Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Índias” - sec. XVI, XVII
Poucas são as referências documentadas sobre a
personalidade misteriosa e ocultada do nosso patriarca Filippo di Giovanni
Cavalcanti - patriarca que a tradição oral da família no Brasil indica
envolvido em conspirações contra os duques de Médici em Florença e por esse
motivo para cá migrado no século XVI.
Tanto na Europa quanto no Brasil poucas são
as informações concretas sobre sua vida e personalidade - ainda que seu pai e
irmãos apareçam já muito citados na historiografia européia contemporânea (1).
Por analogia à sua família italiana talvez
possamos perceber Filippo como um típico fidalgo renascentista, nascido em
Florença em 12/6/1525, comprovadamente batizado na Igreja de Santa Crocce (2). Mas suas atividades enquanto jovem na Europa estiveram
até agora cobertas por um absoluto silêncio historiográfico, nenhuma outra informação
documentada. Apenas sua passagem pela Espanha e pela corte portuguesa por volta
dos 34 anos, pouco antes de embarcar para Brasil em cerca de 1560 (3).
Entretanto, algumas informações sobre a
personalidade de Filippo di Giovanni Cavalcanti e suas preferências pessoais nos
restaram no Brasil através os documentos das “Denunciações ao Santo Oficio” - tribunal
religioso em que ele ao fim da vida em Pernambuco é convocado a se qualificar
e a depor no ano de 1583.
Estas
informações constam da obra Denunciações da Bahia (1591-1593), documentos
sobre a Inquisição em Pernambuco, já editados. Por estes documentos somos capazes
de perceber nosso Filippo como um ilustrado renascentista, no mínimo bom conhecedor
do latim (4). Destas denunciações ao Santo Oficio, que na verdade nos parecem “um
festival” de acusações mútuas, Felipe teria sido acusado por um cidadão inculto
de ter possuído um livro estranho - “uma Bíblia em linguagem” (uma bíblia em
latim) (5) – e ainda lhe foi atribuído o típico “vício florentino”.
Esta ultima acusação já comentada por
Gilberto Freire:
“Desde
o dia remoto do sec.XVI em que um certo colono, talvez despeitado, denunciou
Filipe Cavalcanti como pecador nefando, que não se faziam acusações tão
violentas aos Cavalcanti em Pernambuco” (6).
A partir
deste comentário do nosso ilustre intelectual fica demonstrado que Filippo, pelo
menos, era um bom conhecedor de latim, portador de uma cultura clássica renascentista
semelhante a de sua muito ilustrada família - pais, irmãos e mesmo família
ampla - segundo indicam os nossos vários trabalhos já realizados sobre sua família
na Itália e na Inglaterra (7).
Mas
não são apenas estas informações da Inquisição que nos aproximam de sua
personalidade.
Outro
documento que perdurou - uma carta do comerciante Filippo Sassetti no séc. XVI dirigida
aos Medici, apresentada no Brasil pelo historiador Evaldo Cabral de Mello, nos fornece
informações ainda bastante concretas sobre o modo de vida do nosso Filippo
Cavalcanti na Colônia.
Nesta carta apresentada por Cabral de Mello no artigo “O mito de Veneza no Brasil”, o comerciante
e viajante Sassetti comentava que Filippo aqui se tornara homem “de vastíssimos
cabedais, de grande autoridade, quase sobranceiro a todos, até ao próprio
governador, desfrutando de grande estado, com muitos pajens e cavalos, gastando
em sua casa mais de 5.000 escudos pois seus negócios eram engenhos de açúcar” (8).
Mais do que expressar uma visão óbvia do
magnífico estado econômico de Filippo Cavalcanti, ou uma descrição de seu
“status” no Brasil, esta carta-relatório é percebida por nossa historiografia
como possível rastro de espionagem encomendada pelos Medici, seus potenciais
perseguidores - ainda que este comerciante Sassetti fosse um parente longínquo de
Filippo Cavalcanti (9). Pois sabemos naturalmente que Filippo aqui se havia
casado com uma riquíssima mameluca, Catarina - descendente dos famosos Albuquerque
donos da capitania, grandes produtores e exportadores de açúcar - tendo ele se
tornado “nas Índias” (!), segundo descrição exagerada do historiador Spione Ammirato,
“por seu engenho” e “boa cabeça” um estimado governante, dono de terras e engenhos.
Terras vastas que, segundo nós mesmo
logramos demonstrar, já em 1577 Filippo legava ao seu primeiro
filho João (10).
Voltando
às perseguições Medici, sabemos quão longe iam estas perseguições políticas da
família de banqueiros dominante em Florença, e como eram enviados ao novo Mundo
informantes e viajantes profissionais para bem informá-los sobre as condições
de vida alem mar, bem como as possibilidades econômicas nas colônias espanholas
e portuguesas – aspectos já abordados por nosso historiador Sergio Buarque de
Holanda no artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil ao
tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” (11).
Trabalho
recente da estudiosa italiana Lucia Prioli, também centrado nos interesses e relações
econômicas dos Medici com o Novo Mundo e o Brasil (12), despertou, entretanto, nossa
especial curiosidade por referência a um contato estabelecido pelo quarto filho
de Filippo, Jerônimo (13), com o embaixador toscano em Madri, Orso d´Elci, no
ano de 1618. Contato estabelecido por carta de Lisboa após a morte de seu pai (14)
referindo a convivência, na corte florentina, entre Filippo di Giovanni
Cavalcanti e o Grão-Duque Cosme I de Medici. A carta do embaixador reporta a
solicitação de seu filho Jerônimo Cavalcanti aos Médici, transcrita abaixo.
A carta de intervenção
do embaixador toscano - apenas a parte da correspondência trocada que nos
resta - já fora referida e transcrita por Sergio Buarque de Holanda no trabalho
citado, sem que sua importância factual fosse, entretanto, bem avaliada pelo nosso
historiador. Buarque de Holanda nesta ocasião preocupado apenas em detectar possíveis
atividades econômicas de Filippo Cavalcanti.
A nosso ver esta solicitação
do filho Jerônimo ao diplomata toscano por uma intermediação junto aos Médici é
fato historiogràficamente muito significativo - pois vem comprovar Filippo di
Giovanni Cavalcanti, quando ainda em Florença, ter freqüentado efetivamente a corte
de Cosme I de Medici. O texto do embaixador explicita a convivência entre as duas
personalidades – o texto primeiro registro concreto da presença de Filippo na
corte dos Medici em Florença, antes de Filippo vir para o Brasil. Lembrando
mais uma vez que a participação de Filippo em atividade conspiratória contra os
Médici há muito é sugerida pela longa tradição oral da família, atividade
conspiratória que comprovamos levara à morte no cadafalso em 1559 um cortesão
muito intimo de Cosme I, Pandolfo Pucci, e o próprio parente de Filippo, Stolto
Cavalcanti. Seu irmão Giovanni di Giovanni também agora encontrado por nós em
envolvimentos secretíssimos na mesma conspiração (15).
Pela correspondência entre o filho de
Filippo, Jerônimo, e o embaixador toscano – correspondência trocada já duas
gerações de Medici no poder depois de Cosimo I - acreditamos que o filho de
Filippo talvez esperasse, nesta ocasião, que o grão–duque Cosme II (16) tivesse
já esquecido as prováveis suspeitas dos Médici sobre seu pai e sua família - suspeitas
relativas a fatos políticos há muito passados - assim inclinado a fornecer à
família Cavalcanti de Albuquerque novo atestado de parentesco e nobreza. Na
medida em que Filippo havia conseguido escapar a tempo de Florença antes mesmo de
descoberta a Conspiração de 1559, e não ter sido - segundo nossas exaustivas
pesquisas - pessoal e oficialmente comprometido por Cosimo I de Medici na
conspiração de 1559, uma tentativa de ainda obter nova documentação pode ter
sido realmente articulada por seus descendentes.
Reproduzimos
o texto da carta do embaixador toscano em Madri dirigida ao Secretário de
Estado de Florença, correspondência que cita como testemunho desta convivência
na corte florentina a nobre Beatriche de Menezes, carta arquivada no Arquivo Mediceo
f. 4945, c. 951 e 964 (referências de Sergio B. de Holanda). Os grifo são nossos):
Molto Illustre Signor mio osservantissimo
Mi scrive di Lisbona Girolamo Cavalcanti de
Albuquerque, la cui casa e padre vivono nel Brasile, come V.S. vedrà
dall´incluse Iettere, che qui vanno per S.A. nostro Signore. Penso che costà
dovrà esser noto questo ramo de´Cavalcanti trapiantato nell´India
e si vede che la gloriosa memoria del
Granduca, che sia in Cielo, conoceva il padre del sudetto Girolamo.
Pare che in quelle parti siamo imparitati nobilmente, secondo che mi
scrive e testifica la sig.ra D.a Biatriche de Menezes e cosi non ho che dire a
V.A. altro, se non rimettermi a quel che si contenga nelle suddette incluse
lettere per S.A., e di novo baci a V.S.le mani.
Di
Madri a 27 di gennaio 1618.
Di
V. S. molto illustre, servo obbligatissimo
OLSO
D´ELCI”
Al
molto ill. signor mio
osservantissimo
il signor
Cursi
Picchena
Secretario
di stato di S.A.S. FIRENZE
Acreditamos que por esta solicitação de intermediação
formal ao embaixador toscano, pretendessem os descendentes de Filippo obter um documento
certificador de nobreza da família ou, pelo menos, sondar uma volta dos
Cavalcanti de Albuquerque com toda segurança à Europa ou à Florença - com providências
diplomáticas preparadas pela família neste sentido, solicitado em especial o testemunho
da nobre Dona Beatriche de Menezes, viúva de Pedro de Medici (17).
Na medida em que Filippo conseguira sair a
tempo de Florença, sem ser oficialmente comprometido por Cosimo I na conspiração
tramada por vários ramos da “casata Cavalcanti” em 1559 – já a “casata” citada em
documentos secretos e em código como os “Scaracchi” (18)
- uma volta da família Cavalcanti de Albuquerque à Europa, quase sessenta anos
depois, teria sido mesmo assim tentada.
Lembramos que em 1624 as ameaças de invasão
holandesa já se tornavam realidade - a família Cavalcanti de Albuquerque, seus
filhos Antonio, Jerônimo e Lourenço percebendo-se obrigados por compromissos
familiares e políticos com Portugal a participar da luta de resistência na
Bahia, ainda que à época Portugal estivesse sobre domínio espanhol (19). A
família Cavalcanti de Albuquerque em Pernambuco passando adiante por grandes
riscos pela ocupação holandesa em 1635, enormes prejuízos por perda de engenhos
incendiados pelo invasor – os netos de Filippo obrigados a abandonar engenhos e
a recuar em luta conduzindo ainda familiares idosos e crianças, bens e
agregados em marcha épica para a Bahia (20).
Ainda
em nossas pesquisas localizamos um outro documento interessante referente a
Filippo - uma carta escrita já por um neto seu, Emanuel ou Manuel Cavalcanti, frade
da Ordem dos franciscanos menores, carta datada de 31 de dezembro de 1626 - já depois
do ataque dos holandeses à Bahia, mas quaro anos antes do ataque a Pernambuco. Por esta carta de Manuel, escrita quase sessenta
e seis anos depois da chegada de seu avô, o capuxo vivendo em Portugal tentava aparentemente,
e mais uma vez, obter do duque de Medici, Cosimo II, uma certidão de nobreza da
família em Florença. Nesta oportunidade descreve
a vida de seu avô na Colônia, de forma detalhada e enaltecedora.
A existência deste frade foi para nós
confirmada pela genealogia segura de Adalzira Bittencourt, onde se registra que
Antonio Cavalcanti, o filho herdeiro de Filippo, teve realmente um filho, Manuel,
que foi frade “capuxinho” - existência também confirmada na obra do
genealogista italiano do sec. XVII Spione Ammirato e seu filho Il Giovani, que
com o capuxo teria tido contato em Roma (21).
A documentação
é reproduzida em Memoires de la societé Imperiale, Douai, V. Wartelle,
1863, pg. 229, e refere “raquête du 31 dezembro de 1626, tiré du 9e volume
p.57, affairs et rapports classe 1, Distincione 35, Archives de Riformagioni à
Florence”.
Transcrevemos
trecho da carta do capucho Manoel ou Emanoel:
«... s´etant mariée avec une famme de famille
noble, et par sa extraction des plus considerables de la colonie, il en avait
eu plusiers enfants, entre autres Antonio Cavalcanti, son pére, encore vivant,
ajoutant que Fhilippe acquit de biens au Brésil, demeura avec tous les siens au
service de sa Magesté Catholique, et vint plusieurs fois à Lisbonne où il
déploya un grand faste, et où il maria ses filles aux pricipaux seigneurs du
pays “
A
descrição realizada por este neto de Filippo é sugestiva – fazendo referência ao
faustoso “status” de seu avô na Colônia, ressaltando até mesmo a nobreza de sua
avó mameluca. Acreditamos, entretanto, que esta carta tenha sido escrita, mais
uma vez, pela necessidade da família - com a anunciada invasão holandesa (a
carta é de 1626) – tentar ainda retornar à Europa com titularidade e fidalguia
em dia, sobretudo segura contra novas perseguições da família Medici.
Objetivamente,
não temos conhecimento de nenhuma resposta dos Medici à esta nova carta de
Manoel, como à sondagem anterior de seu tio Jerônimo.
Temos
forte convicção que por este tempo os grão-duques Médici já se sentissem aliviados
por terem se livrado, em boa hora, das inúmeras e incomodas “casati”
contestadoras que frontalmente haviam tentado evitar que fosse estabelecido o
Grão-Ducado Toscano, e se oposto ao fim do sistema Republicano de Florença. Certamente os jovens Médici não haveriam de querer
de volta uma delas – em especial a família Cavalcanti já com sua fama de ”sdegnosa”
(22).
Sob a liderança de Bartolomeo di Mainardo
Cavalcanti, do ramo “Cavallereschi’ da família, a Conspiração de 1559 pretendera
mesmo estourar com pólvora o trono de Cosimo I de Medici durante um ato religioso.
Decoberta a conspiração antes de eclodir, o que se seguiu foi a degola do jovem
Stolto di Tomasso Cavalcanti do ramo “Ciampoli” da família, a fuga de
Bartolomeu - ainda bem demonstrado para os Medici o perigo representado pela “casata
Cavalcanti”.
Os esforços políticos tipicamente
renascentistas e pró-republicanas do pai de Filippo - o comerciante e mecenas Giovanni
di Lorenzo em 1527 – esforços somados ao envolvimento político posterior em
conspirações de pelo menos dois de seus filhos - Guido e Giovanni di Giovanni
Cavalcanti, ambos cortesãos e diplomatas informais – foram já por nós indicados
e mesmo confirmados por inúmeras fontes documentais, em nossos vários trabalhos
(23). Comprovamos especialmente que o irmão mais novo de Filippo, Giovanni di
Giovanni Cavalcanti, recém identificado, teve conhecimento detalhado da
Conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559 e dela participou trocando cartas
codificadas com outros conspiradores, cartas que foram cuidadosamente arquivadas
pela família Capponi. A notícia da passagem de Felippo pela Espanha ao sair
precipitadamente por Portugal comentada, até mesmo, por este irmão caçula em uma
carta por nós, há pouco, decodificada (24).
Lembramos que os jovens governantes Medici,
filhos de Cosimo I, especialmente depois da ultima Conspiração republicana de
1575 (Conspiração Pucci e Ridolfi) haviam tido trabalho persecutório exaustivo,
dramático e sistemático para se livrar também de várias outras famílias republicanas
florentinas - os Alammani, Capponi, Machiavelli, Ridolfi, Martelli, etc. – fato
por nós observado por numerosas fontes e com muitos detalhes em nossos
trabalhos anteriormente publicados.
A
“casata Cavalcanti” já denominada em código secreto da época como “Scaracchi”, o
último Cavalcanti ainda atuante em Florença do ramo Bastiano da família - Francisco
di Bastiano Cavalcanti - depois de um conflito político seguido de saque foi degolado
pelos Medici como ladrão em 1575 (25).
Acreditamos,
portanto, que qualquer possibilidade de retorno em segurança do ramo Cavalcanti
brasileiro à Florença, se pretendida ou desejada pelos descendentes Cavalcanti
de Albuquerque, estaria pelas razões apresentadas acima completamente inviabilizada.
Entretanto, a personalidade e as motivações
republicanas do patriarca Filippo de Giovanni Cavalcanti, por essas
correspondências e tentativas de retorno de seus descendentes, podem ter ficado
mais claras para nós.
Notas
(1) Teses e trabalhos
recentes apresentados por estudiosos na Europa, sempre muito minuciosos,
levantaram variadas informações sobre a família paterna de Filippo Cavalcanti, especialmente
sobre seu pai Giovanni di Lorenzo - comerciante, mecenas, cortesão e diplomata informal
que atuou também na Inglaterra – ainda referidas às atividades de seus irmãos Guido
e Sciatta nas cortes européias. Recentemente conseguimos por documentos
italianos da Accademia del Piano, arquivados na Biblioteca de Florença e apenas
superficialmente avaliados, refazer a identificação e personalidade de seu
irmão caçula, Giovanni. Com o auxilio do pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti
localizamos e descrevemos a casa comercial Bardi & Cavalcanti de Londres,
onde a família atuou durante os muitos anos de seu exílio, depois do fracasso da
segunda Republica Florentina. Entretanto, Filippo Cavalcanti nestas atividades
comerciais e diplomáticas, filho mais velho, nunca aparece ou é citado. Para melhor
conhecimento destas variadas informações sobre sua família, com fontes, peço ao
leitor reportar nossos vários artigos sobre os Cavalcanti na Itália, e no
Brasil, publicados desde 2010 no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/ e
na revista do Porto Incomunidade.com/ em vários números, nos anos de 2015 e
2016. Ver indicações nota abaixo.
(2) A data de
nascimento de Filippo é referida na Igreja de Santa Croce em Florença no ano de
1525. Entretanto, várias outras informações de parentes próximos de Filippo
Cavalcanti - pai, irmãos, e mesmo da família ampla - são documentadas e abundantes
na historiografia européia, fato já indicado na nota acima, o que nos permitiu recriar
o contexto familiar de Felippo nesta família renascentista típica - a família ampla
sempre envolvida em conflitos políticos pela Republica em Florença, especialmente
atuando neste século XV contra a predominância abusiva dos banqueiros Médici – o
ramo “Cavaleschi” de Filippo atuando especialmente a partir da derrota da Segunda
Republica (1527-1530). Informações por nós reunidas em nossos vários trabalhos
que serão paulatinamente indicados neste artigo, nas notas a seguir 3, 7, 12, 19, 22,
23, 24, 25.
(3)
A
passagem de Filippo por Portugal é documentada por um pedido de nobreza solicitado
a Cosimo I de Médici em 23 agostos de 1559, antes da eclosão da conspiração, com
texto referindo uma comenda - possivelmente a Cruz de Malta - cruz que Filippo
pretendia receber do rei português. Documentos
arquivados no Arquivo do Estado de Florença.
Também Bittencourt,
Adalzira – Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis (Rio de Janeiro,
Livros de Portugal, 1965, p.52) cita um artigo de Paulo Eleutério Cavalcanti de
Albuquerque de 1939 publicado na “Revista de Estudos Genealógicos’(n. 5 e 6,
São Paulo), onde já é referido o pedido de sua nobreza datado de 23 de agosto
de 1559. Documento recentemente publicado por pesquisadores da família na mídia
eletrônica no Brasil.
A certidão de nobreza concedida por Cosimo
de Medici no mesmo mês de agosto de 1559 ainda no Arquivo de Estado de
Florença. Acreditamos que esta carta de nobreza não tenha mais chegado às mãos
de Filippo, dada sua súbita saída de Lisboa na ocasião. Nota-se que a descoberta da conspiração
liderada por seu parente do ramo Cavalereschi, Bartolomeo di Mainardo
Cavalcanti, ocorrera um mês depois, no começo de outubro de 1559. Reproduzimos igualmente a foto deste ultimo documento,
já publicada na mídia eletrônica sob responsabilidade de Francisco Antonio
Dória.
O historiador da família
Cavalcanti italiana no século XVII Spione Ammirato, no manuscrito Istoria
Della Famiglia Cavalcanti, obra escrita em 1586 e completada em 1626 por Scipione
Ammirato, Il Giovane – manuscrito guardado no Archivio di Stato di Firenze
– é a única fonte européia de época, ainda que um pouco posterior, a
mencionar a existência de Filippo, citar seus irmãos Guido e Sachiatta e a referir
sua saída “para as Indias” na data (equivocada) de 1550 - Estas informações
lhe teriam sido fornecidas por Manuel Cavalcanti de Albuquerque, o neto de
Filippo, irmão capuxo que esteve em Roma e Florença por volta de 1626, ainda
com detalhes genealógicos sobre a família brasileira e notícias sobre o modo de
vida de Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Indias” (citado adiante no texto e
na nota 19). O adendo, certamente composto pelo filho adotivo e discípulo de Ammirato,
fato comentado no Brasil pelo genealogista Joaquim Souza Leão do IAHGP e IHGB. O manuscrito dos Ammirato agora totalmente
disponibilizado pelo pesquisador da família Marcello Bezerra Cavalcanti em seu
blog (ver mais nota 10).
Já a passagem de Filippo Cavalcanti pela Espanha antes de
chegar a Portugal é comentada em carta codificada de seu irmão Giovanni, datada
de 1560, e enviada de Lion (França) fornecendo notícias ao amigo, e certamente
conspirador, Bernardo Cambi em Florença - carta arquivada na BNF e fotografada por
Marcelo Bezerra Cavalcanti. Esta carta já foi analisada com detalhes em nosso artigo
“Giovanni di Giovanni Cavalcanti”, editado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
e no artigo “Accademici del Piano”, publicado pela revista InComunidade.com/ do
Porto, n. 43, fev. de 2016; ainda todos os documentos da Accademia del Piano,
listas em código etc. por nós analisadas e publicadas no artigo “O Ramo
Brasileiro da Família Cavalcanti, parte II” publicada na mesma revista, n.47, junho
/julho de 2016 - as Partes III e IV nas edições 48 e 50 agosto e novembro
respectivamente.
(4) Filippo Cavalcanti ao fazer denúncias contra
Antonio Leitão, o Velho, em Pernambuco demonstrou ser bom conhecedor de latim -
fato que se conclui da documentação das Denunciações da Bahia, 1591-1593
já publicadas em São Paulo, 1925, série Eduardo Prado, pág. 76, 77, com algumas
informações reproduzidas por Elias Lipiner em Os judaizantes nas Capitanias
de Cima, Brasiliense, 1969, pg. 47. Citamos o trecho reproduzido de Lipiner:
“O celebre florentino Felipe Cavalcanti denunciou ao visitador, na vila de
Olinda, que estando na matriz desta vila rezando pelas oras chegou a ele Antonio
Leitão o Velho, cristão novo, casado com Felipa de Abreu e lhe perguntou que
rezava, e abrindo a obra mostrou-lhe que rezava o salmo qui habitat e que
estava no verso: longitudine dierum
replebo eum. Então lhe perguntou de quem e como entendia eum, e ele denunciante lhe respondeu que
o entendia por Messias que já tinha vindo. E o dito Antonio Leitão dando então
a cabeça e mofando, lhe disse que ele denunciante não entendia bem”.
Albuquerque,
Maria Cristina Cavalcanti no romance O Magnificat, Memórias
Diacrônicas de Dona Isabel Cavalcanti, Tempo Brasileiro, RJ, Fundação
Roberto Freire, 1990, pg. 32, refere também o conhecimento de
Felippo do latim, informação possivelmente obtida nas Denunciações.
(5) A
pesquisadora Barbara Lopes (no blog cavalcantenetwork@hotmail.com)
analisa
esta mesma denúncia e reforça a idéia que Felipe conhecia
bem latim:
“Amaro
Gonçalves compareceu à mesa de Denunciação do Santo Ofício fazendo acusações
contra Filipe Cavalcanti em 29 de outubro de 1593. Amaro era português, natural
de Barroso, que pertencia ao bispado de Braga. Como ocorria com tais denúncias,
o texto das acusações é confuso. Filipe Cavalcanti é acusado de possuir em sua
casa uma “bíblia em linguagem”. Talvez em seu linguajar pobre, meio analfabeto,
o autor da acusação não soubesse especificar que tipo de “bíblia” era aquela,
que ele dizia que era para que “desse ao diabo para ler”, talvez não fosse
uma bíblia, fosse um outro livro, ou mesmo uma espécie de bíblia protestante,
não se sabe. O certo é que o autor se mostra tão confuso em seu depoimento
que chama o réu de “Cavalgante”, isto é, que anda a cavalo, e repete o nome
errado várias vezes”.
Neste festival de
acusações mútuas, Filippo Cavalcanti, cristão velho e como sabemos de antiga família
“guelfa”, intimamente ligada ao papado, teria também acusado os cristãos-novos
Diogo Fernandes e Branca Dias, senhores de engenho do Camaragipe, depois
conhecido como engenho de Santiago, que ”nos ditos sábados não obrigavam a
trabalhar a gente de seu engenho”. Lipiner, Elias - Os judaizantes nas
Capitanias de Cima, Brasiliense, 1969, pg.71 - citando as Denunciações
Pernambucanas, pg.76.
(6) O comentário
crítico de Gilberto Freire sobre o possível “vício florentino” ou sodomia de
Filippo Cavalcanti esta registrado na Introdução ao livro O Velho Felix e
suas Memórias de um Cavalcanti( Fundação Joaquim Nabuco, Ed. Massangana,
1989, pg. XXXI-XXXVI). Em outro de seus livros, Casa Grande de Senzala (edição
do Circulo do Livro, 1997) a acusação à Filippo também é referida na pg. 343,
com seus comentários deste vício ser comum em Florença na época. Também na nota
da pg. 414, cita a denúncia de Felipe Cavalcanti por Belchior Mendes d´Azevedo em
Denunciações da Bahia 1591-1593, pg. 448.
(7) Artigos de Torres, Rosa Sampaio especialmente
“Giovanni di Lorenzo Cavalcanti e seus filhos”, “Rebeca al Pozzo” e “Notícias
sobre a casa comercial Bardi e Cavalcanti”, publicados no blog http://rosasamaiotorres.blogspot.com/. Os dois últimos artigos também publicados pela
revista do Porto, InComunidade.com - números 42 e 46, respectivamente nos meses
de janeiro de 2015 e maio de 2016.
(8) O historiador
contemporâneo Evaldo Cabral de Mello, no artigo “O mito de Veneza no Brasil” (Jornal
“Folha de São Paulo” - 1 de julho 2001) cita o documento e afirma que esta
carta hoje está na posse do colecionador Pedro Correia do Lago.
(9) Notícia recém colhida
pelo pesquisador Marcelo Bezerra Cavalcanti em ficha da Biblioteca de Florença
indica parentesco bem anterior dos Sassetti com os Cavalcanti, parentesco certamente
de outro ramo, não do nosso brasileiro. A este respeito nos confirmou de
imediato e com gentileza o genealogista italiano Silvio Cavalcanti por
facebook, baseado em sua tabela TavolaCavalcanti, já na mída eletrônica: “Nel
1300 uno dei tanti "Filippo Cavalcanti" sposò Ghita Sassetti. Era
Podestà di Volterra nel 1295, ma non era il Cavalcanti antenato di Filippo di
Giovanni di Lorenzo di Filippo. Infatti non aveva alcun figlio che si chiamava
Lorenzo, inoltre doveva essere più vecchio di almeno 50 anni”.
Reproduzimos a ficha “Sassetti” da
BNF citada por Marcelo Bezerra Cavalcanti: Una figliola di Federico di Sassetto
Sassetti fu moglie di messer Filippo Cavalcanti nel 1300. Ed ecco il
ritrovamento di Filippo di Giovanni di Lorenzo di Filippo Cavalcanti in
Pernambuco, Brasile nel secolo XV - Lettere edite e inedite di Filippo Sassetti
raccolte e annotate da Ettore Marcucci, 1 de janeiro de 1855 - F. Le Monnier è
disponibile gratuito su Google Books, oppure nella Biblioteca Nazionale Centrale
di Firenze.
Autore..............: Sassetti , Filippo
Titolo..............: Lettere edite e inedite di Filippo Sassetti / raccolte e annotate da Ettore Marcucci
Pubblicazione.......: Firenze : F. Le Monnier, 1855.
Descriz. fisica.....: XLVII, 575 p. ; 19 cm
Altro autore........: I. Marcucci, Ettore
Numero di record....: TO00346097
Natura bibliografica: Monografia
Paese di pubblic....: it
Tipo materiale......: Materiale a stampa”
Titolo..............: Lettere edite e inedite di Filippo Sassetti / raccolte e annotate da Ettore Marcucci
Pubblicazione.......: Firenze : F. Le Monnier, 1855.
Descriz. fisica.....: XLVII, 575 p. ; 19 cm
Altro autore........: I. Marcucci, Ettore
Numero di record....: TO00346097
Natura bibliografica: Monografia
Paese di pubblic....: it
Tipo materiale......: Materiale a stampa”
(10) Filippo Cavalcanti teria por algum tempo
ocupado o cargo de vice-governador da capitania, posto de “loco-tenente” - pelo
menos entre 1588 e 1590 em lugar do ausente herdeiro da capitania Jorge de
Albuquerque Coelho (1539-1597)
- segundo consta em documentação de época arquivada no IAHGP (esta informação
sobre Filippo não consta, entretanto, em fontes na mídia eletrônica
tradicionais sobre os governos da época). Filippo Cavalcanti foi também proprietário
dos engenhos Santa Rosa, Santana e Utinga
construídos em terras doadas pelo segundo donatário, D. Duarte Coelho de
Albuquerque no Cabo de Sto. Agostinho - terras judicialmente demarcadas no ano
de 1580.
O
genealogista da família Cavalcanti no século XVII, Spione Ammirato, em seu manuscrito Istoria Della Famiglia
Cavalcanti de 1586, trabalho completado em 1626 por seu filho adotivo Scipione
Ammirato, Il Giovani, atualmente guardado no Archivio di Stato di
Firenze, refere Manuel Cavalcanti de Albuquerque, filho de Antonio e neto
de Felipe, que teria fornecido detalhes genealógicos sobre seu ramo familiar e algumas
notícias sobre a vida de seu avô Filippo di Giovanni Cavalcanti “nas Indias” - isto
é no Brasil. Afirma Ammirato sobre Filippo, possivelmente baseado em informações
algo exagerada do seu neto: “governou com seu engenho porque tinha boa cabeça”
para “satisfação geral daqueles povos”.
Constatamos também que Filippo de Giovanni
Cavalcanti teria comprado terras em Goiana para seu primeiro filho João (naturalmente
um Giovanni como seu pai) lá pelo ano de 1577, fato já observado em nosso
trabalho sobre seu segundo filho, “Antonio Cavalcanti de Albuquerque (c.1564-1640)”,
publicado em nosso blog. As terras do engenho “Recunzaém” destruído por indígenas
teriam sido vendidas pelo filho de Diogo Dias, Bartolomeo Dias, e adquiridas
por Filippo Cavalcanti para este seu filho primogênito, João, que morreu muito
cedo - supomos pelas datas com cerca de quatorze ou quinze anos nesta ocasião -
pois o documento do pedido de licença para esta aquisição é datado de 1577 “em
nome de João Francisco Cavalcanti de Albuquerque, de Araripe” - documento lembrado
e referido por Ângelo Jordão Filho em Povoamento, Hegemonia e Declínio de
Goiana, (Recife, Cia. Editora de Pernambuco, 1977, pg. 159) sem que o autor
aparentemente tivesse feito a conexão genealógica. A certidão de compra destas
terras, referida por Jordão Filho como documento doado à municipalidade da
atual cidade de Goiana, e reproduzida na “Revista do Instituto Histórico de
Goiana” ano 1871, fls. 34 a 39.
(11) Holanda, Sergio
Buarque de - artigo “Os projetos de colonização e comércio Toscanos no Brasil
ao tempo do grão Duque Fernando I (1587-1609)” - Revista de História n. 71,
1967, pg.103, pdf.
(12) Paoli, Lucia - “Da
Livorno a Nombre de Dios, Uma Detagliata Relazione Inviata a Firenze e il
Pogetto de Medici per ub possessso in Brasil” pg. 91- artigo editado no
contexto da Giornata di Studi, “Percorsi de Arte e Letteratura tra la
Amerique”, recentemente ocorrida em 3 de outubro na BNF. O artigo tem a
intenção de demonstrar, como o citado trabalho do historiador brasileiro Sergio
Buarque de Holanda, o interesse das autoridades florentinas Medici no comércio
com o Movo Mundo espanhol no século XVII, e mesmo no Brasil. A autora também cita
a carta de Sassetti, mas apesar de referir Filippo Cavalcanti como um
“fioriusciti” no Brasil, não é capaz de perceber as especificidades do ramo “Cavalleschi”
brasileiro em relação aos banqueiros Cavalcanti do ramo “Ciomppi” da família
ampla - pois este ramo, sim, reconhecidamente tivera relação societárias com o
Giraldi - estes grandes comerciantes de açúcar do Brasil. Assunto já discutido
por nós anteriormente em vários artigos (ver fim da nota). Assim Paoli refere, num contexto equivocado
possível colaboração econômica da família Cavalcanti de Albuquerque com os
Medici, como insinua Buarque de Holanda, em relação à carta de Jerônimo Cavalcanti
de Albuquerque de 1618 ao embaixador toscano em Madri. Na verdade Jerônimo
Cavalcanti de Albuquerque passadas já duas gerações de Médici talvez esperasse
que os atuais governantes de Florença tivessem esquecido os fatos políticos passados
e capazes ainda de fornecer-lhe nova carta de nobreza – fatos, porém, que muito
haviam comprometido seu avô e mais firmemente o parente Bartolomeo, escondido em
Pádua até sua morte ocorrida em 1562.
A data da saída de Filippo de Florença,
citada por Paoli como em 1548, é
também equivocada. Já Sérgio Buarque de Holanda se havia equivocado na data da
Conspiração Pucci e Cavalcanti, que indica em 1575 e não a data correta 1559,
gerando equívocos e invalidado suas propostas relativas às causas da saída de
Filippo da Europa, assunto já por nós discutido em outros trabalhos como “Filippo
di Giovanni Cavalcanti” publicado em nosso blog. Os sugeridos
contatos de Felippo Cavalcanti, quando em Lisboa, com os banqueiros Alffaitati
de Cremona, situados nesta cidade e ligados ao comércio de açúcar na ilha da
Madeira, que seriam para Sérgio Buarque o único motivo (econômico) de sua vinda
para o Brasil, não se confirmam ou sustentam até o momento.
Estas sugestões repetidas por historiadores
brasileiros, com pesquisas muito centradas em analises econômicas, especialmente
Afrânio Peixoto (História do Brasil, Cia. Ed. Nacional, 1944, pdf) e Sergio
Buarque de Holanda, artigo citado, e agora por esta nova autora no tema
italiana Lucia Paoli não se comprovam. Realmente não há documento, até agora,
comprovando qualquer maior relacionamento econômico entre Filippo Di Giovanni
Cavalcanti e os Médici relacionadas à economia açucareira, na verdade uma
hipótese de trabalho que a meu ver não se sustenta, em especial como causa
única ou maior da migração de Felipe Cavalcanti. Lembrando que o banqueiro Tomasso
di Francesco Cavalcanti, do ramo “Ciampoli”, esse em verdade associado com
Giovanni Giraldi, morre em 1560, logo depois da descoberta da conspiração Pucci
& Cavalcanti, em que seu filho Stolto é degolado. O outro filho desse
banqueiro Tomasso, GiovanBattista, manteve contatos em Portugal, e poderia ter
mantido associação com os Giraldi. Mas segundo o próprio Buarque de Holanda,
pág. 103, citando o historiador Denucé, Jean - Inventaire des Affaitadi 1568,
Antuérpia, 1934, Lucas Giraldi é que teria tido associação com Giovanni
Francesco Affaitadi no comércio do açúcar desde 1527, na Ilha da Madeira. Os
descendentes de Lucas, associados aos Alffaitadi, é que serão muito
beneficiados com o comércio das Índias e do Brasil. A discussão já realizada em
vários dos nossos trabalhos, especialmente o artigo “Giovanni di Lorenzo
Cavalcanti e seus filhos, Felippo, Schiatta e Guido”, nota 11, em http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
Neste artigo, os interesses econômicos e as atividades políticas do nosso ramo
direto da família Cavalcanti, em Florença, são esmiuçados e não confirmam a
sugestão de Buarque de Holanda.
(13) Calculamos a
data de nascimento do filho de Filippo, Jerônimo, em 1568 - pois a jovem Catarina
de Albuquerque tem seu casamento com o florentino indicado por alguns
genealogistas entre os anos de 1560 e 1565. O casal tendo tido um filho mais
velho, João, falecido muito jovem e ainda outros nove filhos - Jerônimo
indicado como o quarto filho. A data do
nascimento do segundo filho e herdeiro, Antonio Cavalcanti de Albuquerque, indicada
por nós por cálculo aproximado em cerca de 1564 (Consultar osso trabalho
“Antonio Cavalcanti de Albuquerque - c.1564-1640”, nota
11). As informações genealógicas por nós utilizadas são de preferência recolhidas
em Bittencourt, Adalzira - Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis,
Rio de Janeiro, Livros de Portugal S/A, 1965, pg. 292, pois sua listagem é
baseada na “Nobiliarquia Pernambucana” de Borges da Fonseca, corrigida
modernamente pelo confiável genealogista Carlos Xavier de Paes Barreto. Esta
autora refere como filhos do florentino e de Catarina, todos com o sobrenome
Cavalcanti de Albuquerque, nesta ordem: João (falecido em criança), Antonio,
Lourenço, Jerônimo, Felipe, Genebra (com sobrenome ainda Manelli Arcoverde) Joana,
Margarida, Catarina, Felipa, Brides. A genealogista refere casamento e
descendência da prole, sem referir datas.
Assim calculamos a data de nascimento deste filho Jerônimo em 1568, dois
anos depois do nascimento provável de seu irmão Lourenço, e quatro anos depois
do nascimento de seu irmão Antonio - já que as mulheres nobres da época, em
geral, tinham filhos de dois em dois anos aproximadamente. Por ocasião desta
correspondência, Jerônimo já seria um homem maduro - com uns 50 anos, pouco antes
de sua atuação como militar.
Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque, segundo a genealogista Adalzira Bittencout, opus cit., pg. 301, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Santa Luzia de Troncoso e, ao lado de seu irmão Lourenço, “lutou gloriosamente contra os flamengos”. Jerônimo teria sido enviado pelo general Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a retomada final da praça aos holandeses, fato conseguido em maio de 1625. Voltou à Pernambuco como Governador de Armas. A genalogista cita sua prole ilegítima com Barbara Soares, em especial seu filho, João Soares Cavalcanti, também Cavaleiro da Ordem de Cristo. Fornece ainda lista dos descendentes. Sobre sua atuação militar com seu irmão Lourenço, ver mais detalhes e fontes
Notamos que Sergio Buarque de Holanda (no mesmo artigo citado acima, pg. 106) se equivoca no factual e troca as informações de Borges da Fonseca sobre este Jerônimo, autor da carta e filho de Filippo, por Jerônimo seu sobrinho – o filho homônimo de Antonio. O filho Jerônimo do mesmo sobrenome de Antonio foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, mas tomou hábito bem adiante, em 1634. Foi senhor de três engenhos em Goiana, como observou o 4º Donatário Duarte d’Albuquerque nas suas Memórias da guerra de Pernambuco, e se viu obrigado por causa das mesmas guerras a retirar-se com parte da família para a Bahia, no ano de 1635. Daquela cidade passou a Lisboa, onde alcançou o governo do Cabo Verde e faleceu solteiro e sem sucessão” (Borges de Fonseca).
Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque, segundo a genealogista Adalzira Bittencout, opus cit., pg. 301, foi Cavaleiro da Ordem de Cristo e Santa Luzia de Troncoso e, ao lado de seu irmão Lourenço, “lutou gloriosamente contra os flamengos”. Jerônimo teria sido enviado pelo general Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a retomada final da praça aos holandeses, fato conseguido em maio de 1625. Voltou à Pernambuco como Governador de Armas. A genalogista cita sua prole ilegítima com Barbara Soares, em especial seu filho, João Soares Cavalcanti, também Cavaleiro da Ordem de Cristo. Fornece ainda lista dos descendentes. Sobre sua atuação militar com seu irmão Lourenço, ver mais detalhes e fontes
Notamos que Sergio Buarque de Holanda (no mesmo artigo citado acima, pg. 106) se equivoca no factual e troca as informações de Borges da Fonseca sobre este Jerônimo, autor da carta e filho de Filippo, por Jerônimo seu sobrinho – o filho homônimo de Antonio. O filho Jerônimo do mesmo sobrenome de Antonio foi Cavaleiro da Ordem de Cristo, mas tomou hábito bem adiante, em 1634. Foi senhor de três engenhos em Goiana, como observou o 4º Donatário Duarte d’Albuquerque nas suas Memórias da guerra de Pernambuco, e se viu obrigado por causa das mesmas guerras a retirar-se com parte da família para a Bahia, no ano de 1635. Daquela cidade passou a Lisboa, onde alcançou o governo do Cabo Verde e faleceu solteiro e sem sucessão” (Borges de Fonseca).
(14) Nascido em 1525, como já observamos
acima, Filippo di Giovanni Cavalcanti teria falecido algum tempo antes de sua
esposa Catarina. “Porém ultimamente faleceu, deixando ainda viva sua mulher D.
Catarina de Albuquerque, a qual foi perfilhada a pedido de seus pais pelo
senhor rei D. Sebastião, e faleceu com mais de 70 anos, no de 1614, a 4 de
junho...”. Por informações também de Borges da Fonseca, Filipe Cavalcanti teria
sobrevivido alguns anos a seu sogro Jerônimo de Albuquerque.
(15) Sobre a participação da família Cavalcanti na
conspiração Pucci e Cavalcanti de 1559
ver nossos trabalhos indicados nas notas abaixo 23, 24 e 25. Em especial sobre
seu irmão Giovanni di Giovanni Cavalcanti temos pelo menos dois trabalhos
referentes - “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/,
e “Academicci Del Piano” publicado na revista do Porto InComunidade, numero 43,
fevereiro de 2016.
(16) A sucessão dos Medici
dominantes no período em Florença: - Cosme I, no poder entre 1537-1574 (em 1569,
Grão-Duque); - seu filho Francisco I nascido em 1541 e falecido em 1587, envenenado;
- o irmão Fernando I, nascido em 1549 e falecido em 1609; - o filho deste,
Cosme II nascido em 1599 e falecido em 1621, tuberculoso.
Cosimo I
(17) Temos que o nome
da nobre Biatriche de Menezes, citado na correspondência do embaixador
toscano, possa ser o de Brites ou Beatriz de Menezes y Noronha, em fontes
enciclopédicas dada como nascida c.1560 e falecida em c. de 1603 (?), segunda
esposa de Pedro Medici - ele nascido em Florença em 1554 e falecido em Madri em
1604, segundo filho de Cosimo I de Medici, personalidade muito controvertida
que teria mesmo matado sua primeira esposa, Leonor Àlvares de Toledo. Mas por outras fontes temos que Beatriche sobreviveu
vários anos ao marido, e assim acreditamos equivocada a data de sua morte indicadas
pelas informações enciclopédicas. Esta nobre Beatriche, Beatriz, ou Brites de Menezes
seria filha de Manuel de Noronha y Meneses, primeiro duque de vila Real, duas
vezes governador de Ceuta, descendente do rei Henrique II de Castela e León e
de Fernando I de Portugal. Beatriz casada com D. Pedro de Médici em 1593.
(18) A “casata
Cavalcanti’ em código documentado como os “Scaracchi’,
assunto abordado no artigo “Accademici del Piano”, no numero 43, fevereiro de
2016 da InComunidade.
(19) A corajosa
participação dos descendentes de Filippo Cavalcanti e da mameluca Catariana de
Albuquerque na luta holandesa foi por nós comentada no artigo “Antonio
Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos”, publicado no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/.
Também o terceiro filho do casal, Lourenço Cavalcanti de Albuquerque,
foi tido como notável guerreiro contra os holandeses - coronel e comandante de
forças enviadas por Matias de Albuquerque à Bahia em 1624 (Gusmão, Oziel –
livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e Cavalcanti”, tendo como fonte
Frei Vicente do Salvador). Teria falecido em 1624, solteiro (segundo
Bittencout, Adalzira - opus cit., pág. 301). Seu
irmão Jerônimo, autor da carta acima, mais tarde Cavaleiro da Ordem de Cristo
em 1625 foi enviado por Matias de Albuquerque em socorro à Bahia para a
retomada final da praça aos holandeses, fato conseguido em maio de 1625 (Notícias
Cavalcanti de Gusmão, Oziel – no livreto familiar “Notas sobre os Albuquerque e
Cavalcanti”, utilizando como fonte inclusive Memórias Diárias de D. Duarte
de Albuquerque Coelho). Jerônimo, como o irmão, teria lutado como um bravo
e voltado a Pernambuco como Governador de Armas (Bittencout, Adalzira, opus
cit. pág. 301); mais informações nota acima 13. Detalhes sobre as
atribulações da família Cavalcanti de Albuquerque e seus grandes prejuízos
nesta guerra nossos artigos “Antonio Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos” e
“O ramo do engenho Castanha Grande”, publicados no blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(20) Torres, Rosa
Sampaio – artigo “Antonio Cavalcanti de Albuquerque e seus filhos” e “O Ramo do
engenho Castanha Grande”, publicados no blog da autora citado acima.
(21) Bittencourt Adalzira-
Genealogia dos Albuquerques e Cavalcantis, Rio de Janeiro, Livros de
Portugal, 1965, pg. 292, que utiliza listagem dos Cavalcanti de Albuquerque já corrigida
pelo genealogista Xavier Paes Barreto.
Spione Ammirato em
seu livro Istoria Della Famiglia Cavalcanti, escrito em 1586 e completado
em 1626 por Scipione Ammirato Il Giovane, atualmente no Archivio di
Stato di Firenze, refere Manuel Cavalcanti de Albuquerque que lhe forneceu
detalhes genealógicos e notícias sobre a vida de Filippo di Giovanni Cavalcanti
“nas Índias”. Ver mais acima nota 3.
(22) Sobre o sentido deste
adjetivo “sdegnoso”, que já vinha qualificando a família desde o poeta Guido
Cavalcanti do século XIII, ver nosso artigo “Os Sedgnosos Cavalcanti” já editado
em nosso blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
(23) Recomendamos sobre o tema nossos vários artigos específicos sobre a atuação da “casata
Cavalcanti” durante a Conspiração de 1559 - “Conspiração Pucci e Cavalcanti de
1559 – inclusive 2ª parte, Conspiração Pucci e Ridolfi de 1575”, ainda “Felippo
di Giovanni Cavalcanti” e “Bartolomeu di Mainardo Cavalcanti”, trabalhos com
todas as documentações e fontes primárias e secundárias citadas, editados no
blog http://rosasampaiotorres.blogspot.com/
- este ultimo também publicado na revista InComunidade.com/ do Porto, numero 38
de setembro de 2015. Também os mais recentes “Giovanni di Giovanni Cavalcanti”,
editado no blog e o “Accademici del Piano”, no numero 43, fevereiro de 2016 da InComunidade. Ainda toda a documentação da Academia del
Piano analisada e reproduzida em três artigos “O Ramo Brasileiro dos
Cavalcanti” II, III e IV na mesma revista, nos números – 47, julho de 2016; 48,
agosto de 2016, e número
50, nov. 2016.
(24) Trabalhos baseados em profunda análise
dos documentos referentes a uma Academia literária da época, a Accademia del
Piano em Florença no sec. XVI - documentos em listas codificadas e
guardados na pasta da família Capponi arquivada na BNF, transcritos e transferidos
para nós recentemente pelo pesquisador da família Marcello Bezerra Cavalcanti.
Estes trabalhos foram baseados no contexto por nós já profundamente estudado das
conspirações anti-medici e republicanas ocorridas em Florença no ano de 1559 (Conspiração
Pucci e Cavalcanti) - também listas codificadas, cartas e documentos assinados
pelo jovem Giovanni di Giovanni Cavalcanti, irmão mais novo de Filippo, carta também
codificadas em números de Bartolomeo Cavalcanti.
(25) Fato referido e
analisado em Torres - Rosa Sampaio, artigo “Conspiração Pucci e Cavalcanti de
1559” e também no longo artigo “Medici x Cavalcanti”, editado no 4sharad, mídia
eletrônica, com todas as fontes citadas.
Sou de Campo Grande?MS, tenho Cavalcanti no sobrenome, minha avó paterna fazia muita questão de escrever seu sobrenome com a letra I, pois dizia que os autênticos "Cavalcantis" eram os que tinham seu sobrenome original. Gostaria de saber como esses descendentes vieram para no Centro Oeste do Brasil, em Cáceres/MT
ResponderExcluiracredito que por se tratar de uma familia que chegou no Brasil em 1560, e hoje ocupa o lugar de maior família brasileira, diante disto você da pra imaginar a quantidade de Cavalcanti(e), que existem no Brasil, so você fazendo seu estudo genealógico né ...
ExcluirMinha família paterna, os Alencar Rabêlo, descendem de italianos e vivem no interior de Pernambuco (ou viveram já que sou cearense) mais o sobrenome italiano é desconhecido. Então há a possibilidade de sermos descendentes dos Di Cavalcanti? Pois fizemos recentemente os teste de ancestralidade por Dna e veio como 17 a 16% italianos pela parte paterna, e não o sobrenome, e a única família italiana grande o suficiente e que existe em Pernambuco ( da época da ancestralidade relatada) são os Cavalcanti.
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