Guia de Casas, Castelos e Ruínas dos antigos Cavalcanti na Toscana

Guia de Casas, Castelos e Ruínas dos antigos Cavalcanti na Toscana


    1 - Casa-Palazzo dos Cavalcanti em Florença

    2 - Ruínas do Castelo do Strinche – em Radda 
       
    3- Ruínas do castelo de Aschianello no Muggelo 

    4 - Villa Bellosguardo - Florença 
    5 – “Piéve” de São Pancrácio em  San Casciano in Val di Pesa, onde esteve situado o Castelo de Montecalvi. 
    6 - Casa de Fazenda dos Cavalcanti e Guicciardini e “Piève” di S.Pietro em  Pitiana.
    


Adendo   
     -  Região de Austin Friars Lane no centro de Londres, Inglaterra  
     - O Castelo do Gran Perron, em Lion, França.
    


       Como anteriormente prometido, apresentamos uma complementação ao “Guia das Capelas Cavalcanti na Toscana”, já editado em nosso blog. 
         Este guia atual apresenta especialmente casas, ruínas de castelos e moradias onde podem ser encontrados registros históricos seguros da passagem de antigos Cavalcanti pela Toscana- registros que possam ter ainda interesse para os descendentes Cavalcanti do ramo brasileiro, deles descendentes e chegados ao Brasil no sec. XVI (1). No Adendo ainda incluímos duas referências familiares dos Cavalcanti no sec. XVI até mesmo fora da Itália – em Londres e em Lion, na França – referências que comprovam o prestígio dos Cavalcanti na Europa. 


1- A Casa-Palazzo dos Cavalcanti 

   Esta Casa-Palazzo está ainda hoje localizada no centro de Florença, na atual via Calzaiuoli numero 50123, esquina com via Porta Rossa - antiga via Cavalcanti - próximo ao Mercado Novo.  
     
   O “Palazzo” da família Cavalcanti construção dos anos quatrocento no centro de Florença pertenceu, posteriormente, à guilda das Arte dos Mercanti – à famosa Calimala.
    O brasão dos Cavalcanti ainda permanece em sua fachada. Informações e fotos abaixo, recentemente publicadas pelo genealogista Sylvio Humberto Cavalcanti.
    
   Esta casa foi referência da família Cavalcanti durante muitos séculos também no Brasil. A autora por seu ramo familiar conhecendo as tradições a existência desta casa, em uma primeira viagem à Florença na década de 90 obteve algumas indicações vagas do seu local. Porém, sem indicações mais concretas não conseguiu identificar exatamente a casa - vagando pela rua e sua imediações - a casa então fechada, ainda sem ocupação, como aparece na primeira foto abaixo.




Um brasão moderno do começo do século passado foi também colocado em sua fachada, homenagem da cidade de Florença. Esta casa-palazzo é indicada pelo genealogista Silvio Umberto Cavalcanti como sendo o Palazzo de Amerigo Cavalcanti (1393 - antes de 1467) podestà de Montemaione em 1442 e membro do Conselho dos Senhores em 1451. Ele um dos filhos de Giovanni di Amerigo Cavalcanti, o genealogista da família. 
   
  Sobre este brasão moderno foi colocada uma placa comemorativa com citação da Divina Comedia de Dante - trecho referente ao poeta Guido Cavalcanti - frase proferida por seu pai, o cavaleiro florentino Cavalcante Cavalcanti. 




  Segundo Sylvio Umberto Cavalcanti, em 1503 a casa foi vendida por Pietro Cavalcanti à Calimala - Compagnia di Orsanmichele - e posteriormente teria sido propriedade da família Conti. Sabemos que o republicano da família Bartolomeu Cavalcanti foi casado com Dianora desta família Conti ou Gondi.  

     Informações baseadas no prospecto do Relais Cavalcanti, hotel que hoje ocupa a casa com entrada pela via Porta Rossa são reproduzidas em nossa tradução:

    “O “palazzo” Cavalcanti ocupa a esquina com a Via Porta Rossa (no passado Via de 'Cavalcanti) e se desenvolve na face principal da rua Calzaiuoli por cinco eixos dispostos em cinco andares, os dois primeiros com aparência rústica. Estes mesmo planos, apesar de grandes adições de pedra artificial, demonstram o design do edifício original do século XIV de propriedade da família Cavalcanti - família a que se refere o belo escudo no canto (prata, semeada de cruzetas páteas vermelhas) e outro agora ilegível (mas relatada por Walther Limburger) na borda direita da frente. Deste lado identifica-se um certo número de traços que lembram a presença original da casa próxima, a residência dos chefes de Orsanmichele. Em respeito à história da fábrica, uma restauração foi mencionada em 1887 nas páginas de "Arte e História" que, no entanto, não deve ser identificada com a restauração posterior, responsável pela recuperação e integração de porções de pedra.

   No centro da fachada, encimado por um pequeno escudo moderno, há uma placa com versos de Dante que reproduz o diálogo [no capitulo X] entre ele e Cavalcante, pai de Guido Cavalcanti - placa que foi colocada entre 1900 e 1907 por Iniciativa do Município, editada por uma comissão da qual foi membro Guido Carocci. Dos acontecimentos históricos que o edifício testemunhou, Federico Fantozzi rememora lembrando-a como casa Conti e identificando o lugar onde "nasceu e viveu o amigo de Dante, o filósofo epicurista Guido Cavalcanti falecido no ano 1300, discípulo de Ser Brunetto Latini, e também Bartolomeo Cavalcanti, um estudioso do século XVI que morreu em Pádua em 1562” (2).
   
   Nossos cometários sobre o texto acima: Esta Casa-Palazzo foi importante para a família Cavalcanti, simbólica em Florença - em suas redondezas se estabeleceram as primeiras “guildas”, sindicatos profissionais, zona de realização de mercado - o Mercado Novo.  Talvez esta casa não tenha sido freqüentada ainda pelo célebre poeta Guido Cavalcanti - poeta que não pode ser simplesmente avaliado como um epicurista, tendo ele sido também filósofo, falecido no ano de 1300 – não sabemos se esta casa familiar teria sido construída ou reformada na época, pois ela é indicada como uma obra do “Quatroccento”. Muitas das propriedades de aluguel da família Cavalcanti em Florença haviam sido queimadas  no episódio revolucionário do começo dos anos 1300 - episódio lembrado por Maquiavel, conhecido pelo grande incêndio da Calimala.  
   Entretanto, esta casa foi certamente visitada pelo rebelde republicano da família Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, pois fora vendida à guilda, Arte dos Mercadores, em 1503 - data próxima do nascimento de Bartolomeo, cerca 1503. Acreditamos que Bartolomeo não tenha vivido nesta casa, pois o ramo dos Mainardi Cavalcanti teve casa própria em Florença - casa que aparece referida em documento de registro de moradias da cidade (Catasto Generale Toscano, Firenze, Centro 1427). Bartolomeo faleceu em Pádua em cinco de dezembro de 1562, ainda exilado por ter liderado a Conspiração Pucci e Cavalcanti “contra os Medici de 1559. Mas os Conti que viveram nesta casa posteriormente podem ter sido seus parentes afins – pois eram avós de sua filha Lucrécia e de seu filho Giovanni. 
   A via lateral denominada Cavalcanti teve seu nome posteriormente substituído por via Porta Rossa.


2 As Ruínas do Castelo do Strinche



Castelo recém localizado e fotografado por Marcello Bezerra Cavalcanti em Radda, Toscana- Indicado segundo fontes locais e documento fundiário na posse de seu proprietário atual.

   O Stinche é tido como um antigo castelo lombardo do século IX, construído sobre um assentamento romano anterior. Desde a Idade Média, os habitantes do Strinche iniciaram a cultivar as vinhas em “lamulae” - "lâminas" - pequenas faixas de terra plana na íngreme encosta oeste da montanha. Pelo fato o nome da aldeia local - Lamole.

    Por fontes históricas, sabemos que castelo do Strinche construído na região val de Greve foi estratègicamente colocado no ponto mais alto da antiga rota dos lombardos, no caminho da muito antiga via romana Flamínia. A origem do nome deste tradicional castelo dos Cavalcanti, Strinche, seria a palavra “shin’ (inglesa?) ou “shinbone”, borda superior da tíbia, por extensão toponímica “cume, ponto mais alto da colina” (Wolfang, Marvin – Crime and Justice at the milenium, Kluwer Academic Publishers, 2002, pg. 358).

Já no sec. XI o castelo foi herança dos primeiros Cavalcanti documentados na Toscana com este sobrenome, talvez um título, os Cavalgadores.   Por nós observado que a família Cavalcanti aparece de forma súbita e já muito pujante – por heranças que na ocasião vinham sendo acumuladas através das linhagens wido (franco-borgonhesa), hildebrandeschi (lombarda), e pelo menos hunfriding e hucpolding – dinastias de origem franca estabelecidas por esta época na Toscana e aí entre si entrecruzadas - fatos por nós já identificados em vários trabalhos, especialmente “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana” publicados no nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/

    Pensamos que o casamento de uma filha do Hildebrando nesta geração, Adalaïde ou Adeletta, indicada da família dos Hildebrandeschi e falecida depois de 1043 com Guido III, conde de Modiano (v. 1034) - conforme indica a fonte genealógica Shamà – sugere e identifica uma das vertentes originárias das heranças familiares dos Cavalcanti.
    A família Cavalcanti surge documentada com Domenico Cavalcanti neste mesmo período (1045) e neste local (Toscana, Florença). Domenico muito possivelmente irmão de um Hildebrando desta geração (conclusão do nosso trabalho com todas as fontes “As linhas francas descidas para a Itália com Carlos Magno”, inédito, mas já aberto a pesquisas e “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana” próximo no nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/) 

   Já bem mais tarde, durante o século XIII, as lutas políticas entre as famílias “guelfas”, favoráveis ao poder do papa, e as “guibelinas”, favoráveis ao poder do Santo Império, tornam se intensas. E as tentativas do sistema republicano florentino de controlar a elite dos “magnati” só haviam ainda mais acirrado os ânimos dos contendores. 
  Em 1300 morre o cavaleiro, político e poeta da família, Guido Cavalcanti, que havia sido confinado em prisão insalubre.
   Após numerosos e violentíssimos conflitos em 1304 os ”guelfos brancos” Cavalcanti de Florença - já com sua zona de moradia urbana e comércio, a Calimala, em fogo - terão de se refugiar nas redondezas da cidade, inclusive neste seu castelo do Strinche. Nesta ocasião irão se verificar ainda mais assaltos e mesmo tentativas de destruição desses castelos - castelos que haviam pertencido a muito antigas famílias feudais originarias em Val de Greve e em Val de Pesa – ainda suas propriedades rurais de Ostina e Lucco, no val d´Arno superior. Estes episódios de destruição facilitados até mesmo pela incitação popular estimulada pelo partido “dos guelfos negros”- partido ainda de guibelinos disfarçados. 
   Em 5 de agosto de 1304, a Comuna de Florença envia um contingente militar para tomar em assédio o castelo de Strinche dos Cavalcanti, quartel general dos resistentes “guelfos brancos”.  O castelo-fortaleza apesar da extrema defesa é tomado e parcialmente destruído.  Maquiavel justifica esta tomada pela força aos Cavalcanti do já histórico castelo do Strinche, situado na antiga rota dos lombardos e ponto mais alto da colina, “pela necessidade do povo de Florença diminuir o poder dos Cavalcanti”. A partir da detenção dos resistentes do castelo em uma prisão recém construída em Florença, esta prisão irá tomar também a denominação de Strinche - “onde estavam os de Strinche” (Ver Maquiavel, Nicolau – Historia de Florença, pg. 10). 
   O Castelo do Strinche será ainda reedificado depois de 1304 e habitado novamente pela família Cavalcanti

   Mas segundo Domenico Buoninsegni na sua Historia Florentina editada em 1580 ainda no século seguinte, em agosto de 1452, o exército do rei de Nápolis, Afonso de Aragão, acampou em Castelina no Ghianti e fez no condado uma serie de saques e destruições, inclusive no castelo-fortaleza do Strinche e em poucos dias o arrasaram novamente. 
   
     As ruínas do Strinche foram para nós Cavalcanti recentemente localizadas por Marcelo Bezerra Cavalcanti na atual localidade de Radda, província hoje de Siena, em uma vinícola denominada “La Molle”. 
     A vinha da marca “Castello di Lamole”, adjacente ao sul do complexo homônimo, reimplantada em 1998 - a área que produz o Chianti Clássico é de 1,04 hectares, com 4320 vinhas de Sangiovese e 587 de Merlot.

  Em resumo: O Castelo do Strinche de origem lombarda cedo tornara-se herança dos Cavalcanti. Quartel general do partido dos “guelfos brancos” contra um ataque sob ordens da Republica em 1304 sofreu sua primeira destruição, mas foi ainda reconstruído e habitado pela família. Entretanto, no ano de 1452 o exército do rei de Nápoles, Afonso de Aragão, causou grandes prejuízos na região e por fim o destruiu. Dele só restando hoje nobres ruínas, ruínas localizadas em uma vinícola produtora de bons vinhos na Toscana.
     
   Comentários sobre o castelo constam em nossos trabalhos “Propriedades antigas dos Cavalcanti” e os “Os Cavalcanti em busca de sua origem”, ambos publicados em nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/



3 – Ruínas do castelo de Aschianello no Muggelo


     Pelo menos uma terça parte do Castelo de Aschianello no Muggelo foi dos Cavalcanti- ainda seis casas e a cúria de meados do sec. XIII - conforme observamos nos documentos citados em nosso próximo trabalho “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana”, já editado em nosso blog. 
  Mas em 1306, quando muitos dos bens dos “magnati” Cavalcanti foram destruídos, este Castelo de Aschianello era já tido como propriedade do ramo descendente dos Ubaldini, colaterais dos Cavalcanti - os Ubaldino do Castello. Nesta ocasião o castelo foi propositada e completamente arrasado, a população local (os chamados de Guininzo) deslocada para outro local. Dele hoje só restaram pequenos fragmentos de muralhas. 
   Este castelo foi arrasado por alto pagamento e a mando da própria Republica de Florença - ato de muita autoridade, sob pretexto do controle das poderosas famílias de “magnati”. Repetimos trecho da enciclopédia Trecanni, traduzido, que da conta das razões deste arrasamento: 

”ASCIANELLO em Val di Sieve. Eventualmente os homens da cidade de Guinizingo são encontrados entre estes cidadãos que a Signoria, em Florença, com a disponibilização de 18 de julho de 1306 os convidou para ir a habitar a nova terra que o governo construía na parte inferior dos Alpes Mugello (Scarperia), para se opor a segurar em arrogância o orgulho dos Ubaldini”.

      Para mais detalhes sobre este episódio revolucionário de destruição, sugerimos consultar a notável descrição realizada pelo cronista e historiador da época Giovanni Villani (1276-1348) em sua obra “Nuova Crônica” – observado especialmente que o arrasamento do castelo de Ascianello ocorre já no contexto político do fim do século, começo do seguinte, período caracterizado pelos enfrentamentos entre grandes senhores, os “magnati”, e a própria Republica de Florença (1302-1306) - conflitos na época comandados por facções de “guelfos negros” (remanescentes enrustidos “guibelinos”) contra os “guelfos brancos”. Nesta ocasião a família Cavalcanti vê arder sua zona de comércio – a Calimala, em Florença – os seus castelos MonteCalvi, próximo, e o Strinchi, em val de Greve, também atacados em 1304

  O castelo de MonteCalvi dos Cavalcanti já tivera suas muralhas em parte destruídas depois da derrota na sangrenta batalha de Montaperti em 1260, quando os Cavalcanti guelfos por Florença haviam lutado contra os “guibelinos” de Siena. O castelo MonteCalvi sofreu ataques sobre a influência dos "guelfos negros” nesta ocasião, em 1304 - porém permaneceu na família até os últimos enfrentamentos em 1451 e 1537 (já no fim da Segunda Republica), quando foi então totalmente arrasado. Também o Castelo do Strinche dos Cavalcanti, já analisado no item acima, sofreu sua primeira tentativa de destruição em 1304 quando foi quartel general do partido dos “guelfos brancos, ’ em ataque sob as ordens da Republica. Reconstruído e habitado um século e meio depois, no ano de 1452, o exército do rei de Nápoles, Afonso de Aragão, causou grandes prejuízos na região e por fim o destruiu. Dele sobram hoje apenas ruínas. 

   Reproduzimos fotos indicadas por Marcello Bezerra Cavalcanti de resquícios do “Castelo di Ascianello”, resquícios localizados próximo à Piève di Sant'Agata al Cornocchio no Mugello, piève ainda em pé e documentada pela primeira vez no ano 984 – fotografias retiradas do livro de Riccardo Bellandi- “I Signori dell’Appennino. Amori e battaglie nella Toscana del Duecento”, Polistampa, 2010 (prima ristampa 2015).




         Mais informações sobre Ascianello vindas por Marcelo Bezerra Cavalcanti:

   “Ascianello ou Scianello é uma localidade no Vale do Rio Sieve, um vilarejo entre Monte Poli e a Piève de Santa Agata al Cornocchio, que no passado incluiu como matriz nove paróquias que abarcavam 14 milhas de periferia: 1. S. Pietro a Monte Accianico; 2. S. Jacopo a Scianello o Ascianello; 3. S. Gavino al Cornocchio; 4. S. Lorenzo a Monte Poli; 5. S. Maria a Marcojano; 6. S. Benedetto a Mezzalla; 7. S. Maria a ponte a Olrno; 8. S. Michele a Lumena; 9. e S. Martino de'Giunizzinghi, há muito destruída. O termo “piève’ nesta época medieval indicava além de uma Igreja matriz, uma sede de fazenda, com escola primaria, registros públicos de contratos e até pequeno hospital-ambulatorio. Repetti comenta no seu Dizionario Storico que essa “piève” era uma das maiores e mais belas do Mugello” (http://stats-1.archeogr.unisi.it/repet…/includes/…/main. php)
   Reproduzimos texto de E.Repetti sobre a igreja da Piève de S. Agatha, em nossa tradução e acrescentamentos entre chaves: “É uma das mais antigas e majestosas igrejas de Mugello construída com três naves de pedras quadradas tiradas da colina próxima de MonteCalvi –arquitetura dos tempos baixos e, portanto, atribuída pelo vulgo, junto com muitos outros, à piedade da Condessa Matilde [de Canossa 1046-1115]. Tem um telhado de vigas apenas apoiado nos cavaletes”. Texto original: “E una delle più vetuste e grandiose chiese del Mugello costruita a tre navate, tutta di pietre quadrate tolte dal vicino poggio serpertinoso di monte Calvi, di architettura dei bassi tempi, e perciò attribuita dal volgo, insieme con tant'altre, alla pietà della contessa Matilde. Ha una tettoja di travi solamente addentellata nei cavalletti... Trovandosi memoria di questa pieve all'anno 984 di dicembre, lo storiografo del Mugello, Giuseppe Brocchi, ne dedusse che quest'edifizio doveva risalire a un'epoca molto anteriore a quella della prenominata contessa, con tutto che lo stile architettonico, e un'iscrizione, del MCLXXV ivi esistente, la faccia credere del secolo XII avanzato.” [Montecalvi foi o castelo também propriedade dos Cavalcanti que teve suas muralhas destruídas pelos guibelinos de Siena inimigos dos guelfos de Florença em 1260 após a batalha de Montaperti.]
   Mais sobre os Ubaldini que também habitaram este Castelo, uma das famílias antigas e importantes da região colateral dos Cavalcanti, ver linha genealógica no nosso trabalho “Os Berardengas” e “Os Malavolti” no blog da autora.


   4 - A Villa Bellosguardo 

      Está localizada na Collina Bellosguardo, próximo de Florença.
    
     Antiga Villa, hoje hotel “Torre di Bellosguardo”. Guarda lembranças e brasões da família Cavalcanti. No prospecto do hotel é referido como seu construtor, o célebre poeta Guido Cavalcanti do sec. XIII. 


“Torre di Bellosguardo è una dimora storica esistente fin dal XIII secolo quando era di proprietà del poeta Guido Cavalcanti, maestro ed amico di Dante”.  

      Guido Cavalcanti teria construído a Torre Bellosguardo nos 1200 como uma cabana de caça e abrigo familiar. Não temos fontes concretas para esta afirmativa, possivelmente informações recolhidas apenas da tradição do local.


 O Brasões das duas famílias, Cavalcanti e d Anjou, encontram-se ainda decorando este Palazzo-Villa de Bellosguardo.
   As relações dos Cavalcanti com os d´Anjou observamos já em trabalhos anteriores foram sempre muito intensas, especialmente no final do século XIII. 
      O cavaleiro guelfo Cavalcante Cavalcanti, pai de Guido, lutou contra os guibelinos de Siena na batalha de Montaperti em 1260, e em 1280 já estava estado a serviço de Carlos d´Anjou quando este veio à península em apoio aos guelfos florentinos - entre os quais se encontravam, naturalmente, seus parentes Cavalcanti (3).
    As íntimas relações dos Cavalcanti com os d´Anjou ainda no sec. XIV se confirmam pelo sacrifício de Mainardo Cavalcanti em defesa do trono da rainha Giovana de Nápolis – também uma d´Anjou.     Lembramos que a Rainha Giovanna ou Joana II de Nápoles, conhecida como Joana II de Anjou-Durazzo (1373 – 1435), rainha de Nápoles a partir de 1414 até sua morte, teria sido uma das primeiras mulheres a reinar por direito próprio (4).     Mainardo Cavalcanti fora vítima de morte súbita e violenta em 12 de fev. 1380 em solidariedade e defesa desta jovem rainha Giovanna d´Anjou, que na ocasião enfrentava seu rival Carlos II.  Os Cavalcanti como comprovamos mais uma vez ligados por estas suas origens francas, laços familiares e ainda solidariedade política aos d´ Anjou franceses. E Andretta Acciaiolli pela morte deste seu querido marido Mainardo encomenda-lhe uma capela requintadíssima na Igreja Maria Novella em Florença (5).

   O Brasões das duas famílias, Cavalcanti e d Anjou, e também dos Acciaiolli, encontram-se ainda hoje resguardados neste Palazzo-Villa de Bellosguardo.  Villa que, nos arredores de Florença, comprova de forma simbólica a íntima relação familiar dos Cavalcanti com os d Ánjou – relação que sabemos hoje vinha de longe, certamente pelos condes de Hesbaye no centro franco. Sobre o assunto ver especialmente nosso trabalho “As tradições de origem no centro franco das famílias Cavalcanti e Monaldeschi”, publicado na revista InComunidade Ed, 57 de julho de 2017 e “As famílias Cavalcanti, Monaldeschi e Malavolti e suas origens no reino franco, Colônia, sec. VIII”, no nosso blog.




    No alto o brasão de Giovanna e Luigi d´Anjou, à esquerda brasão dos Cavalcanti de Mainardo e à direita brasão (um leão) dos Acciaiuolli, familia de sua esposa Andretta (informação em Silvio Umberto Cavalcanti http://xoomer.virgilio.it/cavalcanti/pagina_3.htm foto Sailko - da Wikipedia)

 Também um brasão Cavalcanti está colocado no portal da Villa, em mármore - não mais em    
                      posição original -  agora colocado sobre a fachada da casa. 




 “Il decoro del portale in marmo, non più nella posizione originale, è ora appeso in posizione rovesciata sulla facciata”. (indicação Silvio Umberto Cavalcanti http://xoomer.virgilio.it/cavalcanti/pagina_3.htm foto Sailko - da Wikipedia)


               Prospecto do Hotel que ocupa hoje o Palazzo ainda apresenta uma descrição da Torre Bellosguardo, por nós traduzida:

"O querido amigo de Guido Cavalcanti, Dante, lembrado pelos famosos versos "Guido, eu gostaria que você e Lapo e eu / nós fôssemos encantados...", também ele um excelente poeta, construiu nos 1200 a Torre Bellosguardo como uma cabana de caça e abrigo familiar; depois, nos anos 1500, o Marquês Roti Michelozzi queria uma residência grande e nobre e chamou-o para embelezar, entre outros, o pintor Bernardino Poccetti, autor dos afrescos do hall de entrada e o escultor Pietro Francavilla que esculpiu a esplêndida “Carità” ainda hoje na entrada, para receber os hóspedes do hotel.
   Das décadas de 1920 a 1940, a Baronesa Marion von Hornstein-Franchetti fez da Torre di Bellosguardo um cenáculo de nobres e escritores de toda a Europa. 
    Hoje, a Torre di Bellosguardo permanece no silêncio do parque e das colinas, para passar uma história antiga e nobre que compartilha com seus hóspedes todos os dias: um raro hotel de hospitalidade e atmosfera "(6).

       
    Acreditamos que um passeio à Villa Bellosguardo seja ainda marcante recordação de viagem para os amigos e parentes Cavalcanti.



5 – “Piève” de São Pancrácio, San Casciano in Val di Pesa - Piève próxima ao antigo e destruído Castelo de MonteCalvi



        Um dos ramos da família Cavalcanti nos anos 1200 teria obtido, segundo Giovanni Cavalcanti, como dote da bela Quadralda – possivelmente a filha de Guadralda Ravignani e de Guido di Davadola - o conhecido castelo da família, o MonteCalvi (7).

      Acreditamos, entretanto, que MonteCalvi já fosse propriedade dos Cavalcanti anteriormente a esta ocasião - tendo em vista as múltiplas heranças recebidas na terceira geração de Cavalcanti já documentadas. Notado que depois de Gio-berto Cavalcanti, o castelo já aparece na posse de Leto (O Feliz) Cavalcante de Cavalcante, calculado seu nascimento em cerca de 1030.   Leto, o Feliz, Cavalcante de Cavalcante documentado cerca de 1060 é logo citado como herdeiro do castelo de MonteCalvi em Val de Pesa, sua posse referida em “Delizie degli eruditi toscano” por Fr. Ildefonso de S. Luigi - informação repetida pelo contemporâneo genealogista italiano Sylvio Umberto Cavalcanti.
 
   O castelo de MonteCalvi teve suas muralhas destruídas em 1260 em castigo aplicado pelos “guibelinos” de Siena depois da batalha de Montalcino, batalha na qual a família Cavalcanti fora vencida por estes “guibelinos” sienenses.
   Como o castelo do Strinche, o Montecalvi também sofreu mais tarde , em 1304, ataques dos “guelfos negros” - guibelinos ainda disfarçados. Montecalvi ainda pertencente à família nos últimos enfrentamentos em 1451 (sob o exército do rei de Nápolis, Afonso de Aragão, como o Strinche?) e ainda em 1537, depois do fim da Segunda Republica Florentina (fonte Repetti, Emanuele - Dizionario geográfico fisico storico della Toscana - 1839 - ‎Tuscany (Italy) pg. 329.   https://books. google.com.br/books?id=ph5LAAAAYAAJ) Este arrasamento final ocorrido  depois dos episódios rebeldes de Montemurlo em 1537  contra Cosimo I de Medici, em que os Cavalcanti também participaram ? – não temos informações mais concretas).
     O Castello de MonteCalvi em 1537 foi completamente arrasado e sua antiga área hoje ocupada por uma fazenda produtora, a FATTORIA CORZANO E PATERNO - fazenda de cento e quarenta hectares, dedicada à produção de bons vinhos, azeite e queijos de ovelha - segundo informaçôes do pesquisador da família na Toscana, Marcelo Bezerra Cavalcanti.

   Entretanto, próximo da região do antigo castelo de MonteCalvi dos Cavalcanti em Val de Pesa ainda permaneceu a sede paroquial a que o castelo pertenceu - a Piève de São Pancrácio – pequena igreja documentada desde o sec. X ainda com valiosas obras de arte medievais e até mesmo adornada no sec. XVI por brasões da família Cavalcanti, que permaneceram no pequeno Studio do pievano Nicolo Cavalcanti, cerca 1580 - ainda um outro brasão em seu tumulo ao lado do altar.  http://xoomer.virgilio.it/cavalcanti/pagina_3.htm Ver também https://en. wikipedia.org/wiki/San_Casciano_in_Val_di_Pesa


https://it.wikipedia.org/wiki/Pieve_di_San_Pancrazio_(San_Casciano_in_Val_di _Pesa       

            Brasão Cavalcanti em San Casciano in Val di Pesa (FI), Piève di San Pancrazio ao lado do altar



   Possivelmente Leto Cavalcanti <1060> da segunda geração dos Cavalcanti tenha sido também o primeiro abade de uma Abadia fundada na vizinhança do castelo de Montecalvi, em Val de Pesa (8) – a Abbazia di San Michele a Passignano - conforme
https://it.wikipedia.org/wiki/Abbazia_di_San_Michele_Arcangelo_a_Passignano

Como registro da passagem dos Cavalcanti na Piève de São Pancrácio, mesmo depois das    Conspirações Pucci e Cavalcanti , mantém-se ainda hoje os brasões abaixo:




Na fotografia abaixo  a região do antigo castelo de MonteCalvi, hoje ocupada pela FATTORIA CORZANO E PATERNO.


      O Castelo MonteCalvi arrasado completamente em 1537 tem sua área hoje ocupada por uma fazenda de cento e quarenta hectares operada pelas famílias Gelpke e Goldschmidt, fundada pelo arquiteto suíço Wendelin Gelpke. A fazenda, situada em San Casciano Val di Pesa, aproximadamente a meio caminho entre Florença e Siena, dedica-se à produção dos melhores vinhos de qualidade, azeite e queijos de ovelha.


6 – A Casa da fazenda dos Cavalcanti e Guicciardini e a “Piève” di S.Pietro em Pitiana (a piéve já apresentada também no “Guia da Capelas Cavalcanti na Toscana”)


       Os Cavalcanti e seus aparentados Guicciardini haviam sido proprietários em comum no começo sec. XVI de uma fazenda em Pitiana -  região de Donini, Reggello.
   Uma senhora Cavalcanti casada com um Guicciardini foram proprietários desta fazenda e de outras terras na Toscana – esta fazenda no Regello muito trabalhada produzia olivas, vinhas, etc.
    No recente livro, Il Plebato di Pitiana, Giancarlo Stanzani afirma que no século XVI foi construído um pórtico para a antiga Igreja - talvez do século X - onde ainda hoje permanecem os brasões da família Cavalcanti - colocados ambos nas laterais acima da porta da igreja de Pitiana. A fonte recorda: “Stemma della famiglia Cavalcanti nel portone d'ingresso alla chiesa. La sua fondazione [da Peive de Pitiana] è forse anteriore all'anno Mille e la torre campanaria risulta già esistente nel 1028” (9)



(Fotos Marcelo Bezerra Cavalcanti)

     A Piève di Pietro à Pitiana tem sua fundação bem antiga, atribuída à piedosa “margrave” (titulo militar da marca franca) Matilde de Canossa (1046 - 1115) que já em nossas pesquisas havíamos identificado como uma colateral dos primeiros Cavalcanti documentados - a igreja podendo ser, portanto anterior ao ano mil, a torre campanária de 1028.
    O pórtico da pequena igreja construído posteriormente com os brasões dos Cavalcanti colocados lado a lado no alto da porta são informações gentilmente obtidas por Marcello Bezerra Cavalcanti - que até mesmo fotografou esses brasões.
    Mas a importância da Piève di Pietro à Pitiana é ressaltada, sobretudo, pela linda tela do célebre pintor Rodolfo Ghirlandaio, obra encomenda em cerca de 1515 e que também tem como tema a nossa já conhecida e característica “Anunciação” - tema de preferência, tudo indica, dos Cavalcanti e dos florentinos - tema possivelmente de origem franca, pela presença da figura simbólica de um belíssimo pendão de lírios.


“Anunciação” de Rodolfo Ghirlandaio, de cerca 1515 em Pitiana
Pieve di s. Pitro em Pitiana, Donini, Reggello propriedade agrícola dos Cavalcanti e Guichiardini no começo do sec. XVI. O Anjo segurando um belíssimo pendão de lírios, símbolo de escolha e pureza.


         Esta tela da “Anunciação” de Ridolfo Girlandaio realizada em c.1515, ainda hoje se encontra na Igreja da Piève di Pitiana, poderia ter sido encomenda pela senhora Cavalcanti casada nesta ocasião com um Guichiardino (Dini?). O tema da tela – uma  “Anunciação”-  já observamos em trabalho referente às capelas Cavalcanti,  durante séculos devoção constante na família e, acreditamos,   poderia ser lembrança da origem franca. Neste quadro o Anjo porta um pendão de lírios de grande beleza.
     E verdade que o simbolismo do lírio vinha de um passado muito antigo, associado ao pendão do rei David presente no cântico dos Cânticos como símbolo de pureza e eleição, de escolha.  O lírio cedo se tornou símbolo de poder e soberania da realeza que então se faria por escolha divina - os dotados de pureza do corpo e da alma. Mas foi, sobretudo, adotado pela família do rei franco Clovis, ainda pelos condes de Anjou seus descendentes, tornando-se logo adiante também símbolo da realeza francesa. Presentes ainda no brasão dos brasileiros (10).                         
 Um lirio ainda presente na Piève de Pitiana


  A senhora Cavalcanti que teria encomendado o quadro pode ser uma das filhas de Giovanni di Niccolo di Giovanni di Amerigo Cavalcanti Cavalcanti (n.1448- f.1509) - fato até mesmo sugerido pelo autor do livro citado. Giovanni di Niccolo foi riquíssimo herdeiro da família e muito amigo do celebre literato Marsílio Ficino, e que com a Revolução Social desejada pelo padre Savanarola em Florença no começo do século acabou por doar seus muitos bens à Igreja.  Seria a sua filha Lucrecia, nascida 1473, aquela que teria sido casada com um Guicciardini (Dini?). O autor citado fotografa a tabela de Silvio Umberto Cavalcanti que indica as filhas de Giovanni.  Ressaltamos ainda que a outra sua irmã, Ginevra, foi casada no ramo dos Mainardo Cavalcanti e torna-se mãe do célebre conspirador pela Republica, Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, líder da conspiração “Pucci e Cavalcanti” - um radical anti-medici desde a Segunda Republica florentina (11).




    Em 1631 a estrutura do presbitério da igreja foi elevada, e a cripta tomou a forma de cruz latina. Acreditamos que esta obra de recuperação possa ter sido já patrocinada pela própria família Guicciardini de celebres juristas, que em nossos estudos aparecem como parentes colaterais dos Cavalcanti e que até mesmo, discretamente, os teriam acompanhado na geração anterior nas ultimas conspirações anti-medici do fim do sec. XVI, não tendo sido diretamente comprometidos.








ADENDO


   Em duas outras regiões européias - na Inglaterra e na França – dois outros locais importantes co recordações para nossos parentes Cavalcanti, já viajantes internacionais.  A região em Londres denominada Austin Friars Lane, e um Castelo na França, próximo de Lion - o Chateau Du Grand Perron. 




Austin Friars Lane
   
   Em Londres, no atual bairro de Austin Friars Lane, centro de Londres, viveu o pai de nosso ancentral Filippo Cavalcanti- Giovanni di Lorenzo Cavalcanti.
 
   Giovanni di Lorenzo exerceu o cargo de ”cubiculari papal”, e nos primeiras décadas do século XVI, a apartir de 1509, permaneceu em Londres protegido pelo papa das perseguições dos Médici que já incidiam também soabre seu ramo familiar. Num segundo período, em auto-exilio até sua morte em 1542, atuou nesta casa comercial a ”Bardi e Cavalcanti” como mecenas e comerciante de objetos de arte –– servindo ao rei Henrique VIII e, especialmente, empresando artistas para suprir as necessidades e requintes renascentistas deste rei.
 
    O bairro em que manteve esta casa comercial  e mesmo onde viveu Giovanni cercado naturalmente por grande requinte e objetos de arte,  tornou-se zona de grande prestígio para os seus vizinhos  ilustres.
     Um belo quadro da esposa de Giovanni, Contessina Peruggi, por ele certamente encomendado ao célebre pintor Il Rosso - Giovanni Batiste di Iacob (1496-1540) – permanece ainda hoje no acervo do Museu do Louvre.  Para mais detalhes sobre a história de Giovanni na Inglaterra, onde foi conhecido como John Cavalcanti, sugerimos a leitura de nossos artigos “Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, “A casa comercial Bardi e Cavalcanti”, ainda “Rebecca ao Pozzo” - este o relato de uma intermediação e encomenda de um outro quadro, “Rebecca ao Pozzo, também encomendado por ele ao mesmo pintor El Rosso.
    Se bem esta casa residencial e comercial da família não exista mais, a região ainda demonstra e permite uma idéia do requinte que lhe foi inerente. 




Chateau du Grande Perron, na França.
 
       Outro palácio que demonstra ainda o grande prestígio que a família Cavalcanti gozou na Europa, já na França, foi o Chateau du Grande Perron - localizado próximo de Lion, no município de Pierre-Bénite - castelo ainda hoje existente, mas em péssimas condições de conservação e não sabemos se pode ser visitado.
    No Grand Perron viveu Lucrecia Cavalcanti, a filha do nosso conspirador republicano Bartolomeo di Mainardo Cavalcanti, tantas vezes referido.
    Bartolomeo foi sempre muito bem acolhido quando em exílio na corte francesa da rainha Catarina de Medicis - rainha também sempre muito indignada com seus parentes Medici prepotentes - sobretudo devedora de gratidão aos Mainardo Cavalcanti, pai e filho.
  Lucrecia Cavalcanti foi casada com o banqueiro florentino Del Bene, também exilado, e chegou à dama de honra da rainha Catarina.
  Lucrecia e Catarina acompanhadas por outras damas da corte aparecem neste famoso retrato campestre, um “d´àpres” François Clouet (1510-1572), hoje no Castelo de Chantilly, Oise, norte da França.



    A respeito deste palácio e dos episódios históricos aqui esboçados, bem como a atuação de Lucrecia Cavalcanti na corte francesa pretendemos editar trabalho específico e mais completo.  Desde logo sugerimos a leitura dos nossos artigos “Bartolomeo Cavalcanti”, “Médici X Cavalcanti“ e “Conspiração Pucci Cavalcanti de 1559” - todos editados no nosso blog.
    Há referências a um brasão Cavalcanti neste castelo do Grand Perron, em sua lareira. Fato que não pudemos ainda pessoalmente confirmar.


Notas 

(1) No artigo “Propriedades dos antigos Cavalcanti na Toscana” já publicado em nosso blog identificamos a presença e inúmeros bens da família Cavalcanti na Toscana por documentos:
  
   1- Na região do castelo do Strinche em val de Greve, hoje Radda del Ghianti - bens comunicados por antigas heranças lombardas e da dinastia “luitfridings” nesta região (o Castelo do Strinche já comentado em resumo no “Guia das Capelas Cavalcanti” em nosso blog, e agora neste texto).  
  2- Na região do antigo castelo de MonteCalvi em Val de Pesa, castelo arrasado - próximo da paróquia ainda existente de São Pancrácio, em San Casciano, e da Abadia di San Michele em Passignano - bens em parte provenientes da dinastia “cadoling” (assunto também já comentado no item Piéve de San Pancrácio no “Guia das Capelas Cavalcanti”)
 3 - Partes do Castelo de Ascianello (ou Scianello) em Val di Sieve; também casario próximo a Monte Poli e à Paróquia de S. Agata al Cornocchio. Ainda uma antiga “bococca” nesta mesma região, o Castelo elevado de Guinizingo - propriedade do ramo Guinizingo degli Cavalcanti, pelo menos em grande parte destruído no ano 1260 (assunto comentado no “Guia das Capelas dos Cavalcanti” e item Acianello neste atual trabalho). 
4 - Proprietários por algum tempo na região da Capraia Floretina, parte de herança chegada pelos Alberti e por Marcovaldo (Marckvald) dos Guido di Davadola (assunto já comentado no “Guia das Capelas dos Cavalcanti”).
  
    Já reconhecidas tacitamente como propriedades dos Cavalcanti por fontes diversas e mesmo fontes e resquícios heráldicos:
   
   - No centro de Florença a Casa Cavalcanti que está registrada no Cadastro Florentino e com brasão ainda na fachada.
   - Igreja e casa de fazenda com vestígios e brasões, ainda que não tenhamos documento de propriedade em Pitiana (Donini, Reggello) - propriedade agrícola de ramo Cavalcanti e Guichiardini no sec. XVI (Assunto comentado em Guia das Capelas Cavalcanti” e também neste Trabalho). 
    - Indicada a construção de Villa em Bellosguardo, próximo de Florença onde ainda se encontram brasões familiares. Mesmo sem documentos por nós conhecidos apresenta vestígios de brasões e comentários da tradição local (assunto já comentado em resumo no Adendo do “Guia das Capelas Cavalcanti” e neste texto)

   Ainda sem indicação documental, apenas informações historiográficas, por nós observado que os Cavalcanti teriam estado, a que tudo indica, também em Empoli pelo ascendente Hildebrando, cerca do ano 1000 – sugerido em documento pelo seu nome a presença de Guelf Cavalcanti [ou de Pontorno] na comunidade próxima, Pontorno ou Pondorme (Pont Orme), depois de 1278. Até o momento apenas indicações bibliográficas sem que tenhamos obtido mais comprovações locais ou vestígios arqueológicos detectados.
  
    Os resquícios históricos e mesmo casas e capelas de Cavalcanti no resto da Itália, especialmente depois da partida de Filippo Cavalcanti para o Brasil, século XVI, não serão abordados neste atual trabalho. Estes resquícios dos Cavalcanti mais modernos na Itália são já levantados por Sylvio Humberto Cavalcanti em seus trabalhos apresentados na mídia eletrônica.

(2) Do original em italiano:
   “I palazzo determina la cantonata con via Porta Rossa (che una volta non a caso si chiamava via de' Cavalcanti) e si sviluppa sul fronte principale di via dei Calzaiuoli per cinque assi organizzati su cinque piani, i primi due con paramento alla rustica. Questi stessi piani documentano, nonostante le ampie integrazioni in pietra artificiale, il disegno dell'originario edificio trecentesco di proprietà della famiglia Cavalcanti, alla quale si riferisce il bello scudo posto sulla cantonata con l'arme della famiglia (d'argento, seminato di crocette patenti ritrinciate di rosso) e l'altro oramai illeggibile (ma segnalato da Walther Limburger) al limitare destro del fronte. Sempre su questo lato si individuano alcune tracce di sporti, a ricordare l'originaria presenza di un chiasso che divideva questa fabbrica dalla successiva, residenza dei capitani di Or San Michele. Per quanto riguarda la storia conservativa della fabbrica si segnala un cantiere di restauro nel 1887, di cui si accenna nelle pagine di "Arte e Storia", che tuttavia non è da identificare con quello, più tardo, al quale si deve il recupero e l'integrazione delle porzioni in pietra. Al centro della facciata, sormontata da un piccolo scudo moderno, è una lapide con i versi con i quali Dante riferisce il dialogo fra lui e Cavalcante, padre di Guido Cavalcanti, collocata fra il 1900 e il 1907 d'iniziativa del Comune a cura di una commissione della quale faceva parte Guido Carocci. Delle vicende storiche che l'edificio dovrebbe testimoniare rende bene memoria Federico Fantozzi che, ricordandolo come casa Conti, lo identifica nel luogo dove "nacquero ed abitarono Guido Cavalcanti filosofo epicureo amico di Dante e discepolo di ser Brunetto Latini, morto l'anno 1300, e Bartolomeo Cavalcanti letterato del secolo XVI, morto in Padova nel 1562". Fontes deste artigo citado : Fantozzi 1843, p. 105, n. 232; Carocci 1897, p. 141; Limburger 1910, n. 171; Illustratore fiorentino (1913) 1912, p. 134; Garneri 1924, p. 41, n.
XII; Palazzi 1972, p. 17, n. 13; Bargellini-Guarnieri 1977-1978, I, 1977, p. 171; III, 1978, p. 170; Firenze 2005, p. 239; Invernizi 2007, I, p. 84, n. 63; Paolini 2009, pp. 102-103, n. 113.   
(3) [Cante?] Cavalcante Cavalcanti, pai de Guido teria se casado em 1254 (data s/fonte garantida). Cavaleiro guelfo, podestà de Gubbio em 1257, com selo em anel no Museo do Bargello. A serviço de Carlos d´Anjou - informação de Silvio Umberto Cavalcanti, citando Borghino.
(4) A Rainha Giovanna ou Joana II de Nápoles, conhecida como Joana II de Anjou-Durazzo (1373 – 1435), rainha de Nápoles a partir de 1414 até sua morte, também levou o título de rainha de Jerusalém, Sicília e Hungria. Giovanna casada com Luigi D'Angiò ou d´Anjou.  Era a terceira ou quarta filha  de Carlo da Calábria, primogênito do rei de Nápoles Roberto d'Angiò e de Maria di Valois  (1311-1341) - esta irmã do rei  Filippo VI da França. 
(5) Para a decoração do tumulo de Mainardo Cavalcanti na Capela Cavalcanti da Anunciação na igreja de Santa Maria Novella fora encomendada por sua esposa Andretta Acciaiolli no ano 1380 ao pintor Giovanni di Biondo (1356 ao 1398) uma riquíssima “pala de altare” – obra também com o tema da Anunciação. A escolha deste tema poderia estar reforçando as origens comuns francas dos Anjou e dos Cavalcanti. Ver mais detalhes sobre esta capela e sobre o assunto no “Guia das Capelas Cavalcanti na Toscana” – item Igreja Santa Maria Novella. 
(6) Do texto original: “Guido Cavalcanti l'amico caro di Dante ricordato dai famosissimi versi "Guido, i’ vorrei che tu e Lapo ed io / fossimo presi per incantamento…", e ottimo poeta anch'egli, fece costruire nel '200 la Torre di Bellosguardo, come maniero di caccia e rifugio di famiglia; poi, nel '500, i marchesi Roti Michelozzi vollero una residenza ampia e nobile e vi chiamarono ad abbellirla, tra gli altri, il pittore Bernardino Poccetti, autore degli affreschi del salone d'ingresso e lo scultore Pietro Francavilla che scolpì la splendida Carità ancora oggi all'ingresso, a dare il benvenuto agli ospiti dell'albergo.
Dagli anni 20 agli anni 40 del '900, la baronessa Marion von Hornstein-Franchetti fece di Torre di Bellosguardo un cenacolo di nobili e letterati di tutta Europa.
Oggi Torre di Bellosguardo rimane nel silenzio del parco e delle colline, a tramandare una storia antica e nobile che condivide ogni giorno con i propri ospiti: un hotel raro per accoglienza e atmosfera”.
(7) Giovanni Cavalcanti - Istorie Florentine Volume II, pag. 455 a 457 – Firenze, Tipografia All´ Insegna di Dante, 1838 – Appendice § 4: "L' uno fratello si fermò nella città di Firenze: costui tolse per donna una nata della bella Gualdrada, il quale ebbe per dota il castello di Monte Calvi, colle possessioni e cogli uomini. Di costui sono discesi tutto il lato di que' Cavalcanti da Monte Calvi, de' quali sono io." 
   Comprovadamente sabemos que Gianberta Cavalcante Cavalcanti, documentado como consuldos mercadores  em Florença no ano de 1203, 1220 (SUC, citando Santini, também SUC, anos 1192 e 1214), neto de Letto Cavalcanti (c.1030/60) e filho de Ianni di Letto ou Giovanni Leto, Gianulietto, Ginulieti, ou Gianetto Cavalcanti c.1080, aparece citado no testamento de Beatrice de Capraia (membro da Casa de Capraia) em 1278 juntamente com seu filho Tegliaio falecido antes de 1278 e casado com Iacopa Amidei,  ainda o famoso neto Guelfo Cavalcanti (Guelfo di Pontorme?) e outros (Fonte tabela SUC). Gianberta nesta geração, porque as datas todas bem se encaixam, fora realmente casado com uma filha do conde Guido Guerra III e Guadralda Ravignani - filha talvez de prenome também Quadralda, como indica o genealogista. Gianberta cunhado, portanto, de Marcovaldo (Markwald) dos Guido de Davadola - este casado com Beatriz de Capraia. Ver no blog Rosa Sampio Torres, o trabalho “Os Berardenga” e “Propriedades da família Cavalcanti na Toscana”.
(8) [Leto] Cavalcanti di Cavalcanti (<1030>) na geração dos primeiros Cavalcanti documentados já seria herdeiro e senhor de propriedades em Lugo Ostina, em Val d´Arno e dono do Castelo de MonteCalvi em Val de Pesa (Informações de Fineschi, “Memorie Istoriche Uomini Ilustri”, SMN, citado na Tavola de SUC). Documento fundiário relativo a esta região em Val de Greve, onde se localizou o castelo de Montecalvi, noticia que em maio de 1096 Uggocione di Cadolingi di Fusececchio (da região de) e seus filhos Ugo e Ranieri teriam vendido e doado terras e bens a esta abadia próxima de Possignano, terra e bens que logo depois passariam à família Cavalcanti - Leto Cavalcanti dono de MonteCalvi é fato também mencionado pela a enciclopédia Trecani, no verbete Cadolingi. 
   Documentos originais reportados por E. Repetti no Dizionario Geografico Fisico Storico della Toscana - 1839 - ‎Tuscany (Italy), pag. 106, dão notícias sobre propriedades relativas aos avalcanti na região de Val de Greve.   
(9) Notícias da Piève di Pitiana constam na obra de Stanzani, Giancarlo - Il Plebato di Pitiana, Storia Del territorio dalle origini al XVIII secolo. Também pesquisa local de Marcelo Bezerra Cavalcanti. Informações locais sobre a igreja, ainda obtidas em fontes enciclopédicas. 
(10) A origem do simbolismo do lírio entre os francos surge com Clotilde da Borgonha ou Rotilde (em latim Chrotechildis, Chrodechildis ou Chlodechildis; Lion, 475 - Tours, 3 de junho de 545) rainha dos francos, segunda esposa do rei franco Clóvis – ela era princesa da Borgonha, filha de Quilperico II (c. 450 – 493), rei da Borgonha de 473 até sua morte. A ela atribuída a conversão do marido ao catolicismo.
   Conta a lenda: Em uma celebre batalha contra os alamanos, o rei Clovis teria invocado o deus de sua mulher Clotilde, e então vencido essa batalha de Tolbiac em 496 d.C. Mas no momento em que os alamanos se retiravam Clotilde a distância teria tido uma visão religiosa em que apareciam três lírios brancos, flores que Clovis adotou depois como simbólicas. Mantendo a sua promessa de se manter cristão Clovis se fez batizar por São Remigio, e outros 3 mil francos também batizados na mesma ocasião. O rei franco Carlos Magno já de dinastia carolíngia três séculos depois fez duas peregrinações à catedral de Notre Dame de La Anonciation de Puy (Auvergne), região da Borgonha onde nascera Clotilde de família antiga de dinastia merovingia - a catedral tornada centro de peregrinações     O símbolo da Anunciação e do lírio na Itália teriam chegado, portanto, tanto da origem franca quanto oriental. Lembrando que Florença até hoje simbolicamente é está ligada à figura estilizada do lírio, que estaria gravada na espada de Julio Cesar fundador da cidade
     Entretanto, sabemos que o simbolismo do lírio vinha de um passado muito mais antigo associado ao pendão do rei David presente no cântico dos Cânticos como símbolo de pureza e eleição, de escolha; também associado a Jesus Cristo - que recomenda a simplicidade do lírio – “olhai os lírios do campo”. No Egito esteve associado à flor-de-lótus. A figura de São Giglio (ou Egidio, c. 650 – c. 710) também muito cultuada na tradição franca e medieval, mesmo até hoje em numerosas as igrejas do centro europeu de sua devoção.
     O lírio cedo se tornou símbolo de poder e soberania da realeza que se fazia por escolha divina - os dotados de pureza do corpo e da alma. Adotado, portanto, pela família do rei franco Clovis, em seguida pelos condes de Senslis - por Alpaida de Senslis, filha de Luis, o Pio; pelos condes de Anjou, descendentes dos condes de Hesbaye no centro franco - tornando-se logo adiante também símbolo da realeza francesa. O lírio estilizado chega ao brasão dos Cavalcanti brasileiros pelo brasão de Giovanni di Lorenzo Cavalcanti, pai do nosso patriarca Filippo, e recebido através o rei inglês Henrique VIII quando serviu na Inglaterra como mecenas e comerciante de arte.
    Ver outros detalhes no nosso artigo sobre esta Igreja em Pitiana em “Guia da Capelas Cavalcanti” já no nosso blog. Estes nossos comentários constam ainda de um terceiro artigo sobre a Piève de Pitiana e este seu magnífico quadro no artigo “Requintes dos antigos Cavalcanti - Tres significativas peças de Arte”, próximo no nosso blog.
 (11) Para mais detalhes e aprofundamento sobre este item e fontes bibliográficas consultar “Guia das Capelas Cavalcanti na Toscana” com notas, e em especial os nossos trabalhos “Bartolomeu Cavalcanti” editado no blog e na revista digital portuguesa InComunidade, ed.38, setembro de 2015; “Conspiração “Pucci e Cavalcanti de 1559” no blog e ainda o artigo “Accademia del Piano”, baseado em documentos de época obtidos na Biblioteca Nacional de Florença - documentos que nos chegaram através o pesquisador Marcello Bezerra Cavalcanti - artigo  já publicado no nosso blog e na revista InComunidade.





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