Os Sdegnosos Cavalcanti


           I - Os lendários cavaleiros Cavalcanti
 

          II - Os Cavalcanti no século XII – cavaleiros “guelfos” e “magnati”.


          III - O “sdegnoso” filósofo, poeta e cavaleiro Guido Cavalcanti, do século XIII.


          IV - Os Cavalcanti “sdegnosos” contra o Medici (século XV e XVI) 


           V - A herança dos “Sdegosos” Cavalcanti no Brasil (a partir do século XVI).





I - Os lendários cavaleiros Cavalcanti


       A palavra italiana antiga “Cavalcante” já significava “soldado a cavalo”. 

       Segundo fontes lendárias e heráldicas, a família Cavalcanti na Toscana teria se desenvolvido a partir de quatro irmãos barões, exímios soldados-cavaleiros originários de uma pequena nobreza religiosa e cristã que, saídos do reino franco da região de Colônia teriam chegado à península italiana acompanhando as forças do rei Carlo Magno, bem lá trás, ainda no século VIII. Vinham estas forças francas a chamado do papa Adriano I para dominar os lombardos na península (1).

     Sabemos que a região onde hoje se localiza a cidade de Colônia era, no passado, o núcleo do Reino franco.  Naquele período o cavaleiro franco de Carlo Magno, livre e audaz, distinguia-se pela habilidade em guerrear utilizando cavalos fortes e velozes, com armamento eficiente. Os  guerreiros francos, montados, haviam se tornado no período de Carlos Magno  uma  unidade militar de elite, inovação que se espalharia depois  pela Europa.

        Os francos eram de origem germânica e haviam se tornado confederados, aliados dos romanos, ocasião em que a palavra franco adquiriu o sentido de livre, ao mesmo tempo audaz e corajoso. A palavra “franco”, originária do antigo germânico “frech”, do antigo escandinavo “frekkr” e do anglo-saxão, “free”, livre, teria ainda um equivalente em latim, “ferox”, com o sentido de bravo, corajoso, audaz (2).        

     A coragem lendária dos francos é referida por Sidônio Apolinário, erudito romano do século V (3):

       “... Se, por acaso, o numero de seus inimigos ou a desvantagem da posição os acabrunha, só a morte pode abatê-los, jamais o medo. Ficam no lugar, invictos, e sua coragem sobrevive, por assim dizer, a seu último suspiro”.

    O rei franco Clovis I (c. 466-511) casado com a rainha e depois santa Clotilde, de origem borgúndia, se convertera ao cristianismo no ano de 496. 

     Assim sendo, os reis francos das dinastias merovíngias e carolíngeas, convertidos ao cristianismo, haviam desenvolvido relações religiosas muito estreitas com o papado. 

  
     Segundo um antigo historiador da família, Giovanni Cavalcanti, seus antepassados seriam exímios cavaleiros cristãos que teriam saído do bispado de San Giglio, “castello molto magnífico e di popolo pieníssimo”, de povo muito piedoso, da região de Colônia (4).

     
     Tudo nos indica hoje que este Castelo seja o “Castellum Divitia”, o Castelo Magnifico, então existente do outro lado do rio Reno, frente à Colonia, que sabemos se constituiu centro de bispado carolíngio (5).

     E constatamos que San Giglio, Egídio ou Gilles (640 - c. 725) fora santo muito reverenciado na região de Colônia, da especial devoção do rei Carlos Martel (c. 688-741), avô de Carlos Magno (6).

      A devoção de Carlos Martel por este santo, seu contemporâneo, se devia a motivos especiais.    

    

     No ano de 719 os sarracenos que controlavam a Espanha haviam atravessado os Pirineus e dominado grande parte da Provence, pilhando e incendiando numerosas igrejas e abadias. Segundo a tradição, o religioso Egídio ou Gilles teria ido para Orléans, no país dos francos, onde se encontrava Carlos Martel e dele obtido a promessa de que seu monastério seria reconstruído depois de uma vitória sobre os sarracenos ocupantes. A vitória foi realmente conseguida por Carlos Martel em 721, na batalha de Tours.  

   E o monastério de Saint Gilles du Gard, no Languedoc, foi reconstruído por esta época, tornando- se durante a Idade Media centro de intensa peregrinação - Saint Gilles e suas relíquias aí veneradas ainda hoje. Muitos vestígios da devoção a San Gilles são ainda encontrados, tanto na Itália como especialmente nas proximidades da moderna cidade de Colonia (7).

     
 
   Neste caso os antepassados dos Cavalcanti, vindos da região ou Reino Franco de Colônia e do bispado de San Gilio no século VIII para a Toscana na península Italiana, teriam sido, naturalmente, muito devotos deste famoso santo (Aegidius, em latim).  

     O Pe. Eugenio Gamurrini, em seu livro “Istoria Genealogica delle Famiglie Nobili,

Toscane et Umbre”, publicado em Florença no ano de 1673, claramente afirma:

 
“La nobilissima famiglia de' Cavalcanti ebbe l' origne sua di Colonia Città nobile della Germania, essendo loro venuti in Italia in favore di Carlo Magno Imperatore contro Desiderio Re de' Longobardi, dove nella Città di Fiorenza facendo loro” (8).         

  
       Em muito dura campanha a chamado do papa Adriano I, as forças francas teriam atravessado  os Alpes para dominar os lombardos e nesta situação  suportado, segundos o cronistas da época, muito severas  pressões do inimigo, “escalando cumes de montanhas sem trilhas, altíssimos penhascos e ásperos picos” (9).

    As dificuldades enfrentadas por esta cavalaria de Carlos Magno (747-814) que se deslocara para dominar os bárbaros lombardos estabelecidos na península italiana, vencidos em Pádua no ano 774, são brilhantemente relatadas por Einhard (770-840), texto de época que aqui transcrevemos:

                          “A essa altura, eu deveria descrever a difícil passagem de Carlos             [Magno] para a Itália sobre os Alpes e a opressão que os francos suportaram, escalando cumes de montanhas sem trilhas, altíssimos penhascos e ásperos picos, se não fosse meu propósito nesse trabalho recordar seu modo de vida em detrimento dos incidentes da guerra que manteve. Satisfaz dizer que essa guerra terminou com a sujeição da Itália e o banimento do rei Desidério, além da expulsão de seu filho Adalgiso da Itália e a restauração das conquistas dos reis lombardos a Adriano, mentor da Igreja romana” (10).

 

Ao fim desta longa e dura jornada, em 774 seus valorosos soldados-cavaleiros de Carlos Magno teriam permanecido estabelecidos na região hoje da cidade de Florença, na Toscana, para dar segurança à sua conquista.   

Carlos Magno voltará em 780 à península para batizar o filho Pepino e fazê-lo Rei dos Lombardos. Estando em Florença, premia a fidelidade da cidade e muda seu nome de “Flurencia” para “Florentia”. A cidade havia passado, rapidamente, de 1000 para 5000 habitantes (11).

Numa segunda campanha de guerra à península para a conquista do ducado de Benevento, Carlos Magno já irá passar o Natal em uma segura Florença, no ano de 786. Nesta ocasião aí encontra um condado organizado no modelo feudal franco, com seus homens em postos de controle (12).

       

        E os lendários Cavali i Canti, cavaleiros cantantes (13), homens de toda confiança vindos com Carlos Magno para a península italiana no séc. VIII, agora bem seguros e estabelecidos na Toscana, nesta região se unem por laços de casamento com famílias antigas nobres e feudais como os Guidi, condes de Modigliani, os Salimberi, Amidei e Adimari.

        O primeiro Cavalcanti nomeado e identificado por um documento é Domenico Cavalcanti no ano 1045 (14).  A família ocupava posições de governo como cônsules da cidade de Florença, uma Republica, desde o ano de 1115.


II - Os Cavalcanti no século XII – cavaleiros “guelfos” e “magnati”. 

      

         No séc. XII, a família já numerosa, ocupava com suas moradias e comércio as proximidades do Mercado Novo em Florença, se espalhava por ricas propriedades nas vizinhanças da cidade, ocupava cargos de relevo na Republica que havia ajudado a implantar como Cônsules.  

        Ocupavam estratégicamente o castelo de Stinche, localizado no ponto mais alto da antiga rota dos lombardos em val de Greve; o castelo de Montecalvi, em val de Pêra, além de propriedades agrícolas em Ostino e Luco, no Valdano superior (15).

 
        No século XII, os Cavalcanti, certamente passaram por experiências semelhantes às várias famílias do norte da península, onde a Ordem dos Templários desenvolveu rica “comenta”, com propriedades agrícolas e vinhedos. Teriam convivido com estes cavaleiros religiosos em suas rotas de deslocamento para a Europa Central, rotas que passavam pela Toscana, ainda nas Igrejas e Hospitais por eles administrados em Florença (16).

 

     E, já no século XIII, os Cavalcanti aparecem como família de muitos interesses econômicos produtivos, mercantis e bancários, tidos e tratados como “magnati”.

     A convivência e a troca de experiências com a ordem Templária deve ter feito com que ultrapassassem os limites de uma elite militar muito capacitada, e certamente habilitaram os Cavalcanti ainda como confiáveis em técnicas financeiras e atividades econômicas complexas, pois logo estes vão se apresentar como banqueiros experientes. É certo que, já em 1214, no começo do séc. XIII, antes mesmo dos Acciaioli, os Cavalcanti estarão com a família Cambi negociando na companhia Cambi-Cavalcanti concessões de mineração de prata em Volterra e cunhando moedas (17).  

       A Arte da Calimala, arte de aperfeiçoar os tecidos de lã em Florença, uma das primeiras guildas de mercadores de tecidos e panos finos, desde 1237 se reunia no piso térreo de uma das torres-casa dos Cavalcanti (18).

      
       Mas por sua origem de notáveis cavaleiros combatentes cristãos (“milites”), os Cavalcanti neste século irão ainda atuar intensamente como cavaleiros “guelfos”, defensores do papado, em enfrentamentos significativos: na defesa do Castelo de Capraia, auxiliados pelos Adimari, em Valdelsa (1248); também na famosa e cruenta baralha de Montaperti contra Siena (1260), ainda na batalha de Capaldino contra os “guibelinos” da cidade de Arezzo (1289). Neste processo contínuo de enfrentamentos teriam se identificado, certamente, ainda mais com a Ordem dos Templários no sentido maior, além do técnico, no sentido moral e ético que a palavra “Cavaleiro” acaba mesmo adquirindo na Idade Media (19).   

       O próprio brasão dos Cavalcanti, nesta ocasião, já leva estampada no fundo vermelho as cruzes de quatro pontas, a mesma cruz Templária que espalha a luz de Cristo por suas extremidades (20).  

       
    E os sentimentos éticos desses combatentes-cavaleiros, sentimentos característicos da Idade Média haviam propiciado o surgimento, na França, onde se falava a “langue d'oc” e nas cortes da Aquitânia e da Provença, de uma poesia de amor extremamente requintada, tanto na expressão quanto na técnica.  Essa poesia dos trovadores difundiu-se a partir do sec. XII pela Europa e irá influenciar profundamente a poesia ibérica e italiana.



    III - O “sdegnoso” filósofo, poeta e cavaleiro Guido Cavalcanti do século XIII.     

      

   
   O cada vez mais celebrado poeta Guido Cavalcanti (c.1255-1300) e seu famoso amigo Dante Alighieri (1265-1332), ambos exímios cavaleiros “guelfos”, além de poesia clássica e grupos de poesia siciliana da época, sofreram a influencia direta dos trovadores e menestréis com ideais cavalheirescos e cortezes. Sobretudo Guido foi influenciados pelo trovador lombardo Sordello da Goitto, já então um questionador dos governantes atrabiliários e prepotentes (21).

      Membro de uma importante e influente família de cavaleiros “guelfos” e “magnati”, naturalmente Guido Cavalcanti teria se tornado um jovem arrojado, mas cortez, algo distante ou irreverente (arrogante?), apreciador dos estudos e de filosofia. Esta descrição de Guido Cavalcanti é registrada por seu contemporâneo Dino Compagni, por motivos políticos republicano-radicais a ele não muito simpático: “cortese e ardito, ma sdegnoso e solitário e intento allo studio” (22). 

     Guido Cavalcanti foi, entretanto, também descrito por outros companheiros - apreciadores de sua poesia - como belo de aparência, dotado de todas as qualidades, ainda ousadia e nobreza de alma, descrições que foram também recolhidas pela critica literária (23).

    

    Bocaccio, numa geração seguinte, em conto muito sugestivo de seu “Decameron”, nos apresenta o jovem Guido metaforicamente como “sdegnoso”, solitário, mas capaz de ser profundamente filosófico, de forma ágil e muito leve.  Cremos que a partir desta descrição de Bocaccio, a ele francamente favorável e elogioso, o adjetivo “sdegnoso” em relação a Guido passa, e deve ser traduzido, como altivo ou sombranceiro.  

    Boccacio não foi o primeiro, mas um dos primeiros a apreciar as qualidades filosóficas da obra de Guido, justificando a tradução do adjetivo “sdegnoso” a ele atribuído como devendo ser traduzida por altivo, sobranceiro, indignado, desdenhoso, não respeitoso, num sentido de ação positiva (24).  

 


      Lembamos que bem mais velho do que seu companheiro Dante, Guido estudara Filosofia e Retórica, também muito bem preparado como um “cavaleiro guelfo”, especialmente no aspecto moral, pois como sugerimos há mais de quinhentos anos a família exerceria a prática da Cavalaria no seu sentido mais completo.  Sabemos que neste período da Idade Média desenvolvia-se na Europa um código de comportamento e regras rígidas para o cavaleiro - proteção aos fracos e mulheres, defesa da justiça, de sua terra natal e da Igreja - valores a serem defendidos mesmo a custo da própria vida.

     Guido deve ter sido o orientador e estimulador do seu amigo bem mais moço, o também cavaleiro e poeta Dante Alighieri. Segundo o próprio Dante, Guido foi o seu mentor (25).

      Modernamente o poeta Ezra Pound, grande estudioso da obra de Guido, seu tradutor, chega a afirmar que Guido havia sido a matriz na qual o próprio pensamento de Dante se formou (26).

     

      Guido na maturidade foi membro do Conselho de Florença e era já dedicado poeta e filósofo, autor do um belíssimo poema “Dona me prega”, respeitado nos círculos acadêmicos da Universidade de Bolonha. Mas em razão dos sistemáticos desacatos à sua família e por necessidade política - pois nesta época partidário dos guelfos “brancos”- se viu obrigado com a família dos Cerchi, a enfrentar militarmente o partido dos “guelfos negros”.  Estes tinham como líder o aristocrático Corso Donati, seu inimigo pessoal e que já teria atentado contra sua vida.

      Por participar de sério conflito entre cavaleiros e rivais políticos, “brancos” e “negros”, que ocorre durante uma festa na praça da Santíssima Trindade, em Florença, maio de 1300, Guido sairá definitivamente comprometido (27).

      “Corria o mês de maio... ”  e Maquiavel nos relata com detalhes o episódio do conflito, de início uma disputa aparentemente inocente de nobres cavaleiros por melhor visão da praça, ânimos que depois se acirram em uma verdadeira batalha campal, com feridos de ambos os lados.

      

     Para Guido o episódio terá um desenrolar muito penoso, pois em junho ele é condenado pelas duras leis da Republica a ser confinado – uma tentativa republicana de evitar este tipo de conflito entre “os magnati” por poder político.  Com outros cavaleiros, Guido é confinado na região de Sarzane, próxima de Florença, região inóspita, infestada pela malária.

      Guido Cavalcanti deveria permanecer por poucos meses no castelo-prisão fortificado de Sarzane. Mas aí infelizmente é vitimado pela malária.

     No curto período de aprisionamento teria realizado mais uma, e última, obra- prima filosófica, o famoso poema “Perch´i ´spero di tornar giammai”...

      O governo da cidade lhe permite que, doente, retornasse à Florença. Mas de volta à sua cidade, logo em seguida, aí vem a falecer - em 29 de agosto de 1300 (28).

      

    Sua morte acirra ainda mais os ânimos políticos em Florença e, nos anos finais do século XIII, começo do XIV, a família Cavalcanti passará, como todos os “guelfos brancos” de Florença, agora sob o tacão dos “guelfos negros” auxiliados pelos franceses da família dos Valois, por momentos de muito terror e destruição.  Os Cavalcanti terão, por incitação dos “guelfos negros”, a Calimala em fogo e seus castelos históricos destruídos, vários membros da família envolvidos em punições e mortes violentas.

      Dante, da família aliada dos Alligieri, sentenciado à morte pelo fogo, “igne comburator sic quod moriatur”, nunca mais retornará a Florença ou perdoará seus inimigos (29).   

   

IV - Os Cavalcanti “sdegnosos” contra o Medici (século XV e XVI)  

 

       No século XIV, os Cavalcanti respeitosos e limitados pelo sistema republicano que eles mesmos haviam implantado, tidos como “magnati”, tem de ocultar sua riqueza e substituir seus nomes para ocupar cargos públicos, o que fizeram neste século com freqüência. Passam a se denominar, por algum tempo, Ciampoli, Cavallereschi, Malatesta, Cavalleschi, Papero, etc. (30).  

     Mas, a partir destas dolorosas experiências da família Cavalcanti na passagem do século e, sobretudo, da descrição de Bocaccio do poeta Guido Cavalcanti como “sdegnoso”, no sentido propositivo traduzido como altivo, sobranceiro, indignado, desdenhoso ou não respeitoso com a elite ou governo prepotente e atrabiliário (31), o adjetivo passa a se generalizar em relação a esta família.

   Assim o adjetivo “sdegnoso” passa a descrever os Cavalcanti como um todo, em sua ação literária, militar ou política, especialmente na defesa do próprio sistema Republicano florentino, já no século XV, que agora a família dos Medici, com sua prepotência, pretendia desmontar (32).

 

     Neste século XV, a contestação literária ao poder monopolista da família Medici, contestação exercida pelo historiador da família do ramo napolitano que tivera de deixar a cidade, Giovanni Cavalcanti - autor da critica “História de Florença” nos anos 1440 - sequer arranhou o prestígio ou o crescimento financeiro daquela família, então em franca ascensão. Precursoramente, este Cavalcanti denunciava a degenerescência da Republica Florentina comandada pelos Medici, tornada em verdade um sistema de clientelismo e dependência econômica (33).

 

      Ao fim do século, com a reação dos florentinos liderados pelo frei Savanarola que depõem os Médici e constituem a chamada Primeira Republica (1494-1512), Republica por fim já bastante radicalizada, Cavalcanti de vários ramos a apoiam e dela participam em cargos de relevo. 

       No início deste novo governo, em 1495, Giovanni di Nicolo di Giovanni di Amerigo Cavalcanti, literato prestigiado, amigo do celebre Marsílio Ficino e muito rico herdeiro, foi eleito Prior de Florença. Ainda no ano seguinte, este mesmo Giovanni, com Giovanni di Francesco di Rinaldo Cavalcanti, do ramo dito “Papero” da família, foram membros do Conselho Maior da Comuna de Florença. Em 1509, Mainardo di Bartolomeo Cavalcanti, do ramo “Cavallereschi”, rico produtor e comerciante de seda é, por sua vez, eleito Prior dos Senhores (34).  

      

    Entretanto, com a volta dos Médici ao poder, e antes mesmo da morte do grande Lorenzo de Medici II no ano de 1519, temos notícia ainda de um veemente protesto por parte de um membro prestigiado da família Cavalcanti contra os Médici, um Jacobo, provavelmente de ramo colateral ao brasileiro, do mesmo ramo dos Cavalleschi (35).

    Este Jacobo Cavalcanti, ao oferecer um rico banquete, teria protestado contra a prepotência dos Medici com uma sugestiva “performance artística”, performance que lhe teria rendido a ida para a prisão.

       O historiador Michael Levey relata a atuação deste Cavalcanti, relato que deixamos no original:

        “He gave a dinner to a large group of friends in a room hung with pictures and other decorations in praise of the Medici. After the meal, however, the lights were extinguished. When they were relit, they revealed the room hung in blak and decorated with reversed images of the arms of Florence and women with plaques bearing the motto “Liberty gound underfoot”. That gesture cost Cavalcanti his own liberty; he was arrasted and condemned to the galley” (36).

      

      Quando os florentinos tentam, mais uma vez, tomar o poder aos Medici durante a Segunda República florentina (1527-1530) a família Cavalcanti como um todo, por seus vários ramos já estará atuando decididamente na luta anti-medici, inclusive com a colaboração do ramo brasileiro dos “Cavalleschi” por Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, comerciante e mecenas, amigo de Henrique VIII da Inglaterra e pai do Filippo que depois migra para o Brasil.

      E, no período da célebre “Conspiração Pucci” (1555- 1559) que pretendeu mesmo dinamitar o trono de Cosimo I de Medici, conspiração em verdade liderada e articulada por Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti do ramo “Cavallereschi”, a família por seus vários ramos citados mais uma vez atuou unida.

    Porém, o ramo dito “Ciampolo” dos Cavalcanti será nesta ocasião o mais dramaticamente punido por Cosimo I de Médici, com o a decapitação do jovem e muito indignado Stolto Cavalcanti, filho do rico banqueiro Tomasso (37).
    

      Registramos fato simbólico e ainda mais significativo: logo depois da morte do conspirador Bartolomeo que se havia refugiado da perseguição dos Medici em Pádua, um segundo Guido Cavalcanti no mesmo ano de 1563 estará em cargo de confiança na corte francesa, para substituir este já lendário conspirador republicano da família. Este novo Guido Cavalcanti, também poeta, do ramo Cavalleschi, era irmão do próprio Felippo, que pelo menos por segurança já viera para o Brasil em 1560.

     

     Guido di Giovanni Cavalcanti, irmão de Filippo, era de uma família há muito já reconhecida pelos “fuoriuscitti” como “sdegnosa” aos Medici, e viera da corte de Isabel da Inglaterra para prestar seus serviços na corte francesa, ainda o maior núcleo de conspiradores florentinos anti-medici. Aparentemente Guido vinha para dar continuidade à luta republicana de Bartolomeu Cavalcanti pela República de Florença (38). 

     Segundo o literato Cesare Trevisane, a rainha francesa Catarina de Médici teria sentido a necessidade de ter perto de si um novo e “sdegnoso” Cavalcanti, (39), família já reconhecida por seu destemor, para dar continuidade aos seus planos punitivos contra seus parentes Médici de Florença, extremamente prepotentes (40).

 

   Mas com a passagem do nosso patriarca Filipo di Giovanni Cavalcanti, do ramo dos Cavalleschi, para o Brasil em 1560, certamente aqui aportam com ele, mantidas de forma muito discretas nos primeiros anos do Brasil Colônia, as atávicas tendências “sdegnosas” e republicanas dos seus ascendentes, agora aqui também cultuados (41).

 
 
 
IV A herança dos “Sdegosos” Cavalcanti no Brasil (a partir do século XVI)
     
    Casado com a mameluca Catarina, filha de Albuquerques, os descendentes do florentino Filippo logo irão demonstrar esta coragem “sdegnosa” na luta de resistência contra os holandeses, luta em que a ação denodada dos Cavalcanti de Albuquerque é reconhecida por nossos historiadores. Em 1624 e 1625, seus filhos Jeronimo e Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, por suas responsabilidades familiares, logo se viram envolvidos na defesa da capitania de Pernambuco.
   Em 1635 seus netos Jerônimo, Felipe e Lorenzo, irredutíveis ante a ocupação holandesa, tiveram que abandonar seus engenhos para manter a resistência. E o bisneto, Antonio “da Guerra”, teria sido mesmo o representante da “nobreza da terra”, líder inicial na própria Restauração contra os holandeses (42).
  
   Também nas primeiras manifestações anti-coloniais, agora contra os portugueses, estas características “sdegnosas” e já republicanas florentinas afloram, tornando-se ainda mais evidentes. O nosso historiador Evaldo Cabral de Mello, estudando a “Guerra contra os Mascates” em Pernambuco, em 1710, percebe nos rebelados as tendências republicanas dos Cavalcanti e chega a afirmar:
 
               “Ao tempo da guerra dos Mascates (1710-11) o estabelecimento             de uma república, o modelo que se tinha em vista era o veneziano.
               Parece plausível que o Mito de Veneza tenha apontado entre nós graças aos colonos florentinos fixados em Pernambuco desde meados do Séc. XVI.
            ... os Cavalcanti, como seus parentes Manelli e Acioly (portuguesismo para Acciaiuolli) cujos rebentos também se domiciliaram em Pernambuco, tinham uma longa crônica de ativismo político, como sabe o leitor da História Florentina de Maquiavel” (43).
     
     Sem dúvidas, a família aqui constituída - os Cavalcanti de Albuquerque no Brasil - traziam em sua psicologia a confluência de variadas etnias e culturas: o combativo sangue português dos “brancarrões” Albuquerque, pelo patriarca Jerônimo; o igualmente combativo sangue indígena Tabajara, da gentil mas decidida Muira-Ubi; alem das óbvias e marcantes caracteristicas “sdegnosas” muito antigas dos Cavalcanti, pelo patriarca Felippo.  Na segunda geração no Brasil, esta nova família teve ainda a contribuição do sangue holandês da família de Arnao de Holanda, aqui chegado por volta dos 1535 com D. Duarte Coelho, atravez sua filha Isabel de Góes, moça muito alva e loura, casada com Antonio, o filho mais velho do florentino (44).
 
     Estes variados componentes étnicos, culturais e psicológicos, peculiares da exótica “nobreza da terra” aqui gerada pelos numerosos descendentes Cavalcanti de Albuquerque do florentino, conduzem sem dúvidas um sentido propositivo e transformador, que no Nordeste colonial levam agora um adjetivo novo, não mais o de “sdegnoso”, mas o equivalente - “mazombo” (45).    
     Aqui as contestações políticas continuadas dos Cavalcanti de Albuquerque, contestações que persistem pelo menos por dois séculos - pelo menos até a proclamação da Republica - dão prova de que o termo “mazombo” é a eles muito bem aplicado - sentido transformador e eminentemente libertador - talvez representativo da busca continuada por uma justa Republica (46).   
     
    Esta seria a mais nítida e muito exclusiva herança dos “sdegnosos” Cavalcanti florentinos, do ramo “Cavalleschi”, contribuição mesmo decisiva para o processo de evolução de uma sociedade ainda em formação e em busca de sua identidade.
 
 
 

Notas.

 

(1) A origem dos Cavalcanti no século VIII, registrada em livro de historiador da família no século XV, Giovanni Cavalcanti, e estudada pela heráldica e tradição nobiliárquica - técnicas auxiliares do estudo da História - não pode ser tida como mera lenda pois, obra de cronista e historiador, nos fornece indícios valiosos sobre um passado longínquo e para a realização de um contexto histórico. Mesmo assim, nosso texto será sempre referido no condicional em partes não passíveis de documentação ou de fontes secundárias confiáveis.   
    Mas desde já sugerimos, a partir deste contexto realizado, a histórica possibilidade dos Cavalcanti, saídos de Colônia, serem originários do reino franco, lembrando que a palavra “Cavalcante” seria mesmo de origem italiana antiga, certamente referida a longa trajetória destes exímios soldados-cavaleiros em luta por longos caminhos, vindos do Norte. A este respeito consultar também Torres, Rosa Sampaio – “A Família Cavalcanti, Florença, século XIII - Com a Vida e obra do poeta Guido Cavalcanti”, próximo no 4shared - artigo longo e fundamentado, relatando a origem dos Cavalcanti em Florença e aprofundando episódios significativos e famosos da vida florentina na Idade Media, já comentados por Dante Alighieri na “Divina Comédia” e Nicolau Maquiavel em “História de Florença”. Artigo quase finalizado, mas já aberto a consultas.     
    Fontes das referencias acima, base para a realização do nosso contexto:
    Cavalcanti, Giovanni - Istorie Fiorentine – Firenze-Tipografia All insegne di Dante, 1838, vol. II p.455, apêndice. Obra elaborada no séc. XV.   
     Gamurrini, Pe. Eugenio - Istoria Genealogica delle Famiglie Nobili, Toscane et Umbre –, Firenze, 1673, pg. 57 e 58. “La nobilissima famiglia de' Cavalcanti ebbe l' origne sua di Colonia Città nobile della Germania, essendo loro venuti in Italia in favore di Carlo Magno Imperatore contro Desiderio Re de' Longobardi, dove nella Città di Fiorenza facendo loro”.      
     Scipione, Ammirato - Delle Famiglie Florentine – Firenze, 1615, Biblioteca Nacional Central de Florença.
     Estes três autores têm seus textos principais já fotografados e expostos in Cavalcanti, Marcelo Bezerra - “La Famiglia Cavalcanti”, blog on line.
      Fontes que, modernamente, repetem estas informações:
       Cavalcanti, Sylvio Umberto - Se chiamavano Cavalcanti, formato PDF, ano 786, ed. eletrônica on line, repete estas informações da tradição da família, mas faz restrições às mesmas, questionando a validade destas fontes.      
      Albuquerque, Cássia Cavalcanti de, Cavalcanti, Marcelo Bezerra e Doria, Francisco Antonio: ‘Cavalcantis: na Itália e no Brasil’, ed. Eletrônica lulu.com, repetem as mesmas informações tradicionais, mas igualmente quentionam sua validade.

(2) Giordani, Mario Curtis – História Dos Reinos Bárbaros, Vozes, RJ, pg. 85, citando Ermond, le Noir: “Francus habet nomem de feritate sua”.

(3) Sidônio Apolinário (430-486) poeta, patrício e senador romano, depois feito bispo e santo da Igreja, em Carmen V, vol 238-253 - apud Courcelle História Literária, p. 224, citado Giordani - opus cit, pg. 87. Também Documenta Catholica Omnia, mídia eletrônica, pdf, em latim.

(4) Cavalcanti, Giovanni - Istorie Fiorentine vol. II – Firenze - Tipografia All insegne di Dante, 1838, p.455, apêndice, parágrafo 4. Transcrevemos: “Sappi, lettore, che la città di Colonia è molto magnífica di popolo plebeo, e nuda di catuno sangue gentile; Arquiviscovo di questa città n´è signore, e di fuori a´limitari delle cittadinesche porte, nessuna signoria ed altra maggiorità per l´Arcivescovo o per alcuno plebeo se confessa, ma in tutto per molti gentili uomini si tiene; e ditale luogo i Cavalcanti vennonno.
      La loro residencia delle signoria di piu castella e la principale sedia era in San Gilio.
     Questo Castello é molto magnífico, di ppolo pienissino; del quale uscirono quatro fratelli, ed in compagnia d´uno signore el quale passo in questa Italia dietro allá cacciata de´Goti.”.   
   Observamos esta região central de San Giglio, referido por Giovanni Cavalcanti como origem da família na sua Istorie Florentine, região de Colonia e centro do Reino Franco no séc. VIII, é hoje uma região de tríplice fronteira entre os Países Baixos, Alemanha e Bélgica, onde a devoção a este santo perdura e se espalhou até a Inglaterra.    
   Esta região em torno de Colonia, região de antiga dominação romana e posteriormente franca, pode se constituir mesmo o berço da família Cavalcanti, indicado esta possibilidade já no “Trattato Político e Morale”, obra deste mesmo historiador da família - assunto que iremos, no futuro, tentar abordar a partir de pesquisas locais e atuais de Marcelo Bezerra Cavalcanti.   

(5) Constatamos que muito antigo e grandioso castelo romano, o “Castellum Divitia”, hoje apenas resquícios, existiu frente à cidade de Colônia, antigo grandioso “castrum” romano mais tarde tornado bispado de rei franco, possivelmente Carlos Martel.
      Fonte especializada afirma:  “When Roman control of the Rhineland collapsed in the first decade of the fifth century, Divitia became the capital of a Frankish king, who left Cologne to its bishop”.  Informações do www.livius.org, revista especializada no período medieval, publicada na mídia eletônica (Pode ser aberta e consultada no anexo do nosso trabalho, já editado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/, “Os Cavalcanti em busca de sua Origem - Castellum Divitia”.).
    Muitas outras ruínas de imponentes castelos romanos existem na região, anteriores ao século VII utilizados como centro administrativo pelos francos, como o “castrum” do Boppard, ainda em Tier e Olbruck ou Boheim – e podem ter constituído berço dos cavaleiros Cavalcanti, região ainda hoje tão piedosa e devota a Santo Giglio (ou Aegidius).  

 (6) Ainda Guilhaume, Guilhem ou Gil, nomes derivados em várias línguas e nos vários países da Europa por onde se espalhou, e ainda se espalha, sua devoção.

(7) O quadro denominado “A missa de são Egídio diante de Carlos Martel” pode ainda hoje ser apreciado na Nacional Galery, Inglaterra.
   Inúmeras igrejas com o nome de São Gilles existem nesta tríplice fronteira.Na cidade belga de Liége, - próximo de Aachen, na Alemanha, onde ainda se encontra o trono de Carlos Magno – existe ainda uma Igreja construída no século IX em homenagem à Saint Gilles. Em Bruxelas o quarteirão St. Gilles lembra, igualmente, este religioso. E a belíssima Abadia beneditina de Saint Gilles du Gard, no Languedoc, reconstruída pelo menos no século VII, está localizado na Petite Camargue, entre Arles e Nimes. Informações obtidas a partir de informações destes locais.

(8) Gamurrini, Pe. Eugenio - Istoria Genealogica delle Famiglie Nobili, Toscane et Umbre –, Firenze, 1673, pg. 57 e 58.

 (9) Descrição de Einhard (770-840), cronista e biográfo de Carlos Magno, autor de A Vida de Carlos Magno (escrita por volta de 817-829) Trad.: Prof. Luciano Vianna e Profa. Cassandra Moutinho. Rev. e notas: Prof. Dr. Ricardo da Costa (Ufes) Base da tradução: Medieval Sourcebook: Einhard: The Life of Charlemagne (translated by Samuel Epes Turner, New York: Harper & Brothers, 1880), blog www.ricardocosta.com/textos         

               (10) Einhard (770-840), cronista e biografo de Carlos Magno autor de um relato – A Vida de Carlos Magno, Traduzida já para o português pelo Prof. Luciano Vianna e Profa. Cassandra Moutinho, citada nota acima.

(11) Cavalcanti, Sylvio Umberto - Se chiamavano Cavalcanti, formato PDF, ano referente 780.  

(12) Cavalcanti, Sylvio Umberto - Se chiamavano Cavalcanti, formato PDF, ano referente 786.

(13) Esta denominação antiga - Cavali i Canti – Cavalga e Canta é uma preciosa informação oral transmitida à autora por Antonio José Sarmento Cavalcanti de Gusmão, primeiro neto de Antonio Cavalcanti Albuquerque de Gusmão, filho do seu primogênito Messias, de ramo primogênito e varonil descendente do florentino, informação também tradicional na comunidade alagoana. Comunicação pessoal à autora quando em visita desta ao engenho Castanha Grande (AL), um dos berços dos Cavalcanti de Albuquerque em Alagoas, até hoje existente.

(14) Sylvio Umberto - Se chiamavano Cavalcanti, formato PDF, cerca do ano 1000, refere-se a esta documentação utilizando como fonte Gamurrine, Eugenio - Istoria genealógica delle famglie toscane e umbre, Firenze, 1673. [BNN S.C.Arald. B35]     
 Segundo o blog na mídia eletrônica mantido por Marcello Bezerra Cavalcanti - http:// cavalcantis.webs.com/.genealogia.htm - a documentação original estaria no documento notário “Fiorenzo de 1045”, registrado na abadia de Monte Oliveto em Florenza, 2. 

(15) Cavalcante Cavalcanti, nascido por volta de 1060, teria sido dono das propriedades agrárias de Lugo, de Ostina e do castelo de Stinche, estrategicamente colocado na crista da elevação de Val de Greve. Adimaro Cavalcanti cônsul de Florença em 1202, casado com uma Amidei, teria sido dono do castelo de Montecalvi por herança de sua avó, uma filha do Conde Guido de Modigliani, descendente também de lombardos.
 As informações prestadas, logo acima e mais abaixo no texto, saíram de trabalho da autora, pesquisas para ensaio detalhado sobre Guido Cavalcanti, onde a autora pretende apresentar todas as suas muitas fontes que, neste limitado artigo, ficariam prejudicadas.

(16) A Ordem dos Templários (1118-1312) se faz lembrar ainda hoje em Florença, podendo-se ler numa tabuleta do muro lateral da Igreja da Santa Crocce - “Gia Via del Tempio” – indicando o quarteirão onde os Templários possuíam um hospital onde enfermos estiveram sob a proteção de Santa Maria e desta Cruz Santíssima que, por suas pontas, espalhava a luz de Cristo.
     No interior da Igreja de San Jocopo (“São Tiago”) encontra-se também, ainda hoje, uma série de afrescos bizantinos medievais com temas caraterísticos da Ordem. A Igreja de San Jacobo sabe-se, foi fundada em 3 de Maio de 1206.

 (17) Cavalcanti, Sylvio Umberto - Se chiamavano Cavalcanti, formato PDF, ano 1214 citando como fonte Vatti G. - Montieri, Notizie Storiche. ”Il vescovo di Volterra ottiene um grosso prestito dalle banche fiorentine e come contropartita affitta la meneria d´argento di Montieri allà società di banchieri Cambi - Cavalcanti. Alla stessa società concede di implantare e gestire nel castello dela stessa cittadina la zecca di Volterra.”

(18) Segundo Johnson, Steven – Emergências, Jorge Zahar, RJ, 2003, pg. 74, as artes haviam surgido no fim do século XII em Florença da “Societas Mercatorum”, e estas organizações se dividiram, ligadas às diversas atividades profissionais. De início a Arte da Calimala, de mercadores de roupas finas, e a Arte de Por Santa Maria, de tecelãos e joalheiros.

(19) Pelo menos mais dois trabalhos sobre Guido Cavalcanti estão em finalização e serão postados no blog da autora brevemente, com muito mais informações e fontes sobre os conflitos entre “guelfos”, defensores do papado, e “guibelinos”, defensores da autoridade maior do Sacro Imperío, já chamado Germânico. 

(20) O brasão dos Cavalcanti florentinos, campo em vermelho semeados pelas cruzes de Cristo, está presente nas armas de seus cavaleiros desde o século XIII, especialmente notadas na Batalha de Montaperti de 1260 e no túmulo do influente religioso Aldobrandino Cavalcanti. Fontes, detalhes e comentários a este respeito em próximo trabalho da autora sobre Guido Cavalcanti.  

(21) Sobre as influências literárias de Guido Cavalcanti, artigo da autora em finalização “Guido Cavalcanti e suas influencias culturais” a ser postados no blog brevemente, com todas as fontes indicadas.

(22) Dino Campagni (c.1255-1324) - Crônica I: xx.          
       Dino Campagni, convicto republicano, foi mais tarde também cronista desses episódios e teria sido um dos políticos mais radicais no último período de governo dos “guelfos brancos” (out. - nov.1301) exigindo medidas severas: cepo aos condenados (ceppo) e o cutelo (mannaia in piazza) para que os conflitos políticos entre os “magnati” fossem evitados. Segundo http://www.e-theca.net/emiliopanella texto “La degradacione del poder”, 1985.

(23) Vaugham, Robert -  The British quaterly  Rewiew, vol. 47, London, Hodder and Stoughton, 1868, pg. 396, citando o trabalhos  de Dante Rossetti  e Theodore Martin sobre “Vita Nuova” de Dante e seus comanheiros poetas, usa  para Guido Cavalcanti  os adjetivos “self-reliant” (auto confiante), “moody” (mal humorado, angustiado) e ‘vehement” (veemente), mas acrescenta “..he was also distingished by personal beauty, hight accomplishments off all kinds and daring nobility of soul.” As referências como ‘moody”, mal humorado ou angustiado, possivelmente teriam mais a ver com sua última fase de vida, ameaçado de morte.  

(24) Boccacio, Giovanni – Decameron, 6º dia, nona novela, “A cena do cemitério”, que deve necessariamente ser lida para melhor compreensão da obra do poeta Guido. Descrição também referida por Haroldo de Campos, opus cit., pg. 14.

(25) Guido Cavalcanti teria sido o seu mentor, segundo afirmação do próprio Dante em seu trabalho” Da Divina Eloqüência”.  A este respeito Reynolds Bárbara - Dante, Rio de Janeiro, Record, 2011, pg.42.

(26) Makin, Peter, Provence and Pound, University of Cambridge Press, 1978, pg. 204. (27) Pelo menos mais dois trabalhos da autora sobre Guido Cavalcanti estão em fase de finalização e serão postados no blog brevemente, com todas as fontes citadas. 
         Transcrevemos pelo menos Maquiavel, Nicolau - opus cit., pg. 103:
        "Corria o mês de maio e naquele tempo os dias de folga eram celebrados publicamente em Florença. Por isso, alguns jovens da família dos Donati, com seus amigos, a cavalo, se detiveram para ver algumas mulheres dançando na Santíssima Trindade, onde chegaram alguns Cerchi, acompanhados de muitos nobres. E não sabendo que os Donati estavam adiante, desejosos eles também de ver, tocaram os cavalos, empurrando-os, donde os Donati, considerando-se ofendidos, empunharam armas, ao que, com galhardia responderam os Cerchi; depois de muitos ferimentos dados e recebidos de ambas as partes, separaram-se”.

(28) Torres, Rosa Sampaio - “A Família Cavalcanti, Florença século XIII - Com a Vida e obra do poeta Guido Cavalcanti”, próximo no 4shared, livro em fim de preparação sobre Guido Cavalcanti, relatando e aprofundando episódios significativos e famosos na História da Idade Media, episódio que Dante Alighieri na “Divina Comédia” e ainda Nicolau Maquiavel em “História de Florença”, comentaram. Já aberto a consultas.
       Maquiavel, Nicolau - opus cit., pgs. 108 – 111.

(29) Chega-se a afirmar que, na gestão do podestà Gabrielli di Gubbio, 170 cidadãos teriam sido condenados à morte, ao fogo na estaca, que ele pregava como morte purificadora.
    Na segunda sentença de 10 de março de 1301, Dante foi condenado “à estaca”, ao “rogo” (“igne comburator sic quod moriatur”), à destruição de sua casa e ao confisco de seus bens, juntamente com outros treze guelfos, inclusive o pai de Petrarca, alguns Guerardini, Altovit e Falconieri. Nestes fatos tem inicio o exílio definitivo de Dante.
       Mais detalhes, fontes e informações Torres, Rosa Sampaio – ensaio “Família Cavalcanti, Florença – século XIII, com a Vida e obra do poeta Guido Cavalcanti”, notas 149 e 150, já aberto a consultas.

(30) Torres, Rosa Sampaio - artigo “Cavalcantis em Florença” no blog www.rosasampaiotorres.blogspot.com/

(31) Boccacio nota acima 23 e mais Torres, Rosa Sampaio – ensaio “Família Cavalcanti, Florença – século XIII, com a Vida e obra do poeta Guido Cavalcanti”.

(32) Torres, Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ e “Medici X Cavalcanti” no 4shared, onde o assunto é comentado e fontes apresentadas, com todas as fontes.

(33) Cavalcanti, Giovanni – Istorie Florentine, vol.II, Tipografia all insegne di Dante, 1838, Firenze. Napolitano, Giovani Cavalcanti (1429-1452) escreveu sua História de Florença nos anos 1440.
     O historiador John M. Nagemy, citando as próprias observações de Giovanni Cavalcanti, desenvolve a mesma argumentação em A History of Florence, 1200-1575, Wiley Blakwel, 2008, pg.253.
     Mello, Evaldo Cabral -“Um imenso Portugal: História e Historiografia”, Ed.34, 2002, pg.159, afirma: ”Giovanni Cavalcanti descrevera o regime de Florença em termos de um processo de degeneração das instituições republicanas o qual consistiria na substituição do sistema de relações políticas entre cidadãos, único capaz de garantir seu funcionamento virtuoso, por relações privadas de clientelismo e dependência que levavam inevitavelmente ao despotismo. Não fora outra a técnica de Cosmo, o Velho para se manter no poder, que não exerceu diretamente, mas manipulavam através aliados e testa-de-ferro, colocados nas posições chaves”.
       Também comentários em Torres, Rosa Sampaio – artigo “Medici X Cavalcanti” em www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ com todas as fontes referidas.

(34) Torres, Rosa Sampaio – artigo “Medici X Cavalcanti” em www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ com todas as fontes referidas.

(35) Sobre este Iacobo Cavalcanti, seria interessante analisar melhor a árvore genealógica apresentada por Cavalcanti, Sylvio Umberto – TavolaCavalcanti, pdf, mídia eletrônica, para poder localiza-lo em seu exato ramo familiar. Devemos desde já lembrar que este pré-nome é recorrente e indica o ramo “Cavalleschi”. 

(36) Torres, Rosa Sampaio – artigo “Medici X Cavalcanti”, nota 24 e citando Levey, Michael – Florence: a Portrait, Harward University Press, 1998, pg. 301.

(37) Conclusões de Torres, Rosa Sampaio – artigos “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, “Médici X Cavalcanti” e ainda “Bartolomeo Cavalcanti, um lutador pela Republica” no blog citado, com todas as inúmeras fontes de afirmações referidas.

(38) Conclusões de Torres, Rosa Sampaio - artigos “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, “Médici X Cavalcanti”, ainda “Bartolomeo Cavalcanti, um lutador pela Republica” em www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ com todas as fontes da informações referidas.

(39) Trevisane,  Cesare - La conjura di Pandolfo Pucci, tip. De Monnie, Florenze, 1852, romance, já em pdf na mídia eletônica, em que o autor utiliza muitas vezes o adjetivo “sdegnoso” para os Cavalcanti como família.

(40) Dando continuidade dos planos de Catarina de Médici contra seus parentes dominantes em Florença e já Grão–Duques , período em que o segundo Guido di Giovanni Cavalcanti, irmão do emigrado Filipppo, já estava em sua corte em cargo proeminente (chegará a seu ministro), ocorre ainda a Conpiração Pucci & Ridolfi, em 1575, cujo relato  é apresentado na segunda parte do trabalho Torres, R. Sampaio - “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, no blog citado e também em “Médici e Cavalcanti” no 4sharad, referidas todas as fontes.
    Nos preâmbulos desta conspiração de 1575, da família, o jovem Niccolo di Bastiano Cavalcanti é julgado e tido como líder de um episódio de saque, enforcado publicamente como ladrão, em 10 de outubro de 75.
    O enforcamento deste Cavalcanti como ladrão, não podemos deixar de observar, deve ter dado grande satisfação aos filhos de Cosimo I, que assim se vingavam e se livravam definitivamente de uma família tão pertinaz pela Republica.
    A morte de Nicolo di Bastiano Cavalcanti é referido por di Ricci, Giuliano e Sapori Giuliana – Cronaca, Rcciardi, 1972, p. 142 e Arditi, Bastiano e Cantagallo, Roberto - Diario di Firenze e di altre parti della cristianità (1574-1579), Insti. Nacionale di Studi sul Rinascimento, pg. 71. Também em Giudi, Andrea e outro - Storia di Firenze- Cronologia, ano referente http: www.dssg.unif.it  
     Ver mais Torres, Rosa Sampaio – artigo “Medici X Cavalcanti”, acima citado, nota 90.

(41) Ver comentários na nota seguinte 42.

(42) Sobre a participação dos Cavalcanti de Albuquerque na luta holandesa consultar Torre, Rosa Sampaio - “Antonio Cavalcanti da Guerra Holandesa” ultimo trabalho aberto para pesquisas.

(43) A opinião de Evaldo Cabral de Mello, valorizando a tradição oral da família Cavalcanti quanto às causas do translado de Filippo di Giovanni Cavalcanti – uma possível participação na “Conspiração Pucci e Cavalcanti” - foi, inicialmente, manifestada no seu artigo “O mito de Veneza no Brasil”, publicado no jornal “Folha de São Paulo”, 1 de julho 2001, posteriormente repetido e editado em seu livro, Um imenso Portugal, Ed. 34, 2002, pg.156, cap. “O Mito de Veneza”.
    Neste nosso atual artigo não iremos aprofundar a discussão sobre a nitidez das tendências republicanas de Felipppo di Giovanni Cavalcanti no Brasil, se “ottimattis” à la veneziana ou já mais avançadas, discussão que realizamos em outro artigo, “Ideais de República no Brasil Colônia”, ensaio recomendado para aprofundamento do assunto, mas ainda inédito.          
   Família Manelli – família aparentada dos Cavalcanti, vinda para o Brasil com o nobre Nicolau Spinelli, parente do florentino Felipe Cavalcanti, cuja mãe era Genebra Manelli. Nicolau Spinelli foi casado com Adriana de Holanda, da família de Arnao Florentz de Holanda (Barata, DFB, verbete Manelli). Sua filha casada com Fernão do Vale, conspirador com Antonio Cavalcanti o “da Guerra” contra os holandeses em 1645.
   Família Acioly – do italiano Acciaiuoli – antiga família florentina de comerciantes, banqueiros e tradição política, cujo ramo estabelecido na ilha da Madeira, anti – Médici, se transporta também para o Brasil do séc. XVI. Zenobio Acciaiuoli casado no Brasil com Maria de Vasconcellos, cujo filho por sua vez se casa com Ana de Albuquerque Cavalcanti, bisneta da índia Muíra-Ubi. Existem ramificações da família, como os Acioly Lins (Barata DBF, pg. 33 e 36).
      Em 1710, pouco antes da eclosão da Guerra dos Mascates, Felipe de Moura Achioli, de família de origem florentina como os Cavalcanti, figura respeitada e confiável da “nobreza da terra”, deveria assumir a governança da capitania. Na véspera, entretanto, a conspiração é frustrada com a ocorrência da morte do próprio Felipe Achioli, morte muito súbita, ocorrida em menos de duas horas, desorganizando assim os conspiradores. 
   Sabemos que também André Acioly de Vasconcelos esteve envolvido na revolução pernambucana de 1817, preso na Bahia até 1821 (Bittencourt, Adalzira – opus cit. pg.. 22 – Almanaque da Paraíba, 1899).

(44) No artigo “Mazombo”, próximo no blog, tento abordar e analizar, com o auxílio de vários autores, as características mais marcantes da família Cavalcanti de Albuquerque, que aqui desenvolve características específicas. Estas características novas e específicas comprovadamente se estendem por vários séculos, pelo menos até a proclamação da Republica. O assunto será também abordado em outros artigos de nossa autoria, inclusive “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do Engenho Castanha Grande”, já aberto para o uso da família.

(45) A caracterização do termo “mazombro” que apresenta vários sentidos no Brasil, utilizada como foi por nossos vários intelectuais, é o cerne do nosso próximo trabalho “Mazombo”.  Ver nota acima.

(46) As ocasiões políticas brasileiras das quais os Cavalcanti de Albuquerque participam nos séculos XVIII e XIX são muito numerosas, em especial no sentido do encaminhamento da Independência e da proclamação da Republica. Nestes episódios a participação dos Cavalcanti de Albuquerque é ressaltada em Torres, Rosa Sampaio - livreto “Família Cavalcanti de Albuquerque”, ainda restrito ao uso familiar.  Tema também referido brevemente ao artigo “Mazombo”. Ver nota 44.

 

 

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