Antonio Cavalcanti de Albuquerque (c.1564-1640)

     Antonio Cavalcanti de Albuquerque, patriarca maior da família Cavalcanti de Albuquerque - filho do fidalgo florentino aportado em Pernambuco Filipino di Giovanni Cavalcanti e da mameluca Catarina de Albuquerque - temos como nascido em Olinda próximo do ano de 1564 e falecido, também em Pernambuco, no ano de 1640.    
     Antonio teve filho homônimo que exerceu o cargo de capitão-mor do Pará e do Maranhão (1633 e 1536), ainda neto igualmente homônimo por sua filha Isabel, alcunhado para diferenciação Antonio “da Guerra Holandesa” (c.1608– 1646).



    Antonio Cavalcanti de Albuquerque teria nascido na vila de Olinda, algum tempo depois da chegada de seu pai Filippo Cavalcanti  à capitania de Pernambuco – um jovem fidalgo florentino de família muito antiga e culta, defensora da manutenção de regras republicanas de governo em Florença, aqui refugiado com seu título de nobreza em 1560. 
    Este jovem fidalgo, Filippo, teria casado em Olinda com uma jovem mameluca, Catarina, reconhecida pela coroa portuguesa e prestigiada herdeira dos Albuquerque.  Catarina (1544 - 1614) era a filha mais velha de índia da tribo Tabajara, Muíra-ubi, com Jerônimo de Albuquerque - seu pai igualmente membro de notória família de colonizadores e administradores portugueses, irmão e auxiliar no governo de D. Brites de Albuquerque Coelho, a dona da capitania.
   
   Catarina tem seu casamento com o florentino calculado por alguns genealogistas entre os anos de 1560 e 1565, e Antonio tido um irmão mais velho, João, dado como falecido muito jovem. Do casal Felippo e Catariana teriam ainda nascidos outros nove filhos.  A data do nascimento de Antonio Cavalcanti de Albuquerque obtida, portanto, apenas por cálculo aproximado, em cerca de 1564 (1).
    
    
    Segundo informações de antigos genealogistas, já adulto Antonio Cavalcanti de Albuquerque teria sucedido seu prestigiado pai na administração da capela de S. João, em Olinda. E sua mãe feito o pedido de seu afilhamento como Fidalgo da Casa Real em testamento - título que lhe competia pela briosa ascendência Albuquerque (2).  
    
    Se Antonio nasceu cerca do ano de 1564 como calculamos, teria ele uns 24 anos quando do seu casamento com a jovem Isabel de Góis (3); uns 66 anos quando da invasão holandesa em Pernambuco (1630); e seria já idoso, talvez uns 71 anos, quando da retirada dos seus filhos varões e outros parentes da região de Goiana, ocupada pelo inimigo holandês em 1635 - região onde ele tivera engenhos e onde se vê na contingência de permanecer com alguns dos seus e a família de sua filha Isabel. A data de seu falecimento em Pernambuco, repetida por várias fontes genealógicas no ano de 1640, com aproximadamente 76 anos.  
    Antonio foi, certamente, um senhor de engenho ilustrado, ainda herdeiro de pelo menos dois engenhos muito produtivos: o “Goiana Grande”, a tempo vendido antes da guerra, e o “Bujari”. Este e outros engenhos em Goiana abandonados pela família ou incendiados por tropas holandesas quando da ocupação (4). 
  
     Devemos ressaltar que, além do refinamento recebido de seu pai -  um típico fidalgo renascentista, a que tudo indica aqui refugiado  das perseguições políticas dos Médici em Florença - Antonio prezou certamente a própria cultura renascentista que lhe chegava também pelo avô, Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, diplomata informal e mecenas já então falecido em exílio voluntário na Inglaterra (1542) ,ainda por seus tios e demais parentes já espalhados também pelas cortes da península italiana e França – todos membros da melhor elite fidalga européia, freqüentadores e administradores de cortes reais e papais. 
    Eram os Cavalcanti tradicionais defensores do republicanismo florentino, portadores da notória fama de “sdegnosos” - a exemplo do notável político e poeta da família Guido Cavalcanti no sec. XIII, e do famoso conspirador republicano, também escritor, Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti, que em 1559 atuara mesmo denodadamente contra os Medici pela manutenção da Republica em Florença 
   
   A influência dos Albuquerque, recebida também por Antonio, certamente marcante e solidária – estes provenientes de antigo castelo na Espanha, unidos pelos laços sanguíneos formadores de coroa portuguesa, já notórios navegantes e experientes colonizadores. 
    Da mãe mameluca António ainda herdava a íntima referência com “os da terra” - índios da tribo Tabajara (5).  
  
   Ainda que sejam poucas as informações diretas sobre a personalidade deste nosso patriarca Antonio Cavalcanti de Albuquerque, podemos dizer, sem erro, que foi ele o primeiro e o mais importante cadinho onde se gestaram, em sua geração, tão representativas e variadas influências culturais – influências que, no nordeste, formaram mesmo nossa nacionalidade. 
    
   Assim sendo, somos levados a concordar com a descrição literária da nossa romancista Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque em sua obra já clássica, “O Magnificat” – onde sugere ter sido Antonio um homem de fé, bondade, gosto pelas letras e urbanidades.

    “... Antonio tem a fé de um Albuquerque, bem temperada com a bondade de sua terça tabajara e o gosto pelas letras e pelas urbanidades que herdou dos Cavalcanti” (6). 





 O Engenho “Goiana Grande”   
  
    Temos notícias bem concretas que Antonio Cavalcanti de Albuquerque – o primeiro filho sobrevivente varão do florentino Filippo di Giovanni Cavalcanti e da mameluca Catarina de Albuquerque - já em 1602 habitara um engenho na região de Goiana, reconstruído e denominado “Goiana Grande”. Engenho cedo gerenciado também por seu próprio jovem filho primogênito, Jerônimo.
    
     O escritor Ângelo Jordão Filho em seu livro “Povoamento, Hegemonia e Declínio de Goiana” chama nossa atenção para uma visita do irmão do conde de Atalaia a este engenho “Goiana Grande” - visita relatada por Frei Vicente do Salvador. Na ocasião o irmão do conde, sem encontrar Antonio no engenho, pois este teria ido ao Recife, fora muito bem recebido por um seu filho Jerônimo com todas as honras e requintes a ele devidos. Este episódio também referido por Pereira da Costa em “Anais Pernambucanos” (7). 

     Na descrição do talentoso escritor Jordão Filho, a região de Goiana teria sido paradisíaca, muito frutífera e piscosa, onde o sertanista Diogo Dias nos primeiros momentos de ocupação teria erguido o engenho “Recunzaém”. Engenho duas vezes destruído por ataques de índios potiguaras - com cruéis perdas de vidas.
     As terras deste engenho destruído por indígenas teriam sido depois vendidas pelo filho de Diogo, Bartolomeo Dias, e adquiridas pelo florentino Filippo Cavalcanti para o filho primogênito, João, ainda muito jovem - supomos pelas datas com cerca de quatorze ou quinze anos nesta ocasião - pois o documento do pedido de licença para esta aquisição é datado de 1577, “em nome de João Francisco Cavalcanti de Albuquerque, de Araripe” - documento agora referido por Jordão Filho (8). 
    Se Filippo Cavalcanti aportou por aqui por volta de 1560, seu casamento ocorrendo pouco depois, o citado João só poderia ser este seu primeiro filho - o que teve morte precoce como nos indica a genealogia de Borges da Fonseca - e as terras adquiridas teriam sido necessariamente herdadas pelo irmão nascido em seguida, o nosso Antonio (9). 
   O historiador Evaldo Cabral de Mello, usando fontes holandesas, em trabalho recente confirma que o engenho “Goiana” foi realmente propriedade de Antonio Cavalcanti de Albuquerque, e em 1623 já produzia 12 487 arrobas de açúcar, tendo sido vendido nesta ocasião para o comerciante Gaspar Pacheco (10). 
     E o jovem Jerônimo, que tão bem recebera o irmão do conde de Atalaia neste engenho “Goiana” em 1602 - constatamos adolescente ainda naquela época – era o primeiro filho de Antonio com a muito alva e loura Isabel de Goes. (11).
   
   Observamos que a jovem Isabel de Goes, por ocasião de seu casamento com Antonio, era já irmã dos seus dois cunhados - Cristovam e Antonio de Holanda Vasconcellos. A família Cavalcanti de Albuquerque, portanto, já entrelaçada por laços de casamento com a família Holanda, igualmente donos de engenho e produtores de açúcar em Pernambuco desde o período de D. Duarte (12).  
   Por fontes genealógicas exaustivas e muito bem analisadas hoje em dia, temos que o pai de Isabel - o fidalgo Arnau de Holanda - havia chegado a Pernambuco quando da formação da capitania, descendente de uma rica família da elite germânico-flamenga natural de Utrech, filho do “alemão de nação” Hendrick Von Holand, tido como barão de Rhijnburg (Rhenoburg ou Reinburg na forma alemã), e de sua mulher a flamenga Margarida Florentz.  A jovem Isabel de Goes prestigiada à época, pelo lado de sua avó paterna, como sobrinha-neta do papa Adriano VI - da família Florentz-Dedel (13). 
    Assim sendo, endossamos que Isabel de Goes, filha de Arnau de Holanda com a fidalga portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos, fosse muito alva e loura (14) - pois é fato notório no nordeste brasileiro que a descendência de Arnau teve, freqüentemente, olhos claros e cabelos muito louros. 

   Com Isabel, Antonio Cavalcanti de Albuquerque teria tido treze filhos: Jerônimo, Manuel, Paulo, Felipe, Brites, Isabel, Maria, Úrsula, Paula (citados por Jaboatão), Lourenço, Antonio, Joana (acrescentados por Borges da Fonseca), ainda referido um Jorge (15).

    Mas esta numerosa e certamente ilustrada prole de Antonio Cavalcanti de Albuquerque – miscigenada mais uma vez por sangue germano-neerlandês e estabelecida na tropical e paradisíaca região de Goiana – cedo terá de enfrentar as dores e os grandes sofrimentos da invasão holandesa por compromissos familiares com seus parentes colaterais “brancarrões”, Albuquerque Coelho, os donos da capitania de Pernambuco. 
   
    Já dois dos irmãos mais moços de Antonio - Lourenço e Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque – filhos do florentino com Catarina, haviam participado da luta de defesa contra o ataque militar da companhia de comercio holandesa (WIC), quando de sua primeira tentativa de estabelecimento na Bahia em 1624. 
    O irmão Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, tido como um notável guerreiro, teria falecido em 1624, solteiro (16). Foi coronel e comandante de forças enviada por Matias de Albuquerque à Bahia em 1624 (17). 
     O outro irmão, Jerônimo, Cavaleiro da Ordem de Cristo em 1625, igualmente enviado por Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a retomada final da praça aos holandeses, também teria lutado como um bravo, voltado a Pernambuco já como Governador de Armas (18). 



  A guerra holandesa e os próprios filhos de Antonio - A retirada de Goiana      
  
     Dois dos filhos do próprio Antonio - Manuel e Paulo - muito jovens ainda haviam escolhido seguir a vida religiosa. E, por informações por nós obtidas, o filho capuxinho Manoel por volta de 1626 teria mesmo chegado a viver em um convento em Portugal (19) (20).

     Mas, já em 1633, o filho homônimo de Antonio será também convocado para um cargo de responsabilidade na guerra de defesa, pois os holandeses haviam conseguido estabelecer-se em Recife e Olinda em 1630 – ocupando Antonio II o elevado posto de Capitão-Mor do Pará e depois novamente do Maranhão em 1536. Já seu cunhado  Francisco Coelho de Carvalho, casado com  a sua irmã Brites, aí se estabelecia  como Governador e Capitão General do Estado do Maranhão e Grão-Pará (21). 
    
    Notamos, portanto, que a família ampla Cavalcanti de Albuquerque, descendente do florentino e estabelecida em Goiana, desde o início das invasões holandesas sofria os efeitos desta guerra e não aceitou, absolutamente, ser conivente com a ocupação do inimigo que se estabelecia, causando-lhes grandes prejuízos em suas atividades açucareiras. Assim sendo inevitavelmente  três outros filhos varões de Antonio, pouco depois, se vêm obrigados a abandonar a região em luta, deixando para trás engenhos e parte da família - o pai idoso, ainda a irmã Isabel casada na família Bezerra Monteiro (22).
     
    Em meados de 1635 o já referido filho primogênito de Antonio, Jerônimo, tornado no ano anterior fidalgo Cavaleiro da Ordem de Cristo, retirava- se de Goiana liderando parentes, bens e agregados em muito dura jornada. 
   Vendido o engenho “Goiana Grande”, Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque abandonava ao inimigo três de seus engenhos na região de Goiana: o “Mussumbu”, “Bujari” e o “Capiberibe’ - os dois últimos em 33 até mesmo incendiados por tropas holandesas.      
    O engenho “Santos Cosme e Damião” da tia Margarida, filha do florentino, também foi aí abandonado.  Jerônimo participava da retirada acompanhando pelo primo Lourenço - filho da tia Felipa, que deixava para trás igualmente o engenho “Ipitanga”, herdado por ele (23). 
  
   Seguidos por parentes, agregados e conduzindo pertences, Jerônimo e Lourenço Cavalcanti de Albuquerque retiraram-se rumo a Alagoas e depois à Bahia, combatendo e seguindo as forças militares comandadas pelo parente colateral Matias de Albuquerque Coelho – forças que vencidas na tomada do Forte do Arraial de Bom Jesus necessariamente deveriam recuar. A idosa tia Felipa, mãe de Lourenço, os acompanhava nesta difícil retirada. 

    
     O historiador Evaldo Cabral de Mello, em seu livro “Rubro Veio”, comenta a atuação decidida da família Cavalcanti de Albuquerque em episódio marcante da nossa história:

    “... com a rendição do Arraial [do Bom Jesus] e do Cabo [de Santo Agostinho] (1635) foi a vez dos proprietários pernambucanos porem-se em marcha sob a proteção das tropas de Matias de Albuquerque em rota para Alagoas e, perdida esta, para a Bahia... 
  ... o fato de oito engenhos em nove serem aí [em Goiana] abandonados explica-se pela presença absorvente da família Cavalcanti de Albuquerque, dona da metade deles, e pela atitude dos seus chefes, os primos Lourenço e Jerônimo Cavalcanti que se negaram intransigentemente a qualquer composição com os holandeses, liderando mesmo a “linha dura” da resistência” (24). 
   
    O historiador João Ribeiro também descreve a epopéia da retirada das forças de Matias: 

   “... uma grande turba de velhos e moços, mulheres e crianças, comovidos pela notícia do êxodo, seguiram o chefe derrotado arrostando as privações e os perigos da longa marcha por terra agora suspeita; iam nesse séqüito muitas famílias ricas com seus escravos, gado e animais domésticos, após uma vanguarda de índios que iam clareando os caminhos. Seguiram para o sul através de florestas, com as contínuas surpresas da fome, da sede, e da guerra...” (25). 
     
    Este Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque, filho primogênito de Antonio que havia acompanhado a duríssima retirada de Pernambuco em luta para a Bahia ainda assumirá pouco depois sua responsabilidade administrativa colonial, característica dos Albuquerque com a Coroa, sendo nomeado Governador de Cabo Verde (1639-40) na África. Segundo antigos genealogistas, Jerônimo aqui, entretanto, não teria deixado descendência .   Mas a filha Brites, muito bem casada na família Coelho de Carvalho de administradores portugueses dará ainda gerações de donatários na Capitania de Camutá ou Cametá (26). 

     
    Dois outros filhos varões de Antonio, Felipe e Lourenço, no mesmo ano do recuo do irmão Jerônimo (1635) teriam também tomado o rumo do exílio na Bahia, aparentemente por outros caminhos (27).   
    Mas o idoso pai Antonio, a filha Isabel Cavalcanti e sua família - sugerimos também o filho jesuíta Paulo e o caçula Jorge - tivessem permanecido no Pernambuco ocupado, na companhia das filhas religiosas (28). 



 O neto “Antonio da Guerra”, o filho “mazombo” Jorge, ainda os descendentes do filho Filipe. 
   
  
    Em Pernambuco, ao fim da vida, o patriarca Antonio Cavalcanti de Albuquerque, com o pequeno núcleo de filhos remanescentes, provavelmente teria acompanhado as tentativas de resistência, de senhores de engenho e colonos que também haviam permanecido em Pernambuco, frente à dominação holandesa. Conspirações que em 1638/39 terminaram em deportações, torturas e mesmo mortes de senhores de engenho, alguns deles seus parentes, que tentavam dar apoio aos “campanhistas”. Campanhistas era a denominação que na época levavam os elementos rebeldes que ainda se mantinham em atividades de resistência pelo interior (29).  
   Lembramos que a filha Isabel havia também permanecido no Pernambuco ocupado, criando e educando seus próprios filhos, ainda atuando ao lado seu segundo marido, Francisco - membro da muito aguerrida família Bezerra Monteiro, família já muito penalizada, mas a que tudo indica ainda resistente (30).   Desta filha Isabel descenderá o neto homônimo, notório herói contestador - Antonio “da Guerra Holandesa”. 
   
   Este jovem neto Antonio “da Guerra”, filho de Isabel por primeiro casamento com Manuel Gonçalves Cerqueira, desde muito cedo participara dos sofrimentos de sua família ampla Cavalcanti de Albuquerque pela invasão holandesa e, por levar certamente a decisiva influencia cultural e política deste seu avô materno, desempenhará um papel relevante em nossa História. Antonio “da Guerra”, por suas responsabilidades familiares com o parente colateral Matias de Albuquerque Coelho, será o líder da “nobreza da terra” – elemento encarregado, pelos pernambucanos de modo geral, de dar novo impulso à luta para a expulsão do inimigo a partir de 1641, chegando a ter em 1645 sua cabeça posta à prêmio pelo invasor.
    Antonio “da Guerra” no ano de 1645 ainda pretenderá fazer predominar sua própria liderança na luta Restauradora frente ao reinol João Fernandes Vieira, o representante da coroa - num dos primeiros posicionamentos claramente nativistas do período colonial. 
     Deste “Antonio da Guerra” descenderá, na próxima geração, os ramos Uchoa Cavalcanti e Bezerra Cavalcanti – geração já de nítida atuação libertária, mesmo precocemente republicana, agora frente às próprias autoridades portuguesas. Os “nobres da terra”  Bezerra Cavalcanti,  lideranças rebeldes frente à coroa,   severamente punidos e até mesmo martirizados na guerra contra os mascates portugueses, na virada do século (31). 
  
   Temos ainda que um filho do patriarca Antonio - o caçula Jorge Cavalcanti de Albuquerque (c. de 1605-1695) - ao fim do século foi também trágica figura de pertinaz “mazombo”, como o próprio sobrinho “Antonio da Guerra”.  Jorge, já idoso, atuando ao fim da guerra holandesa de forma individual e anárquica, ou até articulada com os sobrinhos-bisnetos Bezerra Cavalcanti, chegou a morrer na prisão - personalidade controversa, apresentada e bem documentada pelo historiador contemporâneo Evaldo Cabral de Mello nos primeiros capítulos de sua obra a “Fronda dos Mazombos” (32). 
   
  Mas caberá a um dos seus filhos do meio do patriarca Antonio, ao discreto Felipe Cavalcanti de Albuquerque (c.1596-1657, Ipojuca, PE) que havia recuado para a Bahia participando da luta contra os holandeses, Cavaleiro da Casa Real em 1638, dar seqüência varonil a este ramo central e legítimo dos fidalgos Cavalcanti de Albuquerque em Pernambuco no século XVII.
     Felipe casara, durante sua permanência na Bahia, com a jovem Maria de Lacerda, filha de D. Isabel de Moura - senhora de família colonial prestigiosa, dona do engenho “Boa Vista” que igualmente recuara. A venerável D. Isabel era já na época viúva de Antonio Ribeiro de Lacerda, herói português falecido no assalto do convento de Santo Antonio, frente aos holandeses. Felipe, com este ilustre casamento, dará seqüência ao ramo familiar central dos Cavalcanti de Albuquerque e teria voltado à Ipojuca (PE) ao fim da guerra holandesa com cinco filhos ainda pequenos. Observamos que pouco tempo depois de assumir cargo na Santa Casa de Misericórdia em Olinda, no mesmo ano de 1557, Felipe vem a falecer (33).     

   Deste filho Felipe do patriarca Antonio - pelo neto Jerônimo (Capitão-Mor de Itamaracá, atuante em 1692); o fidalgo e bisneto Manuel Cavalcanti de Albuquerque, dono do engenho “Tapiruna” (também atuante em 1710); o terceiro neto José Cavalcanti de Albuquerque - este por fim estabelecido nos meados do século XVIII em Alagoas – descende o ramo fidalgo central e varonil dos Cavalcanti de Albuquerque - até hoje estabelecido no tradicional engenho da família, o “Castanha Grande”. 
   
   Gerações continuadas que se demonstraram sempre, por seus mais ilustres membros, conscientes de sua miscigenação cultural e responsabilidade social - políticos e administradores ainda muito ativos, sobretudo cultores das tradições literárias e republicanas de lendários poetas, os Cavali-i-Canti (34). 




Notas

(1) Nossas informações genealógicas, preferencialmente recolhidas em Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, pg. 292. Sua listagem é baseada na “Nobiliarquia Pernambucana” de Borges da Fonseca, corrigida pelo notável genealogista Carlos Xavier de Paes Barreto. Esta autora refere como filhos do florentino e de Catarina, todos com o sobrenome Cavalcanti de Albuquerque, nesta ordem: João (falecido em criança), Antonio, Lourenço, Jerônimo, Felipe, Genebra, Joana, Margarida, Catarina, Felipa, Brides. A genealogista refere casamento e descendência desta mesma prole, sem referir datas.    
     Outras informações sobre Antonio Cavalcanti de Albuquerque, cuja data de nascimento foi por nós calculada em c.1564, sua esposa Isabel de Goes, irmãos e descendentes, ver também em Torres, Rosa Sampaio, artigo “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho “Castanha Grande", no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/, onde as primeiras tentativas de análise da vida de Antonio foram realizadas. Sobre as demais tentativas de datar o nascimento de seus filhos ver nas nota 3 e 19.
   Sobre as famílias formadoras Cavalcanti e Albuquerque, na Europa e no Brasil, ver mais fontes de informação na nota 5.
(2) Informações colhidas em Bittencourt, Adalzira - opus cit., pg. 292.
(3) Também não temos informações seguras sobre a data do casamento de Antonio com Isabel de Goes. Entretanto, sabemos que o filho Jerônimo do casal deveria ter, pelo menos, uns dezessete anos em 1606. Portanto, seu casamento deve ter ocorrido por volta de 1589. A data de nascimento da filha do casal, Isabel Cavalcanti, é referida no ano 1590 pelo “fichier Guy Spillbeen-51”, mídia eletrônica européia, que fornece também as datas do nascimento dos próprios filhos de Isabel, datas que temos como muito prováveis e corretas.  O filho Felipe, de Antonio, tem seu nascimento referido em 1596, por algumas fontes genealógicas. Sobre o assunto, datas do nascimento dos filhos e fontes ver discussão nota 19.
(4) Pelo menos estes dois engenhos herdados por Antonio de seu pai, o florentino, segundo Evaldo Cabral de Melo em O Bagaço de Cana, Penguin & Companhia, 2012. Nomes e detalhes dos demais engenhos abandonados em Goiana pelos Cavalcanti de Albuquerque no ano de 1635, ver nota abaixo 23. 
(5) Sobre seu pai Filippo di Giovanni Cavalcanti e seu avô florentino, Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, já então falecido (1542) - ainda os tios Guido, Schiatta e Giovanni e demais parentes da elite fidalga européia renascentista, freqüentadores e administradores de cortes papais e reais na península italiana, Inglaterra e França, precoces defensores republicanos - temos já realizados inúmeros trabalhos históricos, todos publicados em nosso blog. Incentivamos sejam eles consultados, em especial os artigos “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, “Medici X Cavalcanti”, “A Conspiração Pucci e Cavalcanti de1559”, “Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti” “O poeta e político Guido Cavalcanti”, “Os sdegnosos Cavalcanti”, “O quadro Rebeca ao Poço”, entre outros, todos com fontes indicadas.  
      Estes trabalhos citam vasta bibliografia sobre as famílias formadoras Cavalcanti e também Albuquerque, na Europa e no Brasil, ainda sobre a formadora tribo Tabajara.   
(6) Albuquerque, Maria Cristina Cavalcanti de - O Magnificat, Memórias Diacrônicas de Dona Isabel Cavalcanti, Tempo Brasileiro, RJ, Fundação Roberto Freire, 1990, pg. 32.  
    A autora recria a personagem Antonio com mestria e apenas sugere, pela anomia causada pela morte de Dona Brites na capitania, uma viagem dele à corte portuguesa antes de seu casamento, onde teria mantido diálogo político com os jovens Albuquerque, D. Duarte e Matias, herdeiros da capitania. 
(7) Jordão Filho, Ângelo - Povoamento, Hegemonia e Declínio de Goiana, Recife, Cia. Editora de Pernambuco, 1977, pg. 162, citando Frei Vicente do Salvador, História do Brasil, pg. 304 e segs.; ainda Pereira da Costa, Anais Pernambucanos, Vol. I, pg. 420.  
(8) Documento citado, mesmo sem ter noção de sua relevância, por Jordão Filho, Ângelo - Povoamento, Hegemonia e Declínio de Goiana, Recife, Cia. Editora de Pernambuco, 1977, pg. 159. A certidão de compra destas terras, referida por Jordão Filho, consta de documento doado à municipalidade da atual cidade de Goiana, editada na “Revista do Instituto Histórico de Goiana”, ano 1871, fls. 34 3 e 39, devendo ser ainda consultado o original para maior segurança do que inferimos.
(9) Referidos por Jordão Filho ainda a presença de antigos engenhos na região (mais seis, além do "Goiana Grande") – o “Bujari”, “Mariana”, “Jacaré”, “Engenho Novo [ou Ipitanga?]”, “Japomirim” e “Boa Vista” ou “Três Paus”, segundo o autor alguns deles propriedades de Jerônimo e de seu primo Lourenço, filho de sua tia Felipa.
   Confirmamos que Felipa Cavalcanti de Albuquerque, filha do florentino e da mameluca Catarina, irmã de Antonio, casara com um dos filhos de Arnau de Holanda - Antonio de Holanda de Vasconcelos, que fora dono do engenho “Ipitanga” em Goiana.  (Cabral de Mello, O Bagaço..., pg. 144-145). Felipa também se retirara da região em 1635, abandonando este engenho e acompanhando seu filho Lourenço, já então seu herdeiro, com os demais da família (Informações da revista IAGP, vol. 20-27, 1871). 
   Já o engenho “Boa Vista”, antigo “Três Paus” em Serinhaém, havia sido propriedade de Antonio Ribeiro de Lacerda, herói falecido na luta contra os holandeses. Deste engenho “Boa Vista” sua viúva, Isabel de Moura, também se retirou e a posse do engenho será motivo de muito litígio, finda a guerra holandesa. Sobre este litígio ver Torres Rosa Sampaio – artigo “Jorge Cavalcanti de Albuquerque” no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(10) O engenho “Goiana Grande” foi também saqueado como outros da região em 1633, durante a ocupação holandesa. Cabral de Mello, Evaldo - O Bagaço de Cana, 2012, pg. 146.
(11) Jerônimo é colocado na lista de Bittencout, opus cit, pg. 362, como o primeiro da dos filhos de Antonio e Isabel de Goes. Neste caso filho primogênito e herdeiro.  Na lista dos descendentes dos Holanda do site Genealogia Pernambucana, entretanto, o filho Antonio (II) é colocado no primeiro lugar, e referido como tendo morrido solteiro.         
   Preferimos aceitar, as informações seguras de Bittencourt quanto à sequência dos primeiros filhos do casal patriarca, além do mais levando em conta que o historiador Evaldo Cabral de Mello nos confirma a própria posse por Jerônimo, já no ano de 1635, dos engenhos abandonados - data naturalmente anterior a própria morte de seu irmão Antonio II, pois este ainda em 1636 teria no Maranhão ocupado o cargo de capitão-mor. Mais sobre o filho Antonio, o segundo do mesmo nome, ver texto abaixo e nota 21.
(12) Catarina, filha de Filippo Cavalcanti e da mameluca Catarina e irmã de Antonio, foi casada com o filho de Arnau de Holanda, Cristovam de Holanda Vasconcellos (Adalzira Bittencourt- opus cit., pg. 305). Sua irmã Felipa também casada com outro filho de Arnau de Holanda, Antonio de Holanda de Vasconcellos. Estas moças Cavalcanti de Albuquerque posteriormente darão origem a ramos de Holanda Cavalcanti também atuantes na “Guerra dos Mascates”. 
     Felipa, casada com Antonio de Holanda de Vasconcellos herdou o engenho “Ipitanga” e o passara ao seu filho Lourenço Cavalcanti de Albuquerque (Adalzira Bittencourt- opus cit. pg. 305 e Cabral de Mello Evaldo - O Bagaço de Cana, pg.144). Felipa recuou para a Bahia com este seu filho Lourenço - que nascido em Goiana, na Bahia foi casado com Ursula Feio, com geração, não mais voltando a Pernambuco. Ver outros detalhes nota acima 9.    
   Acrescentamos que Arnau de Holanda Barreto, já neto de Arnau de Holanda por sua mãe Ines de Goes, na guerra holandesa não recuou. Foi casado com Luíza Pessoa e teve ainda uma filha, Maria Pessoa que na seguinte geração foi casada também na família Cavalcanti de Albuquerque com um filho já de Antonio “da Guerra”, João Cavalcanti de Albuquerque - o casal com numerosa prole de Cavalcanti de Albuquerque (Adalzira Bittencourt - opus cit. pg. 296). Sobre as atividades de Arnau de Holanda Barreto nesta guerra holandesa, ver Torres, Rosa Sampaio trabalho “Antonio da Guerra Holandesa”, próximo no blog.
(13) Arnau de Holanda seria descendente de família da elite germânico-flamenga, natural de Utrech, filho do “alemão de nação” Hendrick Von Holand tido como barão de Rhijnburg (Rhenoburg ou Reinburg na forma alemã) e de sua mulher, a flamenga Margarida Florentz - informações colhidas a partir de declarações seus filhos à Inquisição - ainda Borges da Fonseca, baseado no Pe. Antonio Carvalho da Costa, Corografia Portuguesa – 1712, indicações citados pelo historiador Cabral de Mello, Evaldo – O Nome e o Sangue – Cia. da Letras, 1989, pg. 99-104. 
   Side da família Holanda consultado, indica ainda Arnau de Holanda como Barão de Theorobonet, nascido em Utrecht, Holanda e falecido em 24/06/1614 em Pernambuco, aqui casado com Brites Mendes de Vasconcelos, nascida c. 1525 em Lisboa, e falecida em 19/12/1620 em Olinda.
    Devemos o observar que a postura religiosa de Arnau de Holanda , judaica ou cristã-nova, é hoje historiograficamente discutida.
    Sabemos que Arnau de Holanda teria chegado à Pernambuco ainda no período de D. Duarte, certamente antes de 1550, e aqui se casara com esta jovem fidalga Brites Mendes de Vasconcelos, protegida da rainha portuguesa - aparentemente filha do camareiro de D. Luiz, Bartolomeu Rodrigues e sua mulher Joana Goes de Vasconcellos. 
    Segundo o nosso historiador Cabral de Mello, suspeitas genealógicas modernas de que Brites Mendes de Vasconcelos seria cristã-nova ou judaizante não se sustentam, pois havia na colônia, neste período, quatro Brites Mendes obviamente marranas, e o próprio depoimento de Brites Mendes de Vasconcellos, frente à Inquisição, afirma que ela era cristã-velha. Sugerido por Evaldo Cabral de Mello fosse a jovem fidalga fosse apenas uma filha ilegítima do próprio D. Luíz, por este motivo aqui chegada muito jovem, sendo protegida pela rainha. 
    A jovem filha de Arnau, Isabel de Goes, esposa de Antonio era tida à época, pelo lado de sua avó paterna, como sobrinha-neta do papa Adriano VI e da família Florentz-Dedel, mas temos que este próprio parentesco de Isabel de Goes com o papa Adriano é atualmente questionado, pois este papa teria tido apenas irmãos homens. A mesma fonte genealógica, ainda que não inteiramente confiável por seus propositais e persistentes equívocos, sugere que um título de nobreza poderia ter sido oportunamente comprado pela família Holanda, quando ainda na Europa. Esta fonte afirma ainda que Arnau seria um neto de Jacob Holanda, rico mercador de origem judaica, não converso, ligado aos principais banqueiros da época Fugger e Welser, com indicações de que a família já estaria em apuros frente a Inquisição. Há também sugestão de que um irmão de Arnau, Diogo, chamado Salomão, teria sido convocado ao Tribunal da Inquisição em Portugal em 1561, mas liberado (Doria, Francisco Antonio e outros - Cavalcantis: na Itália, no Brasil. Ed. Lulu.com e seu blog da família Holanda, na mídia eletrônica).  
     Sobre os descendentes de Arnau de Holanda casados com Cavalcanti de Albuquerque e outras famílias em Pernambuco, suas atuações durante a guerra contra os holandeses ver Cabral de Mello, Evaldo – O Nome e o Sangue – Cia. da Letras, 1989, pg. 104 e Torres, Rosa Sampaio - artigo “Antonio da Guerra holandesa”, próximo no blog. 
(14) Descrição de Isabel de Goes pela romancista Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque – opus cit. pag. 37. 
(15) Esta listagem dos filhos de Antonio e Isabel de Goes é a fornecida por Bittencout, Adalzira, opus cit., pág. 292, com indicações de Jaboatão e Borges da Fonseca. Mas a ordenação dos nomes não nos parece a mais correta. Outras listagens genealógicas, não tão confiáveis, fornecem outras ordens de nascimento e ainda algumas datas, indicações não referidas em Bittencourt. Assim sendo, estamos atualmente trabalhando para tentar acertar a ordem do nascimento destes filhos, para que possamos estabelecer contesto cronológico e histórico que se faça mais coerente. Ver tentativa na nota a seguir 19.
(16) Bittencout, Adalzira- opus cit., pág. 301.
(17) Gusmão, Oziel – livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e Cavalcanti”, tendo como fonte Frei Vicente do Salvador.
(18) Bittencout, Adalzira, opus cit. pág. 301.  Este Jerônimo, irmão de Antonio, voltando a Pernambuco deixará geração ilegítima com Barbara Soares, descendentes ainda citados por Bittencout, Adalzira, opus cit. pág. 301, seguindo Jaboatão e Borges da Fonseca. A segunda frase do parágrafo acrescenta notícias de Gusmão, Oziel – livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e Cavalcanti”, baseado inclusive nas Memórias Diárias de D. Duarte de Albuquerque Coelho. 
(19) Na listagem preferencial usada por nós para os estudos dos descendentes de Antonio e Isabel de Goes – A. Bittencourt – opus cit, pg. 292 – 294 - é indicado que entre os nascimentos dos filhos Jerônimo [aqui calculado como nascido cerca de 1589] e Felipe [dado em diversas fontes como nascido em 1596] teriam nascido dois outros filhos homens que não tiveram descendência, pois se tornaram religiosos - o frade Manuel de Santa Catarina, capuchinho, que professou em 10/12/1608 [e teria ido para Portugal, ver nota a seguir 20] e o PE. Paulo, guardião visitador do Colégio dos Jesuítas, falecido em 1693 deixando vários trabalhos [em Pernambuco]. 
     A Felipe teria sido seguido por filhas mulheres: Brites [casada com Francisco, o Governador do Pará e Maranhão, da importante família Coelho de Carvalho], Isabel [mãe do Da Guerra, casada duas vezes, 1º com um neto dos Cerqueira Férulas e depois com um Bezerra Monteiro], [Sóror] Maria, Úrsula, Paula (estas duas no site Genealogia Pernambucana tidas também como religiosas]. Ainda citados dois outros filhos homens: Lourenço Cavalcanti de Carvalho que recuou para a Bahia e Antonio C. de A., filho homônimo [que sucede seu cunhado Coelho Carvalho no cargo de capitão-mor] ainda a filha Joana (que em outra lista, Gen. Per., teria morrido solteira). Acrescentado ao fim da listagem um filho varão, Jorge – [certamente o filho mais moço, que na maturidade se demonstra membro “da nobreza da terra” contestadora em Pernambuco, referido no texto abaixo nas notas 31 e 33].
   Entretanto, há de nossa parte ainda dúvidas quanto à correta ordem e datas de nascimento destes filhos de Antonio, ordem e datas que não são, como anteriormente comentamos, explicitadas pelos genealogistas tradicionais que informam a lista de A. Bittencourt. 
   1- O filho homônimo Antonio, no side de mídia eletrônica Gen.Pernambucana é tido mesmo como o primeiro filho, mas a este respeito já pensamos ter tirado duvidas em favor mesmo de Bittencourt que o coloca quase ao final da prole. Ver nota 11. 
   2- Temos ainda que Isabel - referida em Gen. Pernambucana como nascida em 1583 (data que achamos muito precoce, pois seu pai seria então muito novo na ocasião) - no “fichier Guy Spillbeen-51”, mídia eletrônica, a data fornecida para seu nascimento é 1890 – data muito mais provável, pois ela encaixa bem com as fornecidas pela mesma fonte para o nascimento dos seus próprios filhos [nascidos a partir de 1605]. Ainda próxima ao nascimento de seu irmão Jerônimo (c. de 1589) - data calculada a partir do episódio da visita do irmão do conde de Alegrete à Goiana, ele ainda adolescente.     Assim sendo, temos por hipótese que Isabel pode ter sido, na verdade, o segundo filho de Antonio e Isabel de Goes. Ver ainda comentários notas 3 e 19.
(20) Em nossas pesquisas localizamos interessante comentário sobre uma carta do filho de Antonio, Manoel C. de A. ou Emanuel Cavalcanti, frade da Ordem dos franciscanos menores, carta escrita em dezembro de 1626. 
     Por esta carta, quase um século depois da chegada de seu avô Filippo a Pernambuco, este neto Manoel, que segundo este comentário já estaria vivendo em Portugal, tentava obter do duque Medici Ferdinando I uma nova certidão de nobreza da família em Florença.  Nesta oportunidade Manuel descreve as anteriores condições de vida levadas por seu avô florentino na Colônia, de forma detalhada e mesmo enaltecedora. 
      Este comentário foi publicado em Memoires de la societé Imperiale, Douai, V. Wartelle, 1863, pg. 229, refere “raquête du 31 dezembro de 1626, tiré du 9e volume p.57, affairs et rapports classe 1, Distincione 35, Archives de Riformagioni à Florence”.     
        Sugerimos que esta solicitação do capuxo Manuel Cavalcanti de Albuquerque aos Medici tenha sido redigida pela necessidade sua ou do seu pai Antonio, ou mesmo da família, de permanecer ou mesmo tentar retornar à Europa, em especial pela aproximação e perigos que já corria a família pela invasão holandesa (a carta é de 1626), com titularidade e fidalguia em dia, sem mais perigo de novas perseguições da família Medici. 
      A discussão e detalhes desta carta são referidos em trabalho a ser publicado no blog da autora, sob o título “Notícias aos Medici de Felippo di Giovanni Cavalcanti na Colonia”. 
(21) Nota-se que Francisco Coelho de Carvalho, casado com sua irmã Brites, foi Governador e Capitão General do Estado do Maranhão e Grão-Pará, deles descendendo os futuros donatários da Capitania de Camutá ou Cametá, da importante família Coelho de Carvalho. Francisco era, portanto, cunhado de Antonio II,  e observamos que o seu irmão Lourenço levou também o sobrenome Carvalho. Sobre Antonio II, ver mais nota 11. Sobre Lourenço nota 22.
(22) Inferimos, naturalmente, que Felipe tenha também recuado para a Bahia em 1635, pois na Bahia Felipe se casou com Maria de Lacerda, cuja mãe D.Isabel de Moura havia também recuado e abandonando o engenho “Boa Vista”, estabelecida no recôncavo baiano, no engenho “S. Paulo” (Cabral de Mello, Evaldo - O Bagaço... pg.119). Felipe só retornará ao engenho Ipojuca (PE) bem mais tarde, ao fim da guerra. 
       Bittencourt, A. – opus cit, pg. 294 se refere ainda ao filho do patriarca Antonio, Lourenço Cavalcanti de Carvalho, que não leva notamos o sobrenome Albuquerque e sim o Carvalho de seu cunhado Francisco Coelho de Carvalho, casado com a irmã Brites.  Lourenço em 1635, como seu irmão Felipe, “transportou-se” para a Bahia, segundo ainda esta mesma genealogista.  O verbo “transportou-se”, nesta situação é sugestivo e aparentemente indica a permanência de Lourenço na Bahia. Borges da Fonseca refere um filho deste, João Cavalcanti de Albuquerque, que segundo algumas fontes teria também lutado contra os holandeses.        
    Ver ainda sobre o recuo destes dois filhos de Antonio I, Felipo e Lourenço, na nota 27 e mais sobre Felipe, texto adiante e nota 33.
(23) Sobre fontes que se referem ao o numero dos engenhos abandonados pelo Cavalcanti de Albuquerque em Goiana:   
      - Mello, Evaldo Cabral de, em Rubro Veio, Top-Books, 1997, p. 434, 435, refere-se a oito engenhos abandonados aos holandeses na região, a metade dos Cavalcanti de Albuquerque, sem menção de nomes e sem fontes indicadas. 
     - Gusmão, Oziel Cavalcanti - livreto “Notas sobre os Albuquerque Cavalcanti, 1997”, para uso familiar do ramo do “Castanha Grande”, são referidos como abandonados por Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque três engenhos e uma fazenda. Dois outros seriam de propriedade de Lourenço Cavalcanti de Albuquerque, o filho de Filipa com Antonio de Holanda Vasconcelos.
      - Em seu livro mais recente “O Bagaço de Cana”, de 2012, Evaldo Cabral de Mello nas pgs. 144-149, usando fontes holandesas, conseguirá já identificar como pertencente a Jerônimo Cavalcanti, e por ele abandonados, os engenhos “Bujari”, “Capibaribe” ou “Três Paus” (?), herdados de seu pai Antonio, e o “Mussumbu”, por ele próprio levantado e tido em sociedade com seu primo Lourenço.  Já o engenho “Ipiranga” seria de propriedade única de seu primo Lourenço Cavalcanti, herdado de sua mãe Felipa, outra filha do florentino. Ver nota 9 e 11 acima.  O engenho “Cosme e Damião”, igualmente abandonado na região era de propriedade da tia Margarida, por seu primeiro casamento com Cosmo da Silveira.  Total das informações recentes de Cabral de Mello - cinco engenhos da família Cavalcanti de Albuquerque abandonados na região de Goiana.
    Entretanto a fazenda lembrada por Oziel Gusmão (fonte D. Duarte) não é referida por Cabral de Mello. Seria a fazenda Monjope, em Iguaraçu doada aos jesuítas?
   O engenho “Goiana Grande” já fora vendido por Antonio em 1623; o “Bujari” e “Capiberibe” incendiados em 1633 por tropas holandesas. 
    Lembramos, finalmente, que o engenho “Bujari”, levantado por Diogo Dias e refundado pelo florentino Filippo Cavalcanti entre 1585 e 1595, é referido pela romancista Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque como muito aprazível, o preferido por seu filho Antonio para criar sua prole (s/fonte). O engenho teria sido depois propriedade do filho primogênito de Antônio, Jerônimo. Queimado por holandeses foi deixado por Jerônimo para trás ao inimigo (Cabral de Melo- O Bagaço de Cana, pg. 149). A casa grande, porém, fora poupada por ocasião deste incêndio. Depois da guerra holandesa o engenho teria sido recuperado por descendentes da família Cavalcanti de Albuquerque, fato mencionado em Torres, Rosa Sampaio - artigo “Guerra contra os Mascates”, ainda inédito.   
    O engenho “Boa Vista” ou “Três Paus”, abandonado na região de Serinhaém, era de propriedade de D.Isabel de Moura, já viúva de Antonio Ribeiro de Lacerda e cuja filha Maria Lacerda irá se casar já na Bahia com o filho de Antonio, Felipe. Este engenho será cenário histórico de grandes disputas ao fim da guerra holandesa. Ver Torres, Rosa Sampaio artigo “Jorge Cavalcanti de Albuquerque” no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(24) Mello, Evaldo Cabral de - Rubro Veio, Top-Books, 1997, p. 434, 435.
(25) João Ribeiro, História do Brasil – 19ª edição, Livraria Francisco Alves, 1953, pag. 151 e 152, ainda acrescenta sobre a retirada: “... Em Porto Calvo [AL] numa emboscada venceram o chefe holandês Picard, que se rendeu, entregando, dos seus trezentos soldados mais de metade, que era de brasileiros; entre estes estava Calabar e, como é próprio da fraqueza humana, vingaram-se dos seus desastres talvez com a alegria de vê-lo expiar no patíbulo o preço da infâmia”. 
    Matias de Albuquerque dera livre passagem aos 380 homens rendidos de Picard, menos a um que “devia ficar a mercê del-rei” - o mameluco Calabar que os traíra seriamente por melhor soldo - enforcado e esquartejado como castigo da deserção. 
(26) Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, pg. 292, afirma não constar em Jaboatão que este Jerônimo tivesse matrimoniado, e se Borges da Fonseca supõe casamento não acrescenta outras referências. Carlos Eduardo Barata, Dicionário das Famílias Brasileiras, pg. 698, cita este Jerônimo como Governador de Cabo Verde em parte dos anos de 1639 e 1640. Ver sobre Brites e seu marido ver nota 21. 
(27) Ver sobre o recuo de Felipe nota 22. Há sobre este episódio de recuo de Felipe e seu irmão Lourenço uma informação, possivelmente truncada, na mídia eletrônica (blogdosengenhos), registrando que o filho de Antonio, Felipe C. de A., teria “acompanhado seu irmão Lourenço na Restauração da Bahia viajando em uma fragata armada custeada pelo seu pai”. Segue-se nesta nota, entretanto, ainda afirmações sobre um religioso que nos parecem sem nenhum nexo. 
(28) A convicção de que o padre jesuíta, as filhas religiosas e o mais moço Jorge, filhos de Antonio I, tenham ficado em companhia do idoso pai em Pernambuco durante a ocupação está referida às informações obtidas sobre os destinos tomados por seus outros filhos, constantes na nota 19. 
  Não sabemos ao certo a data de nascimento e de falecimento de Isabel de Goes, sua esposa e se ela o acompanhou neste ultimo período de vida - já que as datas fornecidas para ela em sites genealógicos da mídia eletrônica, sem indicações de fontes, repetem os anos de 1556 para seu nascimento (data que a tornaria bem mais velha que o marido), e seu falecimento em 1540 - mesmo ano de falecimento de Antonio.
(29) Sugerimos que os episódios conspirativos descobertos no ano de 1638/39 em Pernambuco – especialmente as ligações comprovadas de senhores de engenho com “campanhistas” – tivessem relação com os prometidos envios, pelo governo espanhol, de expedições navais ao Nordeste para a definitiva expulsão holandesa.   Portentosa esquadra é enviada, realmente, pelas autoridades luso-espanholas ao litoral nordestino nos anos 1639 e 1640 - esquadra sob comando do espanhol Conde da Torre - logo, porém, vencida pelos holandeses em sucessivas batalhas navais no início de 1640.  
     Sobre este episódio que indiretamente envolve a família Cavalcanti de Albuquerque, contexto histórico e político ainda não aprofundado por nossa historiografia, consultar trabalho específico Torres, Rosa Sampaio - “Antonio Cavalcanti de Albuquerque, o da Guerra Holandesa”, com todas as fontes. Artigo ainda em finalização, mas já aberto a consultas.
(30) Sobre a participação dos vários ramos da família Bezerra na guerra holandesa, bem como a especial liderança de Antonio Cavalcanti de Albuquerque, “o da Guerra” (c.1608–1646), consultar o artigo longo e específico, Torres, Rosa Sampaio - “Antonio Cavalcanti de Albuquerque, o da Guerra Holandesa”, em finalização, mas já aberto a consultas.
(31) Sobre a especial participação de Antonio Cavalcanti de Albuquerque, “o da Guerra” (c.1608– set de 1645) no surgimento mesmo do ideal de nativismo, consultar trabalho específico Torres, Rosa Sampaio - “Antonio Cavalcanti de Albuquerque, o da Guerra”, com todas as fontes. Em finalização, mas já aberto para consultas.
(32) Sobre o filho Jorge Cavalcanti de Albuquerque (c.1605-1695), figura notável de “mazombo”, realizamos trabalho de crítica historiográfica sobre sua personalidade, a partir de sua apresentação feita por Evaldo Cabral de Mello em Fronda dos Mazombos, Cia. das Letras, 1995 - artigo publicado no blog- http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ “Jorge Cavalcanti de Albuquerque”.  
(33) Felipe Cavalcanti de Albuquerque em breve comentário em Bittencourt, A – opus cit., pg. 192, também teria “participado da luta flamenga”. Fidalgo da Casa Real, irmão da Santa Casa da Misericórdia de Olinda em 1657. Sobre Felipe C. de A, temos ainda que teria nascido em cerca de 1596 e falecido em 1657, em Ipojuca - datas fornecidas por Carlos Eduardo Barata, DFB, pg. 713. 
    Já comentamos na nota 19 que, segundo a listagem de Bittencourt, A. – opus cit., pg. 192, entre Jerônimo e Felipe teriam nascido dois filhos homens que não tiveram descendência, pois se tornaram religiosos, Manuel e Paulo. Felipe é seguido por várias filhas mulheres, acrescentado ainda ao fim da listagem um filho, possivelmente o caçula Jorge - o mais moço – que adulto atuará como rebelde sistemático contra a coroa. Personagem histórico apresentado por Evaldo Cabral de Mello nos primeiros capítulos da Fronda dos Mazombos Cia. das Letras, 1995. Referido texto acima e na nota 32.
  Acreditamos que Felipe tenha recuado para a Bahia em 1635, pois na Bahia Felipe se casou com Maria de Lacerda, cuja mãe Isabel - viúva do herói Antonio Ribeiro de Lacera - também fora obrigada a recuar abandonando o engenho “Bela Vista” e estabelecendo-se, segundo Cabral de Mello (O Bagaço... pg.119), no recôncavo baiano, no engenho “S. Paulo”.  
    Felipe, na falta de irmãos mais velhos, e já com prole numerosa dará seqüência ao ramo familiar varonil dos Cavalcanti de Albuquerque, tendo voltado à Ipojuca (PE) ao fim da guerra com cinco filhos ainda pequenos (o primeiro, Antonio, nascera em 1647 segundo Bittencourt, A. - opus cit., pg. 291). Felipe teria falecido, entretanto, pouco depois de assumir o cargo na Santa Casa de Misericordia em Olinda, no mesmo ano de 1657. Cabral de Mello (O Bagaço..., pg.119) afirma que Felipe, retornando da Bahia ao final dos enfrentamentos conseguirá ainda retomar o engenho “Trapiche” em Ipojuca, engenho da família de sua esposa, como o “Boa Vista”. Sua filha Isabel de Moura, porém, não irá conseguir manter a posse do engenho “Boa Vista”, que é leiloado a um comerciante português. Sobre o litígio que se segue, consultar nosso artigo “Jorge Cavalcanti de Albuquerque”. Outras informações também constantes em Torres, Rosa Sampaio - “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho “Castanha Grande", já no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/. 
   Bittencourt, Adalzira – opus cit., pg. 292, cita ainda a lista dos descendentes de Felipe: Antonio Cavalcanti de Albuquerque (o mais velho, casado sem filhos), Isabel de Moura, Joana Lacerda de Moura, Mariana Moura Lacerda (casadas na família Marinho Falcão), Ursula e Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque, que dá continuidade a linhagem. 
 (34) A descendência varonil e central de Antonio em Pernambuco é estudada em Torres, Rosa Sampaio - artigo “O ramo Cavalcanti de Albuquerque do engenho “Castanha Grande" no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ A origem da expressão antiga Cavali-i-Canti é explicada também ao fim deste mesmo artigo, com cometários.

Um comentário: