quarta-feira, 6 de junho de 2012

Também Revisitando Guido Cavalcanti


Foi publicado, recentemente, um artigo sobre a família Cavalcanti na revista “Aventuras na Historia”, Editora Abril, artigo em que fui citada como fonte. Agradeço a Rodrigo Cavalcante sua gentil atenção, e já o considero um estudioso do tema.

Entretanto, em respeito ao nosso público leitor, não gostaria que passasse sem observação minha uma questão crucial para a historiografia da família e, mesmo, para o entendimento da sua ação política no Brasil.

Se os Cavalcanti haviam descido de Colônia, reino franco, a chamado do papa Adriano I para vencer os lombardos em tremendas dificuldades pelos Alpes, no século VIII, é natural que tivessem se tornado na Toscana, já no século XIII, família muito numerosa de apoio ao papado, família “guelfa” portanto. Rica e poderosa era prestigiada também pelos franceses d´Anjou, mas ainda respeitosa ao sistema republicano florentino que ela mesma havia ajudado a implantar.

Acrescentamos: Francisco Cavalcanti, “O Vesgo”, foi realmente punido por Dante Alighieri como avaro, com outros florentinos ricos colocados no seu inferno da Divina Comédia. Mas Cavalcante Cavalcanti - famoso cavaleiro “guelfo” - lutador pelo papado na famosa batalha de Montaperti em 1260, pai do poeta e também cavaleiro Guido Cavalcanti, no inferno não foi colocado por ser rico, pois Dante até o respeitava muito como militar e político, mas por ele ser ateu.

Dante, neste capítulo X muito estudado da Divina Comédia e que centraliza o conflito político em Florença, pelo contrário imortaliza Cavalcante Cavalcanti como símbolo do amor paterno, ao apresentá-lo saindo de seu túmulo chorando copiosamente, tendo a premonição da morte do amado filho, o poeta e também político Guido Cavalcanti, punido pela República.

O belíssimo episódio em que Cavalcante Cavalcanti, é apresentado demonstra não só a maestria e a sutileza psicológica de Dante, sua qualidade literária, mas é também um registro de extrema relevância histórica.

Com as punições do cavaleiro “guelfo” Cavalcante Cavalcanti, como ateu, e do seu leal inimigo Farinata degli Uperti, líder “guibelino”, colocado também no Inferno como epicurista, Dante nos dá a perceber, na própria realidade, suas dúvidas e íntimas preocupações de que seu extremado amigo e poeta Guido, tivesse se tornado, igualmente, um ateu antes de morrer.


Guido Cavalcanti, em seu notável trabalho poético apresentara concepções filosóficas precursoras, ligadas à realidade e ao sensível, suspeitas como heréticas por seus contemporâneos, não bem compreendidas pelo civismo da República que, talvez injustamente, o punira por participar como cavaleiro num decisivo conflito político.

Hoje, a melhor avaliação deste Capítulo X de Dante provoca na crítica literária moderna enorme estranhamento. O novo exame, associado às recentes e inequívocas descobertas de traços de agnosticismo averroísta e ainda de avicenismo na própria obra poética de Guido Cavalcanti, acaba por confirmar a extrema modernidade deste poeta, por ele a influência e penetração da própria cultura árabe na Europa do século XIII.


Discussões sobre a marcante obra de Guido Cavalcanti ocorrem, atualmente, nas melhores academias e universidades, européias ou americanas. Mas não são sequer percebidas pela historiografia brasileira, nem mesmo pelos membros de nossa família.

Este é o fato que mais lamento e contra o qual tenho lutado na mídia eletrônica. Apesar dos meus escrúpulos em abordar temas ligados à área literária e tão recuados no tempo, pretendo começar a colocar no meu blog artigos referentes ao poeta Guido Cavalcanti, que acredito podem, pelo menos, despertar algum respeito por esta família, tão longamente lutadora por uma justa Republica, na Itália e no Brasil.


Rosa Maria Gusmão de Sampaio Torres

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Bezerra Cavalcanti

Estou preparando trabalho muito completo sobre a atuação dos Cavalcanti, especialmente do ramo Bezerra Cavalcanti na “Guerra dos Mascates” (1710), recebendo ainda contribuições e sugestões. Agradeço desde já a colaboração.