O Capítulo X da Divina Comédia” - Sua importância histórica

     No capítulo X da “Divina Comédia”, Dante Allighieri tenta apresentar e resumir os dramas políticos que haviam ocorrido em Florença no fim do século XIII, ao tornar o cavaleiro “guelfo” Cavalcante Cavalcanti símbolo de amor paterno - ainda que o colocasse, como ateu, no seu Inferno.    
    O cavaleiro Cavalcanti Cavalcante, que bravamente havia lutado na cruenta batalha de Montaperti por Florença em 1560, é apresentado pelo autor como saindo do próprio túmulo no inferno, chorando convulsivamente, ao ter a premonição que seu próprio filho - o poeta e também político Guido Cavalcanti - havia morrido. 
    Este belíssimo episódio da “Comedia” demonstra não só a sutileza psicológica de Dante, sua maestria literária - mas hoje é analisado, também, como registro de importância histórica.
   Através a punição do "guelfo” florentino Cavalcante Cavalcanti como ateu, e de seu rival Farina ta degli Uperti, líder “guibelino” lutador por Siena, como epicurista - ambos colocados no seu Inferno - Dante nos apresenta um quadro, ainda hoje, merecedor de reflexão histórica, além de literária (1).   
  
   Através a observação atenta desta célebre cena criada pela imaginação de Dante, somos ainda capazes de pressentir as dificuldades do próprio autor quanto ao pleno entendimento da obra filosófica e poética do poeta Guido Cavalcanti, seu antigo amigo na realidade florentina, bem como suas dúvidas referentes à compreensão do crime político que este poeta teria cometido frente a Republica de sua cidade - dúvidas apenas indiretamente expressas na “Comedia” por Dante, mas pano de fundo deste capítulo - talvez mesmo de toda a obra.  
      Assim sendo, tentaremos analisar o Capitulo X mais detidamente, utilizando conhecimentos já aprofundados do contexto histórico do período, bem como conhecimentos novos, recém adquiridos por nossa história literária. Detalhemos a cena:
   
   No círculo do Inferno em que fora colocado como ateu, o cavaleiro Cavalcante Cavalcanti se levantava de seu próprio túmulo, chorando compulsivamente, para indagar ao “personagem” Dante se seu amado filho, o poeta Guido Cavalcanti, ainda estaria vivo - fato que surpreendeu Dante, como personagem, pois este pensava que o cavaleiro Cavalcante Cavalcanti ali soubesse, mesmo no Inferno, de todas as coisas que aconteciam no presente. 
    Mas num jogo punitivo e crítico criado pelo próprio autor, Cavalcante Cavalcanti ali só poderia saber das coisas do passado e as do futuro - pois como ateu fora punido por pensar saber tudo da vida presente.
     
   Assim, podemos observar que também o poeta Guido é criticado, de forma indireta, nesta cena pelo autor Dante, junto com seu pai – igualmente por não ter tido uma preocupação com seu futuro eterno, e pretendido saber tudo que iria acontecer sobre a situação política de Florença - por este motivo punido pelos priores da República de sua cidade.
   Subjacentes a esta questões políticas de época, sobretudo, percebemos na realidade as preocupações do Dante com a própria alma de seu antigo e caro amigo, pois nesta cena através seu alter ego ficcional culpa o ateísmo do cavaleiro Cavalcanti Cavalcante pelo pouco apreço de seu filho Guido em relação ao poeta Virgílio (2) - assim deixando perceber também suas dúvidas de que seu extremado amigo Guido Cavalcanti tivesse se tornado, como o pai, um ateu antes de morrer. 
         
    Hoje, temos perspectiva histórica para observar que Guido Cavalcanti em seu próprio tempo era já tido - antes mesmo de Dante - como respeitável filósofo e poeta - apresentando concepções precursoras para sua época, ligadas à realidade e ao sensível, concepções exóticas ou suspeitas de heresia por seus contemporâneos – concepções absolutamente não compreendidas pelo civismo da Republica de Florença, nem mesmo pelo amigo Dante que, entre outros juizes, o havia punido por seu envolvimento como cavaleiro, em maio do ano de 1300, em violento conflito político (3). 
   
    Guido Cavalcanti, já respeitado poeta, por participar do conflito militar na praça da Santíssima Trindade durante uma festa do Calendimaggio contra seus inimigos políticos prepotentes do partido dos “guelfos negros” liderados pelo aristocrático e muito perigoso Corso Donati, fora severamente punido pela Republica. Lembramos que Corso já teria, anteriormente, atentado contra sua vida. Mesmo assim o poeta é confinado no mês de junho na insalubre fortaleza-prisão de Sarzane - onde, afinal, foi vitimado pela malária. 
    As muito dolorosas desgraças previstas por Guido e ocorridas após a sua morte, sobre sua família Cavalcanti e sobre a República florentina – a cidade sobre o tacão dos “guelfos negros” comandados pelo prepotente Corso Donati, acompanhados pelos os ávidos franceses Valois, a destruição da cidade e execução dos “guelfos brancos” “ao fogo” - são episódio imortalizados também por outro notável escritor e historiador - Nicolau Maquiavel (4). 

    Mas a observação atenta desta cena do capítulo X, imaginada e registrada por Dante, provoca hoje na crítica literária moderna ainda maior impacto - mesmo estranhamento. Esta realidade histórica associada às recentes e inequívocas descobertas de traços de agnosticismo averroísta (5), e também de avicenismo (6) na obra Guido Cavalcanti, acabam por desvelar não só toda a dimensão da influência deste poeta e político sobre a personalidade de Dante naquele momento histórico – sobretudo, demonstra a inimaginável precocidade filosófica e literária do próprio Guido - por ele, a penetração e influência da própria cultura árabe na Europa do século XIII. 
    
   Acreditamos que nossos atuais trabalhos de pesquisa sobre a família Cavalcanti em
Florença neste século, trabalhos já realizados com muito amplo contexto histórico -acrescidos pelas novas abordagens da crítica literária - possam complementar não só o entendimento de sua vida e obra de Guido Cavalcanti, mas também ampliar a os estudos relativos a influência de Guido Cavalcanti sobre a própria personalidade de Dante e a feitura da “Divina Comédia”. 
    
    Em nossos vários trabalhos ressaltamos não só a sensibilidade poética de Guido, mas também sua enorme sensibilidade política, capaz de prever e mesmo de tentar impedir, com o risco de sua própria vida, o que ocorrerá em desgraças para sua família e para a República de sua cidade, num futuro que ele percebia muito próximo - fatos que Dante, e os radicais republicanos que indiretamente causaram sua morte, não puderam sequer pensar viessem a ocorrer.  O próprio Dante, pouco depois, condenado à morte “ao fogo” pelos guelfos negros - obrigado ao exílio definitivo com a família - sua casa em Florença destruída. 
      
       Portanto, esta cena do capitulo X da Divina Comédia ainda nos remete, atualmente, a questões cujas conclusões apenas podemos sugerir: 
     
     A ação da “Comedia” se desenvolve, como sabemos, na Semana Santa anterior à morte de Guido, no mesmo ano de 1300.
      Assim sendo, teria sido proposital esta escolha temporal de Dante - ao colocar a ação da Divina Comédia como ocorrendo no passado, ele próprio enquanto personagem ainda ignorando a morte de Guido Cavalcanti? 
      No relato do capítulo X, naquele momento e para seus leitores, Guido ainda estaria vivo. Neste caso a data escolhida para a ocorrência da “Comédia” pode ter sido proposital - Guido ainda vivo, Dante não teria novamente que julgar o amigo, figura pública de Florença - ainda uma segunda vez.

      Na medida em que nossa historia literária não fora ainda capaz de avaliar bem, política e literariamente, a importância do papel de Guido como mentor de Dante, também não teria percebido a enorme influência do pensamento de Guido sobre um Dante já adulto - nem sequer avaliar as conseqüências do ato de julgamento político de tão íntimo amigo, sobre a própria psicologia de Dante – fato, sugerimos, capaz mesmo de definir as próprias condições estruturais e temporais em que a “Comedia” teria sido idealizada.  
    
   Assim, sugerimos que Dante pretendesse, com este artifício literário de “datar a Comédia”, evitar julgar o amigo na sua própria obra, agora, uma segunda vez. Dante já admitiria, talvez, ter julgado Guido equivocadamente uma primeira vez, mas como estivesse ainda inseguro, reconhecendo não poder entender muito bem a personalidade madura do amigo, ao redigir a “Comédia” teria preferido tecer críticas indiretas a Guido como ateu, e apenas explicitar “en passant” seu desagrado pela preterição do amigo em respeito ao poeta Virgílio.
    Entretanto, a partir desta nova interpretação estrutural, Dante nos deixaria agora entrever - de forma ainda mais dorida – sua intensa preocupação quanto ao abandono pelo amigo dos ideais rígidos dos Fideli dÁmore. Ainda que o tivesse conhecido bem, talvez o suspeitasse ao fim um extremado, um herético ou mesmo um ateu - como era tido seu pai. Daí sua grande dificuldade em julgá-lo uma segunda vez. 
      Com o artifício literário temporal, Dante evitava ter que realizar um segundo julgamento do amigo - figura que lhe fora extremamente cara, e era ainda respeitado em Florença.  
  
  Ainda que tivesse sido o seu mentor literário na conturbada realidade política florentina, Guido não havida conseguido fazer com que Dante o acompanhasse em suas finais e decisivas leituras - suas próprias e decisivas influências averroístas e avicenistas, trazidas pelos pensadores árabes de sua época (7). Questões não possíveis ao entendimento de Dante, ainda intimamente ligado aos ideais do grupo dos Fideli d´Amore – grupo do qual, dizem, o autor da “Comédia” teria sido mesmo mestre. 
    Assim, a “vivência” da filosofia averroísta, profundamente ligada ao real e ao sensível, fora apenas possível a Guido pela abertura agnóstica paterna - pois Boccacio, uma geração depois supõe que o cavaleiro Cavalcanti Cavalcanti tivesse sido em verdade um agnóstico, não um ateu - em época ainda bastante emersa na religiosidade cristã (8). 
    
   A que se sabe, Dante continuou sempre um fiel discípulo dos Fideli d´Amore, sob cuja inspiração e preceitos teria escrito a própria “Comedia”, sobretudo sempre fiel a crença da existência de vida após a morte.

    Aproveito para relembrar e ressaltar colocação já explicitada em anterior oportunidade: a questão política maior para Guido Cavalcanti, questão que o havia acompanhado desde sua juventude, seria o exercício de uma sutil e discreta crítica ao papado – reconhecendo que por sua formação de “milites”, Guido estaria, entretanto,  preparado para arriscar a vida pelo partido “guelfo”, apoiador deste mesmo papado. 
    Guido compartilhara com o jovem Dante suas inclinações políticas e literárias pelo trovador Sordello, trovador que se colocara como cavaleiro “guelfo”, mas que já manifestava críticas vigorosas ao líder da cristandade.  Ele próprio, Guido, tendo se colocado também em Florença contra a prepotência dos aristocráticos “guelfos negros”, os Donati. 
    Suspeitamos, portanto, que Guido através a preferência por Sordello pretendesse criticar, ainda que de forma velada, a maneira rígida como o papado atuara não só contra os cátaros no Languedoc e heréticos em Florença – sobretudo, quanto aos excessos das punições religiosas contra os próprios degli Uperti - “guibelinos” da família de sua mulher (9). 
    Deste modo, ficaria explicado definitivamente o porquê da preferência de Guido por Sordello, mestre de ideais libertários, e não Virgilio - considerado o pai da língua latina - preferência, a que tudo indica, não absorvida por Dante. 
   Portanto, a opção final de Guido pelas leituras de Averrois e Avicenas, escolha radical para a época, Dante ligado ainda intimamente “aos Fideli d´Amore” não poderia realmente absorver - e muito menos acompanhar. 
   
   Dante, como membro de corporação que congregava médicos e boticários, conhecia os trabalhos de Averróes e Avicena, citando-os em sua obra - mas não dará ressalte a estes trabalhos - ainda que utilizasse e respeitasse a obra pagã de Aristóteles, em especial a “Ética de Nicômaco”. Dante teria se mantido - durante toda sua vida - nos ideais do grupo dos Fideli d´Amore, demonstrando sempre uma fé inabalável em Cristo e na vida após a morte (10) 
     
      Assim sendo, concluimos:     
     Ainda que Averróes e S. Tomás tivessem apresentado importantes contribuições filosóficas para a época, Guido resolvera suas próprias questões filosóficas e morais através uma modesta e simples "Baladetta”– e por sua poética anuncia o Renascimento - antes mesmo da portentosa obra realizada por Dante.  
    Esta postura de Guido Cavalcanti, radical e moderna, só recentemente foi reconhecida pela crítica literária - já que a descoberta do averroísmo e avicenismo na obra de Guido é muito recente - a partir década de 50 (11). 
     
      Assim recolocadas, estas questões referentes às relações políticas e literárias entre os dois amigos poetas, Guido e Dante, se apresentam atuais – ainda pertinentes em literatura (12).
     
      Questões que levanto, e também apresento - sobre tão marcantes poetas. 
   



Notas

(1) Sobre nosso trabalho de pesquisa histórica referente ao poeta Guido Cavalcanti e seu pai, o cavaleiro Cavalcante Cavalcanti, importante consultar artigo, Torres, Rosa Sampaio - “Guido Cavalcanti, político, cavaleiro e poeta - suas influências culturais na obra de Dante”, publicado em 2013, no blog http://rosasampaioblogspot.com/  
      Discussão sobre o possível ateísmo ou agnosticismo de Guido Cavalcanti e seu pai, também em Torres, Rosa Sampaio – artigos “Também revisitando Guido Cavalcanti” e “Os “sdegnosos” Cavalcanti”. Ainda outros trabalhos sobre a antiga família Cavalcanti publicados neste mesmo blog. Em revisão, mas já aberto para consultas, o longo trabalho “Os Cavalcanti no século XIII”, da mesma autora. 
(2) Sobre a privilegiada influência do trovador Sordello da Goitto na obra do poeta Guido Cavalcanti, Torres, Rosa Sampaio - “Guido Cavalcanti, cavaleiro, político e poeta - suas influencias culturais e a obra de Dante” no blog http://rosasampaioblogspot.com/  
(3) Sobre a realidade florentina e a atuação política de Guido Cavalcanti consultar, para mais detalhes e fontes, Torres, Rosa Sampaio – artigo “Guido Cavalcanti, cavaleiro, político e poeta - suas influências culturais e a obra de Dante”, “Também revisitando Guido Cavalcanti”, publicados no blog  http://rosasampaioblogspot.com/, ainda “Os Cavalcanti no séc. XIII”, livro em fim de elaboração acima referido.   
(4) Nicolau Maquiavel em sua “Historia de Florença” relata com maestria as desgraças vividas pela família Cavalcanti no fim do século XIII. Maquiavel escreve, entretanto, já no sec. XVI e seu relato nos parece, em perspectiva, algo faccioso - pois os Cavalcanti neste século, não tão poderosos, eram agora inimigos dos banqueiros Medici - que acabam por destruir a República florentina em 1571, criando um Grão-Ducado. É notório que Maquiavel, apesar de republicano, com esta sua obra havia tentado obter a simpatia e mesmo o patrocínio desta família poderosa de banqueiros do século XVI, neste sentido procurando denegrir os seus olhos a imagem dos Cavalcanti, “magnati” no sec. XIII.  Para melhor entendimento do assunto remetemos ao nosso artigo “Medici x Cavalcanti’, “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, ainda “Conspiração Pucci e Cavalcanti”, ainda outros artigos sobre a família Cavalcanti no século XVI, também publicados pela autora no mesmo blog.
(5) No artigo “Guido Cavalcanti, cavaleiro, político e poeta - suas influências culturais na obra de Dante”, nota 42, indicamos a influência de Averróis sobre a obra de Guido, citando especialmente Nardi, Bruno - “Noterella Polemica sobre Averroismo de Guido Cavalcanti”, 1954 - Ed. da Universidade de Roma, e Ardizzone, Maria Luíza - Guido Cavalcanti: the other Middle Ages, Toronto Press, 2002.     
(6) Em “Guido Cavalcanti e suas influencias culturais na obra de Dante” detalhamos a influência do filósofo e médico árabe, Avicena, sôbre a obra de Guido Cavalcanti - influência muito bem observada e descrita por Anichini, Frederica - Voices of the Body, liminal grammar in Guido Cavalcanti´s Rime, vol. 6, Interkulturelle Begegnungen, Meidenbauer, 2009, pg.105, 
(7) Os maiores filósofos árabes conhecedores de Aristóteles, que influíram profundamente sobre o Ocidente latino-cristão, foram Avicena e Averrois. 
     Até a produção da obra de Averróis (Ibn Rochd - Córdoba 1126-1198), de Aristóteles no Ocidente conheciam-se apenas os tratados lógicos.   No começo do séc. XIII, Miguel Escoto, médico, astrólogo e alquimista, protegido de Frederico II na sua corte na Sicília, traduziu para o latim os comentários de Averróis ao “De Caelo” e ao “De Anima”, de Aristóteles.
      Assim o trabalho de Averróis como comentarista de Aristóteles contribuiu, de modo decisivo, para introduzir o aristotelismo no mundo do pensamento cristão, dominado até essa época pela influência platônica e neoplatônica. Sobretudo, Averróis afirmava a subordinação da religião à filosofia quando as argumentações delas fossem conflitantes, considerando a religião como uma filosofia simbólica.
    Avicena, (Bucara, Pérsia, 980 - Hamadã, 1037) tentou harmonizar a filosofia aristotélica com o platonismo e a religião islâmica.  Utilizou-se das idéias de Aristóteles para provar a existência de Deus, afirmando que Nele, existência e essência seriam iguais: Deus igual à sua essência e fonte do ser de outras coisas. Foi o autor de “Líber Canonis”, vasta obra  dedicada a assuntos de medicina. O seu “Canonis” foi traduzido no século XIII para o latim e para Europa por Gerardo de Cremona. Depois de Avicena todo a pesquisa farmacêutica e matéria médica foi influenciada pelo seu trabalho. Ficou conhecido como o príncipe dos médicos. 
(8) Descrição que valoriza a veia filosófica de Guido Cavalcanti é realizada, na geração seguinte, pelo celebre Giovanni Boccacio no Decameron (6º dia, nona novela, “A cena do cemitério”) - conto que cremos indispensável para compreensão de nosso poeta.  
    Boccacio supõe que o pai de Guido, o cavaleiro Cavalcanti Cavalcanti, seria na realidade um agnóstico, não um ateu, em época emersa na religiosidade cristã. Boccacio afirma (Decameron VI, 9) que as especulações de Cavalcante Cavalcanti visaram apenas questionar se Deus pudesse não existir (“si diceva tralla gente volgare che queste sue especulazione erano solo in cercare se trovar si potesse che Iddio no fosse.”)
    Boccacio usa ainda para qualificar Guido a palavra “sdegnoso”, que traduzimos como, altivo, indignado, sombranceiro, desdenhoso, não respeitoso. O adjetivo “sdegnoso”, no sentido por nós traduzido, é mais tarde usado em literatura também para descrever os Cavalcanti no século XVI, em sua ação contra a família Medici. Consultar Torres, Rosa Sampaio – artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, http://rosasampaiotorres.blogspot.com/  
(9) Sobre as relações entre Guido Cavalcanti e os degli Uperti, família de sua mulher, consultar o genealogista da família Cavalcanti Sylvio Umberto Cavalcanti, autor de Se Chiamavono Cavalcanti, pdf, mídia eletônica. Também nossos trabalhos já indicados.  
 (10) Sobre a crença de vida após a morte em Dante, Reynolds, Bárbara – Dante, Rio de Janeiro, Record, 2011, pg. 113.
(11) A descoberta de traços averroístas na obra de Guido Cavalcanti é recente, da década de 50, conforme as datas de edição das obras indicadas na nota 5. Os traços de avicenismo identificados ainda mais recentemente, em 2009, pelo trabalho de Frederica Anichini, indicado na nota 6.  
(12)  Frederica Anichini em Voices of the Body, liminal grammar in Guido Cavalcanti´s Rime, cit. , pg.105, chega a afirmar sobre a acuidade poética de Guido :  
 « l´ímpiego nella poesia di Cavalcanti di un contenuto técnico e specialistico richiamato dalle sinapsi con il manuale di medicina aviceniano acquista dunque il signficado di un poetare singolare: i materiali che lo compgno, provenienti dall´ ambito della filosofia naturale e da medicina constituiscono il legame, la prova di un cammino « altro »...un sabere alternativo.... 
   

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