolomeo  e mais dois). Segue:

               I

Antonio Cavalcanti ou Antonio De' Cavalleschi, n. 1402 ou 1404 – f.?, filho de Guidoni Cavalcanti ou Guido de'Cavalleschi, membro da Calimala,  c/registro notarial referido acima em H&D. (Marcelo B.C. em seu blog afirma Antonio nascido em 1404, certificado em 1426 como irmão de um Jacopo e filho de Guido de'Cavalleschi. Teria sido pai de – F1 Peter – F2  Jacopo, pai de um N Filippo,  ancestral de um Schiatta – F3 Guido, cg  e   F4 Filippo, que segue) (SUC o indica como nascido em 1402). 

OBS.1: este filho Peter ou Piero seria o Pedro Cavalcanti possivelmente nascido c. 1430 e que vendeu a casa da Porta Rossa em 1503? Piero nome incomum entre o Cavalcanti)

                      I

Filippo Cavalcanti, n. c. 1420 - f. ? (Filipus e seu irmão Guidonis citados em H&D, registro notarial de 1459).  Pai do F1 Lorenzo, que segue. (M.B.C. em seu blog cita ainda um outro filho de Felippo, F2 Jacopo Cavalcanti, com dois filhos: N 1- Jacopa, n. 1453, no Código Civil cc Jacopo di Girolamo di Matteo Morelli – N 2 - Filippo, pai de B- Maria, n. 1497, cc Jacopo di Francesco Rinuccini)

   Obs.: Seria este filho Jacobo de Filippo (F2?) o que já na geração seguinte, no ano de 1519, fez em publico um veemente protesto contra os Medici ? (RST, ”Medici X Cavalcanti” texto e  n 23) Este Jacobo Cavalcanti durante um rico banquete teria protestado através de uma “performance” artística  que lhe teria rendido a ida para a prisão – “performance” relatada pelo o historiador Michael Levey (Levey, Michael – Florence: a Portrait, Harward University Press, 1998, pg. 301. RST- “M X C”, nota 24).

                 I

 - Lorenzo di Filippo Cavalcanti, calculamos n. c. 1450 – f. 1496Escudeiro de  Lorenzo de Medici que o teria salvado de ser assassinado durante a Conjuração dos Pazzi em 1478 (Maquiavel, Nicolau - Hist. de Florença, ed.Musa, pg. 379 n). “Na luta um rapaz da familia  Cavalcanti   teria saído ferido nos braços” (Martines – Abril Sangrento, Imago,pg. 153).  Lorenzo, o Magnífico havia escapado do atentado dos Pazzi com o auxílio de dois Cavalcanti, Lorenzo e Andréa, seus escudeiros e aparentados (RST, ”Medici X Cavalcanti”, texto e comentários na n 10).

        Lorenzo di Filippo Cavalcanti foi casado com Contessina Peruggi (testamento feito em 20 de abril de 1516, ela já viúva) filha de Ugo de Rinaldo Peruzzi - família de antiga origem etrusca, banqueiros, agora envolvidos em atividades artísticas pelo famoso arquiteto Baldassare Peruzzi. Lorenzo e Contessina pais do também “expert’ em artes F1- Giovanni di Lorenzo (John Cavalcanti), que segue. (Marcelo Bezerra Cavalcanti em seu blog cita ainda outros filhos: - F2 Schiatta [f. 1469?] - F3 Maddalena, n. 1489, cc Bernardo di Simone Mazzinghi – F4 - Catherine, cc Paolo di Agnolo Baglioni – F5 Selvagem - e outra F6 - Madalena.



fig.5

                                      

OBS. 1(errata da  Fig.5) Segundo Climent-Denteil  existiria um quadro de Il Rosso (Il Rosso - Giovanni Batiste di Iacob - 1496-1540), hoje no Louvre, datado de 1524-1527 com o título “La Contesa delle Pieridi" (O desafio dos Pieridi) - óleo sobre tábua transferido para tela, quadro pequeno de 31 x 63 cm. Não sabemos se este quadro foi também encomendado pelo filho do casal, o mecenas Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, a Il Rosso.

OBS. 2: Na capela Cavalcanti da Basílica de Santa Croce em 1496 foi enterrado Lorenzino (Lorenzo) Cavalcanti, escudeiro que havia salvado a vida do poderoso Lorenzo de Médici por ocasião de uma conjuração tramada pelos membros da família Pazzi - família de banqueiros rivais e que nesta ocasião já contestava a predominância e as ambições políticas dos Médici.  O irmão do grande Lorenzo, Giuliano de Médici, foi assassinado na ocasião. Lorenzino Cavalcanti que salvara o Grande Lourenço permanece enterrado nesta Basílica no numero 03684 (RST ,“Guia das Capelas Cavalcanti”, texto e nota 11).   Segue:             

                     I

Giovanni di Lorenzo (John) Cavalcanti n. 8 - 10 - 1480 - f. 1542 - Grande comerciante e mecenas da casa comercial Bardi & Cavalcanti, com sedes em Florença e Londres, foi casado com Ginerva ManelliIdentificado como “di Lorenzo” em Sicca, Cinzia M. – “Pawns of international finance and politics: Florentine scultors at the court of Henry VIII, Renaissance Studies, vol. 20, no. 1, 2006, pg. 6, citando várias fontes primárias especialmente ASF, Citadinario 4, Santa Crocce, 1400-1500, fol. 1. Também assim identificado por Silvio Cavalcanti em Istoria Della Famiglia de Cavalcanti, escrita por Scipione Ammirato e completada por Scipione Ammirat, na data de 11/10/1480, pagina 113, que refere “Battesimo - Giovanni Dyonisio di Lorenzo di Filippo Cavalcanti”.                                                     

          Profundo conhecedor de artes, Giovanni Cavalcanti quando jovem esteve na corte de Henrique VIII como elemento de confiança e acompanhante (“gentleman uscher”) do cardeal Giovanni de Médici, seu patrono e protetor desde uma permanência anterior em Roma. Em 1513 este Cardeal Giovanni Médici de muito discretas simpatias “popolanas” é escolhido papa, Leão X, elevando agora nosso Giovanni di Lorenzo Cavalcanti a seu “cubiculari’, seu “camaliere segreto papal” até sua morte em dezembro de 1521. Giovanni em 1520 havia recebido acréscimo de suas armas pelo rei Henrique VIII e continuará a gozar da sua simpatia e prestígio. Mesmo sem mais a proteção do amigo papa, Giovanni voltara para Florença para casar-se com Ginerva Mannelli, jovem de antiga família de produtores de seda e, de início, ter dois filhos com ela - Felipe e Schiatta - nascidos em 1525 e 1527. Entretanto, já em 1523 sua casa comercial em Londres estará sob um inventário controlado pelo secretário do então, ainda cardeal, Giulio de Medici, seus bens aparentemente arrestados. Em 1527 Giovanni por fim posicionou-se como os demais ramos da família contra a conduta dos Médici cada vez mais prepotentes. Segundo o historiador Benedetto Varchi, em 26 de abril de 1527 Giovanni Cavalcanti teria participado entre muitos cidadãos do “tumulto do Venerdi”, ocasião em que lideranças florentinas exigiram a volta da constituição de 1512 e a queda dos Medici (Varchi, Benedetto – Storia Florentina, Florence, ed. 1838-1841, I, pg.13/36). Sabemos que nosso Giovanni teria pedido auxilio a Henrique VIII, a quem servira na corte inglesa de maneira prestigiosa como comerciante de artes, financiador de projetos de monumentos e diplomata informal. Em 1528 recebeu carta deste rei com resposta muito simpática e solidária, oferecendo-lhe auxilio na questão do arresto de seus bens em Florença (original na Biblioteca Nacional Central de Florença, Sala Manoscritti Rari, Passerine 156 - Cavalcanti). No período da Segunda Republica (1527-1530) Giovanni di Lorenzo Cavalcanti teria tido ainda um filho, Guido, e atuará em frente anti-medici decidida e sugestiva – campanha didática através o seu “metier” de comerciante de artes, tentando exportar para a Inglaterra a obra do pintor engajado “Il Rosso”, procurando agradar e atrair o rei Inglês Eduardo VIII para a causa florentina (RST, “Rebeca ao Poço”). Depois da derrota da Segunda Republica, Giovanni voltou para Londres, a nosso ver claramente auto-exilado - de início sem a esposa, apenas com dois filhinhos. Giovanni havia conseguido colocar um outro dos seus pequenos filhos como pajem no cortejo que acompanhava Catarina de Medici para seu casamento na França em 1533; em 34 sua esposa Generva chega à Londres com uma pequena filhinhaO casal teve em Londres ainda um quarto filho, Giovanni, recentemente identificado. Nesta cidade, em quarteirão afamado, Giovanni di Lorenzo manteve por alguns anos sua casa comercial luxuosa, onde morreu no ano de 1542. A casa comercial de John Cavalcanti, como era conhecido - a Bardi&Cavalcanti - estava muito bem localizada na Austin Friars, onde se estabeleceram não só Thomas Cromwell, mas ainda em 1511 o muito célebre humanista Erasmo de Rotterdan.      

     (Fontes deste perfil: Sicca, Cinzia M. – “Pawns of international finance and politics: Florentine scultors at the court of Henry VIII, Renaissance Studies, vol. 20, no. 1, 2006, pg. 6, citando várias fontes primárias especialmente ASF, Citadinario 4, Santa Crocce, 1400-1500, fol.1.; Doria e outros; Torres, Rosa Sampaio – artigos “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos: Filippo, Schiatta e Guido” (em especial notas 20, 26), “A Casa Bardi-Cavalcanti”, em especial nota 4 e fotos, ainda “Rebeca ao Poço” - todos editados em www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ - A carta de Henrique VIII localizada e fotografada por Marcelo Bezerra Cavalcanti, publicada em seu blog). Detalhes sobre as atividades diplomáticas realizadas por Giovanni di Lorenzo para Henrique VIII, ver Doria em “Observações Finais”.

OBs.: Temos indicação de uma troca de cartas entre Ginerva Manelli e o seu filho Guido, que ainda permanecia na Inglaterra (Bartlett, K. - artigo “Papal Polici and the English Crow 1563-1565”, Sixteen Century Jornal XXIII, Vol. 23, n. 4, 1992, pg.643-659) – Esta carta de Guido enviada de Londres em 1563 para Ginevra sua mãe em Florença, relatava seu conhecimento de negociações entre a cúria e a Inglaterra para melhorar as relações religiosas entre os dois estados. Genevra  provavelmente teria retornado à Florença após a morte do marido ocorrida em 1542, apenas com seus dois filhos mais moços. Citada por fonte genealógica brasileira como enterrada em Florença, na Igreja da Santa Crocce, em 11 de abril de 1563 (fonte www.geni.com/, site coordenado por Felippe de Paula Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, IV).

    Foram seus filhos com Giovanni di Lorenzo: F1- Felippo, F2- Schiatta, F3 - Guido, F4 - Giovanni e F5 - Contessina.

fig.6                                               fig.7

(Fig. 6) Acréscimo de armas por Henrique VIII a Giovanni Cavalcanti em 1520, ao lado brasão de Felippo di Giovanni Cavalcanti no Brasil, cruzetas transformadas em quadrifólios (fig.7), marcando o fim da tradição Templária dos Cavalcanti?  (brasões em SUC Tavola)

 

F 1- Felippo di Giovanni Cavalcanti (n. Florença, 12 de junho de 1525 — Olinda, antes de 1614, data da morte de sua mulher). Nascido em Florença foi o primeiro filho de Giovanni Cavalcanti, batizado na Igreja de Santa Croce. Tornou-se, certamente, um nobre renascentista culto e preparado como seu pai e irmãos. Entretanto, nada sabemos de sua infância – nem se foi criado na Inglaterra ou na França. Apenas temos noticia da passagem de Felipe por Portugal documentada pela carta de nobreza atestada por Cosme I de Medici, arquivada no Arquivo do Estado de Florença, com um adendo relacionado à cruz que Filippo pretendia receber do rei português. Em 1559 saíra de Florença antes de descoberta a “Conjuração Pucci e Cavalcanti”, passando pela Espanha, por Portugal, e não seguro transferindo-se para o Brasil em 1560. A noticia de sua passagem pela Espanha comentada por seu irmão Giovanni di Giovanni em carta cifrada datada de Paris ao seu amigo Bernardo Cambi em outubro de 1560 (RST,“Giovanni di Giovanni Cavalcanti”). Notório o envolvimento da família Cavalcanti como um todo, por seus vários ramos, na mal sucedida Conjuração Pucci e Cavalcanti contra os Médici de 1559, conspiração que gerou perseguição tida como implacável. No Brasil Filippo foi casado com Catarina de Albuquerque e teve prole numerosa - ela herdeira do fidalgo português Jerônimo de Albuquerque e da índia Muíra da tribo Tabajara, cristianizada Maria do Espírito Santo. O primeiro filho de Filippo no Brasil de mesmo nome de seu pai, F1 - Giovanni morre ainda pequeno (RST, ”Antonio Caval...”, blog). Filippo é sucedido na administração de seus engenhos por seu segundo filho F2- Antonio Cavalcanti de Albuquerque (n. c. 1564 - f. 1640), fidalgo da casa real portuguesa, e seu neto também N Felipe Cavalcanti de Albuquerque (c.1596-1657); este participa com seus tios da luta com contra a invasão holandesa no Brasil. Atualmente, a família é muito numerosa no Brasil. A seu respeito consultar os nossos vários trabalhos sobre a atuação dos Cavalcanti brasileiros, com todas as fontes no blog htpp://rosasampaiotorresblogspot.com/.

 

F 2- Schiatta di Giovanni Cavalcanti, nascido em 17 de setembro de 1527 em Florença, falecido depois de 1563 – pela data de seu casamento, ele ainda com dois filhos. (A data do nascimento de Schiatta em Andrea di Lorenzo - Registro d´Huomini e Donne Cavalcanti - ms, ASF Mannelli Galilei Riccardi 481). Schiatta foi transportado por seu pai com quatro ou cinco anos e outro pequeno irmão (Guido?) para Londres onde foram educados. Após a morte de seu pai em 1546, tem em Londres licença renovada com seu irmão Guido para comércio de jóias e objetos de arte. Schiatta trabalhou com Guido para a corte inglesa também em várias atividades diplomáticas e de facilitação comercial, atividades detalhadamente descritas pela historiadora Julia de Lacy, entre os anos 59, 61 e 63. As negociações dos irmãos ligadas ao tratado de paz de Cateau Cambresis em 1559 haviam sido apreciadas pela rainha inglesa e, mesmo, recompensadas financeiramente. Mais tarde, em 1563, temos notícias de Schiatta em Amsterdã – após a vinda de seu outro irmão mais velho, Filippo, para o Brasil (1560) - tratando agora de privilégios para refino de sal, obtidos por meio da duquesa de Parma, que mesmo teria auxiliado a família na Conjuração de 1559. Neste ano de 1563 Schiatta casou-se com Ipólita di Bernardo Romei de Castiglione, da ilustre família de Baldassare Castiglione (1478-1529), autor do “Livro do Cortesão”, livro de grande repercussão na época, e que criticava a tirania dos poderosos (consultar RTS, trabalho “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seu filhos“, texto e nota 33) A data do casamento de Schiatta em Sicca, Cinzia M. – artigo citado, 2002, pg.183, nota 84, com fontes. Terá com Hipólita dois filhos: F1 - Alessandro e F2 - Lisabetta, casada em 1590 com Ducio Mancini (SUC, Tavola).

                                       

F 3 - Guido di Giovanni Cavalcanti, nascido calculamos c. 1528 – f. c. 1597? Não conseguimos localizar, até o momento, a data exata do seu nascimento entre 1528-30, período da Nova Republica Florentina. Presumimos que tenha nascido em Florença porque é também ele é  citado no documento de nobreza de Cosimo I, concedido ao seu irmão Filippo di Giovanni quando de sua vinda para o Brasil. Depois da morte do pai em 1542, Guido já habituado aos tratos de cortesão trabalhou em Londres na antiga casa comercial paterna, a Bardi & Cavalcanti, com seu irmão Shiatta e participou das tratativas do tratado de paz de Cateau-Cambresis em 1559 para a corte inglesa. O tratado de Cateau-Cambresis teve reflexos na Toscana e pôs fim a trágica e denodada resistência da “Republica Popular de Siena Retirada para Montalcino” naquele mesmo ano.  Temos que a partir de 1562 Guido já estaria então prestando serviços diplomáticos para o rei francês (RTS, “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seu filhos”, nota 35), pois a rainha Catarina, sabemos, continuava motivada por suas diferenças políticas e pessoais com seu parente Cosmo I, agora o novo ditador Medici de Florença. Assim sendo, em 63 Guido a convite transferiu-se para a corte francesa, onde trabalhou com grande prestígio e honras para a rainha Catarina de Médici, ainda indignada com seus parentes Medici; nesta corte chegou a ocupar em 1572 o posto de Conselheiro de EstadoPoeta também elogiado nesta corte francesa onde se haviam refugiado os numerosos “fuoriusciti” florentinos, inclusive Lucrecia Cavalcanti, filha do líder conspirador Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, do ramo “Cavalereschi”.  (Ver figura 1 e fontes citadas por RTS em seus artigos sobre a família, em especial “Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti”).

Obs.: O filho de Lucrecia, Alessandro d´Elbène nascido em Lyon (1554-1613) vem a se destacar como militar, e em 1597 chegara também a Conselheiro de Estado francês - cargo que já ocupara o nosso Guido di Giovanni Cavalcanti, um Cavalleschi, talvez mesmo em sua substituição.

 

F 4 - Giovanndi Giovanni Cavalcanti, nascido c. 1534 na Inglaterra - f. depois de 1587 Ultimo filho do comerciante de artes e mecenas Giovanni di Lorenzo Cavalcanti que permanecera em auto-exílio na corte de Henrique VIII na Inglaterra. Giovanni di Giovanni nascido na Inglaterra foi recentemente identificado por sua correspondência com Giordano Bruno mantida em 1587/88. Este filho caçula de mesmo prenome, Giovanni, teria nascido após o translado de sua mãe, Ginerva, em 1534 para a Inglaterra.  É do nosso conhecimento que Ginerva havia chegado à Inglaterra em 1534, acompanhada apenas por uma filhinha. Ginerva e os dois filhos mais moços certamente retornaram de Londres para Florença com a morte do marido em 42 (há correspondência que indica este fato).  Após a “Conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559” Giovanni di Giovanni em “um retorno temporário” à Londres manteve contato pessoal e próximo com a rainha Elizabeth da Inglaterra. Posteriormente, esteve envolvido nas tratativas suspeitas de uma academia literária, a “Accademia del Piano” em Florença. Manteve ainda contato epistolar cifrado de Paris e Lyon com sem amigo Bernardo Cambi. Ver RTS trabalhos inéditos e muito documentados “Giovanni di Giovanni Cavalcanti” e “Academia del Piano”, com documentos inéditos e fotos, todas as fontes indicadas.

 

 F 5 - Contessina Cavalcanti – nascida calculamos cerca de 1531 em Florença - f. c. 1580 ? Foi Abadessa de um convento em Santa Maria Del Latte, Montevarchi, durante 30 anos. A pequena filha de Giovanni i Lorenzo Cavalcanti do sec. XVI levou o mesmo nome de sua avó, e muito pequena acompanhou seus pais para a Inglaterra em auto-exílio. Sabíamos que uma filhinha, uma menina, teria chegado a Londres com a mãe, Ginevra, em outubro de 1534. Ela por fim Identificada pelo genealogista Silvio Humberto Cavalcanti em comunicação à autora (texto no original do genealogista Silvio Cavalcanti: "Volevo poi informati che hoscoperto che Giovanni [di Lorenzo Cavalcanti] avanche una Figlia femina, Contessina, che fu per 30 anni Abadessa de un convento a Santa Maria Del Latte, a Montevarchi").


CONCLUSÂO


A família Cavalcanti italiana por seus vários ramos atuando no contexto político europeu do sec. XVI.

     Para fecho deste trabalho pretendemos ressaltar a importante participação da longeva  família Cavalcanti italiana na política do fim do século XVI em que tentativas sucessivas de retorno à  Republica havia sido tentadas em Florença.

   

   É possível que no passado a amizade do jovem comerciante Giovanni di Lorenzo Cavalcanti com o papa Leão X, tio-avô de Catarina de Médici, fosse um dos motivos do convite da rainha francesa para a transferência do seu filho, o jovem Guido di Giovanni Cavalcanti para sua corte, pois Guido aparentemente apresentava as mesmas características do pai, a mesma vocação: “doublé” de comerciante e diplomata - já experiente nos meandros políticos ingleses, franceses e florentinos. Seu pai como cortesão de Henrique, sabemos, também atuara em questões diplomáticas. 

       O genealogista brasileiro Doria detalha as atividades diplomáticas do comerciante e mecenas Giovanni di Lorenzo Cavalcanti para Henrique VIII:

                   “Envolve-se na diplomacia que cerca a concessão do chapéu de cardeal a Wolsey, principal ministro de Henrique VIII; está ao lado do rei inglês quando este vai se encontrar com Francisco I de França no campo de Tendas de Ouro [...] e enfim, novamente participa de uma negociação entre o papa e o rei da Inglaterra, quando graças a um tratado que Henrique escreve contra Lutero, Leão X concede-lhe a rosa de Ouro e o título de Defensor Fidei” (Doria, pg.15 com fontes, Sicca).

  Assim sendo, Guido e seu irmão Shiatta depois da morte do pai em 42 continuaram a comerciar na Inglaterra, mas atuaram também diplomaticamente para a corte inglesa nas tratativas para o tratado de paz de Cateau – Cambrèsis em 1559.

    Na verdade desde 1562 Guido já estaria prestando serviços diplomáticos para o rei francês. Com o falecimento de Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti do ramo “Cavalereschi” ainda foragido em Pádua, em sua substituição a rainha Catarina convoca para sua corte o jovem Guido em 1563, pois a despeito do tratado ela continuava motivada por suas diferenças políticas e pessoais com seu parente Cosmo I - agora o ditador Medici de Florença.

    A influência de Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti se fizera sentir na corte francesa além do mais por sua filha Lucrecia tornada dama de honra da Rainha, casada com o banqueiro florentino Pierre Albizzi Del Bene – “Almocer” no período de Henrique II e “facteur” da banca Gadagne-  responsável pelas ligações financeiras com os banqueiros florentinos de Roma (através o Cardeal Tournon), de Veneza (Francisco Nazi), e de Ferrara (o próprio duque de Ferrara) (RST – artigo citado “Conspiração Pucci & Cavalcanti”).

    

    Lembramos que em 1560 o irmão mais velho de Guido, Filippo Cavalcanti, já então havia saído da Europa, vindo para o Brasil - aparentemente fugia da rigorosa perseguição dos Medici à fracassada “Conspiração republicana Pucci e Cavalcanti”, descoberta em outubro de 1559.   

      O líder da conspiração Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti havia pressionado o cardeal Farnese para a ação, e este então pedira a Pandolfo Pucci solicitar ao irmão dele, Otavio Farnese, duque de Parma, armamentos para explodir o trono de Cosimo I. O atentado ocorreria, em seu ultimo planejamento, durante um ato de simbolismo religioso contra tiranos em 3 de outubro de 1559, celebração da missa de morte do imperador Carlos V. Comentários relativos a estas tentativas de morte de tiranos em cerimônias religiosas, tidas como simbólicas já haviam sido feitos por Baldassare Castiglione (1478-1529), diplomata a serviço do papa Clemente VII no seu livro O Cortesão, obra de 1528, muito difundida nas cortes da época. Schiatta Cavalcanti, irmão de Filippo, lembramos, casado nesta ilustre família de Baldassare Castiglione.

      O fracasso desta conspiração liderada por Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti do ramo “Cavalereschi” - conspiração em que Stolto Cavalcanti do ramo “Ciampoli” da família fora comprometido e decapitado - gerou repressão tenaz de Cosimo I. Pandolfo Pucci cortesão e amigo de Cosimo foi enforcado em janeiro de 1560.  Também decapitados Puccio Pucci e Lorenzo di Jacobo de Medici.

          Alguns conspiradores foragidos tentaram escapar. Mas na sua captura Cosimo I foi pertinaz. O banqueiro florentino Francisco Nasi, elemento de ligação com o banqueiro Del Bene na França, participou dos planos conspirativos, mas suspeito e detido foi liberado, tomando rápido o rumo de Veneza. Bernardino Corbinelli que também conspirou foi perseguido durante dez anos, por fim alcançado, assassinado na França. Ricciardo Milanese em fuga, embarcado, teria caído nas mãos dos turcos (RST, ”Medici x Cavalcanti”, revista ConTexto, texto e notas 76, 77, 78,79).

     

      Este tratado de paz de Cateau-Cambrèsis, o mais importante do século XVI, fora celebrado em 2 e 3 de abril de 1559, no mesmo ano da Conspiração Pucci e Cavalcanti, e proporcionará o término dos conflitos entre a França, Espanha e o Sacro Império Romano-Germânico - seus reflexos diretos sentidos também na Toscana. E este mesmo ano de 1559, também em outubro terá fim “A República Popular de Siena Retirada para Montalcino”.

    Em janeiro de 1553 fora estabelecido um pacto de aliança entre Henrique II, rei francês, e Siena pela qual a Republica lhe confia sua defesa, seu governo e a direção política e econômica.  A resistência da Republica Popular de Siena, portanto, episódio marcante da luta republicana e popular na Toscana, referida várias vezes nos trabalhos da autora – luta da qual o parente Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti do ramo “Cavalereschi” entre 54/55 também já havia participado em posição de destaque, como representante francês.   Depois da derrota de Scannagallo, agosto de 1554, centenas de famílias sienenses haviam se juntado às forças do comandante ferido, Piero Strozzi, que se recuperava de ferimentos na fortaleza de Montalcino. Por quatro anos estas famílias abrigadas pela celebre fortaleza haviam vivido e resistido pela liberdade, ordenando-se nas regras republicanas e populares da própria Siena.    

        Em 1559 tivera fim a experiência da “República Popular de Siena Retirada para Montalcino” - episódio histórico republicano e popular muito significativo. Sua importância já percebida por Michel Montaigne (1533-1592), precursor do Iluminismo (Simoncelli, pg.9 - 11).  Com a paz de Cateau-Cambrèsis entre França, Espanha e o Sacro Império, a região da Toscana foi financeiramente cedida pelos espanhóis a Cosimo I, apoiado pelo Santo Império. E Cosimo I conseguirá por fim estruturar seu tão longamente desejado Grão-Ducado da Toscana.

        

    A descoberta da tenaz “Conspiracão Pucci & Cavalcanti” e a queda definitiva da “Republica de Siena Retirada para Montalcino” – são dois fatos históricos importantes, ocorridos em outubro do mesmo ano – e constituem a nosso ver momentos culminantes da resistência contra os Médici dominantes na Toscana, situados num mesmo contexto de luta Republicana na Itália. Sabemos que muitas cartas da família Cavalcanti do ramo Ciompi passaram depois para a família Compagni, até hoje conservadas em Florença no Fondo Camapgni, scafalle B., documentação que não possível de ser consultada pelo pesquisador da família Silvio Umberto, afirmando o pesquisador  em sua TavolaCavalcantiFirenze: “Alla morte di Maddalena, ultima di questo ramo, il patrimonio e molte carte di famiglia passano nella famiglia Compagni. Oggi sono conservate nell'Archivio di Stato di Firenze fondo Compagni scaffale B. Conalberi genealogici, elenchi proprietà e storie familiari. Non ho ancora potuto visionarle”.

     Mesmo com toda a repressão dos absolutos Médici, depois da morte de Cósimo, em 1575 será ainda tramada na corte da França e em Florença mais uma nova conspiração - a “Conspiração Pucci & Ridolfi”, que provoca terrível reação agora dos próprios filhos de Cosimo.

    Nesta conspiração logo descoberta foi também envolvido mais um jovem Cavalcanti - Nicolò di Bastiano Cavalcanti - que morre enforcado.  O jovem Orácio Pucci quando detido tentou suicidar-se, demonstrando logo sua culpa - decapitado em 27 de agosto de 1575. Seus dois outros irmãos, Alessandro e Emílio Pucci, também filhos de Pandolfo, terão posteriores mortes suspeitas por envenenamento e assassinato (RST, “Medici x Cav.” revista ConTexto https://revistacontextoarteshistgeneal. blogspot.com//, texto e n 88 a 91).

    A perseguição que se segue a esta última conspiração em Florença foi ainda mais pertinaz, muito bem descrita por Boutier.  Piero di Medici-Ridolfi tido como um dos líderes da conspiração foi caçado por toda a Europa, por fim alcançado na Germânia em data imprecisa do ano de 1577 e teria sido morto num cárcere de Florença, não sabemos se decapitado ou enforcado. A perseguição tida como paranóica se espalhara por vários países e cortes da Europa – em Versailles, na corte da Inglaterra onde estiveram os Capponi, na Polônia, e mesmo fora do continente. Francesco Alamanni foi assassinado na França em 1578 por mercenários dos Medici depois de três anos perseguido, com protestos diplomáticos veementes de Catarina de Medici (RST, texto “Conjuração Pucci & Cavalcanti”, especialmente a 2a parte, “Conspiração Pucci & Ridolfi”)

      Para completa dimensão desses fatos que se seguem à “Conspiração Pucci e Ridolfi” de 1775 em Florença, consultar trabalho básico da autora “Conspiração Pucci & Cavalcanti – com 2ª parte, Conspiração Pucci & Ridolfi”, artigo em esses episódios contestadores subseqüentes ocorridos em 1575 são ainda detidamente abordados e analisada a terrível reação já dos próprios filhos de Cosimo de Médici, reação que envolve agora, de forma mais trágica, as jovens figuras femininas desta família Medici - as belíssimas Isabelle e Eleonora. 

     Sobre a grande migração de famílias florentinas de prestigio acossadas da Europa pelos Medici por motivos políticos ocorridos no séc. XVI, até mesmo para o Brasil, seriam necessários estudos aprofundados. Numa primeira abordagem nesta situação sugerimos, além dos Cavalcanti:

      - os Salviati que teriam ido, já em 1478, se refugiar na ilha da Madeira por Giovanni Salviati, filho de Jacobo Salviati, que neste mesmo ano foi comprometido e estrangulado no dia da eclosão da conjuração Pazzi (Doria, mídia eletrônica Geneall. pt.).

     - os Acciaioli que sugestivamente migraram também para Madeira e depois no Brasil. Simone di Zanobio Acciaiuoli nascido em 1497, em 1509 acha-se já migrado para o Funchal, Ilha da Madeira.  Simone era bisneto de Zanobi Acciaioli, inimigo acérrimo dos Medici. Simone teria também ligações familiares com o contestador Neri Acciaioli por sua mãe.

      - os Manelli que também teriam vindo para Pernambuco através Nicolau Spinelli, parente do lado materno de Filippo di Giovanni Cavalcanti (Barata, Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha – Dicionário das Famílias Brasileiras, Iber-América, pg.1415).

    

      A análise da atuação política da família Cavalcanti em seu contexto amplo é apresentada pela autora Rosa Sampaio Torres a partir de 2012 - suas fontes sempre referidas em especial nos artigos: “Conspiração Pucci & Cavalcanti – 1ª parte e 2ª parte, Conspiração Pucci & Ridolfi”, “Médici X Cavalcanti”; ”Filippo di Giovanni Cavalcanti”; “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”; “Rebecca ao Poço”; ”A casa Bardi Cavalcanti”, “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”; “Academia del Piano” e outros, publicados no blog www.rosasampiotorres.blogspot.com/; ainda “Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti“, publicado no blog e na revista InComunidade do Porto, ed. 38, set. 2015, republicado na revista brasileira ConTexto em maio de 2023, https://revistacontextoarteshistgeneal.blogspot.com/. Também “Medici X Cavalcanti” de 2015 foi republicado recentemente nesta revista ConTexto, mesmo endereço.

Rosa Sampaio Torres é historiadora, autora do livro “Tenentismo 1922-1927”, 2 vol., publicado pela ed. Minerva em 1992, ainda poeta e ensaísta – seus artigos sobre a família Cavalcanti publicados em revistas brasileiras e portuguesas - atualmente considerada especialista na obra do poeta Guido Cavalcanti no século XIII.

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