Hipótese de migração da Península Italiana para o Brasil - séculos XVI e XVII

 

Hipótese de migração da Península Italiana para o Brasil

 - séculos XVI e  XVII -

                      

“A morte é dura, a fama é eterna, duradoura será a memória do fato.”

Célebre frase pronunciada frente ao carrasco pelo mártir

republicano milanês Girolamo Olgiati, em 1476 (1).


Introdução

 

             Este artigo é apenas uma hipótese de trabalho e tem origem em nossas pesquisas recentes sobre a migração do patriarca florentino Filippo di Giovanni Cavalcanti para o Brasil.

Estudos aprofundados sobre este ilustre membro da família Cavalcanti que veio para o Brasil no século XVI nos permitiram tirar conclusões inesperadas e inéditas. E estas conclusões imprevistas nos permitem, agora, sugerir hipóteses novas pertinentes ao tema migratório (2).

    

            Comprovamos em nossos trabalhos que o ramo familiar dos Cavalcanti brasileiros esteve envolvido na luta política anti-medici pela manutenção do regime republicano florentino.

            Depois da morte do seu protetor, o papa Leão X, o pai de Filippo Cavalcanti - Giovanni di Lorenzo Cavalcanti – membro  do ramo “Cavalleschi” da família  por ocasião  de um conflito aberto de sua cidade contra os Médici em 1527 optou por esforços em defesa da Republica em Florença. Giovanni di Lorenzo por suas atividades como mecenas tentou obter o apoio político do rei inglês Henrique VIII para a Republica de Florença, apoio e simpatia de que gozara desde a juventude quando servira junto àquele rei. Giovanni di Lorenzo de início relutante seguia, por fim, a tradição de antagonismo dos seus demais parentes de outros ramos Cavalcanti, que desde pelo menos o fim do século anterior se colocavam polìticamente críticos aos tirânicos banqueiros Médici.

          Nesta geração Mainardo Cavalcanti do ramo denominado “Cavallereschi” já atuava decidido contra os Medici (3). E, se de início as relações familiares entre o ramo brasileiro não eram tão estreitas com os “Cavallereschi”, aos poucos, pelas crescentes necessidades do enfrentamento anti-medici e de união em defesa do sistema representativo florentino, estas relações haviam se tornado cada vez mais solidárias.

     Fatos levantados indicam a colaboração e por fim comprometimento dos vários ramos de Cavalcanti florentinos nos episódios conspirativos saídos da corte francesa de Catarina de Médici e que eclodem em Florença em 1559 - não sem motivo por nós denominadas “Conspiração Pucci & Cavalcanti” (4).

   Nesta ocasião vários ramos de Cavalcanti - o do jovem banqueiro Stolto di Tomasso Cavalcanti (do ramo “Ciampoli”), o de Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti (ramo “Cavallereschi”) e, tudo indica, também o nosso ramo brasileiro por Filippo e seus tres irmãos, Guido, Schiatta, ainda o mais jovem Giovanni (do ramo “Cavalleschi”) – estavam já unidos para a ação. 

       Há muito comentado pelas fontes orais da família no Brasil que Felipe di Giovanni Cavalcanti - de uns trinta e três anos, filho primogênito do Giovanni di Lorenzo, desta família nobre e prestigiada já tida como “sdegnosa” e indignada com os Medici, tinha se envolvido, ou no mínimo sabido das conspirações em que atuavam seus parentes de outros ramos francamente republicanos por volta dos anos 1558. Nesta ocasião Bartolomeo di Mainardo incentivado pela rainha francesa Catarina conspirava em Roma, enquanto sua filha Lucrecia atuava da corte francesa apoiada pelo marido, o banqueiro Albizzi del Bene. Também  Stolto di Tomasso Cavalcanti do ramo “Ciampoli” agindo, perigosamente, na própria corte de Florença de Cósimo I Medici com o cortesão Pandolfo Pucci.      

      Certamente Filippo pela descoberta dos rebeldes temeu os “longos braços” punitivos de Cosimo I por envolvimento direto ou mesmo indireto na conspiração, e  por simples convivência com estes seus parentes  tenha procurado escapar em tempo da Europa.

      Pouco depois, em 1563, Guido, irmão de Felippo - um “Cavalleschi” poeta, ilustrado e culto - comprovadamente estará também em atuação anti-medici na corte francesa em substituição ao já falecido líder e experiente conspirador, Bartolomeo Cavalcanti. O irmão mais jovem, Giovanni, recentemente descobrimos com muitas provas também envolvido em conspirações (5).

    

      O momento da saída de Felipe de Portugal, 1560, coincide com a descoberta da conspiração liderada por Bartolomeo e a decapitação de seu jovem parente Stolto Cavalcanti em Florença em janeiro. Cósimo ainda à caça dos demais foragidos.

     Momento também significativo da queda da chamada “República Popular de Siena Retirada para Montalcino”, episódio histórico hoje pleno de simbolismo, mas que demarca a estruturação definitiva do Ducado da Toscana pelos Medici (6).   

    

    Filippo di Giovanni Cavalcanti apenas por saber de tramas conspiratórias de 1559 já estaria comprometido como traidor - como aconteceu com Jean Girolami, perseguido e punido duramente.

     Acrescentamos, portanto, que as informações orais familiares e  de cronistas indicam a vinda de Felippo Cavalcanti para o Brasil referida à Conspiração Pucci & Cavalcanti contra o duque Cósimo I - tendo Cósimo assinado a carta reafirmando a nobreza de Filippo em agosto, um pouco antes da descoberta da conspiração, em outubro de 1559 (7).

     A queda da “Republica Popular de Siena Retirada para Montalcino” em 1559, e a descoberta da “Conspiracão Pucci & Cavalcanti” em outubro do mesmo ano, constituem a nosso ver momentos históricos culminantes da resistência republicana florentina aos Medici dominantes na Toscana, e se situam, portanto, num mesmo momento histórico.

  

Desenvolvimento

         

       Nossas Hipóteses


   Verificamos que neste período, os dominantes Medici pretendendo exercer um nível de poder na península italiana decisivo para as grandes transformações sociais e políticas do seu tempo - a formação embrionária dos estados nacionais - haviam conseguido tornar suas próprias relações familiares uma completa ruína, com linhas políticas e afetivas completamente cruzadas - difícil exercício de análise do que é necessariamente privado e do que é político. As decisões de vida ou morte por eles tomadas dificilmente sabemos se por motivos de inveja, raiva e ódio parentais ou por necessidade de manter o poder político do Estado a qualquer preço. A rainha francesa Catarina de Médici atuando contra estes seus parentes rivais em Florença é sempre um desafio para nossa compreensão.

    A constatação dessas divergências políticas internas na família Medici entre “popolanos” e “não popolanos”, relativamente à tradicional experiência política republicana de Florença, tornam-se também importantes para o desenvolvimento de nossas análises históricas. Não só para o melhor entendimento das razões de migração de Filippo Cavalcanti, mas também em determinado momento, passamos a suspeitar, para a compreenção das motivações de migração de outras famílias florentinas da Europa, nos fins do século XVI - cerne das preocupações deste atual artigo (8).

        

            No século anterior, já no inicio da predominância dos Medici muitas famílias prestigiosas e ricas haviam deixado Florença em exílio voluntário, espalhando-se pela península italiana e por outros paises da Europa.

            Auto-exílio ou migração necessária por precaução política, dada a predominância pertinaz e efetiva exercida pelos Médici na Toscana. Enquanto isso Florença enfraquecia, pois da cidade saíam ramos de famílias florentinas economicamente muito bem sucedidas - mercadores, financistas e banqueiros - atuantes politicamente (9).

Os poderosos Strozzi estiveram contra Cosimo, o Velho, já em 1433/34 e foram para Pádua, Genova e Lion - de onde voltou Filippo Strozzi, o Velho, ainda mais poderoso para enfrentar novamente os Médici. Ramos de Peruggi foram para Verona e Veneza e também para a França (os Berluc-Pérussis), possivelmente por envolvimento na conspiração Pazzi de 1478 contra os Médici. Ramos de Acciaiolis contestadores teriam ido já em dificuldades pelo mesmo motivo para a Madeira (o ramo do jovem Simone vem parar no Brasil).  Por comprometimento também na conspiração Pazzi, ramos de Salviati teriam ido para a Madeira e para França - de onde o banqueiro Bernard Salviati atuará depois com sua sobrinha Catarina de Médici, contra os próprios parentes Medici rivais em Florença.

      Abrigando-se na corte francesa já no começo do século XVI estiveram também os Alamanni - por Luiggi, o extraordinário poeta e seus descendentes - ele envolvido na conspiração de 1522; assim os Albizzi e Del Bene (ramo de Bernard Albizzi del Bene), os Gondi, os Martelli e mesmo os Cavalcanti, por Bartolomeo di Mainardo e sua filha Lucrécia.       

      O nosso Giovanni de Lorenzo Cavalcanti depois da queda da segunda República em Florença em 1530 voltou para a Inglaterra, onde permaneceu auto-exilado com sua esposa e filhos.

    

    Assim sendo, depois de 1530 e por motivos políticos, inúmeras famílias florentinas permaneceram refugiadas na corte francesa. São os “fuoriusciti” - que aí mantêm núcleos conspirativos muito ativos e poderosos, prestigiados pelo rei francês Francisco I e que no ano de 1537 fazem eclodir o confronto militar em Montemurlo contra Cosimo I, episódio por este vencido. Os “fuoriusciti” no decorrer do século ainda apoiados pela rainha Catarina da França vão continuar a colaborar, abertamente, nos confrontos militares em Siena entre 54/55. A rainha Catarina membro da própria família Médici mantivera-se sempre em permanente e aceso conflito com a prepotência de seus parentes, como observamos em nossos estudos sobre a conspiração Pucci & Cavalcanti de 1559 (10).

            Ao final do século os Medici já terão estruturado seu Grão-Ducado Toscano, mas   terão ainda que continuar a exercer enorme repressão sobre os comprometidos na desesperada e final Conspiração Orácio Pucci & Ridolfi, eclodida em Florença no ano de 1575. Nesta repressão os herdeiros de Cósimo I estarão engajados em uma empreitada percebida por um historiador francês como muito próxima ao delírio persecutório: mercenários à mando percorrendo toda a Europa para assassinar conspiradores com arcabuzes, punhais e veneno - elementos às vezes apenas comprometidos por terem abrigado um amigo ou parente por uma noite (11).

            A nosso ver, esta empreitada final dos Médici mais do que um fato psíquico de desequilíbrio teria nítido cunho objetivo: atingir de modo cruel e definitivo as inúmeras famílias como um todo - àquelas que por seus vários ramos e várias gerações haviam teimado em permanecer envolvidas e comprometidas pela defesa do sistema Republicano florentino em episódios contestadores.

       E assim, nesta derradeira onda repressiva os Medici garantem o estabelecimento definitivo do seu Grão-ducado, processo em que várias gerações desta família dominante de banqueiros haviam também se engajado. Nesta repressão nem as jovens, belíssimas e muito cultas moças Medici, dissidentes e rebeldes contra seus irmãos e maridos, Isabela e Eleonora, foram poupadas (12).

           

      Refugiados na França os rebeldes e insubmissos eram presas fáceis - assassinados até mesmo na própria corte francesa, para indignação de Caterina de Médici que sempre os protegeu (13). Mas os republicanos das famílias Cavalcanti, Martelli, Pucci, Machiavelli, Altovit, Capponi ou Soderine, se não tinham neste fim do século sido ainda degolados ou decapitados, envenenados ou assassinados por mercenários estavam em desabalada fuga por toda Europa procurando refúgio nas cortes da Inglaterra, Polônia, Portugal ou ainda bem mais longe... (14).

      

   Assim sendo formulamos duas hipóteses:   

 

    1ª hipótese - Sugerimos, então, na mesma situação política florentina dos Cavalcanti - acossados para fora da Europa pelos Medici preponderantes chegando por semelhantes motivos ao Brasil em meados do século XVI -  pelo menos ramos das famílias Salviati, Acciaiuoili, Manelli e Spinelli (15).

           

     Cautelosamente afirmamos, entretanto, desde já - para comprovação desta migração de famílias florentinas de prestigio, acossadas de Florença por motivos políticos em defesa da Republica no séc. XVI - migração para fora da Europa, no caso para a Madeira e para o Brasil, seriam necessários estudos ainda mais aprofundados de genealogia -  com motivações familiares estudadas, especificamente, caso a caso.

       Entretanto, desde já sugerimos ramos de famílias na mesma situação florentina que os Cavalcanti:

    

             - ramo dos Salviati teria ido, já em 1478, se refugiar na ilha da Madeira por Giovanni Salviati, filho de Jacobo Salviati. Seu pai havia sido estrangulado no mesmo dia e ano em que eclodiu a conjuração Pazzi, punido pela morte de Giuliano Medici e pelo ferimento de Lorenzo Magnífico (16).

            - os Acciaiolli, aparentados dos Médici, têm ramo sugestivamente crítico e inconformado que acaba, também, migrando para Madeira e depois para o Brasil, onde sempre manifestaram identidade política com os Cavalcanti.  O muito jovem enobrecido Simone di Zanobio Acciaiuolli, nascido em 1497, achava-se já migrado para o Funchal, Ilha da Madeira, em 1509.  Simone era bisneto de Zanobi Acciaioli, inimigo acérrimo dos Médici e teria também ligações colaterais familiares e maternas com os Neri Acciaioli - este um inelectual de prestígio, comprometido igualmente nos episódios conspirativos de 1478 contra os Medici (17).

            - os Manelli e Spinelli, que teriam vindo para Pernambuco através Nicolau Manelli Spinelli, primo do lado materno de Filippo di Giovanni Cavalcanti, com indicações de que teria se envolvido também na mesma conspiração de 1559 contra Cosimo de Médici - casado em Pernambuco com Adriana de Holanda, com descendência (18).  

 

            Observamos ao final de nossas pesquisas, fato ainda mais relevante, e mesmo um acrescentamento de nossa hipótese inicial:

       

     2ª hipótese- Em outras regiões da península italiana no século XVI, além de Florença, também ocorriam reações decididas de famílias prestigiadas em defesa dos regimentos republicanos tradicionais e característicos de suas Cidades-República, ameaçadas por motivos políticos por outras famílias prepotentes, ou mesmo pelo próprio Sacro Império Germânico, com semelhantes desfechos migratórios para fora da Europa.    

                    

            Temos notícias de algumas famílias ricas e de prestígio da península italiana, não só de Florença, mas também da “Sereníssima República de Genova”, da República de Lucca”, e mesmo de Milão - que não era uma Republica, mas um Ducado - por motivos igualmente políticos, republicanos ou contra tiranias teriam também aportado o Brasil do século XVI.  

            Seria, então, necessário estender e aprofundar ainda mais estas pesquisas históricas factuais e genealógicas para  outras regiões da península italiana se quisermos entender, realmente, a própria migração italiana para o Brasil nos seus primórdios.                         

          

Já o historiador da migração italiana no Brasil, Franco Cenni percebe (19):

           “Havia ainda homens de nobres estirpes, emigrados por razões políticas, os irmãos Adorno, os Acciaiuoli, (nome florentino que deveria contrair-se em Accioly ou Accioli, para pertencer, no Brasil, a homens de grande fama política, nas ciências, letras e nas finanças); os Burlamacchi (mais tarde Burlamaqui) e, finalmente descendentes dos Doria e aquele Filippo Cavalcanti que viria a ser o chefe da grande família que se espalharia...” (os grifos são nossos)

          

          

    Lembramos os genoveses Fregoso ou Fragoso - família nobre como os Adorno também foram desprestigiada politicamente em Genova após 1528 - o filho do “dux” Otaviano Fregoso, Pedro, refugiado em Portugal e protegido por D. João III, já com mercês no ano de 1521. Chegaram a Pernambuco por Gaspar Álvaro Fragoso, não sabemos de que ramo desta família, logo aqui casado com a filha mameluca de Jerônimo de Albuquerque, Joana, cujos descendentes serão os Fragoso de Albuquerque.


     Devemos recordar que também outras famílias nobres aqui chegavam anteriormente a 1560 oriundas da Europa por motivos políticos ou religiosos como os Holanda ou os Lintz (20). A esses não iremos abordar, pois não teriam vindo propriamente da península italiana. Entretanto, chamamos a atenção para essas famílias também européias de nível social elevado, migradas em especial por necessidade de segurança política e liberdade religiosa - caso dos judeus de elite ou cristãos–novos abastados, como provavelmente os Holanda ou mesmo talvez apenas em parte os irmãos Adorno.

 

 

Conclusão

        

    Pelo exposto, pesquisas históricas factuais profundas sobre famílias italianas migradas no século XVI para o Brasil seriam necessárias . Estudos genealógicos mais complexos devendo ser realizados com o objetivo de esclarecer os motivos reais e mais profundos das migrações dessas famílias italianas, analisadas caso a caso.

          

   A que tudo indica, a política da corte portuguesa no período colonial teria acolhido e apoiado dissidentes políticos de famílias ilustres ou ricas ameaçadas politicamente na península italiana ou mesmo por perseguições religiosas no resto da Europa. Estas famílias insubmissas ricas ou ilustres teriam sido, por vezes, financeiramente muito úteis aos projetos colonizadores portugueses, oportunos colaboradores por seus conhecimentos, “luzimentos e urbanidades” na política de ocupação, governança e congraçamento colonial.

       

     Úteis à política portuguesa os da família Giraldes, família de ricos banqueiros de origem florentina e passada a Portugal por Lucas Giraldes no tempo de D. João III, rei em 1521. Neste caso predominando, certamente, as motivações econômicas de exploração colonial. Seu filho Francisco Giraldes chegou a governar a Bahia entre 1587-1588. Entretanto, não podemos descartar outras hipóteses, inclusive a religiosa ou pelo menos a de “livre consciência” para a migração destes Girlades, pois apesar do seu enorme prestigio na corte de D. João III, Lucas Giraldi foi incomodado pela Inquisição por comerciar com os mouros (21).

     

   Na situação de motivação política predominante, temos os membros ilustres da família genovesa Adorno - muito atuante e importante família judaizante, inimiga tradicional dos Fregoso, que foram desprestigiados após a crise da República de Genova de 1528 quando o regime republicano da cidade é alterado pela força naval do almirante Andréa Doria e torna-se uma oligarquia, sob a influência das forças do Império. As competições familiares internas genovesas entre os Adorno e Fregoso só tiveram fim com a dominância da força naval do comandante Andréa Doria, sob influência Imperial. Mesmo assim, pelo menos duas conspirações teriam ocorrido ainda contra Andréa Doria. Antoniotto II Adorno, após a vitória de Andréa Doria teria fugido para Milão, onde morreu no mesmo ano de 1528 (22). Os Adorno têm ramo que passa a Portugal, à Madeira e, posteriormente, chegam ao Brasil.

 

         Estes irmãos Adorno memoráveis, com ascendentes certamente muito ilustres, aqui chegaram com a expedição de Martins de Souza para ajudar a fundar a vila de São Vicente, São Paulo, em 1532-33, trazendo seus conhecimentos técnicos e grande experiência.  O muito culto José Adorno dotado, além do mais, de bravura pessoal participou da defesa da cidade do Rio de Janeiro em 1563 tentando a pacificação dos Tamoios no Armistício do Iperoig, nesta ocasião privando com o letrado Pe. Anchieta. O outro irmão Paulo Adorno realizou casamento na Bahia de congraçamento com Felipa - a filha da índia Catarina Paraguassú e Diogo Álvares Correia, “O Caramurú” - com geração continuada (23) (24).

        Também ramos da própria família Doria, prestigiosa em Genova, mas que por motivos políticos já estariam no Brasil como “partidistas” (partidários por idéias) dos Adorno por Jacome Doria e uma senhora sua irmã, D. Inocência Doria, esta casada com Jacome Lopes (25).

      

   Já a migração da jovem Clemenza Doria - jovem nobre protegida por D. João II aqui aportada no ano 1553 - matriarca dos Costa Doria, possivelmente descendente de ramo importante ou herdeiro do príncipe Andrea Doria, nos parece um caso ainda inconcluso. Aparentemente por segurança teria tido abrigo na corte portuguesa como aia da rainha Catarina, e depois com o incentivo de D. João III, enxoval e cargo real como dote, migrada para casamento no Brasil. Caso a ser aprofundado, pois suas pistas teriam sido mesmo bem ocultadas e um seu descendente posterioremente ainda alcançado e morto por seus perseguidores (26) (27).

 

         Também ramo dos Fregoso ou Fragoso, família inimiga dos Adorno, desprestigiada em Genova após 1528, refugiara-se em Portugal. O filho do “dux” Otaviano Fregoso, Pedro, já em Portugal protegido por D. João III com mercês no ano de 1521 (28).

        Os Spinolas ou Espinolas, ramos dos Adorno também exilados políticos de Genova na Madeira, teriam mesmo mudado a denominação familiar (29).

          

        Já os Burlamarchi, família antiga e nobre oriunda da cidade-República de Lucca, chegam ao Brasil mais tarde, no séc. XVIII. Sabemos que Francisco Burlamacchi, Gonfaliero de Justiça, foi decapitado no ano de 1548 em Milão por haver conspirado com os famosos banqueiros e irmãos Strozzi, visando à união das Republicas vizinhas de Florença contra Cosme I e o Império - ainda hoje lembrado por uma estátua que marca, na cidade de Lucca, sua atuação republicana (30).

    

       Especialmente o genovês Jacomo Gentile teria preparado conspiração contra a tirania dos Sforza em Genova em junho de 1476, “conspiração pela liberdade” que teria inspirado dois anos depois a notória Conspiração dos Pazzi em Florença contra os Médici. Genealogistas brasileiros referem os Gentille ou Gentil como provenientes das 28 famílias a que se reduz a nobreza de Genova em 1528. Os Gentille, Gentile ou Gentil passados a Portugal e ao Brasil, ao Pará, onde um membro da família se tornou Governador (31).

     

   Igualmente da nobreza genovesa seriam os Cattaneo ou Catanho, contra-parentes dos Adorno - passados à Madeira e depois ao Brasil. Esta família havia passado à França ainda no período do rei francês Francisco I (1494-1547) por Frederico Catanho, nomeado Capitão da Guarda deste rei. Seus irmãos passam de Lisboa à Madeira. Descendente da família nascido na Madeira estará em Pernambuco no fim do século XVI (32). 

       Até mesmo uma senhora da família Grimaldi, Luísa, dos fidalgos de Genova esteve no Brasil como concessionária da capitania do Espirito Santo entre 1589-93, onde resistiu à invasão de um corsário inglês (33).

    

 

    Cremos, portanto, que a partir deste breve artigo, na verdade apenas uma hipótese de trabalho, teríamos ainda muita pesquisa a ser realizada visando estabelecer detalhes das motivações profundas dessas migrações nos séculos XVI e XVII (34). Em nota detalhadas deixamos sugestões para aprofundamento e pesquisas.

             

      Mas pelo já observado podemos adiantar - a luta pela defesa do regime Republicano da península italiana contou especialmente com a participação de membros de famílias muito ativas politicamente, verdadeiros e bravos precursores - homens e mesmo mulheres ilustres e cultos que acabaram por se exilar e se enraizar entre os séculos XVI XVII até o XVIII em terras distantes, desconhecidas e virgens dos trópicos.   

      

   Sobretudo, os membros da família Cavalcanti já por nós tão estudados são exemplos de motivações migratórias por motivos políticos nitidamente republicanos. Moldados em práticas republicanas florentinas muito antigas, o ramo bem plantado no Brasil e  ligado mesmo “aos da terra” pelo congraçamento do renascentista Filippo Cavalcanti com a filha da índia Muíra-Ubi, Catarina – tem linhagem continuada e hoje tão numerosa - tornaram-se em especial símbolos de ilustração e perseverança, por sua dedicação às letras, à poesia e à cultura ampla, luta política e persistência contra tiranias (35).  

  

 

Notas

  

 (1) Célebre frase pronunciada pelo muito jovem Girolamo Olgiati, culto e consciente republicano  que com companheiros matou o tirânico duque Galleazzo Maria Sforza de Milão, simbolicamente na própria Igreja de Sto. Estevão, em 26 de dezembro de 1476. Frase proferida em latim e referente à historia romana, pronunciada quando estava nú frente ao carrasco encarregado de retalhá-lo. (Nicolau Maquiavel - Historia de Florença, capitulo “A morte do Duque”). Olgiati pretendeu referir-se a atuação de Brutus no passado romano.

   Dois anos depois deste episódio ocorrido em Milão, e sob sua influência, ocorre a conspiração Pazzi em Florença contra os Medici - conspiração que acaba por matar simbolicamente Giuliano Medici e ferir Lorenzo o Magnífico, também dentro de uma igreja como forma de protesto contra a tirania (Nicolau Maquiavel – História de Florença, livro VIII, capítulo “Desfecho na Igreja”).

    Comentários relativos a estas tentativas de morte de tiranos em cerimônias religiosas, tidas na Europa como simbólicas foram feitos por Baldassare Castiglione, diplomata a serviço do papa Clemente VII (1478-1529) em seu livro O Cortesão de 1528, obra muito difundida nas cortes da época e já referida em nossos trabalhos anteriores.

     A utilização de Brutus como símbolo de Republica é recorrente na península italiana do século XVI, então engajada na luta pela manutenção de suas República-Estado: Genova, Florença, Lucca e Siena. A República de Veneza foi a mais duradoura, no modelo “ottimati”, e talvez por isto mesmo a mais “serena” no período. No ducado de Milão a questão republicana se colocou no curto período da “Republica Áurea Ambrosiana”, 1447-1450, e pela tentativa comentada acima de Girolamo Olgiati em 1476.

     Outras formas de governo republicanas mantiveram-se ainda na Europa, fora da península italiana - e aí o processo se deu, contrariamente, com sucesso crescente: a “Confederação Helvética” (séc. XIII até hoje) a “Republica de Ragusa”, em Dubrovinik na Croácia (1358-1808); a “Republica das Duas Nações” - Polônia e Lituânia (1569-1791); as “Províncias Unidas dos Paises Baixos” - 1579-1795 - a partir desta data “Bávara” e posteriormente socialista/comunista de 1918 até maio 1919. A experiência republicana inglesa foi curta (1641-1652). A 1ª Republica francesa de 1792 a 1804, e a americana de 1789 até hoje.

   Mas a “Republica de Siena Retirada para Montalcino” na Toscana, experiência de caráter sobretudo popular, estabelecida precocemente em agosto de 1554 findou em 1559 vencida pelas forças dos Medici associados ao Sacro Império Germânico. Esta experiência tornou-se simbólica – e hoje a região onde os sienenses se estabeleceram em Montalcino  é mesmo considerada “Patrimônio Universal”. Ver mais detalhes na nota 6.

(2) As nossas hipóteses de trabalho explicitadas neste atual artigo só foram possíveis de ser formuladas pelo progresso do conhecimento historiográfico sobre a família Cavalcanti no Brasil e na Europa, pesquisa realizada por profissionais e amadores de diversas áreas, a quem agradeço. A eles devemos nossas conclusões sobre a atuação do jovem Filippo di Giovanni Cavalcanti, nobre florentino migrado no século XVI para o Brasil - grande esforço de pesquisa sobre as razões de sua migração. Realizamos vários trabalhos de síntese ou aprofundamento sobre a família Cavalcanti, visando alcançar o objetivo proposto. Para melhor entendimento de nossa pesquisa, sugerimos consultar nosso blog http://www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ onde estes artigos estão quase todos editados, com fontes sempre rigorosamente citadas, alguns editados também em revistas culturais do Porto. Citamos os mais pertinentes ao tema deste nosso atual artigo.

  

   Torres, Rosa Sampaio - livreto “Família Cavalcanti de Albuquerque”, Gráfica Visual,  

                                          2002, em revisão para 2ª edição.                         

                                          

   Torres, Rosa Sampaio – artigos:

       - “Cavalcantis em Florença”, 2010.

                                       - “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, 2010,

atualizada em 2011.

      - “Conspiração Pucci & Cavalcanti” (2ª parte “Conspiração   

 Pucci & Ridolfi”), 2010.    

      - “Médici X Cavalcanti”, 2011, e no site http/;//4shared. com.   

       - “Filippo Cavalcanti no Brasil”, 2011.

                                        -“Bartolomeo Cavalcanti” (ensaio) 2012, publicado também  

                                   pela revista Incomunidade do Porto, ed. 38, setembro de 2015.

                                         - “Os Sdegnosos Cavalcanti”, 2013.

        - “O poeta Guido Cavalcanti e suas influencias culturais”,   

  2013. Editada no blog e na revista Incomunidade do Porto, ed.  

  36 em julho de 2015.

         - “Felipe nas Índias” – no blog e na Revista Incomunidade

   ed.55, abril de 2017.

        - “Giovanni de Giovanni Cavalcanti” – no blog em 2015.

                                          -“Accademia del Piano” - publicada no blog em 2016, e na

                                 revista Incomunidade do Porto, em três edições - ed. 47, julho de   

                                 2016, ed. 48 de agosto de 2016, e ed. 50, novembro de 2016.

                                         - “O Castelo du Peron” (sobre a família de Bartolomeo

                                 Cavalcanti), editado no blog e na revista Athena do Porto no 12,

                                  maio de 2020.

(3) Conclusões de Torres Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti” 2011 em http://www.rosasampaiotorres.blogspot.com/ com documentos, fontes e inúmera bibliografia, sempre indicada.

(4) Conclusões Torres, Rosa Sampaio – artigo citado “Conjuração Pucci & Cavalcanti”.

(5) Conclusões de Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti”, 2011, http/;//4shared. com/, “Conjuração Pucci & Cavalcanti” e o trabalho mais recente, com documentos inéditos “Accademia del Piano”, publicado no blog e na revista InComunidade do Porto ed. 47, julho de 2016, ed. 48 agosto de 2016, e ed. 50, novembro de 2016.

(6) Ainda sobre a “República Popular de Siena Retirada para Montalcino - Depois da derrota na batalha de Scannagallo, em agosto de 1554, centenas de famílias sienenses resistindo por sua Republica se haviam juntado às forças do comandante ferido Piero Strozzi que se recuperava de ferimentos na fortaleza de Montalcino. Por quatro anos estas famílias abrigadas na celebre fortaleza viveram e resistiram pela liberdade - ordenando-se nas regras republicanas populares que então já provinham da própria Republica de Siena. Mas, em 1559, teve fim esta experiência da “República Popular de Siena Retirada para Montalcino” – que sabemos hoje, episódio histórico muito representativo. Com a paz de Cateau Cambrésis entre França e Espanha a região foi cedida financeiramente pelos espanhóis à Cosimo I. Este estrutura, finalmente, seu tão desejado Grão-Ducado da Toscana. O assunto é também contextualizado em Torres, Rosa Sampaio – artigo citado, “Médici X Cavalcanti”.

(7) Torres, Rosa Sampaio – artigo citado “Médici X Cavalcanti”, especialmente nota 128.

(8) Conclusões de Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti”, 2011, citado. (9) Conclusões de Torres, Rosa Sampaio – artigo “Médici X Cavalcanti” citado, texto detalhes e fontes nota 6 e 7. Segundo o historiador Nicolau Maquiavel, por motivos nitidamente políticos, várias famílias haviam já migrado de Florença no século XV, permanecendo ainda na Europa. Palla di Nosferi Strozzi que tramou contra Cosimo em 1433/34 foi para Pádua e não mais voltou, originando outros ramos genealógicos pela península italiana. Rinaldo degli Albizzi foi para Nápoles e também não voltou mais. Os Strozzi pelo mesmo motivo teriam ido, também, para Napoles e Lion, na França.

(10) As famílias florentinas como um todo contestadoras e em fuga no século XVI são uma das conclusões de Torres, Rosa Sampaio - “Conspiração Pucci & Cavalcanti, 2ª parte “Conspiração Pucci Ridolfi”, também Torres, Rosa Sampaio - artigo “Médici X Cavalcanti” citado, parte final.

(11) Conclusão da Torres, Rosa Sampaio - artigo “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, 2ª parte “Conspiração Pucci Ridolfi”, também Torres, Rosa Sampaio - artigo citado “Médici X Cavalcanti”, parte final.

       Boutier, Jean – artigo « Trois conjurations Italiennes : Florence (1575), Parme (1611), Gênes (1628) » in « Melange de l´ Ecole française de Rome ». Italie et Méditerranée, T. 108, n 1, 1996, pdf pg. 334, afirma textualmente:

            «  Dès lors, l’obstination et la violence que François manifeste dans la traque dès “conjurés¨ à travers l´Europe jusqu´au coeur des années 1580 révelent, au delà de l’individu et de sa psycologie , des formes de l´exercice même du pouvoir. »

(12) Conclusão de Torres, Rosa Sampaio - artigo “Médici X Cavalcanti”, citado, parte final. Consultar também Murphy, Caroline P. - Isabelle di Médici, Faber and Faber, 2008.  

(13) Afirma Heller, Henry – Anti-italinism in sixteen-century France, Toronto Press, 2003, pg. 180 - sobre os exilados mortos na França, inclusive Troilo Orsini na própria corte francesa, fato que provocou protestos de Catarina e exigiram providencias do rei francês: “In a single year from november 1577 to november of the following year, Saracin [embaixador toscano] arranged the assassination of three florentines exiles – Troilo Orsini, Francisco Alammani e Bernardo Girolami. Aprised of these scandal, the king arrested, judged and expelled the secretary of the ambassador, Curzio Pichene, as the principal instrument of these killings”.

(14) Conclusão Torres, Rosa Sampaio - artigo citado “Medici X Cavalcanti”, parte final e Torres, Rosa Sampaio - artigo citado “Conspiração Pucci & Cavalcanti”, parte 2, “Conspiração Pucci & Ridolfi”.

(15) Conclusão sobre a migração de algumas famílias florentinas para a Madeira e Brasil de Torres, Rosa Sampaio – artigo citado “Médici X Cavalcanti”, agora com o acrescentamento da família Spinelli, antes apenas referida em nota, no. 131, daquele mesmo artigo. 

(16) Mídia eletrônica Geneall. pt. Salviatti (colaboração de Francisco Antonio Doria), informações cruzadas com Torres, Rosa Sampaio - artigo citado “Medici e Cavalcanti”, sobre a atuação dos Salviatti em 1478.

(17) Sobre os Acciaiuoli e os Médici consultar Torres, Rosa Sampaio – artigo citado “Médici X Cavalcanti”, texto e notas 11, 12, 13 que transcrevemos em parte:

    “Os Acciaioli eram família florentina de mercadores e banqueiros muito ricos. Entretanto, ramos de Acciaiuoli desde 1396 vinham contestando os Médici dominantes em Florença. Donato di Iacobo Acciaioli quase condenado à morte foi confinado em Barletta (Maquiavel, Nicolau - opus cit., pg. 176). Zanobio Acciaiuolli esteve na assembléia que determinou o próprio exílio de Cosme de Medici, o Velho, em 1433, e seus bens depois foram arrestados (Doria, Francisco Antonio - tabela genealógica Acciaiuoli 1, pdf.) Agnolo Acciaioli falecido em 1467 foi exilado por ocasião da conspiração de Lucca Pitti contra Piero di Médici, nas proximidades do ano de 1464. (Doria, F. A. - “Acciaioli e Caeht” pdf)”.

    Por nossas pesquisas mais recentes - Donato di Néri Acciaioli ilustre intelectual também agiu contra os Médici na conspiração Pazzi de 1478. Comprovamos:

    Donato di Néri Acciaioli, por sua mãe Lena, era neto do tradicional inimigo dos Médici, o poderoso banqueiro Palla Strozzi que se no passado se havia auto-exilado. Casado com uma Pazzi, Maria di Piero, Donato Néri foi jovem diplomata, ilustre erudito, Gonfaliero em 1474 - reconhecido por sua oratória e clamores por Justiça. Teria, por fim, se envolvido na Conspiração Pazzi de 1478 contra os Medici.  Perseguido foi alcançado e detido em Roma, mas liberado por intervenção do papa, alegados suas qualidades pessoais e serviços prestados à cidade.  Pouco depois, sinalizando a pacificação política interna da cidade, Donato foi indicado à título de compensação para uma embaixada florentina em direção à França, mas falece no decurso desta viagem. Seu funeral foi, então, pomposo, com muitas honras, uma deferência do governo de Florença à sua família - Lorenzo Medici tornado tutor de seus filhos.  Donato de Néri, apesar das honrarias, havia morrido pobre.

      Portanto, frente à acentuada queda econômica de ramos que se sentiam desprestigiados, injustiçados ou perseguidos economicamente pelos Medici temos que em 1509, durante o período de plena República - os Medici na ocasião apeados do poder - o muito jovem Simone di Zanobio Acciaiuolli, nascido em 1497, criança nobre com uns doze anos, pouco antes da morte de seu pai (Zanóbio Acciaioli, 1476 -1512), achava-se já tranferido para o Funchal, Ilha da Madeira, sem que saibamos por que motivo concreto, econômico ou se frente alguma ameaça. 

     Simone era bisneto daquele Zanobi Acciaioli, inimigo ‘acérrimo’ dos Médici que fora arrestado, também parente colateral por sua mãe, uma Amadori, de Donato Neri Acciaioli.   Abrigado pelo tio materno Benozzo Amadori na Madeira que já negociava com vinho, com o fim da República em Florença em 1515 Simone aí obtém uma certidão de sua nobreza. Em 1529, obtém também uma carta de armas dos Acciaioli, passada por D. João III.  Faleceu em 1544 ainda na Ilha da Madeira, (Doria - Francisco Antonio - Arvore genealógica “Acciaiolli 1” pdf). Sua descendência por seu neto Gaspar Acciaioli de Vasconcellos estará no Brasil no ano 1618, casado com D. Ana Cavalcanti, neta do patriarca dos Cavalcanti no Brasil, Felipe Cavalcanti – família também contestadora aos Médici, como demonstramos em trabalhos anteriores.

   Fontes desta nossa breve pesquisa sobre a participação de Donato di Neri Acciaioli na conspiração Pazzi:

      Full text of The Unversity of Cambridge- From the earliest time ro the Royalinjunctions of 1535, cap. “Foreboding of italians scholars”,  Cornell University Library , by James Bass Mulingee, M. A., St. John College-Cambridge, Cambridge Press, pg., 398, disponibilizada  em  ed. Eletrônica.

    A. Adario - Dicionário Bibliográfico Treccani, verbete assinado “Filippo Donato Acciaioli”, Treccani. It, com todas as fontes citadas detalhadamente. 

    Maquiavel, Nicolau - opus cit., pg. 389; sobre os privilégios concedidos pelo governo florentino a Donato Neri, a isenção de taxas aos seus filhos, e dotes concedidos para suas filhas.

     Viroli, Maurizio - Machiavelli´s God - Princeton University Press, 2010, pg. 94, sobre sua atividade como Gonfaliero de Justiça e orações sobre justiça.

     Sobre suas ilustres atividades intelectuais e literárias ver resumo na Wikepedia polonesa, verbete bastante elaborado.

     Acrescentamos ainda texto curto do genealogista Francisco Antonio Doria, digitalizado e cedido pelo autor por e-mail em 1/2011 que, contrariamente ao afirmado por nós apenas comenta: “Donato Acciaioli nasceu em 1428 e morreu em Milão em 28 de agosto de 1478 - humanista e tradutor de Plutarco, amigo de Lorenzo Magnífico, a quem designou tutor de seus filhos. Casado com Maria di Piero di Andrea di Pazzi, conhecida como Marietta. Donato era filho de Neri Acciaiuoli que morreu jovem, com vinte e oito anos e de Lena, filha do grande Palla Strozzi. Era neto de Donato Aciaiuoli, governador de Corinto ao tempo do Duque de Atenas, e de sua mulher Tecca di Saggio di Giacomini di Poggio Tebalducci.”.

       Existe também bibliografia não consultada, sobre Donato de Néri, Gans, Margery Ann – The Humanist as Citizen: Donato di Néri Acciaiuoli, 1428-1478, Syracuse University, 1979. 

(18) Sobre Nicolau Manelli Spinelli consultar Barbalho, Nelson – Cronologia Pernambucana, vol I, Fundação de Desenvolvimento Municipal de Pernambuco, 1982, pág. 95 e 193. Seria necessário confirmar esta fonte. Referido já em Torres, Rosa Sampaio - artigo “Médici x Cavalcanti” citado, nota 131 e já em nosso trabalho sobre “Antonio da Guerra”, ainda inédito.  

   Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello (O nome e o Sangue, pg.118), Nicolau Spinelli era um parente colateral dos Cavalcanti - pois estes na Itália descendiam pelo lado materno dos Manelli. Nicolau teria se casado no Brasil com uma filha de Agostinho de Holanda e de Maria de Paiva, isto é, casado com uma bisneta da judaizante Branca Dias e tido uma filha, Constância Manelli. Esta foi casada segundo Borges da Fonseca com Fernão do Vale, senhor do engenho São Bartolomeu em Jaboatão. Fernão do Vale era cristão-novo e, como Sebastião de Carvalho, conspirou para o levante da Restauração em 1645, mas não teria realmente aderido ao movimento da Restauração - sendo depois sido protegido pelo genro Fernão Soares da Cunha, outro cristão-novo que realmente aderira aos revoltosos.

 (19) Cenni, Franco – Italianos no Brasil, 1ª ed. Martins 1960, 3ª ed., EDUSP, 2003, pg. 35.

(20) A família germânico-flamenga Holanda aqui chegara ainda na época de D. Duarte através o fidalgo Arnau de Holanda - filho de um alemão “de nação” Hendrick Von Holand, barão de Rhijnburg (Rhenoburg ou Reinburg na forma alemã) e de uma flamenga, Margarida Florentz (informações de seus filhos, ainda Borges da Fonseca baseado no Pe. Antonio Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa – 1712, citados por Cabral de Mello, E. - O nome e o Sangue, pg. 99-104)  

  Também vindos da Alemanha, da Turíngia, os Lintz ou Linz - família cristã nobilitada no século XV, ligada a casas nobres européias e aos banqueiros Fugger - aqui chegada pelos netos de Zimprech Lintz, senhor de Dorndorf - alguns de seus membros inicialmente passados para Portugal, depois aqui estabelecidos por quatro ramos familiares. Ainda não ficaram muito claras para nós a motivação para a vinda desses Lintz a partir de 1554 - cristãos vindos da Turíngia na mesma ocasião em que era realizado no Sacro Império o acordo de paz religiosa de Augsburgo entre católicos e luteranos (1555) – paz que não beneficiaria, entretanto, anabatistas e calvinistas, ainda outras religiões, podendo estes ser acusados de heresia.

(21) Os interesses da política de colonização portuguesa já por nós observados relativamente aos Cavalcanti de Albuquerque no Brasil, Torres, Rosa Sampaio - livreto “Família Cavalcanti de Albuquerque”, Gráfica Visual, 2002.

  - Sobre os Giraldi, caso de migração também florentina para Portugal e para Madeira por Pedro Giraldes em 1500 (Barata, C. E. – Dicionário das Famílias Brasileiras, verbete Giraldes) já há numerosos estudos, inclusive o de Sergio Buarque de Holanda (artigo “Os projetos de colonização e comércio toscanos na Brasil ao tempo do Grão-duque Fernando I (1587-1609)” – Revista de História n. 71, 1967, pg.104).

   Em nossas pesquisas (ver Torres - artigo “Filippo Cavalcanti”, no blog) constatamos que o banqueiro Tomasso di Francesco Cavalcanti, do ramo Ciampoli, parente colateral do patriarca Filippo Cavalcanti fora associado a Giovanni Giraldi. Mas Tomasso falecera em 1560, logo depois da descoberta da conspiração Pucci & Cavalcanti em que seu filho Stolto Cavalcanti se envolvera em Florença contra Medici, decapitado em 1559.

  Lucas Giraldi teria sido apenas associado à casa bancária em Roma do filho remanescente de Tomasso Cavalcanti - Giovan Battista Cavalcanti – e teria concedido empréstimos aos embaixadores portugueses naquela cidade, talvez também protegido em sua firma Shiatta Cavalcanti, irmão de nosso patriarca Filippo. Na verdade Lucas Giraldi mantinha contactos com as autoridades toscanas, estabelecendo uma ponte entre o grão-ducado de Florença e a coroa portuguesa. Em 1549, Cosme I chegara a pedir-lhe que enviasse à Toscana um elefante (Informações da  Cátedra "Alberto Benveniste", verbete Lucas Giraldi na mídia eletrônica, citando várias fontes).  

   Segundo o próprio Sérgio Buarque de Holanda (artigo citado pág. 103, citando o historiador Jean Denucé - Inventaire des Affaitadi 1568, Antuérpia, 1934), na verdade Lucas Giraldi teria tido associação estreita com Giovanni Francesco Affaitadi no comércio do açúcar desde 1527 na Ilha da Madeira. Neste sentido, os descendentes de Lucas associados aos Alffaitadi é que serão muito beneficiados com o comércio das Índias e do Brasil.

  Neste caso, não podemos caracterizar a migração dos Giraldi como um caso de perseguição política, dado os volumosos recursos de que eram portadores, o que indica a fixação dos membros desta família, em Portugal, na Madeira ou mesmo no Brasil por motivos aparentemente econômicos. Francisco Giraldi, seu filho, chegou a ser nomeado cavaleiro da Ordem de Cristo, cavaleiro da Casa Real, capitão-donatário da capitania de Ilhéus e governador da Bahia entre 1587 e 1588.

   Entretanto, não podemos descartar outras hipóteses para esta migração, inclusive a religiosa ou pelo menos de “livre consciência”, pois apesar do seu enorme prestigio na corte de D. João III Lucas Giraldi fora incomodado pela Inquisição por comerciar com os mouros.      

    - Machiavel ainda cita a família Cambi, em especial Giovanni Cambi, entre os nobres de Florença nos anos 1380 (Maquiavel - opus cit., pg. 162 e 170). Os Cambi foram grandes aliados e mesmo amigos dos Cavalcanti em Florença.  Por extensão os Gambini, família de lanícolas e banqueiros são identificados em Florença no século XIV e XV, atuando por seus agentes em Portugal e mesmo emprestando dinheiro à D. Pedro I, atuando no Brasil.

 (22) A “República de Genova” após 1528 havia passado para um regime novo com a dominância do Príncipe Andréa Doria, regime altamente oligárquico - lideres escolhidos apenas entre 28 famílias nobres, de dois em dois anos.

       A história factual da “Sereníssima” Republica de Genova neste século XVI é complexa, se observarmos os conflitos em que internamente a republica estaria envolvida, bem como a alternância de dominadores desta cidade-república. Por razões de seus conflitos internos a Republica fora ocupada várias vezes por franceses e milaneses no fim do século anterior - estes representados pela família Sforza. Em 1522 remanescentes das 28 famílias da nobreza da cidade foram entrincheirados nas montanhas e a cidade pilhada violentamente pelas forças do Sacro Império de Carlos V. As competições familiares internas propriamente genovesas entre as famílias Adorno e Fregoso só tiveram fim com a dominância da força naval do comandante Andréa Doria, sob influência Imperial. Mesmo assim, pelo menos duas conspirações teriam ocorrido ainda contra Andréa Doria.

       Supomos que estes extremos de violência devem ter determinado a migração de famílias genovesas prósperas para fora da cidade já no fim do século XV. Observa-se que grande numero de famílias genovesas, nobres e ricas, encontrava-se em Portugal no começo de século XVI, colaborando na colonização da Madeira e nas empreitadas marítimas e coloniais portuguesas - como os Doria do ramo do banqueiro genovês Alaramo. Ver ainda notas 25, 26.

(23) Sobre os irmãos Adorno, no Brasil, citamos especialmente o trabalho de Santos, Francisco Martins dos – artigo “José Adorno e a História de Santos”, baseado em sua tese. http://www.novomilenio.inf.br/santos/ ; Caldeira, Jorge – A nação Mercantilista, editora 34, S.Paulo, 1999, pág. 50 e Luiz Fernando Hisse de Castro http://listsearches.rootsweb.ancestry.com, que afirma:

        “O ultimo doge de tal progênie foi Antoniotto Adorno, eleito em 1513 e definitivamente expulso por Andréa Doria, o qual pôs fim às lutas dos Adornos e Fragosos liquidando o crédito das duas famílias e forçando muitos dos seus membros a se expatriarem, mudando de apelido. Deste modo Adornos emigraram para Portugal, onde na ilha da Madeira tomaram o apelido de Espínolas e outros com o auxílio de armadores italianos de Lisboa velejaram para as terras novas de Castela e Portugal...”

         Entretanto, Prospero Adorno já em 1461 fora tirado do governo pelos Sforza. A ficha da Wikepédia refere-se os irmãos Adorno no Brasil como descendentes de um Antonio em Genova. Seria Antoniotto II, o deposto por Andréa Doria?

         Paulo Setúbal em O romance da Prata, NEAD, Belém, pg.46, refere-se à situação política dos Adorno emigrados de Genova, citando Basílio de Magalhães.

        Trabalho da Fondacion Giovanni Agnelli, Itália – Brasil, MASP, 1980, pg. 14, também refere os irmãos Adorno como exilados políticos (os grifos são nossos).

(24) Sobre a discutida filiação de “Diogo Dias” ou “Diogo Dias Adorno” consultamos: Caldeira, Jorge – A nação Mercantilista, editora 34, S. Paulo 1999, pág. 50 (fonte Pedro Calmon – História da Casa da Torre); Setubal, Paulo – O romance da Prata, citado, e Bandeira, Moniz – Casa da Torre de Garcia d´Avila, Civ. Brasileira, S. Paulo 2007, pg.134, 136.

      Este último autor confirma Diogo Dias como neto (seria filho adotivo?) do rico pecuarista Garcia D´Ávila, o Velho, mas filho de Genebra Álvares e casado com a já viúva Isabel, não tendo assim a ascendência de Paulo Adorno. Na verdade Paulo Adorno e a filha da índia Catarina Caramuru, Felipa, é que teriam como descendentes Álvaro e Martim Rodrigues Adorno.    

       A genealogista Adalzira Bittencourt em Genealogia dos Albuquerque e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S.A., 1965, pg. 444, confirmando a paternidade de Diogo Dias a ele se refere como Diogo Dias de Beja, filho de Vicente Dias de Beja com Genebra Alvarez - esta filha de Caramuru com a índia Paraguassú. Diogo Dias de Beja casado com Isabel de Ávila, filha de Garcia de Ávila que viera com Tomé de Souza. Teriam como descendente Francisco Dias Garcia d´Ávila. A autora cita diversas datas referentes, sem citar fontes.  

(25) Partidistas ou partidários - por ideais ou amizade. A presença destes Dória acompanhando José Adorno, são citados em várias fontes históricas e genealógicas: José Gonçalves Salvador, Joaquim Veríssimo Serrão e Francisco Antonio Dória, entre muitas outras. D. Inocência Doria é citada como muito respeitável senhora que teria recebido, quando doente, a visita de Pe. Anchieta.

(26) Sobre a vinda de outro ramo dos Doria, os Costa Doria, ao Brasil, várias são as abordagens explicativas, nenhuma delas a nosso ver conclusiva:

        A versão tradicional estaria baseada em informações genealógicas familiares. Em um documento, entretanto, é referido a paternidade para Clemenza Doria, jovem nobre e politicamente importante chegada ao Brasil. Vejamos;

        1- informações genealógicas sobre a vinda da jovem Clemenza Dória, aia da rainha portuguesa d. Catarina, ao Brasil com enxoval e dote, atribuí sua filiação a parente próximo, um filho ou sobrinho do “príncipe” Andréa Doria, Florentim - que com a morte do pai ou tio por motivos políticos teria se refugiado em Portugal e de lá vindo com sua filha para o Brasil (Doria, Francisco Antonio - Genova no Brasil I, PDF, Adobe/Acrobat, pág. 24-28).

        2 – entretanto em um documento constam informações prestadas frente ao Tribunal da Inquisição de 1591 pelo filho da própria Clemenza, Cristóvão Vaz da Costa, citando como pai de sua mãe, portanto como seu próprio avô, um Andréa Doria (documento original via e-mail em junho de 2011 para a autora por F.A. Doria).

         Uma versão antiga apresentada por Francisco Antonio Doria e Carlos Eduardo Barata no livro Os herdeiros no poder, Revan, Rio de janeiro, 1994, pg. 86, atribui a paternidade de Clemenza ao navegador a serviço da coroa portuguesa, Lorenzo Doria, tendo a jovem sido criada no recolhimento de moças nobres da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa.

         Nos últimos trabalhos de Francisco Antonio Doria (Genova no Brasil I, PDF, Adobe/Acrobat pg. 24, 25) Clemenza Doria já aparece como filha (órfã ou filha natural?) do importante banqueiro genovês Alaramo Doria, que financiou os empreendimentos marítimos portugueses, aqui aportada no ano 1553. A jovem aia ou criada da rainha portuguesa vinha com enxoval e cargo real como dote para aqui casar-se - caso semelhante ao de outras moças portuguesas vindas na mesma ocasião. Clemenza teria origem em Genova, guardando a fonética de seu nome próprio. Neste caso o genealogista, seu próprio descendente, defende a mera hipótese de migração econômica. D. Clemenza seria no caso descendente de banqueiros genovezes empreendedores e financiadores das descobertas marítimas e D. João III expressaria sua gratidão para com Alaramo, gratidão esta reconhecida por documento de época que Doria nos apresenta no trabalho citado.    A possibilidade de Clemenza ser filha natural de Alaramo Doria foi reafirmada em e-mail para a autora por Francisco Antonio Doria recentemente, 19 de junho de 2011, referindo-se ainda a existência de fontes orais genovesas que confirmariam o fato. Entretanto, por este e-mail, não chegou a identificar tais fontes. 

        O caso da migração de Clemenza Doria é interessante – provavelmente um caso político, não satisfatoriamente resolvido pelas hipóteses acima apresentadas por seu descendente, merecedor ainda de maior aprofundamento. Senão vejamos:

       O grande Andrea Dória não teria tido filhos, apenas filhos adotivos de ramos colaterais da família. Além do mais a data do seu falecimento (1561), não corresponderia à data de chegada de Clemenza ao Brasil, ocorrida em 1553. Entretanto, contra o Príncipe Doria, antes de sua morte, teriam ocorrido pelo menos duas conspirações, entre elas a conspiração dos Fieschi, pela Republica de Genova (1547).        

         Do acima afirmado, acrescentadas informações do contexto histórico referidas na nota 20, podemos supor:

        Clemenza Doria, nascida em 1535, de origem nobre genovesa teria chegado ao Brasil aos 18 anos. Fora educada no recolhimento de moças nobres de N. Senhora da Ajuda, em Lisboa, e adolescente acolhida na corte portuguesa, como aia da rainha, período ainda muito conturbado da vida de sua cidade de origem, Genova - período da conspiração Fieschi pela República que atingiu a família do grande Andrea Doria, matando mesmo seu próprio filho adotivo Gianettino, nesta cidade. Acolhendo parcialmente as informações familiares e genealógicas dos Costa Doria no Brasil, informações de nítido caráter político, podemos sugerir que Clemenza Doria - mesmo sem podermos comprovar sua verdadeira ascendência paterna: Florentim ou Gianettino, o navegador Lorenzo ou o banqueiro Aleramo, ou mais provavelmente o próprio Andréa Doria – Clemenza seria possivelmente descendente (filha natural?) de ramo importante ou herdeiro do Príncipe Andrea Doria, por segurança abrigada na corte portuguesa como aia da rainha Catarina, e depois com o incentivo de D. João III, enxoval e cargo real como dote, migrada para casamento no Brasil.

         Acrescente-se que, casada no Brasil teve um filho, Nicolau da Costa Doria, que retornando à Europa foi assassinado em Lisboa antes de 1591, segundo ainda o próprio F. A. Doria (Tabela de descendentes de Clemência Doria, cedida por e-mail em junho de 2011 à autora).

         Por nossa experiência, o caso da migração de Clemenza teria provavelmente conotação política – com documentos e provas de paternidade ocultados ou propositadamente embaralhados pela necessidade de evasão discreta, com a possível colaboração da corte portuguesa ocultando os fatos realmente acontecidos. O filho de Clemenza ter sido assassinado em Lisboa ao voltar à Europa é fato, podemos dizer no mínimo, indicativo desta motivação política. Momento em que as punições persecutórias aconteciam em longo prazo, como o observado nas punições dos Médici de Florença que trouxeram Felippo Cavalcanti ao Brasil. Ver ainda nota seguinte.

(27) A partir de 1481 um “cavalheiro” genovez, Lodízio ou Luiggi Doria, do mesmo ramo do banqueiro Alaramo Doria, estará na ilha da Madeira. Pai de Eleonora Doria, ele teria deixado vasta descendência na ilha, descendência que em 1608 já se encontrava na Bahia pelo cap. Belchior da Fonseca Doria. (Barata Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha - Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero-América, 1999, verbete Doria e trabalhos do genealogista Francisco Antonio Doria – Genova no Brasil I- citado). Não podemos ainda confirmar motivos políticos diretos no caso desta migração de Lodízio ou Luiggi Doria. Mas notamos que, do mesmo ramo do banqueiro Alaramo, estes “cavalheiros” Dorias poderiam estar já em conflito com a dominação milanesa dos Sforza sobre Genova no fim do século XV, época coincidentemente de sua migração para Portugal e Madeira.

(28) Os Fragoso - família também afastada do poder, como os Adorno em Genova depois de 1528, são citados por Barata, Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha - Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero-América, 1999.

     Podem ter chegado ao Brasil por Gaspar Álvaro Fragoso, filho de Braz Fragoso, aqui logo casado com a filha mameluca de Jerônimo de Albuquerque, Joana, cujos descendentes serão os Fragoso de Albuquerque.

(29) Os Spínola também ilustre família em Genova, como colaterais dos Adorno, teriam igualmente ido para Portugal e depois para a Madeira, onde tomaram o apelido de Espínolas, Catanho e outros. Com o auxílio de armadores italianos de Lisboa teriam rumado, posteriormente, para várias regiões coloniais.

(30) Sobre os Burlamarchi de Lucca, informações históricas notórias em enciclopédias. Segundo Barata, Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha - Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero-América, 1999, família muito nobre de Lucca teria passado para Portugal no começo do século XVIII e de lá vindo ao Brasil.

(31) - Sobre a conspiração de Girolamo Gentile ver Bargellini, Mariano – Storia popolare di Genova, vol. I, Presso Eurico Monni, Genova, 1856, pg.592. Sobre os Gentil no Brasil, ver Barata e Bueno, D.F. B, verbete Gentil.

      - Também ramo dos Lomelino, família muito rica e nobre genovesa, curiosamente passa no mesmo ano da Conspiração dos Gentil, 1476, para a Madeira e depois, já em meados do séc. XVII para o Brasil. (ver Barata e Bueno, D.F. B, verbete Lomelino).

       Barata, Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha - Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero-América, 1999, citam como referência destas 28 famílias remanescentes Nascentes, Antenor - Dicionário Etimológico Brasileiro II, pg.102.

(32) Barata Carlos Almeida & Bueno, Antonio Henrique Cunha - Dicionário das Famílias Brasileiras, Ibero-América, 1999, onde os Catanho são referidos como família genovesa nobre migrada para a França por Frederico Catanho, cap. da Guarda de Francisco I na França, e para a ilha da Madeira por volta dos 1500; apenas em 1620 no Brasil por Manuel Catanho, nascido na Madeira. Evaldo Cabral de Mello (O nome do Sangue pg. 316, 317) cita a genealogia de Luíza Catanho, filha de Belchior da Costa Rabelo e Isabel de Figueiredo, já aqui casada com Joaquim de Almeida nos fins dos 1600 - família que gerações adiante vai levar ainda o sobrenome Catanho transformado em Caetano.

(33) Também uma senhora da família Grimaldi, Luísa, dos fidalgos de Genova já nascida em Nice esteve no Brasil, viúva de Vasco Fernandes Coutinho Filho, e foi herdeira concessionária entre 1589-93 da capitania do Espírito Santo. Conseguiu defender-se sua capitania de corsário inglês. Amiga do Pe. Anchieta. Voltou idosa à Europa e não sabemos se deixou prole. Livro recente “A Capitoa” de Bernardette Lyra, Casa da Palavra, 2014, relata sua vivência e experiências no Brasil.

(34) Há também uma lista de genoveses migrados para Portugal referida por Rosário, Morais do – Genoveses na História de Portugal, Oficinas gráficas de Minerva do Comercio, 1977, que merece uma análise detida.

(35) Conclusão de Torres, Rosa Sampaio - artigo “Filippo Cavalcanti no Brasil”, 2011,

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